sábado, 31 de dezembro de 2011

Maria, mãe de Deus: divinas mães para divin@s filh@s!


Tocamos com mãos todo dia o que significa desfigurar e destruir a dignidade d@s ‘filh@s de Deus’! Aquele rosto, aquele sopro, aquela energia, aqueles cromossomos e genes divinos que antes mesmo de nascer herdamos não simplesmente de um pai ou de uma mãe biológicos, mas de um Artífice paterno-maternal, são sistematicamente deletados por outros seres que esquecem a origem da sua filiação divina. Como pensar que Deus é pai-mãe que cuida e zela por nós ao vermos tanta brutalidade humana? Fome, guerras, violência, torturas e indiferenças parecem negar que temos em comum não somente genes e cromossomos, mas dignidade e filiação. Há, entretanto, seres humanos que mediante a sua dedicação e o seu amor sem limites para com outros humanos manifestam com mais intensidade e fidelidade, de forma visível, o que significa filiação e maternidade divina. Explicitam com seus gestos o que nós cremos pela fé. Ou pelos caminhos de indução. Tornam histórico e real o que parece ser relegado à esfera mítico-simbólica. Deus é Pai-mãe sim, e nós o vemos e o sentimos naqueles pais -mães que como Deus amam sem limites.

Jesus manifestava no seu organismo biológico genes e cromossomos idênticos aos de Maria. Nisso Jesus herdou de uma mulher o mesmo que todo ser humano herda de seus pais e de outros parentes próximos. Isso não é suficiente para fazer de Maria um personagem que se eleva acima dos demais. Hoje, contudo, não celebramos a maternidade de Maria por ter sido simplesmente a mãe biológica de Jesus, o 'filho de Deus’. Celebramos Maria e, com ela, todas aquelas mães que fizeram de sua maternidade uma vocação-missão. Ou seja, algo que vai além das obrigações biológico-reprodutivas. Não é toda mãe, afinal, que sabe amar e cuidar de um filho para que se torne e seja, de fato, ‘filh@ de Deus’! Não é toda mãe que sabe perceber as ameaças reais que desfiguram o rosto e a dignidade de seus filh@s. Não é toda mãe que toma a dianteira para prevenir e denunciar o que coloca em risco a integridade física e moral do ‘fruto do seu ventre’. E não simplesmente por serem filh@s seus, - pois poderia ser uma mera atitude de proteção e defesa biológica que toda mãe pode ter, - mas por serem el@s revelação da presença do próprio Deus entre os humanos. A todas as divinas mães que educam seus filh@s à proteção, defesa e geração de mais vida o nosso abraço e o nosso filial beijo de paz e gratidão.

Reproduzir a vida que recebemos do 'passado velho' ......

Qualquer pessoa de bom senso não aguarda o último dia do ano para fazer uma avaliação do que realizou ao longo desse período. Avaliação e balanço se dão ou deveriam se dar de forma sistemática e permanente. Inclusive porque o último dia do ano civil é de longe o mais inadequado por óbvios motivos! Nós humanos precisamos de ‘tempo’ para poder analisar e interpretar o impacto dos acontecimentos sobre nós mesmos. As derrotas e as perdas de hoje podem ser as conquistas e os ganhos de amanhã. O que hoje parece fracasso pode representar no dia seguinte uma oportunidade excelente de amadurecimento e crescimento. Com muita pressa e superficialidade queremos varrer e descartar o ‘velho’ ano achando e aspirando obter mais vantagens e ganhos no ‘novo’ ano que está a iniciar. Temos dificuldade em perceber que as conquistas e as perdas futuras são ‘construídas no passado’, mesmo que recente. Não aparecem como conquistas repentinas ou como desgraças fulminantes em céu de brigadeiro. A história da humanidade, da existência humana, mesmo que aos nossos olhos possa parecer como resultado de grandes rupturas ou de processos acelerados, encontra bases e raízes em escolhas, decisões, opções realizadas anteriormente ao presente em que vivemos, e ao longo de tempos extensos. Então, aqui vem a pergunta: por que dar ‘adeus’ ao ano velho? Por que não reconhecer que se nós somos o que somos é pelo que fizemos e temos sido nos instantes anteriores? Por que não mergulhar definitivamente na universal e sublime respiração do universo que não conhece pausas e nem interrupções, e nem etapas cronológicas ‘finitas’? Por que não se sentir permanentes construtores e co-criadores de vida nova sabendo que ela é nova porque outros semearam vida e produziram condições para que nós hoje e amanhã possamos sentir a beleza de viver essa vida nova eternamente mutante? E que bonito saber que nós hoje e sempre estaremos construindo mais vida para outros que virão depois de nós!
Pensemos, agora, por um instante....E se em lugar de recebermos e construirmos vida e novas condições de existência humana mais digna recebemos e construímos destruição, morte, violência, indiferença....? De quem será a responsabilidade? De uma herança recebida de um ‘genérico ano velho’ que não soube produzir o esperado? De um destino que nós humanos impotentes não conhecemos e nem podemos mudar? Entra ano, sai ano, nós continuamos divididos entre a pulsão criadora e destrutiva, diabólica e simbólica que possuímos e que temos que administrar dentro e sobre nós mesmos, e o ambiente que nos hospeda. Desejo que os humanos se sintam sempre mais co-construtores de vida para os seus semelhantes, para a Gaia-terra e para o universo inteiro!

domingo, 25 de dezembro de 2011

O Natal delas!

‘Não tive o abraço dos meus três meninos nessa noite de Natal. Eles estão em alguma casa dessa cidade que nem eu mesma sei. A justiça, a vara da infância, os tirou de mim porque sou dependente de drogas e portadora de HIV. Dizem que não tenho condições de ser mãe, e nem de cuidar deles. Mas eu sinto falta deles. Não tive colo nessa noite de Natal. Senti-me só. Senti-me uma merda. Olho para o espelho e vejo o meu rosto magro encavado consumido pelas drogas. Tentei várias vezes me sair dessa, mas não consigo. Vocês falam de um Natal que eu não conheço: presentes, ceia com peru, papai Noel, missa do galo....Eu queria tanto que alguém se lembrasse de mim, e me olhasse com carinho. Só encontro aproveitadores. Sou humilhada o tempo todo. Não quero presente, não. Não quero a compaixão de ninguém. Sei que errei, sei que não sou limpa, mas continuo gente. Sinto que continuo sendo filha de Deus. Será que vocês - que parecem ter jeito de gente - não podem se lembrar que eu também sou gente, e que tenho sentimentos de gente? Pô, eu queria tanto dar um cheiro nos meus pequenos, mas ninguém me diz onde estão... Espero que pelo menos eles, nesses dias, tenham visto o papai Noel. Que algum cristão tenha dado aquele cheiro que não consegui dar.’ (A.S.R. 26 anos – São Luis)

Sangue e morte numa igreja católica da Nigéria na noite de Natal. Mais de 35 mortos!

Uma bomba explodiu ontem à noite, dia 24, na missa de Natal, na igreja católica de Santa Teresa, na cidade de Abuja capital da Nigéria, África. O saldo é terrível: 35 mortos até agora, e dezenas de feridos. Não foi o único episódio de violência na Nigéria nesse dia. Outras 5 pessoas foram vitimas de atentados, e outras bombas explodiram em outras igrejas católicas sem, contudo, provocar mais vítimas fatais.Fontes de informação da Nigéria disseram que não havia ambulâncias suficientes para levar os feridos. Em 3 delas foram levadas bem 15 vítimas.
Quem reivindicou a autoria desse crime horrendo foi o movimento islâmico radical Boko Haram. O movimento nasceu em 2001 e é autor de inúmeros atentados de Leste a Oeste da Nigéria ao longo desses anos. São partidários de um estado islâmico e têm como inspiradores os talibãs do Afeganistão. Parece, contudo, que tenham ligação também com Al Qaeda. O ódio cego e absurdo, a intolerância política desses ‘inumanos’ que utilizam ainda a religião como disfarce para outros fins parecem estar longe do seu ocaso. Na noite em que se celebrava o nascimento do ‘príncipe da paz’ os que continuam acreditando e lutando por ela conheceram morte e desespero.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

NATAL, SEMPRE. PARA NÃO DESISTIR EM GERAR E PROTEGER 'VIDAS'!


É Natal. Mais uma vez, celebrantes, fiéis e comentaristas se esforçam para não se repetirem em suas considerações. Contorcem-se para fazer emergir elementos novos, originais. Para dar um corte diferente ao Natal, e aos seus inúmeros significados. Para evitar cair no senso comum. Mas o que significa isso se o Natal parece ter tomado um rumo que parece irreversível? Mais uma vez ‘contemplamos’ de um lado o ‘surgimento’ e lançamento de novas mercadorias, promoções e ofertas nos efervescentes templos onde tudo é mercantilizado. As mercadorias parecem novas. As estratégias de promoção e lançamento continuam arcaicas. Contudo, parecem indicar para a grande massa que este é o Natal que, de fato, conta. Do outro lado, ‘escutamos’ nos templos que cheiram a incenso e louvor, o eterno e etéreo refrão de que ‘o menino Jesus nasceu para nos salvar’. E contemplamos na estátua de um menino, - em sua maioria, branco, - o ‘Deus invisível que se fez carne/homem para nos salvar’. Duas posturas que pouco ajudam a internalizar o sentido bíblico-teológico e antropológico do Natal.
Teologicamente falando podemos dizer que Natal é a memória-celebração do acontecimento histórico pelo qual um ‘humano’ (Jesus) revelou o que existe de mais ‘divino’ nos ‘humanos. Revelou-o mediante gestos e atitudes profundamente humanas. De compaixão-compreensão, de atenção ao outro, de amor e perdão sem limites. De indignação diante de tudo o que fere os filhos de Deus: o egoísmo mesquinho, a ganância irrefreável e doentia, a brutalidade, a violência física e moral, e os preconceitos e a discriminação. Deus seria assim? Nós cremos que Deus agiu assim em Jesus! Mas Natal vem para dizer que isso é extensivo a todos aqueles ‘humanos’ que agem como Jesus. Nós humanos, homens e mulheres, mesmo frágeis e limitados, podemos manifestar a humanidade que está em Deus. Podemos revelar o quão ‘humano’ é o nosso Deus. Reveladores do Divino que está em nós podemos iniciar uma ‘nova criação’.

Antropologicamente falando, - se é que podemos fazer esse tipo de distinção – Natal revela a capacidade-coragem que os humanos têm de renascer de suas próprias destruições, e formas de morte que eles mesmos geram. E reviver permanentemente. De sempre retomar, recriar e cultivar sonhos e projetos de vida inéditos. De gerar novas relações consigo mesmo, com o ambiente-habitat onde vive, com o futuro que imaginam ter para si e para todos os seres vivos. De cuidar com amor e responsabilidade da vida múltipla que lhe permite existir. De transformar e mudar pessoas, coisas e universo. Eliminando as distorções produzidas pelos próprios humanos! De se organizar e combater contra tudo e todos aqueles que ameaçam a vida, e as vidas frágeis de inúmeros desprotegid@s.
No dia 24 à noite de dezembro, em lugar de exibir aquelas imagens-estátuas de ‘menino Jesus’ – algumas de péssimo gosto, - mas que conseguem nos comover, deveríamos apresentar os inúmeros rostos desfigurados de tantos humanos que, mesmo vivos, deixaram de viver. Incapazes que são de renascer porque a esperança e a vontade de viver lhes foram tiradas por outros humanos. Humanos que negam com suas escolhas e atitudes o ‘divino’ que está dentro deles! Para que a compaixão nasça dentre nós....humanos!

FELIZ NATAL!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Geradores e organizadores da esperança fragilizada (Lc.1,26-38)

Quem de nós nunca fez uma experiência de ‘iluminação’? Uma percepção reveladora. Um sentir profundo. Uma voz anônima que ecoava imperceptível, repetitiva e insistente na nossa ‘alma-consciência. E que nos ‘intimava’ a assumir uma determinada atitude. A fazermos uma escolha que julgávamos uma loucura. A decidirmos um caminho que nos parecia insensato. E tivemos que nos tornar ‘escravos’ daquela voz. Sob pena de não dormir à noite. De ficarmos mal o tempo inteiro. De nos sentir traidores se não déssemos ouvidos àquela voz que já se havia transformado num grito. Enfim, obedecer àquela voz, a ‘nós mesmos’, para nos sentir livres.

O evangelho desse domingo narra como se deu essa experiência luminosa em Miriam-Maria, mãe de Yeshuá-Jesus de Nazaré. Miriam compreende qual deve ser o seu papel como cidadã de Israel. Não um chamado a ser mera geradora biológica de vida. Mas a ser aliada num ‘indefinido’ plano de ‘salvação nacional’! Compreendeu-o não através de sinais prodigiosos. Nem por meio de revelações extra-sensoriais. Mas como fruto maduro da sua capacidade de ler ‘os sinais’ históricos, sociais, políticos e religiosos da sociedade em que vivia. Miriam, uma anônima aldeã da Galiléia, se junta conscientemente á história de rebeldia, de insurreição daquele povo. Um povo de ‘indignados’. De irreverentes. E desobedientes às leis do templo, e aos impostos romanos. Miriam não quis, e nem podia silenciar aquela voz interior insistente. Ela teve que dizer ‘sim’ à sua consciência. Que a ‘intimava’ a fazer brotar, crescer e educar uma vida nova no ‘deserto humano’ que havia se tornado Israel. Jesus é concebido em Miriam como esperança para um povo, antes mesmo que como filho biológico. Miriam já vê Yeshuá como ameaça para alguns e oportunidade única para outros. Talvez, muitos.

Tanto é verdade isso que Miriam sente-se chamada a educar o seu filho para ele se contrapor aos ‘reinantes’ contemporâneos. Que haviam produzido só esterilidade e infecundidade. Esse ‘filho do povo’ governaria o seu povo de forma totalmente nova. Antagônica ao próprio reinado de Davi. De quem ocuparia o lugar. E, naturalmente, ao modo de governar de César Augusto. Ele, Yeshuá, ocuparia, a seu modo, o lugar usurpado indigna e ilegalmente por esses ‘governantes’! Mostraria como é possível fazer brotar fertilidade lá onde parece haver esterilidade. Vida múltipla lá onde parece existir só a mono-cultura do deserto. Da mesma forma que Deus faz brotar vida e esperança dos úteros-entranhas aparentemente estéreis de 'muita Isabel'!
Para que ninguém silencie a voz que intima a gerar novas formas de convivências humanas, de governabilidade, de organização da esperança fragilizada!

sábado, 10 de dezembro de 2011

Testemunhas de uma 'luz' espalhada que surge das trevas (Jo.1,6-8,19-28)


Num mundo onde parece ser preciso ‘brilhar’ sempre, em qualquer lugar, e a toda custa, estranhamos quando alguém se apresenta como uma simples ‘testemunha da luz’! Quando alguém admite publicamente não ser ele próprio ‘luz’. Mas ser um singelo indicador que aponta para uma luz ‘externa’ a ele. Estranhamos porque significaria para alguns ou para muitos analistas sociais falta de auto-estima. Para outros seria, talvez, admitir incapacidades pessoais que negam ‘o valor de ter valor’. Para outros mais ‘virtuosos’ poderia ser a prova cabal de sua humildade pessoal. Virtude tão louvável quanto rara. Para outros, enfim, poderia ser a constatação real, histórica, de que ‘a luz’ é algo difuso. E que não está concentrada numa só pessoa. Enfim, o reconhecimento de que temos que olhar sempre para além de nós mesmos, e descobrir as miríades de matizes da luz presente nos outros. E sermos comprovadores da sua existência e da sua validade. Talvez seja justamente a descoberta da luz presente também nos outros que nos ajuda a tomar consciência da grandeza da luz que está em nós!João, na sua narração evangélica, manifesta a clara finalidade de ‘submeter’ João a Jesus. Redimensionar a sua espessura moral e profética perante o outro grande personagem contemporâneo, Jesus de Nazaré. Apresentar a sua pregação e a sua missão como ‘algo funcional’ ao próprio Jesus. Independentemente desse compreensível estratagema literário e teológico, podemos identificar na relação João-Jesus algo que significou ruptura radical com dogmas e crenças históricas consolidadas. E, principalmente, fazendo emergir dimensões do ser que afetam os humanos de forma direta.

Aos fariseus bitolados à idéia de um messias poderoso, restaurador do templo e da dinastia monárquica João afirma de forma contundente e ríspida que ‘ele’, João, não era a luz esperada. Mesmo assumindo algumas características messiânicas, o verdadeiro messias tinha outra identidade. E que não correspondia ao que eles esperavam. A ‘verdadeira luz’ já se encontrava no meio deles. Misturada naquela multidão de famintos, de mendigos, decepcionados, e doentes que lhe pediam batismo. E que invocavam a Deus uma ‘nova chance’ para escapar da destruição. O messias dos fariseus, o poderoso salvador, assumia para João, o rosto/destino daquela ‘massa informe’, sem nome, sem identidade e sem prestígio algum. Não haveria provas e nem sinais a oferecer aos fariseus. A não ser a impotência de um povo desejoso de luz, mas que vivia nas trevas produzidas pela arrogância deles. Desejoso de potência de vida, mas se chocando cotidianamente com a morte, a destruição, a falência gerada pela lógica do templo e por uma concepção distorcida de Deus. Era preciso, portanto, tomar uma decisão: esperar e sonhar com um ‘super-homem’ todo-poderoso, uma luz poderosíssima vinda de fora a nos iluminar e salvar ou descobrir e valorizar as inúmeras ‘luzes espalhadas’ que se encontram no meio de nós. Estas, conscientes de não possuírem em si mesmas a plenitude da luz iriam se associar às outras luzes que estão ao seu alcance. Cada uma portadora de novas esperanças. De vidas re-acendidas. De práticas originais. João nos ensina que nós somos vozes emprestadas que gritam, indicadores que apontam, ondas que divulgam e multiplicam a corações cegos e desertificados uma luz que não está só em nós, mas de que podemos ser testemunhas da sua existência e da sua força. De uma luz que não pode ser monopolizada por um ou por outro ‘poderoso redentor’. Mas que ela surge e brilha de forma difusa lá onde as trevas e a noite da vida parecem dominar.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Carta de padre Franco Pellegrini à igreja de Sussuarana


'Queridos irmãos e irmãs o que contemplava até poucos dias atrás só com os olhos mortais, agora eu posso contemplar com a plenitude dos meus sentidos mais profundos: a face luminosa do Pai e Mãe, o Deus de toda luz, de toda esperança, de toda caridade. O Deus de toda vida. É nessa contemplação luminosa que olho para a minha vida terrena, quando estava no meio de vocês. Fazendo ao mesmo tempo memória e balanço do que foi a minha passagem entre vocês. Nasci numa terra bonita, coberta de flores e de muito verde na primavera, mas que reveste de neve e gelo nos rígidos invernos. Uma terra que exigia sacrifício e suor para extrair dela o necessário para comer. À sombra daquelas montanhas, no povoado de Giovo, em Trento, Italia, poucos meses após o fim da segunda guerra mundial, no dia 19 de julho de 1945 mamãe Ana - que ainda vive - e papai Gino, falecido em 1986, anunciaram que havia nascido o quarto dos seus cinco filhos.


Quase como gesto de agradecimento a Deus os meus pais me apoiaram quando lhes comuniquei que queria entrar no seminário das Missões Africanas, em Trento. Em 1955, aos 11 aninhos queria trilhar os mesmos caminhos de muitos missionários que deixam a sua terra e querem comunicar o amor de Deus a todos os filhos e filhas que Ele gerou. Não tinha totalmente clareza, na época, do que significava ser missionário, mas o entendi mais tarde quando comecei a ouvir o testemunho de muitos missionários vindos da África e que passavam por lá. Isso me deu a certeza de que era isso mesmo que Deus queria de mim. Terminei os meus estudos de filosofia e teologia na Itália, em Roma, até ser ordenado sacerdote no dia 17 de abril de 1971 no povoado onde nasci.


Já em 1972 me encontrava no sul do Maranhão, numa cidadezinha da diocese de Balsas, de nome Sucupira do Norte. Lugar sem alguma infra-estrutura, de lavradores sem terra, de grandes fazendeiros com muita terra ociosa. Tudo para ser construído. O bispo de Balsas era um nosso confrade, comboniano, homem cheio de zelo apostólico, o saudoso Dom Rino Carlesi. Ele, como eu, acreditava na força dos pequenos. Com outros confrades começamos a construir a igreja viva, aquela feita de gente que luta, que se organiza, que louva e reivindica. Iniciamos cursos de formação para animadores de comunidades, catequistas. Acreditávamos na força da educação, aquela que valoriza a pessoa e sabe descobrir o melhor que existe em cada um. Em 1977 me chamaram para ficar um tempinho na Itália para animar a juventude, para que outros jovens se abrissem à missão. Tinha 32 anos naquela época. Foi uma experiência intensa, mas que durou só alguns anos, pois recebi na bandeja um convite para regressar ao Maranhão, na paróquia de Riachão a 70 km de Balsas.



Em 1980, portanto, não me fiz de rogado e corri logo para lá. Reencontrei o meu velho bispo que me acolheu de braços abertos. Não perdemos tempo. Havia mais de 50 comunidades espalhadas naquele imenso sertão à espera de alguém que os confirmassem não só na fé, mas também em suas lutas por reconhecimento de direitos e dignidade. Lembro de numerosos conflitos e mortes por causa da posse da terra naquele rincão do Maranhão que parecia esquecido pelo meu Deus. Nunca me arrependi por ter ficado sempre do lado daqueles lavradores desejosos de produzir, mas que não possuíam um pedaço de chão e viviam oprimidos e humilhados por latifundiários sem escrúpulos. Na nossa caminhada pastoral, fé e compromisso caminhavam juntos de forma harmoniosa. E sempre acreditei nisso. Afinal, Deus mandou o seu filho ao mundo para salvar o ‘homem todo’, corpo e alma, e não só um pedaço. Com homens e mulheres de fé e de luta organizamos um sindicato de lavradores muito combativo, um verdadeiro aliado e defensor dos lavradores que não fez o duplo jogo, e não se vendeu como era freqüente naquela época. Apostei juntamente com a igreja de Balsas no surgimento e na consolidação das Comunidades Eclesiais de Base por acreditar que todos, homens e mulheres, e padres, indistintamente, fazemos parte do único povo de Deus, sem privilégios e sem honrarias. Era bonito e prazeroso ver como Deus ‘escondia muita coisa aos sabidos e espertalhões e as revelava aos pequenos’. Quantas vezes agradeci Deus por constatar quão verdadeira era a Sua palavra!


Depois de 4 anos de permanência em Riachão me pediram para prestar um serviço como formador e pároco em São Paulo, no Parque Santa Madalena, onde nós combonianos tínhamos uma casa de formação para teólogos e uma paróquia imensa. Não era o que desejava, mas fui, pois sempre entendi que se me chamavam para algum serviço era porque podia oferecer algo de bom. Em São Paulo havia muita violência, muitas favelas, muito descaso e abusos de todo tipo. Reconheço que no início vivia com saudade do povo do sertão, do luar e das noites cheias de estrelas, dos banhos nos rios, e até das longas e cansativas viagens de ‘desobriga’ nas costas de um burro em que permanecíamos fora de casa mais de mês. Mas a dura e cruel realidade de São Paulo abriu os meus olhos sobre a vida de numerosas famílias das periferias urbanas no nosso País. Entrei firme com os meus seminaristas e com as comunidades eclesiais na construção de novos espaços de humanidade. Priorizamos os menores abandonados, aqueles com deficiência física, os dependentes de drogas. Aí descobri a humanidade que nasce e floresce no meio da brutalidade urbana. Encontrei muita gente inconformada, de luta e de fé. Carregada de humanidade e carinho.


Em 1989 me chamaram de volta para o Maranhão, para trabalhar numa paróquia da periferia de São Luis, na Vila Embratel. Esse também foi um período marcante na minha vida. Com as comunidade daquela abandonada periferia organizamos e promovemos inúmeras atividades e projetos que existem ainda hoje. Apostamos de um lado na força e na participação dos leigos e leigas na igreja e na sociedade, nas pastorais sociais, na atenção aos menores abandonados, na alfabetização de adultos, e do outro lado, na luta pelo solo urbano para que as famílias que vinham do interior do Estado tivessem onde construir a sua casa. Foi aqui que tomei a decisão definitiva de me naturalizar brasileiro. Havia entendido que para mim não haveria outra terra a não ser esta. Foi uma festa quando chegaram a minha carteira de identidade e o meu passaporte inteiramente brasileiros. Passei quase 10 anos em São Luis até o dia em que me pediram para integrar uma comunidade que iria assumir uma presença missionária em Itupiranga, na diocese de Marabá, no Pará. Um território extenso, muitos assentamentos de família sem terra, muitas agressões às pessoas e ao ambiente. Uma paróquia em que fazia quase 4 anos que o padre não andava por lá. Aqui não fiquei muito, pois havia necessidade de integrar a comunidade comboniana que atuava em Balsas, na paróquia do Potosí. Lá consolidamos um projeto pastoral consistente. Com o saudoso amigo bispo Dom Franco organizamos e promovemos encontros, sínodo diocesano, romarias. Parecia-me ter voltado 'às minhas origens' missionárias! Me senti profundamente confirmado no meu ser missionário. Em Balsas fiquei até o meu destino final, Sussuarana.

Com certeza muitos de vocês se lembram quando cheguei em 2004. Confiante e temeroso ao mesmo tempo. Foi um tempo de graça para mim. Realidade nova, mas só em parte. Nunca havia trabalhado aqui, mas como sempre havia acontecido ao longo da minha vida nessa terra, aqui encontrei gente generosa, dedicada, disposta a enfrentar todo tipo de desafio. Hoje, olhando para cada um de vocês me sinto de poder proclamar as mesmas palavras de Jesus o bom pastor: ‘Eu conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem’ Vocês sabem que há sinceridade no que digo. Procurei me colocar, mesmo com as minhas fragilidades, ao serviço de todos vocês, sem julgar e condenar, acreditando que somente unidos podemos construir um novo jeito de ser igreja, de ser família. Pode ser que para alguns tenha parecido duro ou até intolerante, mas acreditem se isso ocorreu foi para manter fidelidade à prática evangélica de Jesus de Nazaré a essa igreja que fez uma opção clara em favor dos pequenos.


Acredito que a melhor forma para continuar a nos sentir unidos é reproduzir e multiplicar os mesmos gestos e as mesmas escolhas de Jesus: anunciar e testemunhar o Reino da vida, da paz verdadeira, da justiça, do respeito e do reconhecimento da dignidade de cada pessoa. Nisso poderemos nos sentir em permanente comunhão entre nós e com a humanidade, para além da morte, para além do tempo, para além de qualquer limite. Um eterno e saudoso abraço a todos vocês e que o Deus da vida vos proteja, vos guarde e vos abençoe,


Padre Franco


Sussuarana, 8 de dezembro 2011 - Salvador na missa de sétimo dia


Os indignados de Piquiá!

Cerca de dois mil moradores do bairro de Piquiá de Baixo, município de Açailândia/MA, irão protestar, amanhã dia 8 de dezembro, na Prefeitura e no Fórum da cidade. Saem para protestar contra a decisão do Tribunal de Justiça que suspendeu provisoriamente a desapropriação do terreno escolhido para re-assentar as famílias do povoado. O suposto proprietário do terreno alega alega ter na área 50 cabeças de gado. “A ideia é fazer uma grande marcha, pois não agüentamos mais ver nossos moradores adoecendo e morrendo, precisamos urgentemente que o Tribunal de Justiça resolva nosso caso e nos dê direito de uma moradia digna”, explica o senhor Willian Pereira de Melo, residente há 30 anos no local. Pesquisas realizadas em 55% dos domicílios do Piquiá, pelo Centro de Referências em Doenças Infecciosas e Parasitárias da Universidade Federal do Maranhão, e do Núcleo de Estudos em Medicina Tropical da Pré-Amazônia, revelam que 41,1% da população queixam se de doenças nos pulmões e na pele. Os pesquisadores creditam essas doenças a alta poluição causadas pelas cinco siderúrgicas com fumaça e dejetos depositados no solo e na água da comunidade.

Reivindicações
- Depois de anos de luta, nossa nova terra e nosso futuro estão nas mãos de três juízes de São Luís. Um julgamento está por acontecer e decidirá se a terra fica para 50 vacas, cujos donos têm muitas outras terras, ou se fica para nós, que somos mais de 1.100 pessoas e não temos opção.
- Há 07 anos nossos 21 processos de indenização aguardam julgamento do Poder Judiciário! Por que os pobres têm sempre que esperar tanto?
- O Governo do Estado prometeu muito, enviou secretários de estado e até o vice-governador a nos visitar... Mas até hoje não se comprometeu formalmente a desembolsar nem 1 real sequer para nossas casas!!
- A Prefeitura só desapropriou (finalmente!) um terreno para nós porque foi obrigada. Mas na hora de defender na justiça suas próprias atitudes, fica calada e ainda atrapalha o processo. De que lado está a Prefeitura?
- Há laudos e estudos internacionais que denunciam a gravíssima situação da saúde no Piquiá de Baixo. Mas a Prefeitura fechou o posto de saúde de nosso bairro há mais de um ano e nos fornece água somente poucas horas ao dia. Mais uma mulher morreu há pouco tempo de câncer no pulmão, e ninguém se preocupa com nossa saúde!
- As siderúrgicas continuam poluindo nosso ar, nossa água e solo. O barulho não nos deixa dormir. Nossos processos se bloqueiam pela burocracia e os recursos. Mas nem o Ministério Público nem os órgãos ambientais nunca mandaram parar um forno por respeito à nossa vida!
- A mineradora Vale fica observando tudo isso e se acha limpa. Mas foi ela que trouxe essas siderúrgicas pra cá e é ela que as alimenta de ferro e escoa sua produção. Se ela tivesse realmente interessada em uma solução, já teria exigido isso das siderúrgicas. Mas não: ela quer duplicar, construir um novo Carajás, passando por aqui. E nós nem aguentamos o primeiro! (Fonte: Justiça nos trilhos)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Kaiwá-Guarani - 'A maior tragédia indígena do mundo'

Indignação, raiva, tristeza e impotência. Esses são os sentimentos que se misturam quando se toma conhecimento da sistemática e reiterada agressão ao povo Kaiowá Guarani: Queima de barracos, intimidações, destruição de plantações, sequestros e assassinatos seguido da crueldade do desaparecimento de corpos. Por detrás dessa violência sem fim se encontra o agronegócio no Estado do MS. Os indígenas são vistos como “ervas daninhas” que incomodam os “jardins do latifúndio”, diz Tatiana Bonin. O agronegócio e o latifúndio não toleram os indígenas porque os mais de 30 acampamentos às margens da rodovia mantém viva a consciência de que um dia aquelas terras lhes pertenceram, foram o seu tekoha, agora invadida, grilada, roubada e tomada à força. Os acampamentos dos indígenas com seus paupérrimos barracos de lona preta na beira das fazendas interpelam a consciência dos fazendeiros. Os índios são um “estorvo” em meio à paisagem do gado pastando e da vastidão da soja e da cana-de-açucar. A situação dos indios no Mato Grosso do Sul já foi definida pela vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat como “a maior tragédia indígena do mundo”. O sistemático massacre a quem têm sido submetidos foi caracterizado como genocídio pela CNBB. “O sangue desta reconhecida liderança, vítima de uma morte anunciada, clama por justiça e pelo fim da violência que há anos atinge e vitimiza este povo”, diz nota da entidade. (Fonte: IHU)

sábado, 3 de dezembro de 2011

Morre, em Salvador padre Franco Pellegrini, comboniano, missionário!

Ás seis horas da tarde do dia 02 de dezembro, em Salvador, faleceu o meu colega e confrade, o comboniano padre Franco Pellegrini, em consequência de uma hemorragia interna após um grave acidente automobilístico. O padre acabava de sair, de carro, de um encontro com outros padres e logo após um micro-ônibus que vinha em sentido contrário invadiu a sua faixa e colidiu violentamente no lado em que ele se encontrava. Algumas pessoas que acompanharam a dinâmica do acidente afirmaram que o motorista do micro-ônibus vinha em alta velocidade perdendo o controle do veículo. Levado consciente ainda ao Pronto Socorro, Franco veio a falecer pouco tempo depois. Franco é mais uma vítima do trânsito bárbaro e louco que produz aproximadamente cerca de 40 a 45.000 mortos todo ano no nosso País. Triste campeão mundial nessa diabólica modalidade.
Italiano, de Trento, naturalizado, com pouco mais de 65 anos, havia passado quase toda a sua vida como missionário aqui no Nordeste. Pessoa inteligente, perspicaz, se distinguiu logo pelas suas opções pastorais claras em favor das pessoas mais excluídas e abandonadas do Maranhão, inicialmente, e de Salvador onde se encontrava desde 2003. Viveu o seu sacerdócio sempre com um entusiasmo contagiante. Nunca entrou na rotina daqueles que aos poucos vêm perdendo o entusiasmo inicial. Persistente, quase beirando a teimosia, não temia se expor e dizer o que pensava, mesmo que isso causasse alguns desentendimentos. Deixa um vazio grande que deverá ser preenchido por todos aqueles que o conheceram, apreciaram, estimaram. E que querem recolher o seu legado e a sua herança espiritual e humana. Obrigado, Franco!

'Preparem os caminhos de vocês para reconhecê-lo no meio de vocês'! - Mt.1.1-8.1.

Em geral, no advento, liturgicamente falando, damos muita ênfase ao fato que ‘Jesus vem’.Que temos que preparar os caminhos ‘para Ele’ poder atuar plenamente. Inconscientemente, imaginamos que os ‘caminhos’ tortuosos, - mesmo que entendidos de forma metafórica, - impediriam a Sua chegada. Ao não corrigi-los o salvador não viria. Ledo engano! O evangelho de Marcos deixa claro que os caminhos a serem aplainados e endireitados têm como finalidade a de facilitar a ‘nossa’ capacidade de reconhecer a presença de Alguém que já é real e atuante. Afinal, somos nós que impedimos a nós mesmos de sentir e usufruir plenamente de uma presença que por si só já é renovadora. Que nos batiza no Espírito Santo. Naquele que não possui barreiras. Que não conhece limites. Que invade espaços e penetra nos ângulos mais recônditos da alma e do ser.

Nesse sentido Marcos nos dá um recado claro e direto. Aconteça o que acontecer, o novo, o transformador, o surpreendente, está por vir, aliás já está aqui. Quem não se dispõe à permanente mudança de vida não poderá ‘reconhecer’ Aquele que só pode ser entendido como ‘transformador permanente’. Que está dentre nós, e dentro de nós para mudar e subverter a realidade de morte e de deserto que virou a vida humana. Só quem compreende isso é que pode ser voz que sabe falar aos ‘desertos humanos’. Só quem sabe que o novo já está no nosso meio é que tem coragem e fé para acreditar que dos desertos humanos pode vir o novo, o inédito de Deus. A superação da escravidão, do desespero, da dor, da opressão secular. Que sabe que o ‘messias-transformador’ não é alguém estranho à sua natureza, mas é gerado e plasmado pelo sonho real de produzir vida nova lá onde existia só deserto e abandono.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Suzano no Maranhão: a que preço!!!!!

A poderosa empresa Suzano Papel e Celulose, que cerca Chapadinha com promessas de milhões em investimentos e milhares de empregos, há muito ronda outros municípios da região deixando rastro de conflitos agrários, suspeita de dano ao meio ambiente e denúncias de grilagem de terras, desrespeito e truculência contra trabalhadores rurais e comunidades tradicionais do Baixo Parnaíba. A última comunidade a ter problema com a Suzano recebe o nome de Formiga e fica a 45 quilômetros de Anapurus. Na sexta-feira (18) a empresa paulista conseguiu um mandado de reintegração de posse em caráter liminar (provisório), com decisão de juiz substituto proferida contra pessoas que ocupam a área por pelo menos três gerações. No cumprimento da decisão judicial três casas foram postas abaixo, cercas foram arrancadas, um antigo cemitério teria sido atingido pela derrubada de árvores e um poste de iluminação fora quebrado pelos tratores que executaram o serviço.
A Suzano diz na ação que adquiriu a terra em 1996, mostra uma cessão de direitos registrada em seu favor no Cartório Monteles de Anapurus, datada no mesmo ano de 1996 e documentos e taxas expedidos pelo INCRA com base na mesma cessão de direitos.Os trabalhadores, quase todos herdeiros de Francisco Rodrigues do Nascimento, que constituiu família ali e tinha efetiva posse da terra há mais de noventa anos. Segundo relatos foram gerações sobrevivendo da pequena agricultura e do extrativismo (bacuri, pequi e babaçu) até a Suzano a reclamar a terra. Os agricultores apresentam certidão do Cartório de 1º Ofício de Brejo em que a demarcação das terras em favor da família tem registro desde 1966. O advogado dos agricultores é enfático em suspeitar de grilagem, “infelizmente por conta de uma grilagem gigantesca, a Suzano e outras empresas de grande porte, que por cá estão se assentando, vem promovendo um verdadeiro atentado às nossas famílias do campo. De olho em terras, vem forçando uns e outros lavradores a deixarem suas terras (seu mais precioso bem)”, frisou o advogado. Atualmente o Cartório de Anapurus passa por intervenção do Tribunal de Justiça por suspeita de irregularidades em registro de terras e outros documentos. (Fonte: blog de alexandre-pinheiro)

sábado, 26 de novembro de 2011

Advento: antenado o tempo todo! (Mc.13, 33-37)



Quantas vezes andamos desatentos na vida, e nos deixamos escapar oportunidades únicas? Quantas vezes vivemos desligados com o que ocorre ao nosso redor, e perdemos a chance de encontrar a pessoa certa. Aquela que pode mudar o rumo da nossa vida? Quantas vezes, de forma leviana, por não querer acompanhar ou por não saber interpretar informações, notícias, pesquisas, anúncios quebramos a cara? E permitimos que outros também a quebrem por causa da nossa distração? Quantas vezes achamos que ‘dormir no ponto’ ou ‘estar ligado’ não faz diferença, pois imaginamos que não temos poder para modificar o ambiente em que nos encontramos? Porque achamos que há um destino já escrito que determina tudo com ou sem a interferência dos humanos. Pois bem, o evangelho de hoje nos dá uma aula de vida. De ‘compromisso social e humano’! E de assunção de responsabilidade com tudo o que ocorre ao nosso redor. Enganam-se aqueles que acham que Jesus, na narração evangélica hodierna, esteja se referindo ‘à vinda última e definitiva’ de Deus ou à uma segunda vinda do ‘filho do homem’! Enganam aqueles que acham que Jesus esteja propondo uma acolhida ‘digna’, adequada, a ‘Alguém’ que como ladrão poderia estar chegando nas horas mais impróprias para flagrar os seus filh@s ou empregad@s em alguma contradição...

O horizonte da parábola é a Realeza de Deus. O jeito novo de Deus governar a humanidade. Jesus é um homem/cidadão inserido na história. Antenado nela. Sabe que cabe aos humanos ‘construir’ a nova humanidade a partir daquilo que Deus sonha e quer para os humanos. Jesus não delega para Deus algo que cabe a todos. Ao mesmo tempo, porém, percebe que os humanos confundem freqüente e propositalmente ‘vontade de Deus’ com ‘interesses próprios’. A manipulação e a esperteza estão sempre à espreita. Muit@s, de fato, usam e abusam do ‘nome e da vontade de Deus’ para justificar formas de escravidão e opressão. É preciso, portanto, vigiar. Desmascarar. Revelar. É preciso educar-se e educar ao senso crítico. De quem não bebe tudo o que vê ou que acha que vê. Que não se empolga com atitudes e manifestações espetaculares, - sejam elas sociais, políticas ou religiosas - que apontam para soluções rápidas e fáceis. Mágicas e milagrosas. Que dispensam a responsabilidade pessoal e coletiva. O discípulo de Jesus é aquele que ‘não deixa escapar nada’! É aquele que vive em estado de alerta permanente. Investiga e quer uma explicação para tudo. Que não se distrai mesmo sem renunciar à beleza e ao ‘prazer’ de viver. Que analisa, com atenção, pessoas e acontecimentos. Que intui que nas pessoas e nos acontecimentos é que residem saídas e luzes para a humanidade. Que nelas, se bem discernidas, encontram-se a ‘vontade e a realeza de Deus’! Enfim, que não fica esperando, mas sabe quando faz a hora...
Bom advento!

domingo, 20 de novembro de 2011

Entidades religiosas condenam crime contra o povo Kaiwá

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em carta aberta responsabiliza a presidenta da República, Dilma Rousseff, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o presidente da Funai, Márcio Meira e o governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli pela chacina praticada contra a comunidade Kaiowá Guarani do acampamento Tekoha Guaiviry, na manhã desta sexta-feira (18). Os 42 pistoleiros, além de matar o cacique Nisio Gomes e levar o seu corpo, balearam mais três jovens indígenas e feriram vários outros por balas de borracha. Dois estão desaparecidos e outro se encontra hospitalizado. ‘O governo da presidenta Dilma, - afirma o CIMI - é perverso e aliado aos latifundiários criminosos de Mato Grosso do Sul. Insiste em caminhar para o massacre e se encontra banhado em sangue indígena, camponês e quilombola’. Por outro lado, - continua a carta do CIMI - a Polícia Federal tampouco investiga os assassinatos dos indígenas. A Polícia Federal precisa investigar exaustivamente o crime, proteger a comunidade e apresentar os criminosos’. As comunidades acampadas no Mato Grosso do Sul estão unidas contra mais este massacre, numa demonstração de profundo compromisso e firme decisão de chegar aos territórios tradicionais. Indígenas de todo o Estado se dirigiram ao acampamento tão logo souberam do covarde ataque. Na última quarta-feira, inclusive, estiveram lá para prestar solidariedade aos Kaiowá Guarani que retomaram um pequeno pedaço de terra mesmo sob risco de ataque – o que aconteceu, mas sem maiores repercussões. ‘O Cimi, - conclui a carta - mais do que nunca, acredita que a força, beleza e espiritualidade desses povos os manterão firmes e resistentes na luta, apesar de invisíveis aos olhos de um governo que escolheu como aliados os assassinos dos índios brasileiros.

Brasília, 18 de novembro de 2011.
Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

COMBONIANOS DO BRASIL NORDESTE REPUDIAM
ATO BÁRBARO CONTRA O POVO KAIWÁ

O Missionários Combonianos do Brasil Nordeste, de quem este blogueiro é coordenador, condenam veementemente não somente o ato vil e bárbaro cometido por 42 pistoleiros a mando de inescrupulosos contra o povo indígena Kaiwá-Guarani, mas também todas aquelas instituições assim ditas públicas que em lugar de defender os desprotegidos dessa terra omitem-se criminosamente quando estes são barbaramente trucidados. Mais uma página da história desse País está sendo escrita com sangue, crime e vergonha. Justiça para os povos indígenas do Brasil!

Missionários Combonianos Brasil Nordeste - 20 de novembro de 2012

20 de novembro: DIA DA CONSCIÊNCIA ....HUMANA!

Também a presidente Dilma, ontem, em Salvador, não pode esconder o que é evidente para a maioria dos brasileir@s: a pobreza no Brasil é ‘negra e é feminina’. Poderíamos acrescentar:’...e feminina negra’!Ela se baseou nos dados atualizados do IBGE de 2010, mas publicados recentemente. Uma fotografia do momento, claro, mas que reflete uma seqüência de fotos que se repete há séculos, no nosso País. Esses dados, porém, não medem o nível de ‘pobreza moral/cidadã’ de inúmeros brasileir@s que continuam alimentando a indústria do racismo e da intolerância. Em suas consciências cativas e tapadas imaginam que desenvolvimento e o progresso nacional continuem fazendo rima com cidadãos/ãs de ‘boa (branca) aparência’. Os povos negros do Brasil continuam funcionais a determinadas elites que perpetuam de forma sempre mais camuflada e sorrateira um modelo de neo-escravatura que parece não mais irritar e chocar as consciências nacionais. Nem as de muit@s negr@s! Hoje celebra-se o Dia da Consciência Negra. Para negr@s e para não negr@s. Para os que se assumem a sua origem e história, e se orgulham, e para os que se envergonham.

Aliás, como não nos envergonhar por sermos tão estúpidos e idiotas em alimentar ainda no XXI século preconceitos tão arcaicos (com todo respeito à origem etimológica da palavra)? Como não nos sentir vis em continuar a praticar ou a ignorar práticas escravagistas em plena ‘pós-modernidade’, que é considerada a panacéia do momento atual? Como não nos envergonhar por ‘lutar por espaço’ na política e na sociedade – supostamente para defender os direitos universais do gênero humano, – mas na realidade, é para ocupar cargos e prestígio às custas de tant@s negr@s massacrad@s...esquecid@s por nós mesmos? Que nasça um nova consciência humana!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

42 pistoleiros invadem acampamento dos Kaiwá-Guarani e executam o cacique.

No início da manhã desta sexta-feira (18), por volta das 6h30, a comunidade Kaiowá Guarani do acampamento Tekoha Guaviry, município de Amambaí, Mato Grosso do Sul, sofreu ataque de 42 pistoleiros fortemente armados. O massacre teve como alvo o cacique Nísio Gomes, 59 anos, executado com tiros de calibre 12. Depois de morto, o corpo do indígena foi levado pelos pistoleiros – prática vista em outros massacres cometidos contra os Kaiowá Guarani no MS. As informações são preliminares e transmitidas por integrantes da comunidade – em estado de choque. Devido ao nervosismo, não se sabe se além de Nísio outros indígenas foram mortos. Os relatos dão conta de que os pistoleiros sequestraram mais dois jovens e uma criança; por outro lado, apontam também para o assassinato de uma mulher e uma criança.
“Estavam todos de máscaras, com jaquetas escuras. Chegaram ao acampamento e pediram para todos irem para o chão. Portavam armas calibre 12”, disse um indígena da comunidade que presenciou o ataque e terá sua identidade preservada por motivos de segurança. Conforme relato do indígena, o cacique foi executado com tiros na cabeça, no peito, nos braços e nas pernas. “Chegaram para matar nosso cacique”, afirmou. O filho de Nísio tentou impedir o assassinato do pai, segundo o indígena, e se atirou sobre um dos pistoleiros. Bateram no rapaz, mas ele não desistiu. Só o pararam com um tiro de borracha no peito.Na frente do filho, executaram o pai. Cerca de dez indígenas permaneceram no acampamento. O restante fugiu para o mato e só se sabe de um rapaz ferido pelos tiros de borracha – disparados contra quem resistiu e contra quem estava atirado ao chão por ordem dos pistoleiros. Este não é o primeiro ataque sofrido pela comunidade, composta por cerca de 60 Kaiowá Guarani. Desde o dia 1º deste mês os indígenas ocupam um pedaço de terra entre as fazendas Chimarrão, Querência Nativa e Ouro Verde – instaladas em Território Indígena de ocupação tradicional dos Kaiowá. A ação dos pistoleiros foi respaldada por cerca de uma dezena de caminhonetes – marcas Hilux e S-10 nas cores preta, vermelha e verde. Na caçamba de uma delas o corpo do cacique Nísio foi levado, bem como os outros sequestrados, estejam mortos ou vivos.
“O povo continua no acampamento, nós vamos morrer tudo aqui mesmo. Não vamos sair do nosso tekoha”, afirmou o indígena. Ele disse ainda que a comunidade deseja enterrar o cacique na terra pela qual a liderança lutou a vida inteira. “Ele está morto. Não é possível que tenha sobrevivido com tiros na cabeça e por todo o corpo”, lamentou. A comunidade vivia na beira de uma Rodovia Estadual antes da ocupação do pedaço de terra no tekoha Kaiowá. O acampamento atacado fica na estrada entre os municípios de Amambaí e Ponta Porã, perto da fronteira entre Brasil e Paraguai.

Salvos e felizes pela misericordia e a caridade! (Mt. 25, 31-45))

Naquele tempo Jesus disse aos seus discípulos: ”Todo dia o nosso Pai que está entre nós acompanha os nossos passos. Não para cobrar, julgar e condenar. Mas para nos ajudar a compreender onda está a verdadeira felicidade. O meu Pai não é um juiz terrível e inflexível, como muitos dizem. Vingativo e incapaz de compreender as fraquezas dos filhos e filhas que gerou. Por isso, Ele não ordena e nem decreta sentenças. Mas aponta caminhos, sugere escolhas e opções, mostra onde podemos crescer mais. Indica onde Ele está presente, mesmo quando não o vemos do jeito que imaginamos. Haveremos, portanto, de ter surpresas no nosso dia a dia porque Ele está presente nas pessoas e nas circunstâncias mais impensáveis. Mas está presente, principalmente, naqueles homens e mulheres que sabem acolher, compreender e se compadecer de seus irmãos e irmãs mais necessitados. Por isso, a cada um de nós, a qualquer hora, poderia nos dizer:
Eu estava sem sementes, sem enxada, sem um torrão de terra para plantar e matar minha fome de pão e de justiça, e VOCÊ me ajudou a enfrentar os deuses do agro-negócio, e a combater seus dogmas desenvolvimentistas. Aprendi com você a ver e a sentir que é da terra molhada, fria ou seca que a vida é gerada. É desse útero fecundo do próprio Deus que nos fartamos de pão e de justiça. ’
‘Eu era um índio da aldeia global, vivia rejeitado e desprezado nas malocas da alma e das leis humanas, e VOCÊ me reconheceu como seu irmão/ã, como povo originário, numa terra finalmente livre de madeireiros e fazendeiros, rica de mel, de rios sem hidrelétricas, de araras de mil cores, de maracás sem tristeza, e de arcos sem flechas. ’
Eu era negro e negra que trazia na memória e na face as cicatrizes da discriminação e da hipocrisia da raça pura, e VOCÊ me dignificou, me ajudou a gostar de mim mesmo e das minhas raízes. Ajudou-me a gostar de todos aqueles/as que independentemente do arco-íris de sua pele lutam contra o racismo e a intolerância. ’
Eu vivia preso, torturado e seviciado nos calabouços das instituições de re-habilitação que enclausuram luz e esperança; mesmo condenado e vigiado pelos guardiões e manipuladores das leis VOCÊ me visitava, e me perdoava. Todo dia, juntos, serrávamos as grades da brutalidade, da injustiça e do deserto da minha solidão. Graças a você saboreei liberdade. ’
Eu me sentia vencido pelos fantasmas do meu medo interior, sem vontade de viver e crer, e VOCÊ me compreendeu. Não fugiu, ficou ao meu lado, e não se envergonhou de mim. Graças a você voltei a viver e a sorrir. ’
Eu vivia mendigando nas ruas e nas igrejas. No frio da indiferença humana não tinha o cobertor da proteção e o calor da hospitalidade. Desempregado, eu era considerado um falido e um indolente, mas VOCÊ me ajudou a matar a fome de pão e de vida. Não esqueço a força que me deu ao confiar em mim. Ao me oferecer aquele emprego que me devolveu a fé em mim mesmo e nos outros. ’
Eu era uma criança largada e abandonada, mas adulto antes de crescer. Conheci desde cedo o pior que pode acontecer a uma criança: arrancar a sua inocência, mas VOCÊ me amou mais que um pai e uma mãe de sangue. Protegeu-me contra tudo e contra todos. Compreendi, então, que uma criança pode ter um pai e uma mãe mesmo que não tenha os seus nomes escritos no registro de nascimento que só agora, graças a você, consegui ter. ’
Eu vivi nos inúmeros lazaretos públicos do SUS, deitado em seus corredores fedorentos e frios, sem UTI, e sem remédios. Sem o conforto de um familiar ou de um ministro de Deus, e VOCÊ me enxergou. Devolveu luz aos meus olhos mareados e apagados. Sobrevivi. Injetou em mim a energia da superação. Voltei a viver, mesmo sabendo que lágrimas e dor fazem parte da nossa vida. ’

E Jesus continuou: “Então o meu Pai se aproximará desta pessoa e tomando-a pela mão lhe dirá ‘ VOCÊ estava em Mim quando EU fazia estas coisas para cada um desses pequenos e invisíveis. Por isso, agora, VOCÊ é feliz. Experimente e curta a paz que está dentro de ti. Aquela paz que outros ainda não quiseram descobrir porque não quiseram ver no necessitado visível o Deus invisível que acolhia, protegia e servia através de VOCÊ!

sábado, 12 de novembro de 2011

Ampliar e valorizar o patrimônio espiritual e humano que Deus nos deixou (Mt. 25,14 ss.)

Em tempos de crise financeira global falar em ‘lucrar’, ‘multiplicar’ talentos e recursos – como o evangelho hodierno apresenta - é música suave. Aos ouvidos de quantos vivem ansiosamente à procura de possuir mais e mais. Viciados e dependentes como são do consumo, dos gastos insensatos, das mordomias e dos luxos vergonhosos. Há, porém, um outro lado dessa mesma moeda/realidade. A necessidade sim, de multiplicar e valorizar, sobremaneira, tudo o que sinaliza vida, fraternidade, participação, defesa da integridade moral e física dos humanos, e de todos os seres vivos. Ameaçados como são pelas manias doentias dos que querem lucrar sempre mais dinheiro à custa dos querem preservar vida, liberdade, sobriedade, e respeito. É justamente disso que a parábola de Jesus nos fala. Não se trata, com efeito, de considerar eventuais qualidades pessoais, ou uma espécie de conjunto de habilidades a serem valorizadas e multiplicadas na esfera pessoal/individual. Não que isso não seja importane! Mas trata-se, essencialmente, de tomar consciência de que ‘ Alguém’ confiou em nós, e nos deixou a responsabilidade de dar continuidade ao seu/comum patrimônio moral e existencial: a vida, a realeza de Deus. Ele o fez considerando as capacidades 'administrativas e gerenciais' de cada um. Sem intransigências, e nem falsas piedades. Mas a todos, sem exclusão, deixou parte desse patrimônio, para cuidar com competência e criatividade. Sem se omitir e se apavorar com essa responsabilidade. Mais do que isso: nos incentiva a administrar para ampliar, diversificar e estender sempre mais esse ‘patrimônio inicial’.
Aqui entram, porém, as duas diferentes posturas/comportamentos que podemos assumir perante essa missão de vida. De um lado tomar consciência de que temos autonomia e liberdade para mexer no ‘capital de vida’ que Deus nos deixou. Mexer, porém, só se for para ampliá-lo ainda mais. Para permitir que outros, muitos, possam se aproveitar dele. E para tanto precisamos ser corajosos. Temos que nos arriscar. Experimentar formas e caminhos novos para que haja mais vida, mais esperança, e mais fraternidade. Esta é a postura daqueles de investiram, arriscaram e dobraram o capital inicial recebido. Mas há também a outra postura. Aquela de quantos acham que o patrimônio de vida deixado inicialmente por Deus é simplesmente para ser ‘preservado’ tal como o herdamos. Ou seja, a postura de quantos acham que nós somos meros guardiões do ‘capital espiritual e humano’. O que poderia ser considerada uma atitude sensata, a de pelo menos não desperdiçar o bom que foi herdado, torna-se, neste contexto, objeto de crítica dura por parte de Jesus. Afinal, o Deus de Jesus não é um ‘conservador’ e um ‘ciumento’ do capital dele! Ao contrário, é um deus que tem consciência que a vida que possuímos é ‘patrimônio coletivo’. E cabe a todos, não simplesmente ‘guardar e conservar’ a vida, mas multiplicá-la e valorizá-la. Fazê-la ‘render’ infinitamente mais. Talvez porque a vida/patrimônio nunca tenha sido tão banalizada e ameaçada como hoje.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Maria do Carmo: a desembargadora que acha 'privilegiados' os índios por terem o direito de serem ouvidos

Em uma sessão-relâmpago de 15 minutos no Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF1) na tarde desta quarta, dia 9, a desembargadora Maria do Carmo decidiu anular a Constituição brasileira. Em seu voto acerca da Ação Civil Pública do Ministério Público Federal, que exige a aplicação do direito constitucional dos povos indígenas afetados por Belo Monte de serem consultados pelo Congresso Nacional, a desembargadora achou por bem decidir que os indígenas não precisam de consulta prévia, uma vez que a barragem e o reservatório não estarão localizados em suas terras, e independente de todos os impactos que levarão à sua remoção forçada após a construção de Belo Monte. Jogou, assim, uma pá de cal sobre a Carta Magna, já desconsiderada em julgamento anterior pelo desembargador Fagundes de Deus. Grosso modo, na opinião e no voto de Maria, diferente do que diz a Constituição, técnicos da Funai ou do Ibama poderiam substituir os parlamentares na função de realizar as oitivas.
Diz a desembargadora que as consultas poderiam ser feitas antes ou depois do licenciamento das obras, pouco importa. Além do mais, os índios são “privilegiados”, opina a juíza, por terem direito a serem ouvidos; e as consultas, de qualquer forma, seriam meramente protocolares porque o governo não teria obrigação de levar em conta as opiniões nelas expressas, conclui Maria. Que o Supremo Tribunal Federal, guardião da nossa Constituição, sane este erro, pelo bem do Estado Democrático de Direito. E que o faça antes que Belo Monte seja um fato consumado e se torne um monumento hediondo da falta de Justiça neste país. (Fonte: Xingu Vivo)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Funcionários da FUNAI ocupada, em Imperatriz, esclarecem posicionamento


1. Os Servidores da Coordenação Regional de Imperatriz, da Fundação Nacional do Índio/FUNAI, por meio da Associação Nacional dos Servidores da FUNAI em Imperatriz, esclarecem que desde o momento em que tomaram conhecimento da ocupação dos indígenas ao prédio Sede, no último dia 31.10.2011, não se manifestaram, devido entender que a aludida manifestação é um direito dos indígenas em expressarem suas reivindicações, desde que estas, não violem o direito soberano constitucionalmente previsto à incolumidade física, moral, sobretudo a integridade da vida dos servidores no exercício regular de suas funções. Desta forma, optaram por não comparecer as instalações do órgão indigenista para cumprimento do expediente normal por temer a substituição da ação pacífica, amplamente divulgada na mídia, por situações de constrangimento público com possíveis desdobramentos de cunho agressivo.
2. Esclarecem que no último dia 17 de setembro, a Coordenação da FUNAI de Imperatriz e seus técnicos, acompanhada de Assessores da Presidência do Órgão compareceu à reunião na Terra Indígena Araribóia, na Aldeia Lagoa Quieta, no município de Amarante, para discutir a reestruturação do órgão indigenista, por conseguinte, a formação do Comitê Gestor da FUNAI, entendido como espaço destinado ao controle social da instituição, juntamente com os indígenas
3. Na oportunidade o movimento indígena não aceitou discutir a pauta referida e sujeitou os servidores presentes ao escárnio público sob constrangimentos e humilhações verbais. Na oportunidade fora exigida a substituição e a transferência de vários servidores do quadro da instituição em Imperatriz sob a alegação que já estão há mais de dez anos no órgão, sem, contudo apresentar outras motivações plausíveis.
4. Esclarecem também que à partir daquele momento as negociações passaram a ser coordenadas por meio da Presidência da FUNAI/Brasília que prontamente externou a disposição em receber um grupo de indígenas na capital federal para as tratativas de acordo.
5. Esclarecem, ainda, que a FUNAI está passando por um processo de reestruturação, e que somente há 1 ano e 10 meses a Coordenação Regional de Imperatriz, escolhida pela presidência da FUNAI dentre as três Administrações existentes no Maranhão, a saber, São Luís, Barra do Corda e Imperatriz, passou a atender os cerca de 30 mil indígenas, das 9 etnias, conforme Decreto Ministerial 7.056/2009. Dessa forma, das 17 terras indígenas existentes no Estado apenas duas ainda não estão homologadas, mas já são objeto de providencias junto à Coordenação Fundiária do órgão
6. Ressaltam também que as reivindicações constantes na Carta Aberta dos Povos indígenas cabem à Presidência da FUNAI deliberar. Desta forma as negociações estão sendo tratadas diretamente entre a instância máxima do órgão e os indígenas. Enquanto isso, os servidores aguardam os desdobramentos, como já é de praxe na FUNAI, até porque uma das reivindicações dos indígenas é a substituição do Coordenador Regional e sua equipe. Dessa forma, as atividades do órgão continuam paralisadas devido os servidores não terem condições emocionais e psicológicas para o desenvolvimento adequado dos trabalhos em prol dos povos indígenas do Estado do Maranhão, que em sua maioria continuam em suas aldeias

Imperatriz-MA, 07 de novembro de 2011

No ano de combate contra o racismo Missionários Combonianos lançam cartilha virtual


Os Missionários Combonianos no Brasil Nordeste oferecem às comunidades, movimentos sociais, escolas e grupos de pastoral a cartilha “Brasil Negro - Pílulas de aprofundamento para enfrentar o racismo no Brasil”. O Ano 2011 foi declarado pela ONU Ano Internacional dos Povos Afro-descendentes. Ocasião para assumir o compromisso político de erradicar a discriminação contra os afro-descendentes e promover o respeito à diversidade e herança cultural. A experiência pastoral dos Missionários Combonianos no Brasil e a colaboração com vários movimentos e grupos ativos nessa causa levaram à produção desse instrumental de resistência contra o preconceito tendo em vista a valorização das culturas negras e multi-étnicas. O lançamento no mês de novembro entende valorizar as celebrações da consciência negra e o martírio de Zumbi dos Palmares, líder dos quilombos de ontem e de hoje. A cartilha apresenta-se em forma de hipertexto acessível por internet e oferece aprofundamentos em oito eixos de reflexão e ação, entre os quais a história do racismo no Brasil, casos atuais de discriminação, uma aproximação antropológica, jurídica, religiosa e bíblica ao tema, pistas de ação e continuidade. Acesse a cartilha e divulgue-a, através do site dos Missionários Combonianos www. ecooos. org.br

Berlusconi, enfim, caiu!


Silvio Berlusconi, o primeiro ministro do governo italiano teve que jogar a máscara. Após ter negado reiteradamente, nessas últimas semanas, que não havia crise na Itália, teve que se render às evidências. A evidência de que ele e o seu governo não gozam de nenhuma confiança por parte dos países da Europa e da maioria dos italianos. De que ele não é um líder em condições de pôr em ato as medidas essenciais que o ‘governo europeu’ sugere para segurar a crise na Itália e, consequentemente, para não prejudicar ulteriormente a estabilidade européia já espantosamente em risco. Não teve maioria no congresso para obter a confiança necessária e continuar a governar. Os seus próprios aliados lhe negaram o apoio necessário para se manter na direção do governo. Nem as manobras que costumeiramente utilizava, a saber, a chantagem, a promessa de benesses, a mercantilização do voto/apoio, serviram para manter coesa a maioria no congresso. Agora cabe ao presidente da República ver qual caminho o governo italiano deverá seguir. Berlusconi quer ir ao voto imediato. A oposição, e talvez o próprio presidente da República queiram formar um governo de unidade nacional, de transição. Um fato parece ficar claro. Berlusconi tentará sair definitivamente do cenário político não como um derrotado. Não como o responsável de ter jogado a Itália no abismo social e econômico, mas como aquele que tentou salvá-la ‘in extremis’ quando o barco estava à deriva. Dificilmente conseguirá fazer aprovar aquilo que a Europa está a pedir, como ele pretende, antes de dar as demissões. O seu enterro político já está decretado. Caberá saber se a atual oposição será mais coesa, responsável, capaz de conduzir o País nesses momentos de escuridão e caos em que Berlusconi o jogou.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A VALE à conquista da África!

A Vale está interferindo diretamente no funcioamento normal das instituições oficiais da cidade de Moatize e da província de Tete, no Moçambique, impondo-se com maior relevância do que a maioria dos órgãos públicos locais como ator nos processos de decisões políticas, econômicas e sociais. As instituições do governo de Tete parecem estar perdendo o controle do barco. Aliás, a grande questão que se levanta neste momento é saber até que ponto as autoridades governamentais de Tete e de Moatize conseguirão acompanhar os gigantescos passos das multinacionais, entre as quais a Vale que de pouco em pouco toma conta dos destinos não só desta região central do país, mas de todo Moçambique.Tudo começou quando a Vale se instalou em Moçambique, em 2004. De lá para cá a mineradora brasileira Vale tem causado polêmica entre os trabalhadores, ambientalistas e ativistas moçambicanos ao explorar minério na bacia carbonífera de Moatize, “uma das maiores reservas de carvão mineral não exploradas do mundo”. A Vale, segundo o jornalista moçambicano Jeremias Vunjanhe assinou um contrato com o governo moçambicano, garantindo sua permanência no país até 2030 para explorar uma área de 23.780 hectares, em Moatize, província de Tete. O projeto de exploração da mina de carvão de Moatize concedido à Vale é desenvolvido a céu aberto. Na fase de plena exploração, a capacidade da mina da Vale vai atingir cerca de 26 milhões de toneladas de carvão bruto. Dada a sua capacidade de propaganda, a instalação da Vale, no início, foi vista como promissora e despertou muitas expectativas no povo moçambicano, esperançados por oportunidades de emprego e de desenvolvimento do país. Porém, num processo pouco transparente, a Vale tem se tornado um proprietário absoluto das reservas carboníferas de Moatize e sobre elas tem estruturado a sua hegemonia, expansão e internacionalização. Reproduzindo os mesmos impactos de devastação e destruição de territórios das comunidades. Além disso na cidade de Tete e em Moatiza a Vale e a Riversdale têm se convertido em proprietários absolutos das unidades hoteleiras e restaurantes, das ias de acesso, do aeroporto local, enfim do destino da província. Parece não haver limites para a sede de expansionismo da Vale. Parece não existir limite à sua truculência e negligência com tudo o que ainda cheira a vida!(fonte:IHU - adapatação do blogueiro)

sábado, 5 de novembro de 2011

Óleo da sabedoria para identificar o 'novo/noivo' que já está dentre nós (Mt. 25, 1-13)

Muitas vezes a nossa vida se parece uma infindável espera. Espera por um alguém que nos dê uma grande oportunidade. Ou por um golpe de sorte que mude o nosso cotidiano. Ou que apareça a chance inédita que nunca tivemos na vida. Imaginamos até que se Deus quer, isso poderia se tornar possível. Vivemos à espera de um milagre. Alimentamos assim as nossas expectativas de inédito como se isso fosse o resultado de algo externo a nós. Que independe da nossa capacidade de produzi-lo mesmo querendo. Achamos, no fundo, que se é para acontecer, isso fatalmente acontecerá. Ás vezes consideramos que se não se realizam sonhos e expectativas acalentadas por anos a fio é porque não as merecemos. Ou a humanidade não as merece! A parábola de Mateus parece manifestar de forma plástica o que está no coração e na prática de vida de cada ser humano. Revela, ao mesmo tempo, as atitudes com que podemos e devemos encarar o ‘novo/inédito’ que a ‘realeza de Deus traz para a humanidade. A parábola apresenta essencialmente duas atitudes fundamentais diante disso.
A primeira, a das virgens tolas. É a atitude daquelas pessoas que acham que fatalmente o ‘novo/noivo desejado e esperado’ – o que vai mudar a sua vida - vai vir de qualquer jeito. Com ou sem a sua vontade. Com ou sem a sua abertura e predisposição interior. É uma espera fatalista. Passiva. Estática. A outra atitude é a representada pelas virgens sábias, precavidas. Elas também sabem que o ‘novo/noivo’ esperado vai vir. Afinal, já foi anunciado, está a caminho. Mas sabem que precisam da sua capacidade de saber reconhecê-lo quando chegar. Por isso precisam vigiar permanentemente. Sem cochilar, sem se distrair. Sem perder o foco na sua chegada próxima. E precisam de ‘sabedoria/luz’ suficiente para compreender a sua presença. E permitir que o ‘noivo/novidade’ seja acolhido como ‘chance inédita’. Como aquele que irá permitir a sua entrada para fazer comunhão com ele.
A humanidade, hoje, parece viver dentro de si essas duas atitudes/tendências. De um lado anseia por mudanças profundas e radicais. Cansada de viver numa longa noite sem fim. Mas sente-se incapaz de começar, ela mesma, a produzir as mudanças necessárias. As que ela percebe e deseja. Ao mesmo tempo, o novo que surge dentro da própria humanidade frequentemente passa despercebido. Pois ela imagina que não pode ser fruto de si mesma. Do óleo da sua criatividade e sabedoria. Da sua capacidade de se organizar e de evidenciar valores e ideais que a mobilizam. Do outro lado, essa mesma humanidade percebe que não haverá ‘milagres’. Sinais surpreendentes, externos a ela, que irão trazer ‘o novo/noivo’ a que ela aspira. Sente que deve possuir sabedoria interior para reconhecer o noivo/novo que já está dentro dela. Sente que aparecem situações, oportunidades e chances que nunca mais irão voltar. Que se não as aproveitarem, a porta se fecha. O futuro inédito, portador de vida e comunhão, será definitivamente prejudicado. Muito óleo/luz para identificar o noivo que já está dentre nós!

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Presidente Dilma centraliza processos demarcatórios de terras indígenas

Causou estranheza a decisão da presidente Dilma de chamar para si (Gabinete da Presidência) o poder de somente ela autorizar um novo Grupo de Trabalho na FUNAI para demarcar terras indígenas. Das duas uma: ou a presidente tem informações de que há muita corrupção nesses processos demarcatórios e ela quer garantir lisura, ou ela quer direcionar pessoas e práticas administrativas para garantir interesses espúrios e inconfessáveis. Considerado que nesse ano no atual governo não foi homologada nenhuma terra indígena, parece mais plausível a segunda hipótese. Se assim for, teríamos uma presidente que de forma monocrática decide à revelia do que uma Constituição consagrou às duras penas. Com sangue, suor, embate corpo a corpo e ampla mobilização cidadã. Dilma....Dilma!!!!!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Povos indígenas do Maranhão ocupam prédio da Funai em Imperatriz e exigem afastamento de funcionários

Nós, representantes dos povos indígenas Guajajara do Território Araribóia, Pukobyê-Gavião do Território Governador e Krikati do Território Krikati por articulação da COAPIMA-Coordenação das Organizações e Articulações dos Povos Indígenas no Maranhão estamos acampados na sede da Coordenação Regional da FUNAI em Imperatriz com o objetivo de discutir a problemática das comunidades indígenas no Maranhão. Este movimento é resposta aos inúmeros desrespeitos sofridos pelos povos indígenas do estado como: desconsideração das propostas feitas pelos indígenas, tentativa de cooptação de lideranças, contratação de madeireiros para trabalhar nas comunidades indígenas influenciando na política interna dos povos, falsificação de documentações, dentre outros cometidos pela atual coordenação regional. Desta forma o movimento indígena do Maranhão está reivindicando os seguintes pontos:

1. Afastamento imediato do coordenador regional da FUNAI no Maranhão, José Leite Piancó Neto, e a disponibilização do mesmo para outras coordenações regionais;
2. Afastamento do coordenador técnico local (CTL) de Amarante do Maranhão e a disponibilização do mesmo para outras coordenações regionais;
3. Afastamento da chefe de educação da Coordenação Regional do Maranhão, Eliane de Araújo e a disponibilização da mesma para outras coordenações regionais.
4. Afastamento imediato da coordenadora substituta da Coordenação Regional Raimunda Passos Almeida, o afastamento do atual chefe do Setor de Transportes José Ribamar, afastamento do chefe de Divisão Técnica Emerson Rubens Mesquita Almeida;
5. A exoneração dos DAS das coordenadorias técnicas locais (CTL) das cidades de Arame e Montes Altos;
6. Realização de uma auditória interna na Coordenação Regional da FUNAI nos últimos dez anos, feita pela Controladoria Geral da União (CGU) com acesso aos relatórios parciais e final pelo Ministério Público Federal (MPF) e a COAPIMA – Coordenação das Organizações e Articulação dos Povos Indígenas do Maranhão;
7. Condições que beneficiem o trabalho das CTL com estrutura física ideal, transporte, materiais, insumos, logística, computadores, periféricos e quadro técnico adequado;
8. Garantia de realização do Seminário sobre a Reestruturação da FUNAI na cidade de Imperatriz com a presença de representantes da FUNAI - Brasília bem como a formação do Comitê Gestor Regional da FUNAI Maranhão;
9. Encaminhamento dos processos de regularização fundiária das terras dos povos indígenas do Maranhão (Krikati, Bacurizinho, Governador, Canela e Awa-Guajá);
10. Garantia orçamentária satisfatória inclusa no Plano Pluri Anual (PPA) da FUNAI para a Coordenação Regional do Maranhão referente ao ano de 2012;
11. Comparecimento de caráter urgente do presidente da FUNAI, Sr. Márcio Meira com o intuito de discutir a atual conjuntura dos povos indígenas do Maranhão. Portanto, nós do movimento indígena declaramos que mediante o não atendimento das reivindicações acima, continuaremos acampados no prédio da FUNAI em Imperatriz por tempo indeterminado.

Imperatriz – MA, 01 de novembro de 2011

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Funai: licenciamentos em terras indígenas. Mais conflitos estão por vir!

Na semana passada, um grupo de índios Kayabi e Munduruku sequestrou sete funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Os reféns foram levados na quarta-feira até uma das aldeias da Terra Kayabi, na fronteira do Mato Grosso com o Pará, e lá ficaram até o domingo, quando foram libertados. A atitude extrema foi um protesto contra a construção da hidrelétrica de São Manoel, no rio Teles Pires, que divide os dois Estados.
"Os índios estão sendo atropelados pela obra. O desconhecimento sobre o impacto da usina nas suas vidas e suas terras é total", diz o promotor do Ministério Público Federal no Mato Grosso, Marcelo Vacchiano. Por decisão da Justiça, as audiências públicas de São Manoel foram suspensas. O fato de os índios do Norte do Mato Grosso terem recorrido a um sequestro de servidores da própria Funai - instituição criada para proteger seus direitos - dá uma ideia da situação que envolve o licenciamento ambiental no país quando a tarefa inclui o componente indígena. Em 2010, a fundação vinculada ao Ministério da Justiça recebeu 260 processos de licenciamento para serem analisados. Neste ano, 170 pedidos de análise foram apresentados até agora. Atualmente, 17 profissionais são responsáveis pela área de licenciamento, dos quais somente seis fazem parte do quadro permanente. O PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] trouxe uma agenda de obras com uma velocidade grande e muitas prioridades ao mesmo tempo. Temos mais de 400 processos em andamento dentro da fundação, das quais um terço está ligadas ao PAC. (Fonte: Valor econômico)

sábado, 29 de outubro de 2011

Eles continuam matando. No Pará mais um assassinato de líder de comunidade

Sábado, dia 22 por volta das 14 horas, foi assassinado com um tiro na cabeça João Chupel Primo, com 55 anos. Ele trabalhava numa oficina mecânica onde o crime ocorreu, ao lado de seu escritório. João denunciava a grilagem de terras e extração ilegal de madeira, feitas por um consorcio criminoso. Ele tem vários Boletins de ocorrências de ameaças de morte na Policia local. E fez várias denuncias ao ICMBIO e a Policia Federal, que iniciaram uma operação na região. A madeira é retirada da Flona Trairão, e da Reserva do Riozinho do Anfrizio. Onde as portas de entrada para essa região, que faz parte do mosaico da Terra do Meio, se dá pela BR 163 Vicinal do Brabo cortada até o Areia; entrando pelo Areia (Trairão) cortada até Uruará. Pela BR 230: vicinal do Km 80. Vicinal do km 95. Vicinal do 115. A operação do ICMBIO, que recebeu apoio da Policia Federal, Guarda Nacional e Exercito não teve muito êxito, pois toda noite ainda saem 15 a 20 caminhões de madeira. Dizem que não foi dado continuidade na operação por medida de segurança. Um soldado do Exército trocou tiro com pessoas que cuidavam da picada quilômetros adentro da mata e ficou perdido 5 dias no mato. O Exercito retirou o apoio. A Policia Militar também não quis dar apoio. A responsabilidade de mais uma vida ceifada na Amazonia, recai sobre o atual governo, o IBAMA/ICMBIO, Policia Federal, que não deram continuidade a operação iniciada para coibir essa prática de morte, tanto da vida da Floresta como de pessoas humanas. Desde 2005 até os dias atuais, já foram assassinadas mais de 20 pessoas nessa região. Quantas vidas humanas e lideranças ainda tombarão???
(Fonte: CPT)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Comissão de indios Guajajara do Pindaré reivindica reconhecimento de direitos na Procuradoria da República


Prova de maturidade e seriedade foi a que exibiu uma comissão de cinco indígenas Guajajara da Terra Pindaré dia 25 deste, na Procurador da República, em São Luis. Convidados pelo Procurador Dr. Alexandre Soares, o grupo indígena expôs com lucidez e equilíbrio os principais problemas que afetam a educação escolar indígena e a situação fundiária da área. Com a presença também de duas funcionárias da SEEDUC/MA e do presidente da Associação Carlo Ubbiali, o presidente da Associação de pais e mestres da Escola Indígenas do Pindaré, Flauberth Guajajara, pediu explicações sobre as contradições legais e administrativas que amarram ainda a estruturação e o pleno reconhecimento (de direito) da sua escola indígena. O engodo começou quando o CEE (Conselho Estadual de Educação) - após investigação documental e visitas in loco - reconheceu formalmente a escola indígena do Pindaré como Escola Indígena do Estado. Com isso, os indígenas de lá imaginavam que poderiam ter autonomia para exercer todas as funções que cabe a uma escola legalmente reconhecida. Mas não! Descobriram, recentemente, que não podem ter um Gestor Escolar e nem Secretário próprios, porque uma lei estadual determina que só um funcionário público estadual poderia exercer tais funções. E como nenhum professor indígena é funcionário concursado, e sim contratado, a escola indígena - mesmo sendo legal - não tem poderes para assinar transferências de alunos, elaborar histórico escolar, administrar o caixa escolar, etc. Um verdadeiro absurdo em que se dá poderes de fato, mas não de direito! O Sr. Procurador da República garantiu que pedirá ao Sr. Secretário estadual da Educação que articule a elaboração de um projeto de lei que corrija essas distorções.

Os atrasos de sempre. Um absurdo!

Relacionado a isso, os indígenas confirmaram o que todo mundo está farto de saber: atrasos de mais de 4 meses no pagamento dos professores, descontos de INSS da sua folha, em que o próprio órgão federal nega que haja havido repasse desses descontos por parte do estado, merenda escolar atrasada, e sendo distribuída por diretores de escolas estaduais de Bom Jardim e Santa Inês. Sem alar na ausência de formação continuada para professores, falta de material escolar, carteiras, etc. Isto é um verdadeiro absurdo conhecendo o histórico administrativo daquela escola indígena. De fato, quando os recursos chegavam diretamente a eles nunca atrasaram a distribuição da merenda, nunca deixaram de apresentar a prestação de conta em dia, nunca deixaram de dar aula um dia, etc. Não é à toa que hoje a própria SEEDUC reconhece que aqueles professores indígenas do Pindaré sempre agiram de forma correta e responsável. Lamentavelmente, por causa de alguns abusos e arbitrariedades cometidas por outras escolas indígenas no Estado, todos pagam as conseqüências. Para a escola indígena do Pindaré isso representou um retrocesso vergonhoso, pois acabaram sendo igualados àqueles que não agem conforme a lei. A comissão propôs que como na educação indígenas são garantidos os princípios da especificidade, pluralidade e diferenciação, que também nas questões administrativas e gerenciais haja uma diferenciação. Que não haja uma arcaica homogeneização que não ajuda a consolidar os avanços conquistados às duras penas pelas comunidades do Pindaré.

O serviço gratuito anônimo para combater as ambições e a hipocrisia (Mt.23, 1-13)



Vivemos numa cultura comportamental alicerçada nas aparências. Escolhemos e julgamos pelas aparências. E induzimos as pessoas a cuidarem das aparências. Afinal, parecem ser elas a fazer a diferença. É graças às ‘boas aparências’ que encontramos o caminho aberto numa repartição pública, um atendimento vip nas butiques, nos tribunais, nas secretarias paroquiais. Graças às ‘boas aparências’ conseguimos uma indicação para um emprego, ou uma nomeação de prestígio. Não faltam elogios e promessas de carreiras brilhantes. É também verdade que é por causa das aparências que desconfiamos de pessoas vestidas de forma ‘extravagante’, e que têm um sotaque ‘esquisito’. Excluímos ‘tesouros humanos’ por viverem num bairro de periferia ‘da pesada’. Ou por serem simplesmente negros, indígenas, camponeses, homossexuais, prostitutas. Ou os condenamos nos nossos fóruns e tribunais porque são eternamente suspeitos e réus ‘pouco vistosos’. Aliás, vistos em companhia dessas pessoas a nossa ‘reputação’ poderia ficar arranhada. E colocar em xeque a nossa imagem/máscara meticulosamente produzida. Às vezes até com a ajuda de um marqueteiro. Ela poderia sofrer desgastes irreparáveis. Poderíamos perder, com isso, chances e oportunidades inéditas!Sentimo-nos, no fundo, causadores e vítimas de um arcabouço cultural, comportamental, diabolicamente hipócrita. Que aprisiona a todos. E do qual não conseguimos ou não queremos nos desvencilhar. Como resgatar, - se algum dia já a tivemos, - a nossa autenticidade interior? Como tirar a nossa e alheia máscara? E agir movidos por aquilo que sentimos e somos? Talvez tenhamos medo de descobrir que, infelizmente, na nossa essência, nós somos ‘verdadeiras’ máscaras ambulantes. Atores e atrizes condenados a desempenharem o perene papel da duplicidade, da hipocrisia contagiosa. Mesmo atormentados e dilacerados interiormente sentimo-nos constitutivamente impotentes para viver a transparência, a coerência e a honestidade interior!


Jesus tinha compreendido tudo isso ao longo da sua própria existência. Ele mesmo sentia essa dúplice tendência. Teve que se policiar e rebelar permanentemente para não cair naquilo que ele detestava nos outros. É por isso que no seu alerta evangélico hodierno ele se dirige ‘aos seus discípulos e às multidões’ e não simplesmente àqueles que tinham fama de serem hipócritas públicos, os fariseus e os doutores da lei. Jesus se dirige a todos, indistintamente, porque sabe que todos podemos entrar nessa armadilha. Jesus não condena a fragilidade humana em si. Afinal, Jesus sabia que as contradições fazem parte de todo ser humano. Jesus é duro justamente com aqueles que se arvoram a justos, perfeitos, honestos, mesmo não o sendo. E não adotam a compreensão e a misericórdia para com outros frágeis e contraditórios.


Há, porém, uma outra atitude que Jesus detestava. Os fariseus e doutores da lei utilizavam em seus repúdios e anátemas contra ‘o povinho’ leis e normas mesmo sabendo que eles eram os primeiros a ignorá-las e pisá-las. Jesus profundo conhecedor da alma humana havia percebido os mecanismos da camuflagem humana. Quando uma pessoa sabe que o que diz não corresponde ao que faz, ou que diz aos outros coisas em que não acredita, tem a necessidade de ostentar, de forma quase doentia, o seu contrário. Sente um impulso interior em aparecer pública e privadamente como o melhor cumpridor de leis e normas. Comportamentos que só servem para desmascará-lo. De fato, muitas pessoas são legalistas e moralistas como forma de camuflar e esconder suas próprias contradições internas. Para ocultar fantasmas interiores que elas não aceitam, e não conseguem eliminar. Não podendo ou não querendo se condenar tornam-se rígidos e intolerantes com os outros. Mas a máscara cairá!


Jesus finaliza o seu alerta ‘aos discípulos e às multidões’ de forma sublime. Jesus aponta a única e verdadeira saída para evitar a hipocrisia e duplicidade de vida. Um claro incentivo para conquistar a verdadeira felicidade. Para se sentir bem consigo mesmo e com os outros: servir. Na gratuidade sincera e autêntica. No anonimato do serviço-amor. Na rejeição firme em não procurar prestígio, títulos altissonantes e reconhecimentos públicos efêmeros. No cuidado e na atenção ao outro se encontra a verdadeira felicidade. Aquela perene, não a aparente.


Bom final de semana para todos!




sábado, 22 de outubro de 2011

Amar o Deus- Próximo: eis o principal mandamento! (Mt.22, 34-40)

Alguns anos atrás o papa editou uma encíclica sobre a caridade/amor. Faz uma série de distinções e explicações sobre as várias acepções do conceito. Ora fala em amor entendido como ‘filantropia’, ora como ‘agape/fraternidade’, e, enfim como ‘eros/amor carnal’. Um verdadeiro exercício de hermenêutica. As sociedades assim denominadas ‘tribais’ não possuem palavras que expressem conceitos, abstrações. Não existe, por exemplo, a palavra/conceito ‘amor’ no seu dicionário. Menos ainda para explicitar suas nuanças. Existe, isso sim, nesse caso concreto, expressões em que a pessoa ‘protege o outro, ajuda o outro, acolhe o outro, está próximo do outro’. Ou seja, exemplificações, não conceitos abstratos. Nós, não indígenas, tornamo-nos ‘filósofos e malabaristas da palavra’. No intuito de colher as matizes, os detalhes, a pluralidade conceitual criamos muitas palavras/sinônimos. Muitas vezes para ‘traduzir’ algo que na realidade é ‘intraduzível’. Paradoxalmente, podemos correr o perigo de ‘reduzir’, quando não distorcer, o sentido profundo de uma ‘prática’, - não de um conceito’.
Seja como for, Jesus afirmou que o principal mandamento é ‘amar’ a Deus com todo o nosso ser (coração, alma, entendimento) e ‘amar’ nosso próximo como a nós mesmos. Se Jesus não explicita a qualidade desse amor, deixa claro ‘como’ ele deve se dar. Ou seja, o seu grau de intensidade. Deixa evidente, também, que um está vinculado ao outro. E de forma tão profunda que ‘um não tem sentido sem o outro’. Mais do que isso: o amor a Deus (não especifica que tipo de amor) só se revela tal no ‘amor ao próximo’. É este que revela se existe o primeiro. O amor a Deus, embora tomado isoladamente, não pode ser medido/quantificado, e nem manifestado mediante gestos cultuais. Já o amor ao próximo, embora também esse seja de alguma forma insondável, torna-se visível em gestos concretos de acolhida, e de proximidade afetiva e efetiva. Jesus nos diz que os mesmos cuidados que temos que ter para conosco deveríamos tê-los para com o nosso próximo. Jesus supõe que nós cuidamos de nós mesmos com amor e respeito profundos! O amor ao próximo é fruto do amor inspirador que ‘vem’ e que ‘se deve’ a Deus. Ao mesmo tempo, amando o próximo alimentamos o ‘amor a Deus’, e manifestamos o ‘amor de Deus’ para conosco. Ou seja, ao termos compaixão/afeto pelo próximo manifestamos ‘como é’ (a essência) o amor de Deus para conosco, e não somente o ‘amor que devemos a ele’. É um amor de mão dupla. Não uma mera atitude unidirecional. Alienada e alienante. Desencarnada. Pensando que amamos Deus na medida em que O invocamos e obedecemos a normas cultuais.
Ao contrário, somos chamados a provar e a comprovar que efetivamente ‘Deus nos ama’ mediante o amor que expressamos/manifestamos ao nosso próximo. Daí podemos entender as palavras de João: ’Como podem dizer que amam a Deus que não vêem, se não sabem amar o seu irmão que vêem?’ Tudo isso porque Jesus compreendeu que Deus não é um ser abstrato que está na estratosfera. Dissociado dos seres que O manifestam. Jesus nos ensina Deus que está ‘dentre nós’ e ‘dentro de nós’. O verdadeiro culto e amor a Ele se dá mediante gestos concretos para amenizar toda dor e libertar de toda escravidão os seus filhos e filhas em que Ele reside. O amor a ele se torna explícito e histórico no serviço gratuito e apaixonado. Na compaixão intensa e inconformada. No olhar meigo e firme. No abraço forte e caloroso, sem preconceitos e sem falsos pudores. Só assim o amor, ‘faísca de Deus’ poderá re-acender o fogo brando que ainda temos. E vencer a indiferença que está dentro de nós. E que consome o nosso anseio de felicidade.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Secretaria Estadual do Meio Ambiente colhe amostras para averiguar poluição em Piquiá!


Piquiá que é famosa por ser um dos pólos industriais mais poluídos do Maranhão ainda não conta com índices oficiais do grau de poluição atmosférica. Apesar das insistentes e numerosas denúncias da população e de organizações populares da região, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente apareceu ‘in loco’ somente nessa semana. Intimada pelo Promotor de Açailândia há cerca de dois meses atrás, a Secretaria enviou dois peritos químicos e um fiscal na terça feira 18. Num só dia colheram amostras de água, poeira industrial, e quem sabe mais lá o que’.... do assentamento Califórnia e de Piquiá. Não podiam fazer o teste da poluição atmosférica que exige mais tempo e mais material. E mais vontade política. Coisa que a Secretaria Estadual não tem no seu ‘almoxarifado’!Deu para perceber que não foi algo sério. Os próprios funcionários disseram que no dia seguinte já deviam estar em São Luis, e que tinham que aproveitar o máximo de tempo disponível para verificar eventuais outras denúncias ao longo do caminho para a capital. Interessante: em Piquiá ficaram quase uma hora conversando com um diretor da Gusa Nordeste, supostamente verificando a ‘papelada formal’ da siderúrgica. Só eles, ninguém mais! Na saída, a confirmação que ‘estava tudo bem’! Agora é só aguardar o resultado oficial das análises e compará-las com outras que a Rede Justiça nos Trilhos irá encomendar a um Instituto que não seja ‘tão apressado’ como a Secretaria do Meio Ambiente. Coincidência fatal: naqueles dias foi enterrada uma senhora de Piquiá vítima de um tumor aos pulmões. Ela morava bem ao lado do britador da Gusa Nordeste!