domingo, 10 de agosto de 2008

Na tempestade da vida, mãos estendidas nos seguram (Mt.14, 22-33)

O trecho evangélico hodierno é uma verdadeira obra-prima de lição existencial. A metáfora evangélica reproduz de forma plástica o que experimentamos frequentemente ao longo da nossa vida: insegurança, impotência diante dos problemas e desafios, fracassos, decepções, tormentas, tempestades, ventanias arrasadoras. É o mar agitado da vida. É o mar dos conflitos, das contradições e das contrariedades, das ondas impetuosas prestes a engolir suas vítimas. Isso é algo inscrito na trajetória humana. Não há como evitar tempestades e ventanias. Entretanto, faz-se necessário examinar como reagimos diante de tudo isso. Às vezes, ao experimentar a insegurança e a impotência na vida, o medo parece nos dominar. O medo paralisa, cega, confunde e desvirtua a realidade. O que poderia ser pequeno e irrelevante torna-se algo grandioso e invencível.
Outras vezes, diante das tormentas da vida tentamos fugir e nos refugiar em espaços e formas de vida que nos alienam totalmente da realidade. É tentativa de fuga de um sofrimento que o consideramos incompreensível. É fuga de um desafio que achamos insuperável, esmagador.

Mateus quer nos revelar qual é a melhor de reagir quando fazemos a experiência da tempestade da vida. Ele o faz ao nos apresentar Jesus que mergulha diretamente na ventania. Jesus não se amedronta e não foge, enfrenta. É no enfrentamento direto que Jesus consegue dominar-controlar a tormenta. Não é tragado por ela, mesmo estando nela, justamente porque a enfrenta. Jesus que caminha sobre as água é a representação plástica da nossa vida: os desafios, os problemas, a maldade, a injustiça humana têm que ser enfrentadas e não escamoteadas, justamente para podermos superá-las e vencê-las. Quem sabe enfrentar vai poder passar-andar por cima sem medo de ser tragado, sugado. É bem verdade que quem faz essa experiência pode se sentir como Pedro, um ser fraco, inseguro, medroso, tendo a clara sensação que vai afogar. O vento parece tragar e arrebatar a pessoa deixando-a à mercê das correntezas, na mais absoluta falta de controle. É nessas horas que devem aparecer “as mãos estendidas” a segurarem com firmeza quantos estão sendo tragados pelas tormentas da vida. Sozinhos dificilmente poderemos sair. Contando, porém, com mãos amigas e solidárias poderemos dominar a tempestade e transformar a ventania em brisa relaxante. E o Deus-fantasma, disforme, irreconhecível-ausente no meio da tempestade, revela o seu rosto-identidade ao segurar a mão daquele que está prestes a ser tragado.

Desejo a todos os pais que sejam essas mãos seguras, meigas, amigas, capazes de segurarem as mãos suplicantes e trêmulas de tantos filhos e filhas. É nessas horas que estes poderão fazer a experiência de se sentirem amados e fortalecidos em sua capacidade de superar desafios e problemas sem escamoteá-los e sem se refugiar em falsas e alucinantes seguranças. FELIZ DIA DOS PAIS!

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