terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Morri em Santa Maria! Quem não morreu?

Proponho, aqui abaixo, um breve texto de Fabrício Carpinejar sobre a tragédia em Santa Maria (RS) publicado no Blog de Marco Passerini.

“Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça. A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta. Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa. A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013. As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada. Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa. Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio. Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda. Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência. Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa. Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram. Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo? O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista. A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados. Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro. Mais de duzentos e cinquenta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos. Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal. As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso. Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu.” (Fabrício Carpinejar)

Europa está morrendo, dizem intelectuais do velho continente!

“A unidade da Europa era o sonho de uns poucos. Tornou-se uma esperança para muitos. Hoje é uma necessidade para todos nós”. A frase do ex-chanceler alemão Konrad Adenauer tem um lugar na história. Transcorreram exatamente 50 anos e esse “sonho” e essa “necessidade” estão hoje em pleno marasmo. A Europa está indo a pique. É precisamente isso que constata um grupo importante de intelectuais europeus que publicaram há poucos dias um manifesto cujos três primeiros parágrafos dão conta da orfandade que ameaça o Velho Continente: “A Europa não está em crise, está morrendo. Não a Europa como território, naturalmente, mas a Europa como Ideia. A Europa como sonho e como projeto”. Modelo de integração e de paz para muitas democracias do mundo, a Europa vai morrendo por várias veias, começando por um de seus pilares, isto é, a Grécia: “Dá a impressão de que os herdeiros daqueles grandes europeus, enquanto os helenos travam uma nova batalha contra outra forma de decadência e sujeição, não têm nada melhor a fazer que castigá-los, estigmatizá-los, pisoteá-los e, a partir dos planos de rigor e de austeridade impostos, são despojados do princípio de soberania que, há tanto tempo, eles mesmos inventaram”. Esse diagnóstico vale também para a Itália, país onde se inventou a “distinção entre a lei e o direito, entre o homem e o cidadão”, país “que está na origem do modelo democrático que tanto contribuiu”, e, hoje, está “doente de um ‘berlusconismo’ que não acaba mais”. Doença crucial que envolve também o ideal europeu e que faz da Itália “o doente do continente. Que miséria! Que ridículo!”. O horizonte desenhado pelos abaixo-assinantes do manifesto para voltar a dar corpo ao sonho europeu é a união política do Velho Continente, sem a qual não haverá vida possível: “O teorema é implacável. Sem federação não há moeda que se sustente. Sem unidade política, a moeda dura algumas décadas e depois, aproveitando uma guerra ou uma crise, será dissolvida”. Hoje é preciso dizer: união política ou barbárie. Melhor dito: federalismo ou explosão e, na loucura da explosão, regressão social, precariedade, desemprego disparado, miséria. Ou a Europa dá um passo a mais, e decisivo, rumo à integração política, ou sai da História e se afunda no caos.(Fonte: IHU)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

28 de janeiro - Dia nacional de Combate ao Trabalho Escravo

Hoje, dia 28 de janeiro, o Brasil celebra o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo. A data foi oficializada em 2009, no entanto, essa luta é mais antiga. Desde o início dos anos 1970, a Igreja, com dom Pedro Casaldáliga, e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem denunciado a utilização do trabalho escravo na abertura das novas fronteiras agrícolas do país. A CPT foi pioneira no combate ao trabalho escravo e levou a denúncia às Organização das Nações Unidas (ONU). “A Igreja precisava tomar um posicionamento diante da realidade já muito explícita de trabalho escravo no Brasil, o Governo negava que existia esse tipo de situação”, disse o assessor da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, Justiça e da Paz, padre Ari Antônio dos Reis. Com isso, o Estado se comprometeu em criar uma estrutura de combate a esse crime em território brasileiro. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o trabalho escravo apresenta características bem delimitadas. Além das condições precárias, como falta de alojamento, água potável e sanitários, por exemplo, também existe cerceamento do direito de ir e vir pela coação de homens armados. Os trabalhadores são forçados a assumir dívidas crescentes e intermináveis, com alimentação e despesas com ferramentas usadas no serviço. Por parte do Estado, existem ações que podem auxiliar no combate ao trabalho escravo, como por exemplo, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438. A PEC 438 foi apresentada em 1999, pelo ex-senador Ademir Andrade (PSB-PA), e propõe o confisco de propriedades em que forem encontrados casos de exploração de mão-de-obra equivalente à escravidão, e/ou lavouras de plantas psicotrópicas ilegais, como a maconha. A PEC 438/2001 define ainda que as propriedades confiscadas serão destinadas ao assentamento de famílias como parte do programa de reforma agrária.

Comentário do blogueiro: a proposta de Emenda não passou disso, ou seja, de ‘proposta’. Tudo continua como sempre: algumas multas, indenizações, participação na lista suja da empresa, etcetera e tal. Pudera! Com senadores e deputados ruralistas influentes e formando a base de sustentação do atual governo dificilmente a proposta de emenda como 438 será aprovada nessa década!

sábado, 26 de janeiro de 2013

A aposta social e religiosa de Jesus: os pobres, os cegos, os escravos e dominados (Lc.1,1-4; 4, 14-21)

É um Jesus totalmente transformado aquele que regressa à Galileia, após ter descoberto, no deserto, a sua vocação profética. Parece um Jesus que corre atrás do tempo perdido. Que compreende que passou tempo demais na oficina paterna, sem perceber a urgência daquele momento histórico. Quase ignorando que Israel estava falindo como nação, que as pessoas estavam perdendo a esperança na mudança, e que algo devia ser feito. O mesmo ocorre conosco quando ao rever a nossa vida descobrimos o seu verdadeiro sentido e valor. Cada pessoa tem os seus próprios ritmos para adquirir essa nova consciência perante a vida e a história. Também Jesus homem não escapa disso. Vale, contudo, o ditado ‘antes tarde do que nunca’! É um fato que o ‘novo’ Jesus acabou fazendo uma opção clara, desconcertante e paradoxal. Jesus apostou naqueles grupos sociais que viviam á margem da sociedade, invisíveis e sem poder de influência, mas que no seu modo de entender, alimentavam ainda uma carga de revolta e de expectativa muito grande. Tratava-se, na realidade, de agir de acordo com uma determinada análise da realidade social e política da época. E Jesus deixou claro qual foi a sua análise, e qual foi o seu modo de proceder. Enfim, a sua aposta social e religiosa para reerguer Israel.

Jesus não aposta nos ‘ricos’ e abastados, nos auto-suficientes, que não sentem a necessidade de serem apoiados pelos outros, pois eles, supostamente, já possuem tudo. E tudo compram com o poder de suas riquezas e do seu prestígio. Eles não precisam ouvir ‘boas notícias’ pois eles se consideram ‘boas notícias’ para os demais. Jesus, tampouco, aposta naqueles que ‘enxergam’ porque eles, supostamente, já sabem tudo, e possuem uma resposta para tudo. Acham-se ‘videntes’, mas são incapazes de ‘enxergar’ o novo de Deus que vem surgindo cotidianamente, inclusive por meio deles e em favor eles. Estão viciados e ‘cegos’ em seu modo de compreender os acontecimentos da história. Jesus não aposta naqueles que, supostamente, se acham livres. Que não se deixam prender e condicionar por nada e por ninguém. Que por se considerarem tão livres interiormente agem acima do bem e do mal. Que não percebem que estão presos à imagem distorcida que eles mesmos criaram de si: se acham os únicos senhores de si mesmos e dos outros, mas são escravos da sua arrogância e da sua prepotência. Jesus não aposta, enfim, naqueles que governam e que, por isso, dominam e oprimem os outros. Não aposta naqueles que se arvoram a iluminados e capacitados para dirigir pessoas, e gerenciar coisas. Que em nome do ‘bem comum’ manipulam, corrompem e oprimem. Jesus aposta, paradoxalmente, nos pobres, nos cegos, nos escravos e oprimidos da sua sociedade. Jesus não os convida para serem objetos preferenciais de uma ação solitária e vanguardista de emancipação, mas os convoca para serem seus aliados num novo projeto de sociedade. Na contramão dos ‘sábios e dos inteligentes’, dos ‘fartos e dos potentes’, dos ‘religiosos e dos crentes’ bitolados do seu tempo!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

60º dia mundial de combate contra a lepra. Ainda resta muita coisa a ser feita!

Domingo 27 de janeiro será celebrado o 60º Dia Mundial de Luta contra a Lepra. Segundo os dados mais recentes da Organização Mundial da Saúde, cerca de 220 mil pessoas contraíram a lepra em 2011 e muitos desses novos casos foram diagnosticados quando a doença já estava em fase avançada. Esses dados demonstram o perdurar, não obstante o trabalho de inúmeras organizações internacionais, de uma insuficiente possibilidade de acesso às estruturas de diagnose e da carência na formação à prevenção das comunidades que correm risco de contágio. Diante desta emergência, é preciso intensificar a nossa luta por maior informação, prevenção e educação. Combate cerrado contra todo tipo de preconceito. O Maranhão é o segundo estado com o maior número de vítimas de hanseníase no Brasil. Muito se tem feito, mas muito resta a fazer. Muitos familiares das vítimas da lepra ainda as marginalizam, e muitos profissionais não cuidam como de dever com nojo e medo. Sabe-se que, a despeito de outras doenças, a hanseníase tem cura e cura perfeita. Os remédios específicos para esses pacientes conseguem, após 3 dias, isolar o bacilo da lepra e impedir que contagie outras pessoas. Hoje, o tratamento pode ser feito em casa, sem necessidade de internação, mas a ignorância a respeito da doença é tão profunda e a demora em intervir é tão grande que quando ela é diagnosticada o estrago produzido na pessoa exige cuidados especiais e internação. Hoje, contudo,queremos homenagear todas aquelas pessoas, voluntários, religiosos e instituições que continuam dando apoio, afeto, cuidado, amparo e acolhida a inúmeras vítimas da hanseníase como é o caso da Vila San Marino em Grajaú, a casa de acolhida das irmãs em Imperatriz, sem falar no hospital Aquiles Lisboa em São Luis. E que os governos não se envergonhem em alertar, informar, prevenir e cuidar!

Os 400 mais ricos dos EUA possuem mais do que 150 milhões de norte-americanos juntos

Um novo documentário ‘Desigualdade para Todos’ revela como 400 norte-americanos tornaram-se financeiramente mais ricos que metade da população do país.Uma forma de medir o aumento da desigualdade de renda é comparar, ao longo do tempo, o salário do trabalhador médio com o do trabalhador do topo do mercado. É o que faz o economista político Robert Reich, ex-secretário do Trabalho dos EUA e professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley.  Em 1978, diz Reich, um trabalhador homem norte-americano típico ganhava cerca de 48 mil dólares anuais, enquanto um profissional de elite recebia cerca de 393 mil dólares anuais. Em 2010, o trabalhador médio viu seus ganhos reduzidos a 33 mil dólares anuais, enquanto o profissional do topo pulou para mais que o dobro, aproximadamente 1,1 milhão de dólares anuais. Mas a desigualdade torna-se brutal mesmo quando se examinam os rendimentos dos mega-milionários. Eles cresceram tanto nas décadas neoliberais que hoje, conta Reich, as 400 pessoas financeiramente mais ricas dos EUA possuem mais que metade da população do país – os 150 milhões de norte-americanos da base da pirâmide.

Comentário do blogueiro: este é o sistema econômico adotado por muitos governos de muitos países em nome da exaltação da iniciativa particular, criativa e empreendedora. E em nome do medo da volta ao ‘comunismo’ ou ao ‘socialismo’ que nunca conheceram. Os frutos da crise mundial vêm para confirmar as distorções produzidas pelo modelo liberal, injusto e desigual, mas pelo visto tolerado pela maioria dos cidadãos planetários...

Kátia Abreu - 'essa espécie de Poder só se enfrenta com oração e jejum', afirma Dom Tomás!

Recentemente Dom Tomás Balduino escreveu um artigo analisando o ‘tamanho’ de poder de influência que a senadora da República Kátia Abreu detém, hoje. Ele narra que já em 2002 um pequeno agricultor, Juarez Vieira, havia sido despejado de sua terra, no município tocantinense de Campos Lindos, por 15 policiais em manutenção de posse acionada por Kátia Abreu. Em 1999 uma área de mais de 100 mil hectares que havia sido decretada de ‘utilidade pública’ por Siqueira Campos poucos anos antes foi entregue a vários fazendeiros. Cada um deles ganhou uma área de 1,2 mil hectares, por R$ 8 o hectare. A lista dos felizardos fora preparada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, presidida por Kátia Abreu (PSD-TO), então deputada federal pelo ex-PFL. O irmão dela Luiz Alfredo Abreu conseguiu uma área do mesmo tamanho. Emiliano Botelho, presidente da Companhia de Promoção Agrícola, ficou com 1,7 mil hectares. Do outro lado da cerca, ficaram várias famílias expulsas das terras por elas ocupadas e trabalhadas havia 40 anos. Uma descarada grilagem! Outro irmão da senadora Kátia Abreu, André Luiz Abreu, recentemente, teve sua empresa envolvida na exploração de trabalho escravo. Com os povos indígenas do Brasil, Kátia Abreu, senadora pelo Estado do Tocantins e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), tem tido uma raivosa e nefasta atuação. No ano passado pressionou tanto AGU e Ministério da Justiça que o ministro Luís Adams da AGU se deixou levar e assinou a desastrosa portaria nº 303, de 16/7/12. Kátia Abreu desabafou exultante: "Com a nova portaria, o ministro Luís Adams mostrou sensibilidade e elevou o campo brasileiro a um novo patamar de segurança jurídica". Dom Tomás conclui o seu artigo dizendo: ’Essa mulher, segundo dizem, está para ser ministra de Dilma Rousseff. E se perguntam se, por acaso não é isso o Poder do Mal. No Evangelho, Jesus ensinou aos discípulos a enfrentar o Poder do Mal, recomendando-lhes que esta espécie de Poder só se enfrenta pela oração e pelo jejum’ (Cf. Mt 17,21).

Comentário do blogueiro: contraditoriamente as relações que existem no campo são arcaicas e moderníssimas ao mesmo tempo, avançadíssimas desde um ponto de vista tecnológico e atrasadíssimas desde um ponto de vista social e trabalhista. Kátia Abreu é a que melhor representa e concentra tudo isso. O espantoso é que o governo de coalizão do PT adotou a senadora fantoche e seus caprichos mefistofélicos. Surgem sombrias dúvidas quanto à seriedade da presidente Dilma no enfrentamento dos conflitos no campo e na inserção definitiva do Brasil entre o restrito grupo de Países definidos ’modernos’!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Índios Gavião do Maranhão prendem mais caminhões de madeireiros dentro da terra indígena. Tensão aumenta na região de Amarante.

Índios Pukobjê-Gavião da Terra Indígena Governador, em Amarante (MA), apreenderam, na semana passada, quatro caminhões e um trator que transportavam cerca de 20 metros cúbicos de ipê e de sapucaia derrubados por madeireiros que atuavam irregularmente no interior da terra indígena, localizada a cerca de 110 quilômetros de Imperatriz. Com medo de represálias dos madeireiros, os índios pedem a presença da Polícia Federal na reserva indígena. A apreensão provocou revolta de moradores da cidade e continua gerando medo entre os índios, que, mesmo assim, prometem agir para impedir que os madeireiros continuem agindo impunemente no interior da terra indígena. Os Pukobjê-Gavião temem que, sem a presença da Polícia Federal (PF) na área, os madeireiros prejudicados pela iniciativa indígena cumpram os boatos que tem corrido na cidade. "Andam dizendo que madeireiros prometeram pegar um por um os líderes das três aldeias. Isso quem disse foram as pessoas de fora da aldeia com quem temos contato. Tememos que aconteça algo como o que já ocorre em várias partes do país, onde índios são mortos. Por isso pedimos a presença da Polícia Federal”, disse o cacique. Nem os próprios policiais federais e fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) escaparam de ser alvo dos protestos de pessoas contrárias à iniciativa indígena.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Trabalho escravo na 'rica e civilizada' Caxias do sul e as declarações do novo presidente do Tribunal Superior do Trabalho!

Seis pessoas que trabalhavam em uma obra localizada na Rua Ângelo Leonardo Tonietto, no Bairro Cidade Nova, em Caxias do Sul, foram encontradas em condições análogas às de escravidão pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Nenhum dos trabalhadores, sendo dois deles menores de idade, possuía a Carteira de Trabalho assinada. A empresa não fornecia os EPIs – Equipamentos de Proteção Individual – necessários, sendo que, no momento da inspeção os empregados encontravam-se de chinelos de dedo, calção e camisetas, sem capacete, óculos, luvas ou uniformes. Um ônibus em péssimas condições, estacionado em frente à obra, era utilizado como alojamento para os empregados, inclusive para duas mulheres, sendo uma delas com 13 anos. Dentro do veículo havia instalações elétricas irregulares e botijões de gás. Os trabalhadores dormiam em camas improvisadas e se alimentavam no próprio ônibus, em local sem as mínimas condições de higiene.

Novo presidente do TST e trabalho escravo

Primeiro negro eleito para presidir o Tribunal Superior do Trabalho (TST), o ministro Carlos Alberto Reis de Paula qualifica a sociedade brasileira como "racista e discriminatória". "É racista, discriminatória e usa de discriminação por um motivo muito simples: uma questão cultural", disse alguns dias atrás. Reis de Paula assumirá o comando da Justiça trabalhista no próximo dia 5 de março, em um momento em que, também pela primeira vez, outro negro, Joaquim Barbosa, chefia a mais alta corte do país, o Supremo Tribunal Federal (STF). Aos 68 anos, o magistrado eleito por unanimidade para a presidência do TST revela que já foi alvo de racismo ao longo da vida, mas nunca foi discriminado no Judiciário. "Isso acontece, isso é o Brasil", disse. Ao ser perguntado se a Justiça do Trabalho, Ministério Público e governo federal deveriam trabalhar articulados para tentar erradicar os trabalhos escravo e infantil ele respondeu: ‘Esse é um dos vexames do país. O índice de trabalho escravo e infantil reduziu por causa da influência da OIT [Organização Internacional do Trabalho], mas o patamar ainda é alto. Não sou eu quem fala. Consulte o Ministério do Trabalho. A OIT trabalha com um termo que eu considero muito digno, que é o de "trabalho decente". Esse termo envolve não só a segurança no trabalho, mas também o trabalho valorizado, devidamente remunerado, e em condições dignas e humanas, o que afasta o trabalho escravo e infantil. Devemos despertar a nossa consciência. Conclui afirmando: ’Quero saber é o que o empregado compra com um salário mínimo de R$ 678. Esse é o raciocínio’.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Rede Justiça nos Trilhos publica carta aberta denunciando os ataques de hackers ao seu sito. Quem está por trás desses ataques?

Aqui abaixo a síntese da carta

Foram necessários dois meses de trabalho intenso para recuperar os estragos decorrentes de uma agressão violenta de hackers ao site "Justiça nos Trilhos". Em todo esse tempo o site ficou fora do ar e as newsletters não puderam ser mandadas a seus seguidores. Esse veículo de comunicação tem procurado, ao longo dos últimos quatro anos apresentar o lado perverso dos empreendimentos da cadeia de mineração e de siderurgia no Brasil e no mundo e em especial daqueles levados a cabo pela empresa Vale S.A., que investe anualmente dezenas de milhões de reais somente em ações de propaganda. O site "JnT" é expressão de uma rede de movimentos sociais, pesquisadores universitários, organizações sindicais, pastorais da igreja católica e lideranças comunitárias que se consideram atingidas pelos negócios da Vale S.A. nos Estados do Maranhão e do Pará.

O ataque dos hackers aconteceu poucos dias depois de um encontro tenso que envolveu integrantes da Rede Internacional de Atingidos pela Vale e o presidente da companhia, Murilo Ferreira. Os representantes dos atingidos evidenciaram, na presença do presidente da Vale S.A., numerosas contradições da empresa, documentadas e aprofundadas no recém publicado 'Relatório de Insustentabilidade da Vale'. A ação dos hackers contra o site "JnT" coincidiu também com a campanha midiática em torno do processo de reformulação do site oficial da empresa Vale S.A., para, nas palavras dela, "reposicionar sua marca na web". Este teria sido um processo que contou com um total de 60 profissionais ligados a sua gerência de Relacionamento com a Imprensa, Conteúdo Estratégico e Mídias Digitais. Nessas semanas em que o site esteve fora do ar, não foi possível aos integrantes e colaboradores de JnT divulgarem suas considerações sobre a polêmica e nefasta concessão pelo IBAMA da licença ambiental de instalação para a duplicação da Estrada de Ferro Carajás. Também foi impossível dar ressonância através desse meio às seis matérias da reportagem especial sobre Carajás realizada pela Agência Pública de Reportagem e Jornalismo Investigativo, bem como outros trabalhos jornalísticos relevantes. A censura, bem como a cooptação ou a sedução de lideranças, artistas e outros profissionais, ou qualquer outro tipo de agressão ou ameaça, jamais terão o poder de cancelar os motivos de revolta que levam cada vez mais pessoas e comunidades a se reconhecerem "atingidas pela Vale" ou a se colocarem em solidariedade para/com elas.

O site Justiça nos Trilhos volta ao ar e se oferece às comunidades, a militantes, jornalistas, pesquisadores e estudantes como narração de uma realidade pouco difundida, sendo enxergada com os olhos das vítimas. Acesse: http://justicanostrilhos.org

sábado, 19 de janeiro de 2013

Índio Xacriabá assume como professor na Universidade Federal do Pará



Com a intenção de promover o multiculturalismo, a Universidade Federal do Pará (UFPA) empossou, pela primeira vez, um indígena que passa a ocupar o cargo de professor efetivo da Instituição. William Dominguez, pertencente à etnia Xacriabá, adotada pelos Assurini, assumiu nesta sexta-feira, 18, na Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal (Progep), o cargo de professor da disciplina Antropologia da Saúde, do curso de Etnodesenvolvimento, do Campus de Altamira. Formado no curso de Pedagogia da UFPA, William Dominguez já foi presidente do Conselho de Saúde Indígena e é, atualmente, vice-presidente do mesmo. Ele conta que é uma honra poder assumir o cargo, uma vez que considera o fato como uma “tentativa da Instituição de abrir as suas portas para o meu povo. Tentar fazer da Universidade uma multiversidade, que representa todos os nossos anos de luta e a nossa trajetória dentro dos movimentos sociais pelos direitos dos povos indígenas. Como professor da UFPA, quero poder auxiliar na formação do meu povo, porque há algum tempo que entendemos que precisamos lutar com armas diferentes: com caneta, papel e nosso discurso, que aprendemos na academia”.  “Espero não ser o único professor indígena, mas o primeiro de outros que virão, para trazermos um pouco das nossas culturas, que são muitas. Enriqueceremos a universidade e teremos, de fato, acesso à educação, que deve formar todos os brasileiros”, ressalta o professor William Dominguez.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

No Maranhão madeireiros sempre mais acuados agridem e ameaçam indígenas. Tensão e medo em Amarante.

O indígena Frederico Pereira Guajajara, da aldeia Juçaral, Terra Indígena Araribóia, Maranhão, foi agredido na manhã desta terça-feira, 15, por madeireiros do município de Amarante do Maranhão, sudoeste do estado, a cerca de 110 quilômetros de Imperatriz. A agressão aconteceu porque os madeireiros estão revoltados com a apreensão de quatro caminhões e um trator feito pelos índios Pukobjê-Gavião, fato ocorrido na noite do último domingo, 13. Os veículos eram usados para a retirada ilegal de madeira de dentro da terra indígena. Frederico ressaltou que a agressão aconteceu porque os madeireiros o confundiram com os Pukobjê-Gavião. O Guajajara relatou que “os madeireiros bateram na minha cabeça, me empurraram, quebraram meu celular e queriam me jogar no fogo, só não fizeram porque outros indígenas não deixaram”.O clima em Amarante do Maranhão é tenso, o que se agravou com a chegada de agentes da Polícia Federal, Ibama e Funai para apreender os caminhões madeireiros retidos pelos indígenas Pukobjê-Gavião na ação de domingo para combater as invasões do território indígena.Segundo as lideranças do povo Pukobjê-Gavião, os madeireiros atearam fogo em pneus para impedir a saída dos agentes da Polícia Federal. Sem poderem sair da aldeia Governador, e levar os caminhões apreendidos, os agentes solicitaram reforços.Durante o protesto dos madeireiros, uma viatura da Polícia Federal foi apedrejada e os pneus furados. Dezenas de madeireiros estão reunidos no pátio de um posto de combustível na entrada da estrada que leva à aldeia Governador, onde os caminhões e o trator estão apreendidos. O Ministério Publico Federal (MPF) foi acionado. As providências estão sendo tomadas para que seja efetivada a retirada dos caminhões e do trator que estão no pátio da aldeia. As lideranças do povo Pukobjê-Gavião relataram: “Os madeireiros de Amarante estão dizendo que as lideranças que estão à frente do movimento não vão mais poder andar na cidade de Amarante do Maranhão”. Outra situação vivenciada pelos indígenas é o medo da invasão da aldeia Governador pelos madeireiros quando a Polícia Federal deixar a aldeia. Para a comunidade do povo Pukobjê-Gavião, a situação necessita de uma resposta urgente dos órgãos responsáveis para impedir que os indígenas sofram represálias por defender seu território, indispensável para a sobrevivência física, social e cultural do povo.(Fonte: Cimi)

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Trabalho doméstico no Brasil: ainda paira a sombra da relação senhor e mucama

Mais de 70% dos 7,2 milhões de empregados domésticos no Brasil são informais. Além disso, 9 em cada 10 trabalhadores são mulheres e o salário médio da categoria é de apenas R$489,00 por 36,8 horas semanais. As informações fazem parte de um estudo publicado na semana passada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Somente 10% dos empregados domésticos de todo o mundo estão cobertos pela mesma legislação trabalhista aplicável às outras profissões, enquanto quase um terço do total (29,9%) trabalha em países que os excluem completamente desse âmbito. Os empregados domésticos brasileiros fazem parte dos 60% restantes, de trabalhadores que possuem apenas parte dos direitos garantidos a profissionais de outros setores. Em todo o mundo, existem poucas organizações efetivas, como sindicatos ou cooperativas, que possibilitem uma negociação coletiva dessa categoria, o que torna esses trabalhadores muito vulneráveis a práticas abusivas de emprego, já que individualmente eles têm pouco poder de negociação com seus empregadores. Apesar dos baixos salários atuais para a categoria, o relatório vê como bem sucedida a política de aumentos de salário acima da inflação promovida pelo governo desde 2003, quando a remuneração média era de R$333 (em valores corrigidos). A diferença corresponde a um aumento real de 47% do poder de compra desse setor, mais do que os 20% da média das outras profissões. Isso, segundo o estudo, aconteceu porque quase metade (46,4%) de todos os empregados domésticos recebiam em 2008 um salário mínimo. Em comparação, 15,5% dos trabalhadores de outras categorias recebiam o mesmo valor.
PEC das Domésticas
A Proposta de Emenda à Constituição 478/10, conhecida por “PEC das Domésticas” busca alterar o artigo 7º da Constituição Federal e incluir diversos direitos já garantidos aos demais profissionais para os empregados domésticos, como a jornada de trabalho de 44 horas, o seguro-desemprego e o FGTS. Ela já foi aprovada em dois turnos pela Câmara dos Deputados e agora segue para o Senado, onde também deve ser aprovada em dois turnos. Se não houver modificações, será enviada para a presidente Dilma sancionar. Críticos da medida, questionam sua viabilidade e têm defendido que para evitar demissões e aumento da informalidade os encargos trabalhistas de empregados privados seriam custeados parcialmente pelo governo, ou seja, com dinheiro público. Creuza Oliveira, presidente da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), declara que “o que o patrão vai contribuir a mais é algo pequeno, de 8% a mais, referente ao FGTS. Os empregadores estão acostumados a ter trabalhadores na sua casa, mas na hora de cumprir as obrigações, não querem fazê-lo”. (Fonte: IHU)

Comentário do blogueiro
O descaso para com @s trabalhador@s doméstic@s é histórico no Brasil. São evidentes ainda os resquícios da relação entre ‘senhor e mucama’ de épocas não tão distantes. E isso, mesmo quando o ‘senhor’ seja, na realidade, ‘a senhora’, dona da casa e da ‘empregada doméstica’ que dirige com mão de ferro e muita arrogância!!!!! É o caso de dizer que se não tem condições de pagar dignamente uma trabalhadora doméstica que não a contrate!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Mais de 2.000 pessoas escravizadas foram resgatadas em 2012. Siderúrgica Viena de Piquiá está na lista suja!

O Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) encerrou o ano de 2012 contabilizando a libertação de 2.094 trabalhadores de condições análogas à escravidão. Os resgates ocorreram em 134 estabelecimentos, entre fazendas, carvoarias, canteiros de obra, oficinas de costura e outros. A pecuária apresentou, de longe, o maior número de resgates de trabalhadores escravos, seguida por atividades ligadas ao plantio e extração de madeira e pelo carvão. Outro setor que teve número significativo de casos de trabalho escravo foi a sojicultura. O Pará é o estado em que mais operações foram realizadas e onde aconteceram mais flagrantes. A libertação recorde de 2012 ocorreu no setor do carvão, e envolveu três das maiores siderúrgicas do Pará. Em março, o Grupo Móvel resgatou 150 pessoas de duas carvoarias em Novo Repartimento, que abasteciam as siderúrgicas Sidepar, Cosipar e Ibérica. De acordo com a fiscalização, os trabalhadores desmatavam a região ilegalmente para fabricar o carvão, e a operação acabou descobrindo um esquema de crimes ambientais, emissão de notas fiscais falsas e até ameaças a trabalhadores. Foram lavrados 21 autos de infração e um processo contra as três siderúrgicas.
Outra siderúrgica autuada por prática de trabalho escravo foi a Viena, de Darcinópolis, também no Pará. Uma das maiores produtoras e exportadoras de ferro-gusa do Brasil, a Siderurgica Viena que produz a partir de Piquiá, MA, exporta, segundo informações de seu site, para os mercados europeu, asiático e estadunidense. Tanto a Viena quanto a Sidepar são signatárias do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo e podem ser suspensas devido aos flagrantes. Outros dois casos de 2012 receberam destaque por envolver as famílias da poderosa senadora ruralista Kátia Abreu (PSD-TO) – cujo irmão, André Luiz de Castro Abreu, foi apontado pela Superintendência Regional de Trabalho e Emprego do Tocantins como co-proprietário da Fazenda Água Amarela (plantio de eucalipto e produção de carvão), onde foram resgatados 56 trabalhadores.  O deputado federal Giovanni Queiroz (PDT/PA), integrante da bancada ruralista, que costuma contestar a existência de trabalho escravo no país, considerou a situação “vergonhosa, constrangedora”. (Fonte: IHU)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Duplicação da ferrovia da VALE é ameaça para os Awá

Em novembro a mineradora Vale obteve licença do Ibama para iniciar obras na Estrada de Ferro Carajás, que vai do interior do Pará até o litoral do Maranhão. Os trilhos serão duplicados em cerca de 560 quilômetros da ferrovia para facilitar o transporte da produção de minério de ferro. Em agosto deste ano, a Justiça Federal suspendeu as obras e determinou que o Ibama tornasse o processo de licenciamento mais claro. Outro revés para a Vale aconteceu em outubro, quando indígenas bloquearam a ferrovia durante três dias em protesto contra a portaria 303 da Advocacia Geral da União, que dificulta a expansão dos territórios indígenas. A autorização do Ibama afirma que as obras próximas aos territórios indígenas Caru e Mãe Maria, no Maranhão, deverão ser iniciadas apenas após 'manifestação a ser expedida pela Funai'. No entanto, membros das etnias que vivem na área não estão otimistas, pois a ferrovia representa uma ameaça para muitos deles. O povo 'Awá', que teve um dos seus territórios, de mesmo nome, homologado em 2005, vive com a constante ameaça de madeireiros ilegais e pistoleiros. Cerca de 30% dessa terra indígena de 117.000 hectares, localizada no centro-norte do Estado do Maranhão, já foram desmatados.
Histórico de violações
Na década de 1980, quando a Estrada de Ferro Carajás foi construída, diversos índios Awá foram deslocados para assentamentos, já que a estrada iria passar pela região onde eles moravam. A obra iniciou a interação dos Awá com não-indígenas, e sua falta de planejamento foi desastrosa para a etnia. Epidemias fatais de malária e gripe, doenças contra as quais eles não tinham imunidade, foram levadas aos Awá; uma comunidade de 91 índios foi reduzida a 25 quatro anos depois. Não é possível obter dados demográficos exatos porque os índios 'isolados' não têm contato com os não-indígenas, vivendo apenas na floresta. Estes índios são obrigados a fugir constantemente de invasores, e como a própria Funai afirma, trabalhos para localizá-los feitos em 2008 e 2009 confirmaram o 'alto grau de vulnerabilidade em que se encontravam frente ao avanço das atividades madeireiras em seu território'. Se não houver uma ação para proteger os Awá, eles têm poucas chances de sobreviver, enfrentando homens armados e madeireiros ilegais. Assim como outros povos indígenas no Brasil, os Awá não podem ser ignorados pelas autoridades. (Fonte: Danielle Ferreira)

domingo, 13 de janeiro de 2013

Batismo de Jesus: descobrir o que somos e o que queremos! (Lc. 3. 15-16;22-23)

Existem momentos de iluminação existencial em que descobrimos de forma lúcida quem somos e o que queremos. Experiências únicas. Irreproduzíveis. A sensação de que tudo o que nos aparecia escuro, opaco, embaçado, de repente se torna óbvio, claro, transparente. É como se tudo o que vivemos anteriormente não tivesse tido sentido e consistência. Não há uma fase específica da vida em que essas experiências luminosas se oferecem a nós. Não são experiências necessariamente arrebatadoras, de curta duração e que aparecem por acaso. Podem dar a impressão que são experiências isoladas dentro do nosso itinerário existencial, e inesperadas. Certamente, são o resultado de buscas interiores, de lutas internas, embora nem sempre conscientes. Todavia, quando somos levados a mergulhar no ‘luminoso’ que elas produzem e se revelam a nós de forma poderosa e totalizante, tudo muda. A nossa 'nova' vida pode ser narrada e interpretada somente a partir daquele momento.
A experiência luminosa de Jesus de Nazaré se deu no contexto do seu batismo. Entre as águas que corriam pelo deserto da Judéia. No espaço onde duelavam vida e morte. Desejos de redenção e pulsões de destruição. Na escuta e na confrontação com a profecia, com as ameaças e as denúncias de João Batista. Jesus descobre de forma única, clara, luminosa que se iniciava um novo momento, uma nova etapa em sua vida. Uma nova vocação, a definitiva. A de se colocar como instrumento de redenção e libertação nacional. A urgência do momento histórico o exigia. Não podia furtar-se, mesmo que o seu passado não o tivesse preparado adequadamente para tanto. Era como se Jesus não pudesse resistir e sufocar o forte imperativo interior da sua consciência de que as 'ovelhas' de Israel estavam sendo dispersadas pela violência e a dominação política. O País estava à beira do colapso social e político. Jesus percebe que um novo jeito de governar devia ser urgentemente inaugurado e que ele tinha um papel essencial dentro dele. Não simplesmente denunciando e amaldiçoando como fazia João Batista, mas planejando gestos e ações concretas, motivando para a esperança. Criando condições e oportunidades para evitar a desgraça nacional. Em termos metodológicos pode-se dizer que Jesus não assumiu essa nova consciência de forma personalista, fora das estruturas sociais comuns que estavam ao seu alcance. Mas entrando na lógica e nos ritmos de todos aqueles cidadãos que queriam contribuir a reerguer uma nação quase falida.Ao entrar na fila comum dos penitentes que pediam o batismo Jesus apontava a sua própria metodologia evangelizadora: não à margem e nem acima das pessoas, e sim ao seu lado, com elas. Como um cidadão ‘normal’. Consciente que tem algo específico e próprio a realizar com os outros. Mais do que isso: que essa missão nova vinha sendo confirmada e 'abençoada' pelo próprio Deus. Um Deus que retoma a sua ação de redenção e re-criação da humanidade a partir da prática social e religiosa, e da experiência luminosa do cidadão e fiel Jesus! (Fonte: Blog Claudio Maranhão 2011)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

VALE inova tecnologia na duplicação da ferrovia, mas continua arcaica nas relações com as comunidades impactadas

A Vale tem planos de cercar os 101 quilômetros do ramal ferroviário que vai construir para ligar a Estrada de Ferro de Carajás (EFC) ao projeto S11D, nova área de produção de minério de ferro da empresa, na Serra Sul de Carajás. O cercamento da faixa de domínio da ferrovia deve se estender também a outros trechos dos 892 quilômetros da EFC. Nos trechos operacionais, a Vale deverá negociar o cercamento com prefeituras e associações locais. “Mas não é só cercar. Também estamos fazendo viadutos e trabalhamos questões sociais com governo e comunidades”, disse Oliveira. Serão construídos 45 viadutos na EFC dentro da expansão da ferrovia que terá a capacidade praticamente duplicada para atender ao crescimento da produção de minério de ferro de Carajás com o S11D. O crescimento na demanda também leva a Vale a buscar inovações para melhorar a produtividade e reduzir custos operacionais da malha. Oliveira citou, por exemplo, estudos para operar locomotivas com gás natural. O executivo citou outro estudo que consiste em utilizar dormentes de plástico, que estão sendo testados em trecho da EFC. A Vale vem substituindo os antigos dormentes de madeira por peças de concreto e de aço na EFC e na EFVM. Outra inovação é o uso de uma máquina que renova a linha férrea substituindo brita, dormentes e trilhos de forma automatizada. A máquina é capaz de trocar 1,5 quilômetro de linha em 12 horas.  Everardus Pouw, gerente-geral de operações da EFC, mencionou outra inovação, o uso do freio elétrico-pneumático, que melhora a frenagem dos trens. Em Carajás, a Vale incorporou, há alguns anos, comboios com 336 vagões para o transporte de minério. “É o maior trem do mundo em operação regular”, disse Pouw. O comboio se estende por 3,5 quilômetros. Com o freio elétrico-pneumático, a composição freia ao mesmo tempo e evitam-se choques, aumentando a vida útil dos vagões. Hoje o sistema de freio da composição funciona a ar, o que resulta em maiores choques entre os vagões.

Comentário do blogueiro: bonito, muito bonito! Falta só um pequeno detalhe: a Vale inova máquinas, dormentes, trilhos, freios, etc. e tal, mas não consegue melhorar e inovar de um centímetro as suas relações com as comunidades do corredor por onde os seus belos e modernos trens passam carregando riqueza e deixando um lastro de miséria e descaso.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Dom Pedro Casaldaliga após ameaças retorna para a sua casa

Por quase um mês ele foi mantido escondido em um lugar secreto, hóspede de um amigo e protegido pela polícia. Às vésperas do Ano Novo, no entanto, no dia 29 de dezembro passado, Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia, no Brasil, pôde retornar para a sua casa e para a sua comunidade no Mato Grosso, onde vive ininterruptamente desde 1968. Ele tivera que se afastar no início de dezembro, por causa das ameaças contra ele por parte dos latifundiários, dos quais uma ordem do Supremo Tribunal está subtraindo milhares de hectares de terras, ocupadas ilegalmente há anos, para restituí-las aos seus legítimos proprietários, os índios do povo Xavante, desde sempre defendidos e apoiados por Casaldáliga. No último período, as intimidações haviam se tornado cada vez mais insistentes e perigosas: “O bispo não verá o fim de semana”, teriam dito durante uma reunião dos fazendeiros. Os latifundiários acusam o bispo de ser o “inspirador” da sentença do Tribunal e de ter a responsabilidade pela demarcação da terra, situada entre os municípios de São Félix do Araguaia e Alto da Boa Vista, no norte do Mato Grosso, que agora as autoridades estão devolvendo aos índios.
Comentário do blogueiro: Quem dera que Dom Pedro tivesse tanta influência assim junto ao Supremo Tribunal como afirmam os anônimos que o ameaçam de morte. Se assim fosse o Supremo teria deixado de publicar todas aquelas condicionantes para a terra indígena Raposa Serra do Sol, e teria pressionado para acelerar os tempos para as demarcações de numerosas terras indígenas que se arrastam há décadas nesse país!

sábado, 5 de janeiro de 2013

Quando a justiça federal demora para fazer justiça nas terras indígenas todos sofrem e se sentem injustiçados!

A força tarefa federal deu prazo até esta sexta-feira para que os moradores do distrito de Posto da Mata, em Mato Grosso, desocupem a Terra Indígena Marãiwatsédé. Segundo informação da Fundação Nacional do Índio (Funai), quem não sair terá os bens confiscados pela Justiça e deverá responder pelo crime de desobediência. Posto da Mata concentra os posseiros que resistem à desocupação da Terra Indígena Marãiwatsédé e foi ocupado pelas forças federais na madrugada do último domingo.A localidade é a principal entrada para as terras indígenas e permite acesso a pelo menos 12 das grandes fazendas e posses de tamanho médio de políticos locais. Segundo a Funai, a mudança na estratégia, com prazo curto para desocupação, “foi necessária para permitir o acesso às áreas rurais que ainda precisavam ser desocupadas, além de garantir à população o direito de ir e vir”. De acordo com o governo federal, os bloqueios impediam o acesso da população a serviços essenciais, inclusive atendimento médico. Desde domingo, três famílias pediram e receberam ajuda para sair de Posto da Mata e cerca de 50 esperam sua vez de obter ajuda para a mudança.
As imagens veiculadas pela tevê nesses dias mostram pessoas revoltadas que se sentem injustiçadas pelas decisões da justiça federal que exige após 40 anos de ocupação ilegal sua saída da terra indígena Marãiwatsédé. É um fato que o direito dos índios sobre aquela terra foi finalmente reconhecido. Isso é correto. É um fato, contudo, que foi um absurdo social e legal deixar tantas famílias por tantos anos numa terra que embora não lhe pertencesse legalmente e mesmo sabendo que um dia estariam obrigadas a sair estabeleceram relações afetivas e econômicas com aquela terra. A lentidão da justiça em fazer justiça permitiu o alastramento de conflitos absurdos e mais injustiças de ambas as partes (índios e invasores). Isso não vai ajudar a amenizar os preconceitos e as tensões entre índios e não índios!

Epifania: globalizar a veneração ao frágil e ao indefeso e não ao ídolo resplandecente que escraviza! (Mt.2. 1-12)

A parábola dos reis magos elaborada pelo judeu Mateus está fortemente impregnada de messianismo nacionalista. Na sua ânsia de provar que Jesus era o verdadeiro ‘rei dos judeus’ (v.2) acaba criando essa ‘estória’ para provar que até os povos pagãos daquela época o reconheceram como tal, contrariando a postura dos sacerdotes e dos governantes da ‘sua nação’ que o ignoram ou o perseguem. É evidente, afinal, a intenção do evangelista que escreve para judeus já em contato com o recém criado movimento de Jesus: Jesus, o frágil e desconhecido mestre de Israel, é o legítimo enviado de Deus, e todos os povos pagãos hão de reconhecê-lo como tal e aderir a Ele, tal como fizeram esses ‘reis magos’! Em que pese a intenção apologética do escritor e teólogo Mateus, temos nessa parábola catequética muitas fontes de inspiração e reflexão para o nosso cotidiano. Hoje temos a impressão de viver numa realidade globalizada, plural, com autonomias relativas. Tudo seria interdependente e desconcentrado. Graças às modernas tecnologias tudo estaria interligado. Aparentemente, até o próprio poder político e econômico estaria relativamente difuso, sem grandes centralizações e concentrações. Os nacionalismos e as identidades regionais e culturais estariam em fase de extinção ou se tornando mais fluidas diante do vigoroso movimento planetário para criar a grande ‘aldeia mundial’. Nela, supostamente, não haveria grandes diferenças e nem vergonhosas desigualdades. Nada disso está ocorrendo. Está se criando e moldando, ao contrário, um ‘ídolo único’, uma espécie de ‘deus universal’, globalmente aceito e planetariamente venerado de forma servil: a ‘mercadoria resplandecente e divina’. Um ‘neo-ídolo’ sedutor e cativante que possui diferentes poderes e preços. Com múltiplas origens e utilidades, mas com um único objetivo: suscitar deslumbramento místico e dependência comportamental nas pessoas entendidas como consumidoras e adoradoras.
Em lugar de venerar, cuidar e respeitar ‘corpos’ como expressão máxima da presença amorosa do único e verdadeiro Criador um número sempre maior de pessoas abre os cofres do seu coração para idolatrar e mercantilizar ‘objetos’ que fatalmente exigirão mais dependência e servilismo. Os seres vivos e os próprios corpos dos humanos, templo e espaço de veneração do Deus Verdadeiro viram mercadoria a ser trocada, distribuída e vendida. A Epifania nos lembra que a pessoa, a indefesa, a frágil e perseguida, - como o foi a recém-nascida de Belém, - deve ser globalmente venerada, cuidada e, principalmente, protegida de quantos, hoje, procuram sistematicamente abusá-la, manipulá-la, deixando-a morrer de fome e de doença, sem afeto e sem lar. Para além de toda globalização e de todo nacionalismo, para além de todo regionalismo e de todo ‘gueto’ ideológico e religioso, torna-se essencial redescobrir, hoje, a luz itinerante de Belém que continua pousando lá onde têm sofredores perseguidos e massacrados pelos modernos criadores de ídolos e escravidões. Eles continuam dominando e manipulando vidas e consciências. Continuam residindo nos palácios de governo, nos magníficos templos de qualquer religião e igreja, e nos luxuosos prédios de alguma grande metrópole deste ‘pequeno’ planeta.  Lá, eles continuam a idolatrar suas próprias ‘criaturas’. Seus fúteis objetos.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Efeitos colaterias de um crescimento irracional!

Eles, sempre eles, os pecuaristas escravocratas!
A criação de bovinos é a atividade econômica com mais inclusões na atualização da chamada “lista suja”, a relação de empregadores flagrados explorando escravos, mantida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e pela Secretaria Especial de Direitos Humanos.  Dos 56 nomes incluídos no cadastro, a pecuária bovina soma um total de 20 novas entradas.  Em outras palavras, 35,7%, mais de um terço dos incluídos, são pecuaristas.   A constatação reforça a relação entre exploração de escravos e desmatamento.  Eis aqui o método arcaico convivendo harmoniosamente com o mundo sofisticado da pecuária brasileira!

Presos brasileiros sempre mais numerosos nas masmorras desumanas!
O número de pessoas presas no Brasil cresceu 6% somente nos seis primeiros meses deste ano, intensificando uma tendência que fez do Brasil um dos três países do mundo com maior aumento da população carcerária nas últimas duas décadas.Segundo dados recém-divulgados pelo Ministério da Justiça, o número total de presos em penitenciárias e delegacias brasileiras subiu de 514.582 em dezembro de 2011 para 549.577 em julho deste ano. Em 1992, o Brasil tinha um total de 114.377 presos, o equivalente a 74 presos por 100 mil habitantes. Em julho de 2012, essa proporção chegou a 288 presos por 100 mil habitantes. No período, houve um aumento de 380,5% no número total de presos e de 289,2% na proporção por 100 mil habitantes, enquanto a população total do país cresceu 28%. O Brasil, neo-gigante despertado, está a produzir muitos efeitos colaterais....

Rio São Francisco, com a transposição, tem os dias contados!
Após quatro anos de monitoramento do rio e das obras de transposição de parte das águas do São Francisco, o biólogo José Alves Siqueira, 41, e outros 99 pesquisadores alertam: o rio está em processo de "extinção inexorável". Com as barragens [Três Marias, Sobradinho, Paulo Afonso e Xingó], perderam-se todos aqueles peixes que sobem as corredeiras para se reproduzir. O São Francisco é o rio mais barrado do Brasil. O rio está sofrendo profundamente com o desmatamento de suas matas ciliares. Foram encontradas  62 espécies exóticas invasoras, que não são da flora brasileira, já nas áreas do canal. Quando ela [a invasora] chega, ocupa espaço de espécies nativas e provoca destruição das outras. Algo para ser feito em caráter emergencial [é] a implementação dos programas de recuperação de áreas degradadas. As grandes empreiteiras têm obrigação de implementar esses planos de recuperação. Isso não está acontecendo.

Comissão da verdade investiga massacre de índios Waimiri-Atroari nos anos 70
Eles não estão na lista oficial de desaparecidos políticos, nem de vítimas de violação de direitos humanos durante o regime militar no Brasil, mas foram considerados empecilhos para o desenvolvimento e guerrilheiros e inimigos do regime militar. Por resistirem à construção de uma estrada (a BR-174, que liga Manaus a Boa Vista) que atravessaria seu território, sofreram um massacre. Entre 1972 e 1975, no Estado do Amazonas, dois mil indígenas da etnia waimiri-atroari sumiram sem vestígios. Um número infinitamente superior aos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia, no Pará.