terça-feira, 30 de novembro de 2010

Índios Guajajara feridos pelo delegado Cavalcante continuam presos e sem remédios

Continuam presos em Presidente Dutra os índios Guajajara que foram feridos pelo delegado de polícia civil Edmar Cavalcante no dia 7 de novembro na aldeia Barreirinha. O delegado quis forçar a liberação da BR 226 que um grupo de indígenas da Terra Indígena Canabrava havia bloqueado exigindo o cumprimento dos acordos assinados pelo Governo do Estado do Maranhão. Atendidos em Barra do Corda foram todos eles sumariamente detidos e transferidos a Presidente Dutra onde se encontram ainda hoje. Não há perspectivas imediatas de sua soltura. A Funai através do seu administrador regional de impertariz, Sr. Piancó, vem tomando providência no sentido de obter um ‘habeas corpus’ para libertar os indígenas presos arbitrariamente. Um dos indígenas se encontra com um corte na barriga de quase 20 centímetros e sem remédios. Corre perigo de infecção. Um outro, ferido na perna esquerda, tem vários parafusos colocados na tíbia. Profundamente deprimidos e indignados com a sua detenção, os indígenas afirmam que já foram submetidos a vários tipos de vexame e humilhações. Principalmente por um policial vindo de São Luis, por nome Beethoven. Alguns dias atrás ele abordou os três Guajajara na delegacia de Presidente Dutra e se dirigiu a eles chamando-os de todo nome. Afirmou que deviam ter morrido, pois eram todos assaltantes e bandidos. Nada ocorreu com o ‘servidor da lei’. Índios Guajajra da aldeia Barreirinha informaram que também o adolescente Hagair Guajajara ferido pelo delegado com um tiro no pescoço aproximadamente a 800 metros do lugar da agressão foi detido por cerca de 4 horas quando de sua internação. Ele é menor de idade e com problemas de saúde. O delegado nas inúmeras entrevistas sempre omitiu que ao fugir disparou vários tiros contra indígenas que não estavam no lugar da agressão ferindo pelo menos dois. Isso desmonta a versão de que ele teria atirado em legítima defesa, supostamente para se defender de índios que o agrediam com facões. Várias instituições aguardam que seja instaurado um inquérito para apurar as responsabilidades do delegado Cavalcante.

domingo, 28 de novembro de 2010

Advento: perceber a hora de Deus! (Mt. 24, 37-44)


Os ‘eventos’ não podem ser mudados. Não há como interferir neles, após a sua consumação. Mas eles podem ser refletidos e analisados. Podemos estudar os seus impactos. Tirar lições de vida. Afinal, eles revelam escolhas e interesses pessoais e de grupo. Podemos identificar a intensidade dos valores, dos projetos, das maldades, e das formas de indiferença que estão em jogo. Podemos apontar também atores e protagonistas que permitiram a realização de um ‘evento’. Podemos, enfim, prever as conseqüências de determinados eventos. Ao contrário dos ‘eventos’, o ‘ad-vento’, ou seja, o que ainda não foi consumado, pode ser construído e realizado com uma direção e com uma ótica próprias. Ad-vento é o futuro que ainda não foi escrito. Que pegará um jeito ou outro, a depender dos rumos, dos valores, e do grau de interferência que os humanos embutirão nele. Nesse sentido o ‘ad-vento’ é abertura absoluta ao inédito, ao novo. Poderemos, a partir da análise do conjunto de eventos re-criar outros eventos. Estes sim, modificados e transformados segundo intencionalidades novas. É preciso, porém, ‘estar atentos’, vigiar e compreender sobre o que já se passou. Para não repetir contradições. Para não reproduzir as mesmas maldades. Para não continuar a multiplicar as mesmas formas de indiferença, de injustiça, e de falta de participação nos eventos futuros a serem construídos.


Nesse sentido o advento litúrgico que iniciamos é uma forma pedagógica sempre renovada para nos educar a sermos permanentemente protagonistas ativos e criativos da nossa história. Esta, afinal, não é determinada ou escrita por um destino obscuro. Manipulada por um ‘deus’ extra-humano. Ao contrário, ela é o resultado de ações e intenções, de interesses e valores em permanente disputa entre si. O futuro/advento terá o rosto e a direção daqueles que souberem imprimir com maior intensidade a força dos seus valores que os motivam a agir de um jeito ou de outro. Quem permanece espectador da história ou, pior, vive alheio a ela, ‘comendo e bebendo’ sem nenhuma ligação direta com o que ocorre ao seu redor, será uma mera vítima dos acontecimentos futuros. Alguém engolido e afogado pelo dilúvio da irresponsabilidade social.


Advento é, enfim, capacidade de perceber a hora do Deus de Jesus Cristo. O momento certo para fazer acontecer a verdadeira justiça. A autêntica compaixão. O discípulo/a Dele, não fica a esperar passivamente. Ele mesmo constrói, aqui e agora, de uma forma própria,‘transformando lanças e espadas em arados e foices’. Abrindo ‘novos céus e novas terras’. Afinal, ‘quem sabe faz a hora não espera acontecer’. Ele mesmo faz acontecer...o futuro que está por vir.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Polícia Federal e GTA espalham terror nas aldeias indígenas da Canabrava

"Ouvimos zoada de carros. Sai da minha casa e vi que eram cerca de oito carrões. Deles desceram rapidamente mais ou menos 30 homens. Alguns com capacete. Quase todos de fuzil e espingarda. Começaram a gritam e a apontar as suas armas em todas as pessoas que se encontravam no pátio. Foi um momento de pânico." Começa assim o relato de um grupo de mulheres indígenas e alguns homens que presenciaram mais uma manifestação de truculência policial jamais vista anteriormente. Ocorreu terça feira passada, 23 de novembro às 7,00h. na aldeia Barreirinha, na terra Canabrava dos índios Guajajara. A mesma aldeia que havia dado vida a um protesto pacífico contra os descasos do Governo do Estado do Maranhão, réu de não cumprir acordos formais assinados com as lideranças indígenas da região para normalizar a situação do transporte escolar para os seus estudantes. Na ocasião o delgado da Polícia Civil de Barra do Corda mudou o rumo do protesto ao atirar brutalmente em vários indígenas, ferindo seis.

‘Os homens da lei’ mal disseram aos indígenas que estavam cumprindo mandatos de apreensão e detenção de indígenas suspeitos de cometerem ilegalidades. Em momento algum disseram quem havia expedido aqueles mandatos. Possuíam uma lista de procurados, mas eles detinham e revistavam todos os que encontravam no caminho. "Me ameaçaram com uma espingarda. Apontaram a arma para mim, bem aqui na minha cabeça. Tive que levantar os braços e me empurraram na parede. Revistavam todos. Até a casa do cacique foi arrombada. Acho que estavam atrás de armas, mas não acharam nada porque ninguém anda armado por aqui. Imagina que até o meu vizinho que vive em cadeira de roda gritaram para ele levantar os braços e ir à parede!" Esse depoimento de um indígena de Barreirinha é enriquecido com mais pormenores por outros indígenas. Eles contam que as crianças ficaram traumatizadas. Choravam e corriam ao verem aquele espetáculo horripilante e inédito. Alguns dias após o acontecimento uma mãe falou que havia deixado sozinho por alguns instante o filho dela de 4 anos, mas logo ele começou a chorar e a chamá-la com medo que viesse a polícia para prendê-lo e machucá-lo. Ainda hoje há pessoas morando no mato e com medo de voltar à aldeia. As imagens de mais de 30 policiais correndo pela aldeia aos gritos e jogando ao chão alguns dos procurados estão gravadas na mente e fazem reviver momentos de pânico e horror. Continuam sentindo indignação ao lembrar os abusos policiais. Lembram que pelo menos três homens foram presos, algemados, colocados no camburão e após terem provado com documentos a sua identidade, e que não faziam parte dos procurados, os colocavam em liberdade. Após uma hora de ostentação de força bruta, ignorando os abusos que vinham cometendo, os policiais saíram para outra aldeia próxima.

As demonstrações espalhafatosas de força da polícia conjunta nas aldeias dos Guajajara da Canabrava parecem ser uma resposta àqueles setores da sociedade sedentos de retaliação para com ‘aqueles índios desordeiros’ que haviam bloqueado a BR 226 no dia 7 de novembro. Os promotores dessa ação quiseram associar ideal e operacionalmente a indignação produzida pelos protestos indígenas na BR 226 com a raiva social pelos casos de assaltos praticados na mesma BR, supostamente por gangues indígenas e não indígenas. Contudo, uma coisa não tem a ver com a outra. A lista dos procurados é antiga e estava nas mãos das autoridades policiais há pelos menos dois anos. Estranhamente, quiseram cumprir os mandatos somente agora. Para aplacar a ira dos anti-indigenas e inflamar a sua raiva racista. Para dizer à sociedade que todos os índios são iguais, - os que protestam pacificamente e os que assaltam. Para provar que nessa nova legislatura há governo. Nem que seja para reprimir homens, assustar crianças, mulheres e idosos indígenas.

sábado, 20 de novembro de 2010

Jesus rei: poderoso na fragilidade (Lc.23,35-43)


Existem circunstâncias na vida das pessoas em que a ostentação exacerbada de poder é uma forma de camuflar fraqueza. Fragilidade interior. O exibicionismo da força, do prestígio, da capacidade de interferência esconde formas de inferioridade pessoal. Tornam-se, portanto, uma espécie de compensação. Quanto mais fraco, mais forte quer aparecer. Há, todavia, circunstâncias em que a aparente fragilidade pode revelar poder moral. A aparente ausência de poder ‘externo’ pode manifestar uma força de interferência contagiante. Os que externam o seu poder e cultuam o reconhecimento público sabem que conseguem influenciar o comportamento de outras pessoas somente mediante formas de dominação. De ameaça ou coação. E não por livre adesão a eles. Em geral, quem possui força moral, carisma, capacidade de se sintonizar com a alma humana, só utiliza a persuasão do seu testemunho. A sua coerência, silenciosa e firme. Não precisa ser acompanhado por sinais visíveis de força e poder. É na sua fragilidade exterior, no seu esvaziamento externo que se revela com mais intensidade o seu poder moral.

O evangelho hodierno retrata muito bem o que significa ter poder. Poder moral, aquele que mexe com as motivações e as atitudes das pessoas. Não na ostentação de comportamentos monárquicos, e sim, na morte de cruz, Jesus manifesta a ‘realeza’ que questiona o agir humano, e convida ao serviço extremo. A vida inteira de Jesus parece ser uma fuga permanente de todo tipo de tentativa de querer fazê-lo ‘rei’ à moda romana/humana. O poder de Jesus se manifesta no seu radical esvaziamento, inclusive o físico. A morte, que para os humanos é sinal de fragilidade absoluta, negação do ser/poder, torna-se em Jesus manifestação de seu modo de ‘ser e estar com’ os humanos. Um que está entre os humanos como ‘aquele que serve’. Até o esgotamento total. Ao mesmo tempo, o modo de agir/ser de Jesus torna-se denúncia contra todo tácito desejo humano de ser monarca, poderoso e influente. ‘O rei dos judeus’ que morre numa cruz como um rejeitado, aponta para os ambiciosos e sedentos ‘reizinhos’ que o poder, seja ele qual for, é para acolher, proteger e humanizar as pessoas.

O protesto dos Guajajara na BR 226, na Terra Indígena Canabrava. O que o delegado nunca disse, o que a Globo/Mirante ocultou

Ele mentiu. Não é nada daquilo que ele disse aos meios de comunicação. Ele foi, na realidade, o principal causador da confusão. Os próprios meios de comunicação, a Globo/Mirante, principalmente, agiram de má fé conosco!’. Assim se expressaram alguns indígenas da Terra Indígena Canabrava ao se referirem ao delegado da Polícia Civil de Barra do Corda, Edmar Gomes Cavalcante, que tentou acabar com o protesto indígena no domingo 7 de novembro. Membros da Pastoral Indigenista de Grajaú visitaram as aldeias da área e colheram, in loco, vários testemunhos. Todos eles coincidem: o delegado agiu de forma irresponsável. Agrediu os manifestantes e fugiu atirando contra homens, mulheres e crianças das aldeias por onde passava, deixando rastro de medo e sangue em gente que nada tinha a ver com a confusão. Várias instituições pensam em denunciá-lo.

Revisitando as aldeias

Haviam passado poucos dias dos tensos e tumultuados acontecimentos que viram como protagonistas índios Guajajara e um delegado de polícia. Uma equipe da Pastoral Indigenista de Grajaú visitou algumas das aldeias que participaram do bloqueio da BR 226 e outras que optaram em não fazer parte do movimento reivindicatório. Aparentemente tudo havia voltado à normalidade. Nos olhar dos indígenas era visível, contudo, um tênue véu de tristeza e decepção. Ainda não conseguiam entender porque um protesto planejado para ser executado de forma pacífica gerou tanta violência, e indignação em muitas pessoas. Homens e mulheres Guajajara de algumas aldeias haviam combinado que interromperiam a BR 226 na altura da aldeia Barreirinha para chamar a atenção do Governo do Estado que não vinha respeitando um Termo de Ajuste de Conduta que havia assinado em junho, garantindo a normalização do transporte escolar para os seus filhos. Os indígenas haviam acertado desde o início que deixariam passar ambulâncias, polícia e facilitariam aqueles casos que exigissem urgência. Tinham consciência que não deviam ‘forçar a barra’, inclusive porque muitas aldeias da mesma terra indígena não haviam aderido ao movimento. Muitos indígenas haviam sido alertados pelos seus caciques de se manterem longe da aldeia Barreirinha, lugar do bloqueio

Sangue, dor e humilhação

Muitos indígenas são unânimes em confirmar que se o delegado não tivesse agido de forma truculenta e irresponsável a manifestação teria tido um desfecho bem diferente. Os Guajajara narram que naquele fim de tarde de domingo, 07 de novembro, momentos iniciais da manifestação, já havia alguns caminhões parados ao lado da BR 226, na altura da barreira. Explicavam calmamente o porquê daquela manifestação, e pediam compreensão. E, apesar do transtorno, encontraram compreensão por parte dos transeuntes barrados. Afinal, nenhum deles vinha sofrendo algum tipo de violência. Improvisamente, porém, aparece uma moto. O motoqueiro desce, tira rapidamente o seu capacete e visivelmente irritado pergunta: ’Que molecagem é essa?’ Identificou-se como delegado de polícia e indicou que estava armado. Era, de fato, o delegado da Polícia Civil de Barra do Corda, Edmar Gomes Cavalcante que vinha de Grajaú, após dar plantão naquela delegacia daquela cidade. Os indígenas iam deixá-lo passar, mas ele insistiu que parassem imediatamente com o movimento e liberassem a rodovia para todos. Os manifestantes indígenas pediram para ele não interferir. Nesse bate-boca ele sacou improvisamente a arma. Os indígenas não se intimidaram e partiram para cima dele para desarmá-lo. Um deles se aproximou ameaçando-o com uma faca de cozinha, e no enfrentamento lhe cortou parte do dedo da mão esquerda. O delegado, enfurecido, começou a atirar em direção aos indígenas. Acertou logo quatro deles, três que estavam mais próximos, e outro um pouco mais distante. Foi quando um índio correu para buscar uma espingarda, pois ninguém deles tinha arma de fogo. Voltou rapidamente, atirou atingindo levemente o policial. A confusão se agigantou. O policial aproveitou do momento em que os índios socorriam os seus feridos para fugir correndo a pés pela rodovia em direção a Grajaú.

Atitude tresloucada de um delegado de polícia pago para proteger

O delegado, visivelmente transtornado e enraivecido, segurando o seu revólver na mão direita atirava em direção das casas das aldeias que ficam do lado esquerdo da BR. Alguns indígenas correram ainda ao seu encalço, mas após algumas centenas de metros desistiram. Ele continuava atirando e amedrontando crianças, mulheres e idosos. Foi justamente na aldeia Nova Barreirinha que fica a menos de um quilômetro da barreira, que o delegado atingiu com um tiro o adolescente Hagair Cabral Sá Santos Guajajara, de 15 anos, ferindo-o no pescoço. O adolescente estava no quintal de sua casa, aproximadamente a 150 metros da estrada. O jovem Guajajara é mudo de nascença e tem graves problemas de coordenação motora, o que exige que a mãe dele, Marilene Cabral Guajajara, seja ela a alimentá-lo. O policial em sua atitude tresloucada continuava a atirar, até chegar à aldeia Boa Vista que fica a um quilômetro e duzentos metros da barreira. Aqui pediu socorro a um caminhoneiro que vinha de Grajaú e dirigia um caminhão de cor branca, sem carroceria. A manobra do caminhoneiro foi tão brusca que destruiu parte da cerca de uma residência indígena. Soube-se, posteriormente, pela Mirante/Globo que o delegado foi bem assistido em Imperatriz, o que não ocorreu com os feridos indígenas. Todos eles, inclusive os seus acompanhantes, ao chegarem ao Hospital Acrísio Figueira em Barra do Corda foram sumariamente presos. Uns e outros foram muito maltratados pelos policiais locais. Além da dor, a humilhação da cadeia e do deboche racista.

‘Esta é a verdade dos fatos, não a da Globo!’

Papel decisivo teve, mais uma vez, a rede Globo através da sua filial Mirante. Um verdadeiro show de manipulação e distorção dos acontecimentos que envolve indígenas da Terra Indígena Canabrava, produzindo revolta, indignação e raiva em muitos setores da sociedade. Tudo se concentrou na intransigência indígena e no ‘indefeso delegado’ que para se defender teve que usar a violência. Só faltava dizer contra a sua vontade! De forma criminosa a Globo lançou mão de imagens de março deste ano em que, de fato, na mesma terra indígena havia sido apreendida uma arma e um saquinho de moedas fruto dos numerosos pedágios indígenas. Associou isso aos acontecimentos recentes com o intuito de agravar os indígenas e dar mais ‘munição’ a muitos dos seus já incautos e preconceituosos ouvintes. A Globo/Mirante não podia certamente fazer publicidade da falta de respeito do Governo Estadual para com as comunidades indígenas locais, que foi o que provocou o protesto. Afinal, os dois se confundem. Quem irá repor a verdade dos fatos quando por dias seguidos foi vendida uma determinada versão dos fatos? Quem irá exigir responsabilidade social a meios de comunicação que criminalizam qualquer movimento indígena? Alguém irá investigar a atuação do delegado despreparado por tentativa múltipla de homicídio? A dona Marilene, mãe do adolescente covardemente ferido pelo delegado, lembra ainda hoje com as lágrimas nos olhos: ’Meu filho escapou por pouco. Quem vai fazer justiça e punir, agora, aquele irresponsável que atentou à vida de meu filho aqui, dentro da minha casa? Esta que é a verdade dos fatos, não a da Globo!’

 

sábado, 13 de novembro de 2010

Enfrentar hoje os tumultos e as guerras de amanhã. O fim da história está longe (Lc.21,5-19)

Muitas vezes diante dos desafios da vida fugimos. Fugimos ao nos refugiar em formas paliativas de segurança. Ou em rápidas sensações de bem-estar. Fugimos mediante experiências místicas e espirituais alienantes. Anestesiamo-nos com celebrações carregadas de emoções que entorpecem a nossa percepção da realidade. Extravasamos os nossos sentimentos de culpa, de medo, de louvor, de súplica. Fugimos do nosso passado traumático que gostaríamos de esquecer. E do nosso presente frustrante. Refugiamo-nos em mundos densos de sonhos impossíveis, e de drogas paralisantes. De busca doentia de novas sensações. Fugimos mediante um ativismo exacerbado que nos dê a ilusão que somos fortes no enfrentamento dos ‘reais’ problemas da vida. Temos medo de nos encarar. De encarar quem somos, e o que queremos. De encarar a nossa incapacidade de dar sentido à nossa existência. Sequer conseguiríamos. Tudo nos parece confuso. Temos medo de parar. De parar para olhar para dentro de nós. Parar significa olhar sem véus e sem disfarce a nossa fragilidade e a nossa limitação humana. Temos medo de entrar numa depressão que nos angustia e ofusca a luz da alma e da mente. Temos medo do futuro que se apresenta incerto e fluido. Gostaríamos de ter respostas exaustivas, agora.

No evangelho hodierno, Jesus, com palavras e imagens próprias, retrata a situação humana e social das primeiras comunidades. São as comunidades eclesiais de ‘todos os tempos’. Homens e mulheres que alimentavam sonhos, que regavam esperanças e olhavam para o futuro com os olhos da incerteza e da insegurança. Porque o seu presente era de perseguição, de angústia, de sofrimento. Dentro de si, e dentre os seus experimentavam incompreensão, indiferença, contradição e violência. Nada disso, porém, pode significar fim da história. Nada disso pode afastar o nosso desejo de construir uma nova história. E sermos humanos de forma nova. Homens e mulheres que olham para o seu presente como um momento inédito carregado de graça e de oportunidade. Onde podemos já vislumbrar os meios para derrubar o que ontem nos parecia inamovível, pois o que ontem nos parecia desgraça, no ‘presente’ de Deus se torna salvação. A reviravolta é possível. Não há espaço para o desânimo, para a tristeza e o desespero. Nenhuma fuga é justificada. É agora, no enfrentamento da insegurança e da incerteza do hoje que nos capacitamos para enfrentar as incertezas futuras. Compreender e acolher o hoje com suas contradições é garantia que o amanhã terá a cara dos seus construtores de hoje. Dos que constroem paz na guerra, fraternidade no egoísmo, justiça na iniqüidade, liberdade na escravidão.

Ainda sobre índio: para que não digam que nunca falei!


Nada melhor do que uma notícia envolvendo uma manifestação indígena para identificar intolerantes tapados e racistas. Até um bom pai de família, normalmente cordial, civilizado e respeitador diante de uma ‘onda indígena’ perde o ‘fair play’. E não por um forte sentimento de justiça ou por santa indignação. Simplesmente ele sempre casa com as versões dos jornais anti-indígenas que só vêem um lado da complexa questão. Espanta que quando é francês que queima carro como protesto contra as reformas da previdência pelo governo, muitos ‘nacionais’ daqui afirmam que eles são lutadores. Quando é ‘índio nacional’ – se é que eles fazem parte desse País - que barra uma estrada invocando o respeito por parte do Estado aos compromissos que ele mesmo assumiu, eles são bagunceiros....


Quando é prefeito e deputado que desviam dinheiro público – e são milhões de reais, porque eles não se sujam por pouca m..... – para o bom pai de família, - conterrâneo desses criminosos, - eles ‘sabem viver, são vivos’. A sua esperteza não pode ser castigada, pois, afinal, ele mesmo faria assim se pudesse...Inclusive aqueles que deveriam prendê-los. Quando são os índios a ‘cometer ilegalidades’ – porque eles também as cometem, sim! - invoca-se os rigores da lei que, no imaginário ingênuo do desinformado, acha que nunca ocorre. Crime de índio para ele é sinônimo de impunidade. Só dois anos atrás saíram da nona delegacia de São Luis - após ter passado mais de oito anos - três índios responsabilizados de ter matado dois comerciantes de Barra do Corda. Sem falar de outros que estão presos por assalto ou tráfico de drogas. Só filho de prefeito e delegado de polícia que descarrega o seu revólver contra índios manifestantes é que com certeza não vai para o calabouço! Ao contrário, ele agora é a única vítima.


Há cidadãos disfarçados de ‘nacionalistas’ que estão preocupados e revoltados com o tamanho das terras dos índios, ‘’co-nacionais’ seus. Talvez na sua total ignorância esses nacionalistas não saibam que o único proprietário daquelas terras é a União Federal e que aos índios só cabe o usufruto. Portanto é um patrimônio nacional. Esses mesmos revoltados tapados não estão percebendo que chinês, russo, árabe ou co-nacionais seus do Centro ou do Sul do País estão comprando ‘legalmente’ uma imensidão de terras ‘nacionais’ para uma infinidade de negócios. Com esses, que são as verdadeiras ameaças, o bom pai de família, nacionalista, fica calado. E nem poderia falar: está alheio a tudo o que ocorre no mundo hoje e até mesmo dentro de sua própria casa. Xô colonialistas de ontem e de hoje, xô ‘conterrâneos coniventes’. Xô intolerantes tapados! Na aldeia global não há mais espaço para gente assim!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mais um conflito está a eclodir entre índios Gavião e fazendeiros em Amarante, no Maranhão

No dia (06) de outubro de 2010, a Fundação Nacional do Índio – FUNAI publicou a Portaria criando o GT (Grupo Técnico) para realizar os estudos complementares de natureza fundiária e cartográfica da nova demarcação da Terra Indígena Governador do Povo Pukobyê-Gavião, decretada de ocupação tradicional em 1982 com 42.054,73 hectares, localizada no Sudoeste do Estado, no Município de Amarante do Maranhão. O Grupo de Trabalho é constituído por representante do Museu do Índio, INCRA e FUNAI. O processo de nova demarcação iniciou no ano de 2007 com a elaboração do Relatório Antropológico. Com a nova demarcação a terra tradicional terá cerca de aproximadamente 200.000,00 hectares que oferecerá melhores condições para a sobrevivência do Povo Pokubyê-Gavião.

Terra de ocupação imemorial indígena

. A Terra Indígena Governador não oferece condições suficientes para que os indígenas possam continuar seu modo de vida tradicional. Diante do confinamento e da escassez de água, os Gavião reivindicam a incorporação de poções, rios, lagos de sua terra tradicional que foram excluídos dos atuais limites da terra Governador, necessitando da realização de uma nova demarcação como assegura a Constituição Federal. A população do povo Gavião é de aproximadamente mil pessoas vivendo em seis aldeias. Na semana passada os donos de propriedades que estão dentro da nova terra a ser demarcada, reuniram-se com o intuito de expulsar os representantes do Grupo de Trabalho. Na ocasião eles também se reuniram com a prefeita municipal de Amarante e outros políticos da região para solicitarem ajuda para paralisar o processo de nova demarcação.

Fazendeiros querem fazer negócio com ‘terra de índio’

. Os fazendeiros resistem à nova demarcação porque querem ver as terras indígenas sendo utilizadas por projetos agropecuários e de monoculturas, como a plantação de eucalipto. Por conta disso, os fazendeiros dizem que se acontecer à nova demarcação da terra indígena o Município de Amarante ficará inviabilizado produtivamente porque, segundo eles, ‘não haverá mais terras disponíveis para a produção’. Empresas como a Suzano Papel e Celulose que está a adquirir mais de trezentos mil hectares de terra na região onde irá plantar milhões eucaliptos não produzem a mesma indignação. Como conseqüência do acirramento do conflito entre a população local e os indígenas e os órgãos federais já se agravam os sinais de exclusão e maus tratos contra os Gavião, inclusive com os doentes. (Fonte: CIMI-MA)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Policial atira em oito Guajajara na BR 226 que protestavam contra a falta de transporte escolar

Após a notícia de que um delegado de Barra do Corda foi baleado por índios na BR 226 na terra indígena Canabrava, entre Barra e Grajaú, haverá quem diga que esses índios não tomam jeito mesmo... Não é para menos. Numa manifestação indígena pacífica de interrupção da BR para protestar contra a notória negligência da Secretaria de Educação em não viabilizar, - após um ano de espera, - os recursos para o transporte escolar, o delegado de Barra do Corda, de moto, no final de tarde de domingo 07 de dezembro, chega a atirar em oito indígenas. Informações não confirmadas dão conta de que o delegado ao se deparar com a barreira indígena iniciou um bate-boca com alguns índios e começou a disparar diretamente sobre a concentração de indígenas. Um índio foi baleado na cabeça, outro no pescoço e os demais em outras partes do corpo. A reação indígena, diante da fúria do policial também parece não ter demorado. O próprio delegado foi ferido no abdome e levado a Imperatriz por um caminhoneiro. Os indígenas em situação mais grave foram levados para presidente Dutra e os demais a Barra do Corda. Já no sábado, em Barra do Corda, corriam rumores que os indígenas iam fechar a BR. Isto se confirmou no final da tarde de domingo. O protesto indígena que geralmente é pacífico se transformou numa tragédia pela falta de traquejo da polícia em lidar com os indígenas da região. Haverá meios de comunicação que alardearão a violência indígena como inicial e principal motivo do grave incidente na BR. Entretanto, a lógica dos fatos pode comprovar facilmente o inverso, ou seja, que um delegado ‘já ferido’ não teria condições de atirar em oito indígenas. É imaturidade e despreparo injustificável querer resolver na bala conflitos e manifestações que criam desconforto e mal-estar para a sociedade. Qual será agora a reação indígena se os dois índios vierem a falecer? Uma coisa, contudo, parece certa. Se o Estado tivesse cumprido o Termo de Ajuste de Conduta –TAC- que havia assinado em junho passado com as lideranças indígenas comprometendo-se a enviar transporte escolar para os alunos indígenas da região, nada disso teria acontecido. Infelizmente, ele não para de fornecer ‘munição social e política’ a gerar revolta e indignação nos já encurralados e ‘detestados’ indígenas!

sábado, 6 de novembro de 2010

Dia de todos os bem-aventurados. Parafraseando Mateus 5, 1-12


Santos são os pobres cujo único patrimônio é o seu espírito livre e aberto para amar. Que não se apegam aos falsos tesouros que dominam o coração. Desde já, eles possuem o Reino da libertação.

Santos são os que não se envergonham de derramar as lágrimas de sua tristeza e aflição. Que anseiam por colo e consolação. Eles serão acalmados, e pela suave mão do próprio Deus tenramente acariciados.

Santos são os que adotam o diálogo e a persuasão para vencer a truculência dos arrogantes. Eles ocuparão a ‘terra prometida’, e a expropriarão dos intolerantes. Possuirão definitivamente ‘a terra sem males’.

Santos são os que não se sentem saciados enquanto houver um ser vivo sofrendo injustiça. Que lutam por ele da mesma forma que lutam por direito e pão para si. O seu esforço não será em vão: vida plena acumularão.

Santos são os que possuem um coração grande para perdoar. Que superam vingança e retaliação. Mágoa e rancor não moram em sua alma. Em sua vida, tolerância e compreensão se abraçarão.

Santos são os que educam o seu coração à transparência e à honestidade. Não acumulam ódio, não aceitam maledicência e duplicidade. Desde já eles podem ver Deus que é a fonte de toda bondade.

Santos são os que garantem a paz fazendo guerra contra toda indústria de armas e destruição. Combatem os fantasmas da dominação que se apossam do coração. Desmascaram a força sedutora de satanás, e por isso são chamados ‘filhos da Paz’.

Santos são os que enfrentam a perseguição, e não se abalam com a calúnia. O seu nome é difamado, mas permanecem firmes contra toda corrupção. Não devem, e por isso não temem, toda manipulação perseguem. A alegria e a felicidade são a sua recompensa. Aqui a traça não corrói, e nem o ladrão destrói.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

'Mataram mais um irmão'!

No pequeno município de São Vicente Férrer, ocorreu mais um assassinato de um trabalhador rural a mando do latifúndio. Bem na véspera do segundo turno das eleições, dia 30 de outubro. A vítima é Flaviano Pinto Neto, 45 anos, pai de cinco filhos. Uma liderança quilombola do povoado Charco. Um dos principais articuladores da resistência pela terra e da luta para garantir a posse da área onde vive a sua comunidade. Uma semana antes de morrer, ele esteve na sede da FETAEMA (a Federação dos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Maranhão). Estava angustiado. FLaviano foi morto às 21h por dois homens, quando se encontrava em um bar, à margem da BR 014. Foi atingido por oito tiros de pistola, calibre 38. Todos na cabeça. Os assassinos fugiram em um carro e uma moto. Não houve o registro das placas. A comunidade ficou aterrorizada. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) informou que foi uma tragédia anunciada. O conflito fundiário em São Vicente foi denunciado pela entidade diversas vezes para os mais diferentes setores do poder público no Maranhão. Como sempre, nada foi feito. Tudo indica que esse homicídio, como outros que aconteceram recentemente, ficará sem investigação e sem punição. A praga da matança de lavradores no Estado nunca foi erradicada.