sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Helena Heluy deixa a vida parlamentar. Quem preencherá o vazio deixado?


Ontem dia 30 na Assembléia Legislativa do Maranhão a deputada Helena Heluy se despediu da vida parlamentar. Decisão pessoal. Para respeitar e tirar o chapéu. As manifestações de carinho, de apreço e estima foram inúmeras. E vindas de vários segmentos da sociedade. Sinceras e singelas. Sem muitas decorações e bajulações. O parlamento estadual vai perder sim uma ‘figura’ que tentou enaltecer o papel daquele que costumeiramente é definido como ‘representante do povo’. Contra a mediocridade e a submissão da maioria dos colegas parlamentares da deputada. Helena acabou desempenhando um papel que só ela fazia nesse Estado: dar voz a todas as reivindicações genericamente definidas populares. Fez ecoar na Assembléia a voz dos quilombolas, dos indígenas, dos lavradores, das mulheres, dos menores, dos presos, e dos movimentos e instituições que os apóiam. O fez de forma altiva, sem inibições, sem fazer média, sem se importar com os comentários dos colegas deputados. Afinal, Helena não tinha nada a perder. Não fazia parte do esquema. Foi uma das poucas deputadas que para se eleger e re-eleger não entrou no esquema feudal de grupos de prefeitos que se associam entre si para eleger um candidato a deputado com a bênção de algum deputado federal e algo mais....Os dela foram votos esparramados, soberanos, sem receberem em troca alguma benesse concreta e imediata por parte dela. Agora cabe uma pergunta: quem dentro do Parlamento Estadual irá ocupar o seu lugar? Quem assumirá o papel de emprestará voz e espaço para que os esquecidos desse Estado se sintam de fato representados?

O momento culminante, contudo, da solenidade, foi a exibição da peça teatral ‘Que trem é esse?’ do grupo do Jupaz (Juventude pela paz) de Açailândia e Piquiá. Ao relatar o drama das populações que ficam à margem do trem da Vale quiseram lançar para a platéia não somente um grito de indignação contra o monstro da mineração e suas falsas promessas, mas também um convite para que cada cidadão e cidadã, representado ou não na assembléia ou no congresso, se sinta responsável pelo futuro desse Estado. Para que surja mais ‘justiça nos trilhos’, na família, na empresa, na escola, na igreja, na assembléia....

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Reinventar a vida no planeta Gaia! Feliz 2011!


Pensávamos que com o fim do ano velho, ‘boas novas’ acariciassem e acalentassem expectativas e sonhos de um futuro inédito, embora não paradisíaco. Os fantasmas de ontem parecem continuar a povoar o nosso hoje. Os fantasmas da violência brutal, policial, da rua, da casa doméstica, das terras ocupadas em campos de batalha, das instituições, das leis feitas por alguns poucos, e da sua interpretação elitista, viciada. Os fantasmas da destruição das matas e dos filhos da mata, das praças, dos casarões e dos sobrados. Os fantasmas da acumulação do lixo comum e atômico, das mercadorias inúteis e do dinheiro volátil. Os fantasmas da fome braba e do desperdício vil; da hanseníase e da tuberculose, da AIDS e da dengue hemorrágica. Os fantasmas das enchentes, dos terremotos e dos desmoronamentos....de encostas e...de sonhos. Os fantasmas dos governos dos príncipes, ‘maquiáveis’ espertos e corruptos que nunca caem, reciclados por eleitores autômatos e abúlicos. Os fantasmas da solidão e da depressão, dos transtornos que ceifam vontades e fazem esquecer esperanças de mudanças.

Alguém, talvez muitos, dirão que tudo não passa de um desígnio etéreo. De um destino que não pode ser mudado. Que tudo estava escrito nas estrelas. Talvez por um ‘deus’ onipotente ou, talvez, por uma força oculta que paira sobre o cosmos. Talvez nunca como hoje, nós espécie hominídea, - uma entre as 10 milhões de espécies existentes no planeta Gaia/terra,- somos os maiores responsáveis pelas mortes de seres da nossa mesma espécie. Somos os piores destruidores de numerosas outras espécies que, inclusive, são as que garantem a nossa própria sobrevivência. A espécie humana está afetada por transtorno biocida. Deve ser tratada antes que seja tarde demais. Não há ‘deus’ que possa deter essa corrida louca suicida que iniciamos. Só a lucidez, a coragem, a ousadia, e um gesto sublime de arrependimento planetário que tenha como ‘penitência’ uma verdadeira e radical inversão de valores e opções em todas as dimensões e habitat dos seres vivos poderá detê-la. Só assim poderemos 'viver para ver'!

Feliz 2011 e reinventemos a nossa vida!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A Sagrada Comum família


Celebramos ontem a Sagrada Família exaltando suas virtudes, mesmo que desde um ponto de vista histórico não tenhamos informações fidedignas. Proclamamos a tríade de Nazaré como uma família perfeita, mas dificilmente poderemos nos identificar com algo perfeito. Afinal, poucos de nós foram acolhidos, amados, protegidos, educados por um pai e uma mãe biológicos como o foi Jesus. Quando isto ocorre, as ausências, as violências, os autoritarismos, os abandonos, as discriminações levadas adiante por pais e irmãos deixam as suas marcas indeléveis no corpo e na mente. Que família é essa, afinal? Qual, a de Nazaré ou a nossa? A primeira super idealizada, mas irreal. A segunda, contraditória, imperfeita, mas real, concreta, histórica. Esta é a nossa! Mesmo assim, continuamos a repetir para nós mesmos e para o mundo que a família verdadeira é a de Nazaré: papai, mamãe e filhinhos amados. Este modelo de família implodiu há muitas décadas no ocidente e no oriente. A redução do controle social de caráter moralista, as mudanças ocorridas no mundo do trabalho/economia em que a mulher entrou de forma ativa, a pan-sexualização das relações inter-pessoais, as disputas e as rivalidades sociais que são incorporadas e reproduzidas em âmbito ‘familiar’, o fim da perseguição contra pessoas com opções sexuais específicas e diversificadas, o desaparecimento crescente de formas de solidariedade familiar alicerçadas no sangue, no compadrio, na reciprocidade, e muitos outros elementos permitiram o surgimento de inúmeras formas de ‘ser família’. Independentemente de estruturas culturais herdadas e consolidadas.

O desafio para o ser humano que vem escolhendo se organizar ainda mediante formas de coesão social, agremiação, convivências de toda ordem é saber se ainda há espaço para sentimentos e emoções. Se as nossas estruturas sócio-familiares ainda acreditam e conseguem proporcionar acolhida, proteção, ternura, e por que não amor....aos seus membros, ou se na sofisticação e no crescente individualismo das formas de coesão social ‘todas essas coisas’ não passam de elementos obsoletos. Incapazes de responder aos verdadeiros anseios ‘humanos’. Do humano do futuro. Se são ‘coisas de gente piega e igrejeiros’ ou dimensões que realizam integralmente o ser humano. Pessoalmente já fiz a minha opção. O ‘bicho homem’, ou seja, a espécie hominídea, para sobreviver e garantir um futuro equilibrado para si e para o ambiente que o mantém vivo precisa sim de amor. Não importa se oferecido por um casal de sexo diferente, ou do mesmo, por um tio ou uma avó, por um irmão mais velho ou por uma madrinha, por um ‘estranho ou uma vizinha’. A capacidade de oferecer amor, de proteger, de cuidar, de estar próximo, de conduzir pela mão e sentar no colo de alguém ainda é a saída para a família planetária. Não será perfeita como a de Nazaré, mas permitirá que não surjam mais monstros e que não seja autodestrutiva.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Para além de toda retórica: FELIZ NATAL!

Em época natalina quase tudo é perdoado. Os excessos de presentes, os desgastados, tradicionais e formais votos de ‘boas festas’, o abuso da retórica natalina, as ‘inesquecíveis’ promessas não mantidas de mudança pessoal. O juramento sobre o que temos de mais querido de que a partir de ‘hoje/Natal’ vamos encontrar mais tempo para dedicar aos filhos, aos pais anciãos, que vamos dar mais atenção às pessoas que estão ao nosso lado, que largaremos o que nos mantém presos e dependentes. Enfim, obviedades e lero-leros em que mentimos para nós mesmos, e um mente para o outro. Este finge que acredita, mas sabe que não é como parece ser. Enfim, no Natal, parece haver um tácito acordo supra-cultural e supra-religioso para que tudo esteja imbuído de harmonia, de paz, de bondade universal, de solidariedade, de anistia, nem que seja por um... dia. Parece ser a própria mágica do Natal, consagrada universalmente que exige não ser quebrada. Pode ser uma forma pouco original de os humanos, - pelo menos os de uma certa cultura, - dizerem para si próprios que, querendo, poderiam ser diferentes. Que criando condições reais - que estão ao seu alcance - poderiam sim, cumprir o que de fato prometem ou desejam um ao outro só formalmente, e por um dia. Natal, acima de tudo, pode significar que essa humanidade tem potencial para, de fato, não só desejar formalmente paz, harmonia, solidariedade, fraternidade, mas realizar historicamente tudo isso. Porque isso manifesta a consciência coletiva da carência de tudo isso. Mesmo que não consiga ou não queira implementar. Mais cedo o mais tarde, o que celebramos formal e tradicionalmente acabará se transformando em algo real. Como negar que a falta de harmonia, de paz, de solidariedade fraternidade bateu definitivamente à nossa porta? Essas carências, em geral, se não forem enfrentadas não perdoam! Sem retórica: FELIZ NATAL!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A terra dos Gavião/Pukobyê:entre mentiras e manipulações

Há metidos a ‘experts’ que acham que sabem tudo sobre tudo. Vendem versões e números como se fossem chuchu que eles mesmos plantam no quintal da sua casa. Sabem que por trás de números têm realidades, pessoas, tendências. Mas o seu propósito é somente ‘comprovar’ aritmeticamente a sua própria verdade. Os seus interesses. Mas, afinal, números, são ....números que expressam dados consolidados e irrefutáveis. A esses números nós queremos dirigir o nosso olhar e a nossa razão.

Estou me referindo especificamente à questão da nova demarcação da terra Governador do povo Gavião/Pukobyê, Amarante, Maranhão, e que a revista Veja de algumas semanas atrás abordou com a irresponsabilidade que lhe é costumeira. Vários jornalistas locais metidos a pseudo-analistas deram uma ampla cobertura à exposição das argumentações - nada civilizadas - que a revistas divulgou a nível nacional. Os ‘ventríloquos’ locais reproduziram as pérolas que a Veja desfilava sem sequer verificar se o que era divulgado correspondia minimamente à lógica e aos...números reais.

Lê-se na Veja, por exemplo, que os Gavião não passam de 500, mas são cerca de 1.000 (Funai 2009). Diz-se que são 3 aldeias, mas são 6 (Funai 2009). Pior: afirma-se que a nova terra elevaria para 75% a área ocupada pelos indígenas dentro do território municipal. Ora, ora, ora....a superfície de Amarante é de 7.669,090 km quadrados (IBGE 2010). Ou seja, mais de 766 mil hectares de terra. Esse é um dado inconteste e consolidado. Atualmente a terra Governador dos Pukobyê que é de 42.054,73 ha. e ocupa, portanto, pouco mais de 5% (cinco por cento) do território de Amarante. Mesmo com a sua ampliação – cujo tamanho ainda não é previsto – mas é calculado por alguns em cerca de 150 a 200 mil, a superfície que as terras indígenas ocupariam dentro do município não passaria de 25% (25 por cento). Estamos bem longe dos 75% propagados pela revista Veja e pelos pecuaristas da região, segundo os quais, ao se concretizar a ampliação, inviabilizaria a economia local. Argumentação arcaica utilizada por outros colegas de ofício (leia-se os de Zé Doca a respeito da terra Awá-Guajá) Sem falar, naturalmente, no fato que os critérios a serem adotados, - e sobre os quais a Funai se baseia, - não são nem aritméticos e nem conjunturais, e sim historiográficos e antropológicos, definidos em legislação específica. Ou seja, nada contra a lei!

Agora, contemplem alguns números que o próprio IBGE escancara: em 2006 a área dos estabelecimentos agropecuários em Amarante era de 159.278 hectares. Atualmente deve ter aumentado significativamente. Mais: 99.726 hectares eram ocupados por diferentes pastagens (plantadas, naturais, degradadas, boas, etc.) Deve ser muito mais agora. Não é engraçado tudo isso? Para defender uma ampliação de terra que afinal fica com a UNIÃO, patrimônio comum, – embora usada por indígenas – todos se levantam e esperneiam. Para condenar boi e dono de boi que ocupa sempre mais terras agricultáveis que poderiam ser distribuídas de forma mais racional para quem precisa realmente de terra, todos calam. Será que errei de País? Amarante virou Índia? Passou por lá algum hinduísta proclamando a ‘santidade das vacas’?

Entrevista com Jon Sobrino: 'Jesus incomoda'!

Contam-me – de brincadeira – que o senhor está cansado do mundo e também lhe ouvi dizer mais de uma vez que o senhor quer poder viver sem sentir vergonha do ser humano. Qual é a razão?

Às vezes, eu sinto vergonha. Por exemplo, interessamo-nos de verdade pelo Haiti? Obviamente, ele levantou interesse no começo e teve algumas respostas sérias. Mas passa um tempo e já não importa... Outro exemplo que contei outras vezes: em um jogo de futebol de equipes de elite jogando a Champions [League], calculei que, no campo, entre 22 jogadores, havia duas vezes o orçamento do Chade... Isso me enoja e me envergonha. Algo muito profundo tem que mudar neste mundo...

Para onde o neoliberalismo e a globalização nos levam?

Acredito que o chamado Primeiro Mundo – uma quarta parte da humanidade – continua pondo o sentido da história na acumulação e no desfrute que a acumulação permite. A diversão, por exemplo, é uma megaindústria multinacional: o esporte de elite, o turismo... É "civilização do capital", que produz uma sociedade gravemente enferma, em transe fatídico e fatal.

Ao cidadão médio do mundo desenvolvido corresponde alguma responsabilidade da pobreza, da opressão ou das guerras que assolam o planeta?

Objetivamente, sim. Quem declara as grandes guerras? Os governos, movidos por oligarquias, mas eleitos pelos cidadãos. Quando os governos oferecem guerra diretamente, alguns os elegem e outros não. Mas eu não ouço que um governante ofereça que se viva pior, que se desça para que outros muitos possam subir um pouco. Nesse sentido, objetivamente somos corresponsáveis. O mundo se divide entre oprimidos e opressores. Não é preciso enrolar muito...

A Congregação para a Doutrina da Fé emitiu em 2006 uma notificação

na qual afirma que o senhor falsifica a figura do Jesus histórico ao destacar muito a sua humanidade em detrimento da sua divindade. É o argumento da velha heresia...

O que eu digo é que, na realidade humana de Jesus de Nazaré, Deus se fez presente. Mas me dizem que não chego a dizer de verdade quem é Deus e que eu falo de Jesus de Nazaré muito concretamente e até que o converto em político, e isso, em geral, não costuma agradar às autoridades das cúrias romanas e também diocesanas. Ocorreu com vários teólogos. No meu caso, começou em 1976. Na "Notificatio", disseram que dois livros meus continham afirmações errôneas e perigosas. Antes, eu os havia dado para que sete teólogos sérios os lessem, e nenhum me disse que havia algum problema de possibilidade de heresia... Penso que Jesus de Nazaré sempre incomoda. Deus incomoda menos, porque é tão intocável, tão impalpável... Penso que, na Igreja, temos uma tendência a nos distanciarmos de Jesus de Nazaré. Não quer dizer que não falemos de Cristo, mas Cristo é "o ungido", um adjetivo. Creio que o mais perigoso é ignorar que Jesus não simplesmente morreu, mas que o executaram. E o mataram porque enfrentou o poder dos sumos sacerdotes e, indiretamente, o poder romano. Evidentemente, Jesus não fez só isso. Pregou coisas belíssimas e dificilíssimas: as bem-aventuranças, a misericórdia com as pessoas, a oração ao Pai. Dá gosto de ver Jesus, mas também é coisa séria, e, se alguém quer seguir o caminho de Jesus, vai lhe custar. Por isso, penso que, em conjunto, a Igreja também costuma se distanciar dele para que não incomode. Mas, graças a Deus, há pessoas e grupos aos quais Jesus lhes atrai. Vi isso no El Salvador, principalmente entre os pobres e aqueles que os defendem. (Fonte: IHU)


domingo, 19 de dezembro de 2010

Comissão visita Guajajara na cadeia. Permanecem presos e juiz ainda não finalizou o inquérito.

Uma comissão ligada aos direitos humanos visitou dias atrás os indígenas do povo Guajajara envolvidos no bloqueio da BR na terra indígena Canabrava. Eles permanecem presos em Presidente Dutra. Eis, uma breve síntese do relato que nos enviaram.

'....José é o mais debilitado. O tiro na cabeça afetou os reflexos do lado esquerdo; quase não movimenta a perna, e não mexe nada com o braço esquerdo. A esposa está lá para auxiliá-lo. A memória não foi afetada, lembra tudo. É muito magro e sente dores de cabeça. Douglas foi atingido na perna, quebrou o osso, usa pinos. Quanto a Eliseu, o mais velho, o tiro atingiu a barriga, mas não perfurou nenhum órgão vital. O Rogério, o mais falador e desinibido, foi atingido no braço e a bala foi parar próximo ao rim esquerdo. Fez cirurgia e sente dores na região da barriga. Eles passam o dia sob as árvores no pátio da delegacia. Um voluntário da cidade colocou os escapes para eles. À noite são recolhidos no corredor da carceragem. Recebem o mesmo alimento que os demais presos. Dizem que estão sendo bem tratados pelo delegado e os demais agentes. Apenas o delegado Beethoven de S. Luís usou palavras grosseiras e ofensivas contra eles. O delegado, dr. Taveira é muito atencioso, calmo. Perguntamos por que estão presos, pois quem garante que foram os 4, ou um deles que atiraram no delegado (se houve apenas um tiro de espingarda, e uma parte de dedo decepada). E os demais manifestantes estão soltos, e eles foram atingidos pelo delegado... Na opinião dele a prisão dos índios é mais política que penal... Continuam reclusos para a polícia mostrar à sociedade e para os índios que está fazendo alguma coisa, que índio não fica impune, que existe uma ordem. Enfim.... para calar a boca de todas as partes... Ele acha que deveriam ser soltos.  Disse ainda que ele está pisando em ovos, pois estão presos do lado de fora do cárcere o que não poderia ser. Os outros presos já estão demonstrando insatisfação pelo "privilégio" dos índios, mas considera que se forem colocados juntos dos demais, a outra parte da sociedade vai tachá-lo de desumano, pois estão feridos e deveriam estar num outro lugar e não numa cadeia. O delgado terminou expressando desaprovação total quanto à atitude do delegado Cavalcante envolvido no episódio. Disse que a soltura dependia do juiz de Grajaú e que ele tinha 10 dias para concluir o inquérito. Naquele dia já fazia um mês da prisão....'

Alguém foi atrás do delegado para esclarecer a barbaridade que fez, e tirar as dúvidas de um número crescente de pessoas, inclusive colegas dele? Será que vão abrir sindicância interna para livrá-lo, pelo menos, dos graves indícios (mais do que isso) de abuso de poder e tentativa múltipla de homicídio?...Ou é melhor deixar como está para não ressuscitar a 'irresponsabilidade do policial'?

Do amor entre os humanos brota o divino! (Mt. 1,18-24)


Narrações épicas de nascimentos espetaculares, entrelaçadas por mitos originais ou emprestados, diálogos e cruzamentos entre humanos e deuses, - confundindo o humano com o divino, - estão na base, muitas vezes, do surgimento de inúmeras religiões. Não assim acontece com a irrupção do ‘divino’ Jesus na história. Na versão de Mateus, a concepção e o nascimento do ‘humano’ Jesus deixam pouco espaço a mitos, a narrações épicas, a uniões elitizadas entre deuses e deusas. Tudo ocorre entre as quatro paredes de um templo familiar. Entre uma jovem mulher e um homem que, coincidentemente, possui o mesmo nome que o nascituro: José/Jesus. Sem intervenções de sacerdotes ou outros mediadores do sagrado. Numa aldeia ‘insignificante’ do ‘mapa mundi’ do império romano. Ou seja, parece ser a história da concepção de um ser comum. Nada que chame a atenção. Mas não é, tampouco, a narração de um mero evento biológico entre dois seres vivos....

Jesus é concebido como fruto da compreensão, do respeito e da delicadeza recíprocos entre esses dois seres humanos com consciência histórica. Entre dois anônimos cidadãos da ‘Galiléia das nações’, mas com identidade clara. Não há qualquer diálogo entre Maria e José. Parece que eles já sabem como devem agir, mas sem ser subservientes a um imperativo externo. Sem trair as suas percepções e sensibilidades pessoais chegam a intuir e a aceitar a missão a que são chamados, embora sem compreendê-la plenamente. Percebem que é algo maior do que o seu projeto pessoal. É o ‘anjo da consciência’ dos dois, o sentido de responsabilidade de um para com o outro, - e dos dois para com a humanidade - que permite que um novo humano tome corpo dentro e dentre eles. Para que este manifeste o divino que está neles e em cada humano.

É uma radical inversão. O divino brota, e se torna compreensível e manifesto só mediante os humanos. Humanos, porém, que possuem a consciência de que podem ser instrumentos de ‘humanização’ para outros humanos que esquecem ou negam o divino que está neles. Maria e José representam simbolicamente os humanos que se situam de forma responsável nas dinâmicas da história. Símbolos de quantos não apelam para o divino para negar o humano que está em cada ser vivo. Que não usam os ‘seres divinos’ para justificar a alienação dos humanos, a sua falta de compromisso com o mundo. Que não fazem do culto aos ‘divinos’ uma forma para escamotear o verdadeiro culto que deve ser prestado aos humanos em sua permanente procura de vida/salvação. Que procuram sentir dentro deles que, afinal, são ou podem ser...’EMANUEL’!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sinais! Quais sinais? (Mt. 11,2-11)

Jesus inicia uma nova época. Um tempo longamente esperado pelos ‘pequeninos’ de Israel. Para Jesus, Deus já começou a governar em favor das ‘ovelhas perdidas da ‘casa de Israel’. Para Ele, o próprio Deus está desbancando e desautorizando os falsos pastores e os incompetentes administradores ‘desse mundo’. Eles não vinham demonstrando compaixão e estavam sendo incapazes de garantir paz e justiça aos pequenos de Israel. Jesus, porém, não somente proclama a nova era, mas oferece sinais concretos de que uma nova prática havia iniciado. Ele prova com gestos tangíveis que a nova soberania de Deus havia iniciado, definitivamente, com Ele.....

Com efeito, depois de séculos em que os pequenos não eram enxergados, Deus, através de Jesus, abre os olhos da humanidade para que tome consciência da sua existência. Os próprios pequenos, através dos gestos de compaixão de Jesus, começam a enxergar o seu próprio valor, a sacralidade da sua dignidade. Os que viviam paralisados pelo trauma de tantos complexos de culpa, imobilizados pela humilhação e pela discriminação social e religiosa, com a acolhida misericordiosa oferecida por Jesus começam a caminhar. Ousam avançar. Superam medos e traumas do passado. Os rejeitados, os impuros de ‘pele e de rito’ começam a se sentir incluídos no reino onde os preconceitos são definitivamente banidos. Os que nunca foram educados a ouvir a palavra da vida, a estar atentos ao grito dos sofredores e ao clamor da mãe terra, afinam, enfim, os seus ouvidos Escutam o Deus que fala a nova linguagem da misericórdia. Em Jesus de Nazaré, os desesperados, os que haviam perdido todo o sentido de sua existência, os ‘mortos ambulantes’ recuperam a vontade de viver, de lutar, de amar e sorrir. E, finalmente, os pobres, os despossuídos da história recebem a ‘boa nova’ de que eles, na nova realeza de Deus, são maiores do que todos os profetas. Inclusive, maiores do que João Batista.

Há uma evidente polêmica subjacente ao texto evangélico hodierno. Uma espécie de rivalidade entre o grupo de Jesus e o grupo de João. Jesus, ex-discípulo de João, reconhece de um lado a grandeza da profecia de João. Do outro Jesus percebe que a profecia, agora, exigia escolhas mais ousadas, práticas mais corajosas. Não era suficiente denunciar. Nem permanecer num templo frio e sem vida. Havia acabado a época dos sacrifícios e holocaustos que cooptavam a benevolência divina. Era preciso construir e reinventar formas alternativas de coexistência humana. Práticas sociais e religiosas novas. A mera ameaça de um Deus purificador e vingador feita por João não encontra eco na sensibilidade e visão de Jesus. É justamente na crise profunda em que Israel estava mergulhado que para Jesus despontava uma oportunidade única de ‘refundação’.
Esse processo de reconstrução nacional e moral passava necessariamente pelo reconhecimento do protagonismo/existência dos ‘menores’. Na realeza de Deus inaugurada por Jesus ‘os menores’ são reconhecidos formalmente como os ‘maiores’ competentes para governar da forma que Deus quer. Na igreja de Jesus de Nazaré, eles ainda não ocupam o espaço que lhe foi reservado pelo Mestre da Galileia. Os sinais oferecidos estão longe de provar que aos pequenos/pobres pertence o ‘reino de Deus’!

sábado, 4 de dezembro de 2010

Deus começou a administrar. O futuro é agora! (Mt. 3,1-12)


Israel havia se tornado um deserto. O coração das pessoas estava estéril. Incapaz de produzir frutos de justiça e transformação. Era preciso transformá-lo num espaço de renovação ousada. Cada pessoa devia ‘arrepender-se’ de seus pecados, os que produziam morte e esterilidade. João que profetiza no deserto quer se tornar o instrumento facilitador de Deus. Um homem despido das roupas dos que viviam armando morte e destruição nas grandes cidades denuncia no deserto que era preciso descobrir e encarar o deserto que estava dentro de cada um. O deserto que dominava e ameaçava a vida de multidões.

João acreditava que era possível reverter a tendência de morte e esterilidade. Mas era preciso que as pessoas mudassem suas opções de vida. Suas atitudes. Suas concepções. Suas formas de consciência distorcida segundo a qual muitos pensavam que era suficiente considerar-se ‘filhos de Abraão’ para possuir a salvação. A salvação, o ‘deserto transformado’, para João, torna-se uma realidade ao alcance de todos só mediante gestos e ações concretas impregnadas de fraternidade e justiça. Isso, contudo, implica despir-se de toda hipocrisia e falsidade. De toda arrogância. De toda falsa segurança. De todo ‘privilégio religioso’ adquirido. Deixar-se batizar por João significa aceitar a lógica e a prática apontadas por ele. Só assim o batismo-compromisso se torna sinal-sacramento. Para evitar que seja uma das muitas formalidades religiosas judaicas, os que entram na fila no Jordão devem assumir o ‘credo/apelo’ de João!

O Deus de João não é o Deus de Jesus. É um Deus que cobra. Que monitora e pune. Que não dá novas chances. O reino Dele chegou e não há mais tempo a perder. Ou a mudança se dá agora, ou nunca mais. Porque agora se joga o futuro de Israel/humanidade! O Deus de Jesus é graça, perdão e compaixão. Um Deus que dá novas chances, oportunidades inéditas. Mas é preciso compreender que não se pode desperdiçar o momento presente. O Reino chegou. Agora é o futuro!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Awá-Guajá saem à procura de ...salvação!


"No Maranhão, já tentamos resolver esse problema, mas não adiantou. Por isso viemos a Brasília! Estamos pedindo socorro para que o senhor olhe o nosso documento primeiro!", pediu Itaxi Awá, ao desembargador do TRF1, Jirair Meguerian. Os 10 Awá Guajá que foram a Brasília destacaram a importância do rápido julgamento de uma dezena de apelações que atravancam a finalização do processo de demarcação das terras do povo. Esta é uma das 11 apelações, contra a sentença do juiz José Carlos Madeira, em que determinou que a União efetue a demarcação de acordo com os termos da Portaria nº 373/92 e do laudo antropológico elaborado pela perita oficial em antropologia Eliane Cantarino O’Dwyer (Universidade Federal Fluminense), procedendo também a homologação e registro imobiliário da área, que fica nos municípios de Zé Doca e São João do Caru (MA). Meguerian afirmou que deve tomar as medidas cabíveis assim que o MPF fizer suas apreciações. Os Awá ficaram satisfeitos com a visita a Jirair Meguerian.

No MPF

A gama de temas para discussão foi um pouco mais ampla na reunião dos Awá no Ministério Público Federal, neste 1º de dezembro. Coordenada pelo procurador da República no Maranhão, Alexandre Soares, a reunião foi uma oportunidade de os indígenas apresentarem as demandas diretamente aos representantes dos órgãos públicos responsáveis por atendê-las. Vários indígenas falaram o que vem acontecendo em seu território. Mostrando um mapa da região, eles relataram que há madeireiras, serrarias, caçadores e fazendeiros, que os impedem de usar a área para caça. "Já estão criando gado na nossa área, como que a gente fica com nossa terra acabada? Queremos que os invasores sejam retirados!". Os depoimentos eram preocupantes. "Esta terra vai acabar. Onde vamos coletar o mel? Onde vamos criar nossos filhos? Eu tenho medo dos madeireiros e a gente fica preocupado. Como vamos fazer?", afirmavam. Diante dos relatos, o procurador chefe Regional da 1ª Região, Alexandre Camanho, ficou estarrecido e indignado. O procurador garantiu que em uma hora, ele estaria designando um procurador para cuidar pessoalmente do caso e garantiu que a União iria desistir da apelação (nos processos, a União recorre da demarcação das terras por afirmar que o tempo era muito pouco). Ele também se comprometeu a participar no julgamento da corte especial e propôs que em todos os casos, a Funai apresente os documentos necessários. (re-elaboração do relatório do CIMI)

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Índios Guajajara feridos pelo delegado Cavalcante continuam presos e sem remédios

Continuam presos em Presidente Dutra os índios Guajajara que foram feridos pelo delegado de polícia civil Edmar Cavalcante no dia 7 de novembro na aldeia Barreirinha. O delegado quis forçar a liberação da BR 226 que um grupo de indígenas da Terra Indígena Canabrava havia bloqueado exigindo o cumprimento dos acordos assinados pelo Governo do Estado do Maranhão. Atendidos em Barra do Corda foram todos eles sumariamente detidos e transferidos a Presidente Dutra onde se encontram ainda hoje. Não há perspectivas imediatas de sua soltura. A Funai através do seu administrador regional de impertariz, Sr. Piancó, vem tomando providência no sentido de obter um ‘habeas corpus’ para libertar os indígenas presos arbitrariamente. Um dos indígenas se encontra com um corte na barriga de quase 20 centímetros e sem remédios. Corre perigo de infecção. Um outro, ferido na perna esquerda, tem vários parafusos colocados na tíbia. Profundamente deprimidos e indignados com a sua detenção, os indígenas afirmam que já foram submetidos a vários tipos de vexame e humilhações. Principalmente por um policial vindo de São Luis, por nome Beethoven. Alguns dias atrás ele abordou os três Guajajara na delegacia de Presidente Dutra e se dirigiu a eles chamando-os de todo nome. Afirmou que deviam ter morrido, pois eram todos assaltantes e bandidos. Nada ocorreu com o ‘servidor da lei’. Índios Guajajra da aldeia Barreirinha informaram que também o adolescente Hagair Guajajara ferido pelo delegado com um tiro no pescoço aproximadamente a 800 metros do lugar da agressão foi detido por cerca de 4 horas quando de sua internação. Ele é menor de idade e com problemas de saúde. O delegado nas inúmeras entrevistas sempre omitiu que ao fugir disparou vários tiros contra indígenas que não estavam no lugar da agressão ferindo pelo menos dois. Isso desmonta a versão de que ele teria atirado em legítima defesa, supostamente para se defender de índios que o agrediam com facões. Várias instituições aguardam que seja instaurado um inquérito para apurar as responsabilidades do delegado Cavalcante.

domingo, 28 de novembro de 2010

Advento: perceber a hora de Deus! (Mt. 24, 37-44)


Os ‘eventos’ não podem ser mudados. Não há como interferir neles, após a sua consumação. Mas eles podem ser refletidos e analisados. Podemos estudar os seus impactos. Tirar lições de vida. Afinal, eles revelam escolhas e interesses pessoais e de grupo. Podemos identificar a intensidade dos valores, dos projetos, das maldades, e das formas de indiferença que estão em jogo. Podemos apontar também atores e protagonistas que permitiram a realização de um ‘evento’. Podemos, enfim, prever as conseqüências de determinados eventos. Ao contrário dos ‘eventos’, o ‘ad-vento’, ou seja, o que ainda não foi consumado, pode ser construído e realizado com uma direção e com uma ótica próprias. Ad-vento é o futuro que ainda não foi escrito. Que pegará um jeito ou outro, a depender dos rumos, dos valores, e do grau de interferência que os humanos embutirão nele. Nesse sentido o ‘ad-vento’ é abertura absoluta ao inédito, ao novo. Poderemos, a partir da análise do conjunto de eventos re-criar outros eventos. Estes sim, modificados e transformados segundo intencionalidades novas. É preciso, porém, ‘estar atentos’, vigiar e compreender sobre o que já se passou. Para não repetir contradições. Para não reproduzir as mesmas maldades. Para não continuar a multiplicar as mesmas formas de indiferença, de injustiça, e de falta de participação nos eventos futuros a serem construídos.


Nesse sentido o advento litúrgico que iniciamos é uma forma pedagógica sempre renovada para nos educar a sermos permanentemente protagonistas ativos e criativos da nossa história. Esta, afinal, não é determinada ou escrita por um destino obscuro. Manipulada por um ‘deus’ extra-humano. Ao contrário, ela é o resultado de ações e intenções, de interesses e valores em permanente disputa entre si. O futuro/advento terá o rosto e a direção daqueles que souberem imprimir com maior intensidade a força dos seus valores que os motivam a agir de um jeito ou de outro. Quem permanece espectador da história ou, pior, vive alheio a ela, ‘comendo e bebendo’ sem nenhuma ligação direta com o que ocorre ao seu redor, será uma mera vítima dos acontecimentos futuros. Alguém engolido e afogado pelo dilúvio da irresponsabilidade social.


Advento é, enfim, capacidade de perceber a hora do Deus de Jesus Cristo. O momento certo para fazer acontecer a verdadeira justiça. A autêntica compaixão. O discípulo/a Dele, não fica a esperar passivamente. Ele mesmo constrói, aqui e agora, de uma forma própria,‘transformando lanças e espadas em arados e foices’. Abrindo ‘novos céus e novas terras’. Afinal, ‘quem sabe faz a hora não espera acontecer’. Ele mesmo faz acontecer...o futuro que está por vir.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Polícia Federal e GTA espalham terror nas aldeias indígenas da Canabrava

"Ouvimos zoada de carros. Sai da minha casa e vi que eram cerca de oito carrões. Deles desceram rapidamente mais ou menos 30 homens. Alguns com capacete. Quase todos de fuzil e espingarda. Começaram a gritam e a apontar as suas armas em todas as pessoas que se encontravam no pátio. Foi um momento de pânico." Começa assim o relato de um grupo de mulheres indígenas e alguns homens que presenciaram mais uma manifestação de truculência policial jamais vista anteriormente. Ocorreu terça feira passada, 23 de novembro às 7,00h. na aldeia Barreirinha, na terra Canabrava dos índios Guajajara. A mesma aldeia que havia dado vida a um protesto pacífico contra os descasos do Governo do Estado do Maranhão, réu de não cumprir acordos formais assinados com as lideranças indígenas da região para normalizar a situação do transporte escolar para os seus estudantes. Na ocasião o delgado da Polícia Civil de Barra do Corda mudou o rumo do protesto ao atirar brutalmente em vários indígenas, ferindo seis.

‘Os homens da lei’ mal disseram aos indígenas que estavam cumprindo mandatos de apreensão e detenção de indígenas suspeitos de cometerem ilegalidades. Em momento algum disseram quem havia expedido aqueles mandatos. Possuíam uma lista de procurados, mas eles detinham e revistavam todos os que encontravam no caminho. "Me ameaçaram com uma espingarda. Apontaram a arma para mim, bem aqui na minha cabeça. Tive que levantar os braços e me empurraram na parede. Revistavam todos. Até a casa do cacique foi arrombada. Acho que estavam atrás de armas, mas não acharam nada porque ninguém anda armado por aqui. Imagina que até o meu vizinho que vive em cadeira de roda gritaram para ele levantar os braços e ir à parede!" Esse depoimento de um indígena de Barreirinha é enriquecido com mais pormenores por outros indígenas. Eles contam que as crianças ficaram traumatizadas. Choravam e corriam ao verem aquele espetáculo horripilante e inédito. Alguns dias após o acontecimento uma mãe falou que havia deixado sozinho por alguns instante o filho dela de 4 anos, mas logo ele começou a chorar e a chamá-la com medo que viesse a polícia para prendê-lo e machucá-lo. Ainda hoje há pessoas morando no mato e com medo de voltar à aldeia. As imagens de mais de 30 policiais correndo pela aldeia aos gritos e jogando ao chão alguns dos procurados estão gravadas na mente e fazem reviver momentos de pânico e horror. Continuam sentindo indignação ao lembrar os abusos policiais. Lembram que pelo menos três homens foram presos, algemados, colocados no camburão e após terem provado com documentos a sua identidade, e que não faziam parte dos procurados, os colocavam em liberdade. Após uma hora de ostentação de força bruta, ignorando os abusos que vinham cometendo, os policiais saíram para outra aldeia próxima.

As demonstrações espalhafatosas de força da polícia conjunta nas aldeias dos Guajajara da Canabrava parecem ser uma resposta àqueles setores da sociedade sedentos de retaliação para com ‘aqueles índios desordeiros’ que haviam bloqueado a BR 226 no dia 7 de novembro. Os promotores dessa ação quiseram associar ideal e operacionalmente a indignação produzida pelos protestos indígenas na BR 226 com a raiva social pelos casos de assaltos praticados na mesma BR, supostamente por gangues indígenas e não indígenas. Contudo, uma coisa não tem a ver com a outra. A lista dos procurados é antiga e estava nas mãos das autoridades policiais há pelos menos dois anos. Estranhamente, quiseram cumprir os mandatos somente agora. Para aplacar a ira dos anti-indigenas e inflamar a sua raiva racista. Para dizer à sociedade que todos os índios são iguais, - os que protestam pacificamente e os que assaltam. Para provar que nessa nova legislatura há governo. Nem que seja para reprimir homens, assustar crianças, mulheres e idosos indígenas.

sábado, 20 de novembro de 2010

Jesus rei: poderoso na fragilidade (Lc.23,35-43)


Existem circunstâncias na vida das pessoas em que a ostentação exacerbada de poder é uma forma de camuflar fraqueza. Fragilidade interior. O exibicionismo da força, do prestígio, da capacidade de interferência esconde formas de inferioridade pessoal. Tornam-se, portanto, uma espécie de compensação. Quanto mais fraco, mais forte quer aparecer. Há, todavia, circunstâncias em que a aparente fragilidade pode revelar poder moral. A aparente ausência de poder ‘externo’ pode manifestar uma força de interferência contagiante. Os que externam o seu poder e cultuam o reconhecimento público sabem que conseguem influenciar o comportamento de outras pessoas somente mediante formas de dominação. De ameaça ou coação. E não por livre adesão a eles. Em geral, quem possui força moral, carisma, capacidade de se sintonizar com a alma humana, só utiliza a persuasão do seu testemunho. A sua coerência, silenciosa e firme. Não precisa ser acompanhado por sinais visíveis de força e poder. É na sua fragilidade exterior, no seu esvaziamento externo que se revela com mais intensidade o seu poder moral.

O evangelho hodierno retrata muito bem o que significa ter poder. Poder moral, aquele que mexe com as motivações e as atitudes das pessoas. Não na ostentação de comportamentos monárquicos, e sim, na morte de cruz, Jesus manifesta a ‘realeza’ que questiona o agir humano, e convida ao serviço extremo. A vida inteira de Jesus parece ser uma fuga permanente de todo tipo de tentativa de querer fazê-lo ‘rei’ à moda romana/humana. O poder de Jesus se manifesta no seu radical esvaziamento, inclusive o físico. A morte, que para os humanos é sinal de fragilidade absoluta, negação do ser/poder, torna-se em Jesus manifestação de seu modo de ‘ser e estar com’ os humanos. Um que está entre os humanos como ‘aquele que serve’. Até o esgotamento total. Ao mesmo tempo, o modo de agir/ser de Jesus torna-se denúncia contra todo tácito desejo humano de ser monarca, poderoso e influente. ‘O rei dos judeus’ que morre numa cruz como um rejeitado, aponta para os ambiciosos e sedentos ‘reizinhos’ que o poder, seja ele qual for, é para acolher, proteger e humanizar as pessoas.

O protesto dos Guajajara na BR 226, na Terra Indígena Canabrava. O que o delegado nunca disse, o que a Globo/Mirante ocultou

Ele mentiu. Não é nada daquilo que ele disse aos meios de comunicação. Ele foi, na realidade, o principal causador da confusão. Os próprios meios de comunicação, a Globo/Mirante, principalmente, agiram de má fé conosco!’. Assim se expressaram alguns indígenas da Terra Indígena Canabrava ao se referirem ao delegado da Polícia Civil de Barra do Corda, Edmar Gomes Cavalcante, que tentou acabar com o protesto indígena no domingo 7 de novembro. Membros da Pastoral Indigenista de Grajaú visitaram as aldeias da área e colheram, in loco, vários testemunhos. Todos eles coincidem: o delegado agiu de forma irresponsável. Agrediu os manifestantes e fugiu atirando contra homens, mulheres e crianças das aldeias por onde passava, deixando rastro de medo e sangue em gente que nada tinha a ver com a confusão. Várias instituições pensam em denunciá-lo.

Revisitando as aldeias

Haviam passado poucos dias dos tensos e tumultuados acontecimentos que viram como protagonistas índios Guajajara e um delegado de polícia. Uma equipe da Pastoral Indigenista de Grajaú visitou algumas das aldeias que participaram do bloqueio da BR 226 e outras que optaram em não fazer parte do movimento reivindicatório. Aparentemente tudo havia voltado à normalidade. Nos olhar dos indígenas era visível, contudo, um tênue véu de tristeza e decepção. Ainda não conseguiam entender porque um protesto planejado para ser executado de forma pacífica gerou tanta violência, e indignação em muitas pessoas. Homens e mulheres Guajajara de algumas aldeias haviam combinado que interromperiam a BR 226 na altura da aldeia Barreirinha para chamar a atenção do Governo do Estado que não vinha respeitando um Termo de Ajuste de Conduta que havia assinado em junho, garantindo a normalização do transporte escolar para os seus filhos. Os indígenas haviam acertado desde o início que deixariam passar ambulâncias, polícia e facilitariam aqueles casos que exigissem urgência. Tinham consciência que não deviam ‘forçar a barra’, inclusive porque muitas aldeias da mesma terra indígena não haviam aderido ao movimento. Muitos indígenas haviam sido alertados pelos seus caciques de se manterem longe da aldeia Barreirinha, lugar do bloqueio

Sangue, dor e humilhação

Muitos indígenas são unânimes em confirmar que se o delegado não tivesse agido de forma truculenta e irresponsável a manifestação teria tido um desfecho bem diferente. Os Guajajara narram que naquele fim de tarde de domingo, 07 de novembro, momentos iniciais da manifestação, já havia alguns caminhões parados ao lado da BR 226, na altura da barreira. Explicavam calmamente o porquê daquela manifestação, e pediam compreensão. E, apesar do transtorno, encontraram compreensão por parte dos transeuntes barrados. Afinal, nenhum deles vinha sofrendo algum tipo de violência. Improvisamente, porém, aparece uma moto. O motoqueiro desce, tira rapidamente o seu capacete e visivelmente irritado pergunta: ’Que molecagem é essa?’ Identificou-se como delegado de polícia e indicou que estava armado. Era, de fato, o delegado da Polícia Civil de Barra do Corda, Edmar Gomes Cavalcante que vinha de Grajaú, após dar plantão naquela delegacia daquela cidade. Os indígenas iam deixá-lo passar, mas ele insistiu que parassem imediatamente com o movimento e liberassem a rodovia para todos. Os manifestantes indígenas pediram para ele não interferir. Nesse bate-boca ele sacou improvisamente a arma. Os indígenas não se intimidaram e partiram para cima dele para desarmá-lo. Um deles se aproximou ameaçando-o com uma faca de cozinha, e no enfrentamento lhe cortou parte do dedo da mão esquerda. O delegado, enfurecido, começou a atirar em direção aos indígenas. Acertou logo quatro deles, três que estavam mais próximos, e outro um pouco mais distante. Foi quando um índio correu para buscar uma espingarda, pois ninguém deles tinha arma de fogo. Voltou rapidamente, atirou atingindo levemente o policial. A confusão se agigantou. O policial aproveitou do momento em que os índios socorriam os seus feridos para fugir correndo a pés pela rodovia em direção a Grajaú.

Atitude tresloucada de um delegado de polícia pago para proteger

O delegado, visivelmente transtornado e enraivecido, segurando o seu revólver na mão direita atirava em direção das casas das aldeias que ficam do lado esquerdo da BR. Alguns indígenas correram ainda ao seu encalço, mas após algumas centenas de metros desistiram. Ele continuava atirando e amedrontando crianças, mulheres e idosos. Foi justamente na aldeia Nova Barreirinha que fica a menos de um quilômetro da barreira, que o delegado atingiu com um tiro o adolescente Hagair Cabral Sá Santos Guajajara, de 15 anos, ferindo-o no pescoço. O adolescente estava no quintal de sua casa, aproximadamente a 150 metros da estrada. O jovem Guajajara é mudo de nascença e tem graves problemas de coordenação motora, o que exige que a mãe dele, Marilene Cabral Guajajara, seja ela a alimentá-lo. O policial em sua atitude tresloucada continuava a atirar, até chegar à aldeia Boa Vista que fica a um quilômetro e duzentos metros da barreira. Aqui pediu socorro a um caminhoneiro que vinha de Grajaú e dirigia um caminhão de cor branca, sem carroceria. A manobra do caminhoneiro foi tão brusca que destruiu parte da cerca de uma residência indígena. Soube-se, posteriormente, pela Mirante/Globo que o delegado foi bem assistido em Imperatriz, o que não ocorreu com os feridos indígenas. Todos eles, inclusive os seus acompanhantes, ao chegarem ao Hospital Acrísio Figueira em Barra do Corda foram sumariamente presos. Uns e outros foram muito maltratados pelos policiais locais. Além da dor, a humilhação da cadeia e do deboche racista.

‘Esta é a verdade dos fatos, não a da Globo!’

Papel decisivo teve, mais uma vez, a rede Globo através da sua filial Mirante. Um verdadeiro show de manipulação e distorção dos acontecimentos que envolve indígenas da Terra Indígena Canabrava, produzindo revolta, indignação e raiva em muitos setores da sociedade. Tudo se concentrou na intransigência indígena e no ‘indefeso delegado’ que para se defender teve que usar a violência. Só faltava dizer contra a sua vontade! De forma criminosa a Globo lançou mão de imagens de março deste ano em que, de fato, na mesma terra indígena havia sido apreendida uma arma e um saquinho de moedas fruto dos numerosos pedágios indígenas. Associou isso aos acontecimentos recentes com o intuito de agravar os indígenas e dar mais ‘munição’ a muitos dos seus já incautos e preconceituosos ouvintes. A Globo/Mirante não podia certamente fazer publicidade da falta de respeito do Governo Estadual para com as comunidades indígenas locais, que foi o que provocou o protesto. Afinal, os dois se confundem. Quem irá repor a verdade dos fatos quando por dias seguidos foi vendida uma determinada versão dos fatos? Quem irá exigir responsabilidade social a meios de comunicação que criminalizam qualquer movimento indígena? Alguém irá investigar a atuação do delegado despreparado por tentativa múltipla de homicídio? A dona Marilene, mãe do adolescente covardemente ferido pelo delegado, lembra ainda hoje com as lágrimas nos olhos: ’Meu filho escapou por pouco. Quem vai fazer justiça e punir, agora, aquele irresponsável que atentou à vida de meu filho aqui, dentro da minha casa? Esta que é a verdade dos fatos, não a da Globo!’

 

sábado, 13 de novembro de 2010

Enfrentar hoje os tumultos e as guerras de amanhã. O fim da história está longe (Lc.21,5-19)

Muitas vezes diante dos desafios da vida fugimos. Fugimos ao nos refugiar em formas paliativas de segurança. Ou em rápidas sensações de bem-estar. Fugimos mediante experiências místicas e espirituais alienantes. Anestesiamo-nos com celebrações carregadas de emoções que entorpecem a nossa percepção da realidade. Extravasamos os nossos sentimentos de culpa, de medo, de louvor, de súplica. Fugimos do nosso passado traumático que gostaríamos de esquecer. E do nosso presente frustrante. Refugiamo-nos em mundos densos de sonhos impossíveis, e de drogas paralisantes. De busca doentia de novas sensações. Fugimos mediante um ativismo exacerbado que nos dê a ilusão que somos fortes no enfrentamento dos ‘reais’ problemas da vida. Temos medo de nos encarar. De encarar quem somos, e o que queremos. De encarar a nossa incapacidade de dar sentido à nossa existência. Sequer conseguiríamos. Tudo nos parece confuso. Temos medo de parar. De parar para olhar para dentro de nós. Parar significa olhar sem véus e sem disfarce a nossa fragilidade e a nossa limitação humana. Temos medo de entrar numa depressão que nos angustia e ofusca a luz da alma e da mente. Temos medo do futuro que se apresenta incerto e fluido. Gostaríamos de ter respostas exaustivas, agora.

No evangelho hodierno, Jesus, com palavras e imagens próprias, retrata a situação humana e social das primeiras comunidades. São as comunidades eclesiais de ‘todos os tempos’. Homens e mulheres que alimentavam sonhos, que regavam esperanças e olhavam para o futuro com os olhos da incerteza e da insegurança. Porque o seu presente era de perseguição, de angústia, de sofrimento. Dentro de si, e dentre os seus experimentavam incompreensão, indiferença, contradição e violência. Nada disso, porém, pode significar fim da história. Nada disso pode afastar o nosso desejo de construir uma nova história. E sermos humanos de forma nova. Homens e mulheres que olham para o seu presente como um momento inédito carregado de graça e de oportunidade. Onde podemos já vislumbrar os meios para derrubar o que ontem nos parecia inamovível, pois o que ontem nos parecia desgraça, no ‘presente’ de Deus se torna salvação. A reviravolta é possível. Não há espaço para o desânimo, para a tristeza e o desespero. Nenhuma fuga é justificada. É agora, no enfrentamento da insegurança e da incerteza do hoje que nos capacitamos para enfrentar as incertezas futuras. Compreender e acolher o hoje com suas contradições é garantia que o amanhã terá a cara dos seus construtores de hoje. Dos que constroem paz na guerra, fraternidade no egoísmo, justiça na iniqüidade, liberdade na escravidão.

Ainda sobre índio: para que não digam que nunca falei!


Nada melhor do que uma notícia envolvendo uma manifestação indígena para identificar intolerantes tapados e racistas. Até um bom pai de família, normalmente cordial, civilizado e respeitador diante de uma ‘onda indígena’ perde o ‘fair play’. E não por um forte sentimento de justiça ou por santa indignação. Simplesmente ele sempre casa com as versões dos jornais anti-indígenas que só vêem um lado da complexa questão. Espanta que quando é francês que queima carro como protesto contra as reformas da previdência pelo governo, muitos ‘nacionais’ daqui afirmam que eles são lutadores. Quando é ‘índio nacional’ – se é que eles fazem parte desse País - que barra uma estrada invocando o respeito por parte do Estado aos compromissos que ele mesmo assumiu, eles são bagunceiros....


Quando é prefeito e deputado que desviam dinheiro público – e são milhões de reais, porque eles não se sujam por pouca m..... – para o bom pai de família, - conterrâneo desses criminosos, - eles ‘sabem viver, são vivos’. A sua esperteza não pode ser castigada, pois, afinal, ele mesmo faria assim se pudesse...Inclusive aqueles que deveriam prendê-los. Quando são os índios a ‘cometer ilegalidades’ – porque eles também as cometem, sim! - invoca-se os rigores da lei que, no imaginário ingênuo do desinformado, acha que nunca ocorre. Crime de índio para ele é sinônimo de impunidade. Só dois anos atrás saíram da nona delegacia de São Luis - após ter passado mais de oito anos - três índios responsabilizados de ter matado dois comerciantes de Barra do Corda. Sem falar de outros que estão presos por assalto ou tráfico de drogas. Só filho de prefeito e delegado de polícia que descarrega o seu revólver contra índios manifestantes é que com certeza não vai para o calabouço! Ao contrário, ele agora é a única vítima.


Há cidadãos disfarçados de ‘nacionalistas’ que estão preocupados e revoltados com o tamanho das terras dos índios, ‘’co-nacionais’ seus. Talvez na sua total ignorância esses nacionalistas não saibam que o único proprietário daquelas terras é a União Federal e que aos índios só cabe o usufruto. Portanto é um patrimônio nacional. Esses mesmos revoltados tapados não estão percebendo que chinês, russo, árabe ou co-nacionais seus do Centro ou do Sul do País estão comprando ‘legalmente’ uma imensidão de terras ‘nacionais’ para uma infinidade de negócios. Com esses, que são as verdadeiras ameaças, o bom pai de família, nacionalista, fica calado. E nem poderia falar: está alheio a tudo o que ocorre no mundo hoje e até mesmo dentro de sua própria casa. Xô colonialistas de ontem e de hoje, xô ‘conterrâneos coniventes’. Xô intolerantes tapados! Na aldeia global não há mais espaço para gente assim!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mais um conflito está a eclodir entre índios Gavião e fazendeiros em Amarante, no Maranhão

No dia (06) de outubro de 2010, a Fundação Nacional do Índio – FUNAI publicou a Portaria criando o GT (Grupo Técnico) para realizar os estudos complementares de natureza fundiária e cartográfica da nova demarcação da Terra Indígena Governador do Povo Pukobyê-Gavião, decretada de ocupação tradicional em 1982 com 42.054,73 hectares, localizada no Sudoeste do Estado, no Município de Amarante do Maranhão. O Grupo de Trabalho é constituído por representante do Museu do Índio, INCRA e FUNAI. O processo de nova demarcação iniciou no ano de 2007 com a elaboração do Relatório Antropológico. Com a nova demarcação a terra tradicional terá cerca de aproximadamente 200.000,00 hectares que oferecerá melhores condições para a sobrevivência do Povo Pokubyê-Gavião.

Terra de ocupação imemorial indígena

. A Terra Indígena Governador não oferece condições suficientes para que os indígenas possam continuar seu modo de vida tradicional. Diante do confinamento e da escassez de água, os Gavião reivindicam a incorporação de poções, rios, lagos de sua terra tradicional que foram excluídos dos atuais limites da terra Governador, necessitando da realização de uma nova demarcação como assegura a Constituição Federal. A população do povo Gavião é de aproximadamente mil pessoas vivendo em seis aldeias. Na semana passada os donos de propriedades que estão dentro da nova terra a ser demarcada, reuniram-se com o intuito de expulsar os representantes do Grupo de Trabalho. Na ocasião eles também se reuniram com a prefeita municipal de Amarante e outros políticos da região para solicitarem ajuda para paralisar o processo de nova demarcação.

Fazendeiros querem fazer negócio com ‘terra de índio’

. Os fazendeiros resistem à nova demarcação porque querem ver as terras indígenas sendo utilizadas por projetos agropecuários e de monoculturas, como a plantação de eucalipto. Por conta disso, os fazendeiros dizem que se acontecer à nova demarcação da terra indígena o Município de Amarante ficará inviabilizado produtivamente porque, segundo eles, ‘não haverá mais terras disponíveis para a produção’. Empresas como a Suzano Papel e Celulose que está a adquirir mais de trezentos mil hectares de terra na região onde irá plantar milhões eucaliptos não produzem a mesma indignação. Como conseqüência do acirramento do conflito entre a população local e os indígenas e os órgãos federais já se agravam os sinais de exclusão e maus tratos contra os Gavião, inclusive com os doentes. (Fonte: CIMI-MA)

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Policial atira em oito Guajajara na BR 226 que protestavam contra a falta de transporte escolar

Após a notícia de que um delegado de Barra do Corda foi baleado por índios na BR 226 na terra indígena Canabrava, entre Barra e Grajaú, haverá quem diga que esses índios não tomam jeito mesmo... Não é para menos. Numa manifestação indígena pacífica de interrupção da BR para protestar contra a notória negligência da Secretaria de Educação em não viabilizar, - após um ano de espera, - os recursos para o transporte escolar, o delegado de Barra do Corda, de moto, no final de tarde de domingo 07 de dezembro, chega a atirar em oito indígenas. Informações não confirmadas dão conta de que o delegado ao se deparar com a barreira indígena iniciou um bate-boca com alguns índios e começou a disparar diretamente sobre a concentração de indígenas. Um índio foi baleado na cabeça, outro no pescoço e os demais em outras partes do corpo. A reação indígena, diante da fúria do policial também parece não ter demorado. O próprio delegado foi ferido no abdome e levado a Imperatriz por um caminhoneiro. Os indígenas em situação mais grave foram levados para presidente Dutra e os demais a Barra do Corda. Já no sábado, em Barra do Corda, corriam rumores que os indígenas iam fechar a BR. Isto se confirmou no final da tarde de domingo. O protesto indígena que geralmente é pacífico se transformou numa tragédia pela falta de traquejo da polícia em lidar com os indígenas da região. Haverá meios de comunicação que alardearão a violência indígena como inicial e principal motivo do grave incidente na BR. Entretanto, a lógica dos fatos pode comprovar facilmente o inverso, ou seja, que um delegado ‘já ferido’ não teria condições de atirar em oito indígenas. É imaturidade e despreparo injustificável querer resolver na bala conflitos e manifestações que criam desconforto e mal-estar para a sociedade. Qual será agora a reação indígena se os dois índios vierem a falecer? Uma coisa, contudo, parece certa. Se o Estado tivesse cumprido o Termo de Ajuste de Conduta –TAC- que havia assinado em junho passado com as lideranças indígenas comprometendo-se a enviar transporte escolar para os alunos indígenas da região, nada disso teria acontecido. Infelizmente, ele não para de fornecer ‘munição social e política’ a gerar revolta e indignação nos já encurralados e ‘detestados’ indígenas!

sábado, 6 de novembro de 2010

Dia de todos os bem-aventurados. Parafraseando Mateus 5, 1-12


Santos são os pobres cujo único patrimônio é o seu espírito livre e aberto para amar. Que não se apegam aos falsos tesouros que dominam o coração. Desde já, eles possuem o Reino da libertação.

Santos são os que não se envergonham de derramar as lágrimas de sua tristeza e aflição. Que anseiam por colo e consolação. Eles serão acalmados, e pela suave mão do próprio Deus tenramente acariciados.

Santos são os que adotam o diálogo e a persuasão para vencer a truculência dos arrogantes. Eles ocuparão a ‘terra prometida’, e a expropriarão dos intolerantes. Possuirão definitivamente ‘a terra sem males’.

Santos são os que não se sentem saciados enquanto houver um ser vivo sofrendo injustiça. Que lutam por ele da mesma forma que lutam por direito e pão para si. O seu esforço não será em vão: vida plena acumularão.

Santos são os que possuem um coração grande para perdoar. Que superam vingança e retaliação. Mágoa e rancor não moram em sua alma. Em sua vida, tolerância e compreensão se abraçarão.

Santos são os que educam o seu coração à transparência e à honestidade. Não acumulam ódio, não aceitam maledicência e duplicidade. Desde já eles podem ver Deus que é a fonte de toda bondade.

Santos são os que garantem a paz fazendo guerra contra toda indústria de armas e destruição. Combatem os fantasmas da dominação que se apossam do coração. Desmascaram a força sedutora de satanás, e por isso são chamados ‘filhos da Paz’.

Santos são os que enfrentam a perseguição, e não se abalam com a calúnia. O seu nome é difamado, mas permanecem firmes contra toda corrupção. Não devem, e por isso não temem, toda manipulação perseguem. A alegria e a felicidade são a sua recompensa. Aqui a traça não corrói, e nem o ladrão destrói.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

'Mataram mais um irmão'!

No pequeno município de São Vicente Férrer, ocorreu mais um assassinato de um trabalhador rural a mando do latifúndio. Bem na véspera do segundo turno das eleições, dia 30 de outubro. A vítima é Flaviano Pinto Neto, 45 anos, pai de cinco filhos. Uma liderança quilombola do povoado Charco. Um dos principais articuladores da resistência pela terra e da luta para garantir a posse da área onde vive a sua comunidade. Uma semana antes de morrer, ele esteve na sede da FETAEMA (a Federação dos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Maranhão). Estava angustiado. FLaviano foi morto às 21h por dois homens, quando se encontrava em um bar, à margem da BR 014. Foi atingido por oito tiros de pistola, calibre 38. Todos na cabeça. Os assassinos fugiram em um carro e uma moto. Não houve o registro das placas. A comunidade ficou aterrorizada. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) informou que foi uma tragédia anunciada. O conflito fundiário em São Vicente foi denunciado pela entidade diversas vezes para os mais diferentes setores do poder público no Maranhão. Como sempre, nada foi feito. Tudo indica que esse homicídio, como outros que aconteceram recentemente, ficará sem investigação e sem punição. A praga da matança de lavradores no Estado nunca foi erradicada.

sábado, 30 de outubro de 2010

Zaqueu, desça! Hoje ficarei na sua casa. (Lc. 19,1-10)


Mais um rico no caminho de Jesus. Mais que rico, ele poderoso e influente. Não um rico anônimo, mas o chefe dos cobradores de impostos de Jericó. O chefe dos ‘pecadores públicos’ locais. O seu nome: Zaqueu. Ele quer conhecer outro personagem influente e badalado: o mestre Jesus. O amigo de prostitutas e publicanos. Aquele que come e bebe com eles e elas em suas casas. Talvez seja a curiosidade, talvez o desejo escondido de um encontro ‘cara a cara’, talvez uma tentativa para ver se aquele mestre corresponde à sua fama. A sua baixa estatura lho impede. A própria multidão não facilita. O jeito é subir numa figueira. Lá de cima ele poderá ver Jesus sem ser notado. Jesus, porém, ao passar debaixo olha para cima e o chama pelo nome.

O convite é para descer. Para deixar de olhar as pessoas de cima para baixo. O pequeno Zaqueu havia subido demais na vida. O poderoso e influente chefe dos cobradores é obrigado a ‘descer’. A mergulhar na multidão, a mergulhar dentro de si. A se re-encontrar consigo mesmo e com as vítimas de suas espertezas. Jesus, afinal, naquele dia, ‘devia parar ‘ na sua casa. Materializa-se o desejo de Zaqueu de se encontrar com Jesus. Então é mesmo verdade: esse mestre não despreza os publicanos! Não é movido por preconceitos. E nem se importa com os comentários dos ‘bem-conceituados’ fariseus! O 'baixinho' Zaqueu parece re-encontrar, agora, a sua verdadeira ‘grandeza e estatura’. Quer doar metade dos seus bens aos pobres e devolver quatro vezes mais às suas vítimas defraudadas. Não porque Jesus pediu, mas por livre e soberana iniciativa pessoal. Ele encontra a sua forma pessoal de manifestar a sua gratidão a Jesus. Ele entra definitivamente na lógica e na prática de justiça do mestre. Aquele que o havia chamado pelo seu nome. E que não teve receio em ficar em sua casa. Zaqueu não se torna discípulo/seguidor de Jesus, mas incorpora as suas práticas reais.

Não anunciará o Reino, mas o explicitará com gestos de compaixão e respeito para com os pobres. E em novas atitudes de honestidade e responsabilidade social. Olhará os seus funcionários e os ‘pagadores de imposto’ com outros olhos. Não mais de cima para baixo, mas de igual para igual. Tornar-se-á o testemunho visível de que ninguém está definitivamente perdido. Todos podemos ser ‘pessoas novas’. Só encontrarmos alguém que nos olhe com amor e respeito.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Vale continua aprontando!


Trem da Vale faz mais uma vítima fatal em assentamento no Pará


Joaquim Madeira, de 74 anos, foi morto nesta manhã (29-10) na Ferrovia de Ferro Carajás, sob concessão da Vale, na altura do assentamento Palmares do MST, atropelado pelo tem da mineradora. O idoso já havia perdido o filho, Juari Madeira, na mesma circunstância e local há oito anos.Neste momento os assentados interditam a ferrovia em protesto contra mais uma morte no corredor de Carajás, que corta municípios do Estado do Pará e Maranhão, sendo o principal meio de escoamento do minério extraído da Serra dos Carajás, no Pará. Segundo a organização Justiça nos Trilhos, a Vale é responsável por uma série de atropelamentos ferroviários. Em 2007 foram contabilizados 23 mortos, em 2008, foram registradas nove mortes e nada menos do que 2860 acidentes.Essa é a segunda vez que a ferrovia é interditada pelos moradores do assentamento, a primeira ocorreu em 2007 por aproximadamente um mês para pressionar a Vale a cumprir seus deveres sociais perante a comunidade.


Vale tem lucro fantástico, mas não tem dinheiro para investir em segurança



Os reajustes no preço do minério de ferro e a recuperação da demanda mundial fizeram com que a Vale registrasse no terceiro trimestre do ano o melhor resultado de sua história. O lucro líquido de R$ 10,554 bilhões foi 253% superior ao do 3º trimestre de 2010 e 33,5% maior do que a recorde do 2° trimestre de 2008. O ganho operacional ultrapassou a do 1° semestre de 2010. Recuperação da demanda mundial por minério impulsionou os resultados da mineradora, que estabeleceu um novo recorde para o resultado trimestral, superando em 33% a marca anterior, registrada há dois anos, antes do início da crise mundial.

Obrigado Serra por ter ajudado FHC a privatizá-la!


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Papa recebe bispos do Maranhão, fala sobre a vida, mas não cita os indefesos do Estado.

Amados Irmãos no Episcopado!
"Para vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (2 Cor 1, 2). Desejo antes de mais nada agradecer a Deus pelo vosso zelo e dedicação a Cristo e à sua Igreja que cresce no Regional Nordeste 5. Lendo os vossos relatórios, pude dar-me conta dos problemas de caráter religioso e pastoral, além de humano e social, com que deveis medir-vos diariamente. O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança, como Dom Xavier Gilles acaba de referir na saudação que me dirigiu, dando livre curso aos sentimentos de todos vós e do vosso povo. Como sabeis, nos sucessivos encontros com os diversos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tenho sublinhado diferentes âmbitos e respectivos agentes do multiforme serviço evangelizador e pastoral da Igreja na vossa grande Nação.

Hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina. Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29). O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. gs, 76).

Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente má e incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, consequência ou circunstância. Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles laici, 38). Além disso, no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal? Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático - que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana - é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida "não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambiguidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo" (ibidem, 82).

Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é "necessária - como vos disse em Aparecida - uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o "Compêndio da Doutrina Social da Igreja"" (Discurso inaugural da v Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3). Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. gs, 75).

Neste ponto, política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. "Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambiguidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana" (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17-ix-2010).

Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve "encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política" (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado. Queria ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito. Eles têm um valor particular, no caso do Brasil, em que a religião católica é parte integral da sua história. Como não pensar neste momento na imagem de Jesus Cristo com os braços estendidos sobre a baía da Guanabara que representa a hospitalidade e o amor com que o Brasil sempre soube abrir seus braços a homens e mulheres perseguidos e necessitados provenientes de todo o mundo? Foi nessa presença de Jesus na vida brasileira, que eles se integraram harmonicamente na sociedade, contribuindo para o enriquecimento da cultura, o crescimento econômico e o espírito de solidariedade e liberdade.
Amados Irmãos, confio à Mãe de Deus e nossa, invocada no Brasil sob o título de Nossa Senhora Aparecida, estes anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos homens e mulheres da província eclesiástica do Maranhão. A todos coloco sob a Sua materna proteção, e a vós e ao vosso povo concedo a minha Benção Apostólica.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

BREVES

Jesuíta encerra greve de fome, e governo Venezuelano discute demarcação de terra indígena

O jesuíta de 80 anos, José Maria korta, suspendou no dia de ontem a greve de fome que iniciou há sete dias, ante a "disposição" do Governo venezuelano de dar uma resposta às suas reivindicações em favor dos direitos dos indígenas. "Em vista do diálogo que temos tido com diferentes dirigentes do governo, vimos que a razão principal da greve foi respondida", afirmou o próprio Korta. Sabino Romero, considerado um dos principais dirigentes da comunidade autóctone Yukpa, está preso desde o final do ano passado por sua presumida vinculação com um tiroteio ocorrido no dia 13 de outubro de 2009 em que morreram dois indígenas. O religioso firmou  que também exige que o executivo demarque os territórios indígenas e que a Justiça acate o preceito constitucional que faculta aos indígenas fazer justiça nas suas comunidades, com base em suas tradições ancestrais. (Agência EFE)

Brasil e Itália, irmãos na sina e na....corrupção!

Saiu mais um relatório anual da ONG Transparência Internacional divulgando a percepção da corrupção existente nos órgãos públicos de 178 países. O Brasil avançou bem pouco: de 75º ‘subiu’ para o 69º lugar. Já a Itália permaneceu em 67º lugar, bem próxima dos ‘primos’ brasileiros, e superada por países notoriamente corruptos. Mais uma prova de que há muita coisa em comum entre Itália e Brasil. Além do amor ao futebol, à convivência, à alegria do ‘bom viver’, a falta de respeito para com as normas no trânsito e a notória esperteza na vida social fazem de Brasil e Itália dois irmãos. Só faltava essa de serem parecidos também na corrupção para fortalecer os vínculos já consolidados....

Questão indígena continua tabu para candidatos

Para um leitor atento não deve ter passado despercebido que nos numerosos debates entre os presidenciáveis, seja no primeiro que no segundo turno, em momento algum houve qualquer tipo de referência, direta ou indireta, à questão indígena no País. Nem a ‘ecológica Marina’ lembrou que nas matas a serem conservadas, além do mico-leão, temos gentes com cultura diferente, mas com igual dignidade. Já entre Serra e Dilma, nem se fala. Bastava uma simples pergunta para os dois sobre o número de povos indígenas existentes no País para desmascará-los. As assessorias dos dois devem ter feito um acordo para não revelar ao País que, afinal, os dois pensam da mesma forma sobre a mesma questão. Afinal os seus antecessores e padrinhos (Lula e FHC) bem pouco fizeram nesse campo....

sábado, 23 de outubro de 2010

Legalista no templo, transgressor na rua. Hipocrisia e transparência humana. (Lc.18,9-14)


Mais uma parábola de Jesus em que ‘os transgressores arrependidos’ se saem melhor do que os ‘comportados e leais’ aos preceitos legais. Como toda parábola, esta também é, de certa forma, inverossímil. Convenhamos: não existe uma pessoa que seja totalmente uma coisa ou totalmente outra. Em cada pessoa convive a dimensão farisaica e a dimensão transgressora, embora com percentuais diferenciados. O intuito de Jesus é o de apontar para as posturas básicas de conceber a própria relação com Deus e com as pessoas.

A primeira, a farisaica. A pessoa parece mostrar abertura para com Deus, mas não se confronta com Ele. Não se deixa examinar por Ele. Perante Deus não avalia o seu modo de proceder. De Deus ele só cobra reconhecimento. O fariseu só espera ser confirmado por Deus. Afinal, ele se considera justo. Mais justo do que os demais seres humanos. A Deus só cabe reconhecer e premiar esta sua suposta justiça e lisura legal. A salvação, para o fariseu, é conquista pessoal, e não um dom de Deus. Ela é fruto do seu esforço pessoal e de sua obediência a leis e preceitos que ele mesmo criou. O próprio Deus não passa de uma sua criação. Plasmado à imagem e semelhança do fariseu Deus é utilizado por ele só para confirmá-lo, e não para questioná-lo ou ajudá-lo. Essa postura arrogante, autárquica é, afinal, o resultado de um modo de se relacionar com os demais seres humanos. O modo de proceder farisaico concebe os outros como instrumentos. Seres que podem ser usados e manipulados para fins próprios. Eles serão bons colaboradores se agirem de acordo com suas expectativas pessoais. Serão desobedientes e transgressores aos seus olhos se não aceitarem a sua vontade. Deus, nesse caso, para o fariseu, é a objetivação de relações humanas hipócritas, doentias, assimétricas que ele mesmo vive.

A segunda postura, a do ‘transgressor realista’. Ele não esconde nem de si próprio e nem de Deus as suas contradições. Tem consciência que as suas ações ferem e machucam outros seres humanos. Sabe que o Deus a quem se dirige, e que está acima dos seus princípios e leis pessoais, o questiona. E exige mudança radical de postura. Talvez não consiga operar a transformação exigida, mas sabe que precisa fazê-la. Isso permitirá que comece a olhar para os demais seres humanos não mais como objetos a serem explorados e usados, e sim como parceiros, amigos, irmãos que o ajudarão a compreender a sua própria fragilidade e a alheia. Aprenderá a não julgar, a não condenar. O seu Deus é o Deus da misericórdia. Não aquela misericórdia que tudo absolve e tudo justifica. Mas a ‘transparência e simplicidade de coração’ que tudo compreende. Que questiona, provoca, cobra, mas que também ajuda, socorre, e sempre oferece a mão amiga. Para, afinal, ‘encarar de pé’, sem receio e sem humilhação, o rosto de Deus nos demais rostos de outros ‘transgressores’ que experimentaram, porém, o que significa ser amado e compreendido por um Deus que não condena.


sábado, 16 de outubro de 2010

A justiça não é dom de juiz, é fruto de persistência e luta constante (Lc.18,1-8)


Quantas vezes suplicamos a Deus, e Ele permanece mudo. Surdo está aos nossos gritos. Imploramos, mas obtemos sofrimento, abandono e solidão. Tentamos de mil formas cooptar a sua benevolência. Ele permanece incorruptível. Temos fé na sua bondade sem limites, mas não ignoramos o seu poder de nos punir com a sua omissão e indiferença. Sentimo-nos culpados e indignos. Afinal, concluímos que Deus permanece surdo aos nossos gritos porque não temos fé verdadeira. Porque Ele tem outros projetos sobre nós e nós os ignoramos. Conformamo-nos.

A parábola da viúva que clama e luta por justiça, e do juiz que não tinha escrúpulos, reflete o nosso cotidiano. A viúva simboliza o que existe de mais frágil na sociedade. Sem defesa e proteção. Vítima de violência e aproveitamentos. Ela, porém, não se conforma. Não aceita a sua realidade social porque tem consciência que é expressão da injustiça humana, e não uma disposição divina. Ou fruto de um cruel destino. Ela não fica imobilizada ou desesperada diante da sua desgraça. Tampouco reza por justiça horas a fio na sinagoga ou no templo. Ela corre atrás do prejuízo. Corre, na escuridão da sua existência, de noite, até à casa daquele que pode lhe fazer justiça. O juiz sem escrúpulos, que não temia a Deus, é vencido pela persistência da viúva. Do mesmo jeito que Jacó que lutou insistentemente com Deus, corpo a corpo e, afinal, venceu. Conquistou justiça. A justiça não lhe foi dada de presente. Esse era o resultado que a viúva queria para si! Com essa parábola Jesus nos mostra que a oração é um meio e não fim. O fim é a conquista da justiça para com os injustiçados que clamam e lutam por ela. E a justiça se alcança mediante uma luta insistente e persistente. No corpo a corpo.

A oração, afinal, é o estado de consciência e lucidez que ‘os que têm fome e sede de justiça’ alcançam para arrancar e construir uma ‘outra justiça’. Deus, que não é juiz, fará justiça aos seus ‘escolhidos’ que clamam insistentemente e não desistem em procurá-la. O problema principal, no entanto, é saber se o peso da arrogância, da perseguição e da brutalidade deixará espaço no coração humano para a fé. Fé para continuar a construir justiça mesmo quando somos esmagados pela injustiça.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Nova cruzada em defesa da 'vida'...mas qual vida?

Em clima de histerismo político-religioso que parece estar tomando de conta de vários setores da sociedade brasilieira nesse periodo eleitoral proponho o artigo do padre Otto Dana...para refletir e usar o bom senso.

Brasileiros e brasileiras! O capeta está solto! Empunhemos nossos terços e Bíblias e até Alcorões, se os houver! Herodes brande a espada afiada contra as criancinhas do Brasil! Ergamos a fogueira! Queimemos os hereges! O aborto e os gays estão espreitando pela janela! Gente do céu! Que tiririquice! Que babaquice mais que medieval. Que onda inquisitorial graçando em pleno século XXI. A caça às bruxas. O extermínio dos veados. Cruz, credo! Xô Satanás! Estamos apenas tentando eleger um Presidente para o Brasil. Estamos discutindo propostas e projetos para uma boa administração do Brasil. Aborto, gueisismo, pílula, camisinha não é prioridade do momento. O processo eleitoral corria tranquilo, dentro dos princípios democráticos: discute-aqui- denucia-ali, promete-isso, condena-aquilo, tudo numa boa. De repente a serenidade é detonada por uma horda de aiatolás, talibãs, mulás, numa gritaria ensurdecedora contra os que ameaçam o poder do Altíssimo.


Alguns vestidos de batina (ainda!), outros de mitra e báculo, outros de terno e gravata ostentando Bíblias, todos ecumenicamente de dedo em riste acusador: "ela é a favor do aborto, ele apóia o casamento homem-com-homem, mulher-com-mulher, os dois defendem a distribuição de camisinhas até para as crianças da escola. Deus do céu! Que atraso! Que tiririquice! Pra começar, arbitrar sobre aborto e formas de casamento é da competência do Congresso Nacional e não do Presidente da República, que apenas sanciona ou veta a disposição do Congresso. Além do mais, aborto e casamento gay nem estão em pauta de discussão, hoje.


Mais importante e pertinente agora é ouvir dos candidatos suas propostas e projetos concretos quanto à saúde, educação de qualidade, distribuição de renda, segurança da população, criação de empregos, formas de apropriação ou não do Estado, relações diplomáticas e econômicas com outros países, transporte, saneamento básico, liberdade de imprensa, desenvolvimento do país, programas sociais, etc., etc. E mais: estamos num país democrático, regido por uma Constituição Civil e não pelas tábuas da lei de Moisés. É um país democrático e laico e não teocrático, apesar de supostamente religioso. Sua capital é Brasília e não o Vaticano, nem a Canção Nova, nem a sede da Assembléia de Deus, nem a CNBB. Tentar manipular a consciência do eleitor, ameaçando-o com a ira de Deus é injuriar o próprio Deus que nos criou livres. O dia em que o povo tiver que consultar um aiatolá de plantão tipo Pastor Silas Malafaia, ou um Padre José Augusto (Canção Nova) para votar, é melhor rasgar o título de eleitor e o estatuto da maioridade civil. O que vem se praticando em meios religiosos no momento, é o aborto da eleição, da democracia, da Constituição e do bom senso. Xô Satanás!

Padre Otto Dana – Pároco da Igreja Sant´Ana em Rio Claro SP - e-mail: otto.dana@gmail.com.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Padre Odelir Magri, comboniano, é nomeado bispo de Sobral. Os combonianos do Nordeste se manifestam.

A Província dos Missionários Combonianos do Brasil Nordeste (BNE) vem a público manifestar sua alegria e satisfação pela nomeação do padre Odelir José Magri, até então Vigário Geral da nossa congregação, a bispo da Diocese de Sobral, Ceará, Brasil. Alegra-nos o fato que o Santo Padre tenha encontrado nele carisma e qualidades humanas para o pastoreio de uma diocese como Sobral. Estamos jubilosos por tê-lo em nosso vasto território pastoral nordestino, fato que certamente poderá dar um renovado vigor à nossa presença evangélica e missionária nessa sofrida, mas generosa região. Acreditamos que após o falecimento do saudoso Dom Franco Masserdotti e com a renúncia de Dom Aldo Gerna, - os últimos dois bispos combonianos – a nomeação do Pe. Odelir representa um verdadeiro dom do Espírito para o episcopado e para a Igreja do Brasil. A escolha de um missionário para ser bispo de uma diocese com grande tradição de fé ajudará certamente a impulsionar a dimensão missionária ‘ad gentes’ no seio da CNBB e da diocese de Sobral tão rica em vocações sacerdotais, religiosas e leigas. Acreditamos também que a proximidade física e afetiva com o Pe. Odelir se transformará em identificação e comunhão de opções e práticas evangélicas em favor dos ‘pequenos’ de Sobral e do Nordeste. Conhecemos a sua seriedade e sensibilidade para com as dimensões da justiça, da paz e da dignidade humana, da sua valorização da participação do povo de Deus no caminhar eclesial, e dos seus cuidados para com os mais sofridos e abandonados. Com Pe. Odelir nos sentimos fortalecidos e apoiados como província Comboniana. A ele e a igreja particular de Sobral queremos expressar a nossa irrestrita disponibilidade para colaborar no que acharem conveniente e necessário. Queremos, por fim, dar as boas vindas ao pe. Odelir ao sertão nordestino e nos unir aos seus familiares, à sua comunidade natal em Campo Erê (SC), às comunidades eclesiais do Congo onde ele foi missionário, às demais comunidades eclesiais de Contagem e de São Paulo onde também atuou pastoralmente, a todos os confrades da nossa congregação comboniana e à igreja de Sobral numa grande oração comunitária por sua nova missão. Que o Espírito do Ressuscitado, a intercessão de Maria Aparecida, o testemunho profético de São Daniel Comboni e de numerosos e numerosas mártires e missionários continuem inspirando, iluminando e abençoando os passos desse novo pastor e servidor do Reino.


A Província do Brasil Nordeste,


São Luis (MA), 12 de outubro de 2010.


Festa de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Esquemas semi-feudais vigoram no Maranhão para se eleger


Talvez seja cedo para fazer uma análise apurada do resultado das urnas, aqui, no Maranhão. Uma coisa, porém, que salta aos olhos: não estão aparecendo nomes novos no cenário político-eleitoral, as abstenções ficam a cada vez maiores, e os eleitos são sempre mais o resultado de ‘esquemas’/alianças com senhores prefeitos feudais e de vultosos investimentos econômicos.

O primeiro dado poderia, a princípio, não ser totalmente correto haja vista que apareceu algum nome novo ou ‘reciclado’, seja na assembléia legislativa bem como no congresso. Não surpreende que para ocupar uma cadeira no congresso vemos ainda vários... imortais: Gastão Vieira, Sarney F. Pedro Fernandes, Cléber Verde, Nice Lobão, Valdir Maranhão, Pedro Novais, Dutra, Ribamar Alves...As poucas novidades (Luciano Moreira, Edivaldo Holanda Junior....) são frutos de ‘esquema oficial’ e de máquinas administrativas azeitadas. A assembléia legislativa parece seguir a mesma tendência: há imortais ou candidatos a tais: Cutrim, Max, Barros, Cesar Pires, Cleide Coutinho, Rigo Teles, Stênio Rezende, e outros; alguns dos eleitos foram reciclados ressuscitando após um curto período de purgatório (Ricardo Murad, Manoel Ribeiro, Luciano Leitoa, Hemetério Weba...) ou se revezando com algum membro da família. As poucas novidades - que não chegam a ser surpresa, - são por conta de pessoas ligadas a ex-deputados estaduais, ou frutos do esquema de apadrinhamento de algum deputado federal imortal ou familiares de prefeitos poderosos.

Uma coisa parece certa nesse Estado: não há mais espaço para candidaturas eufemisticamente chamadas de populares. Resultado de mobilizações e articulações de movimentos sociais como na época da ‘Nossa Luta’ nos anos 80. Isso vale também para aqueles eleitos que supostamente erguem ainda a bandeira popular. São filhotes de um esquema fixo que os iguala a todos. Uma montagem de caráter essencialmente semi-feudal onde alguns ‘senhores’ prefeitos geralmente se juntam para patrocinarem alguns candidatos. Recebem, ou já receberam destes a promessa/garantia que encaminharão emendas parlamentares ou facilitarão a liberação de recursos federais e/ou estaduais para o seu município (ou família), e em troca ‘os senhores locais’ disponibilizam a máquina administrativa municipal para elegê-los. Investem maciçamente em propaganda e doações para eleitores sempre mais famélicos de benefícios em que a justiça eleitoral não intervém e não controla. Operam aquela troca mercantilista em que a relação voto-benefício é aceita e respeitada como um princípio moral universal.

Aqueles candidatos que ainda mantém vínculos com alguma forma de resquício de movimento popular e na sua ingenuidade acreditam que há ainda espaço para o ‘voto consciente’, ou eles aceitam entrar no esquema comum ou não se elegem. Todavia poderíamos nos perguntar olho no olho: há ainda alguém que acredita em voto consciente, não barganhado e fruto de independência cidadã e liberdade interior?