segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Eleições 2010: faltou um sonho para nos fazer vibrar, e voltar a esperar!

Começou o que muitos definem como a reta final da campanha: a última semana. Pessoalmente acho que não vai haver surpresas. Não com a candidata Dilma que deverá ganhar no primeiro turno e evitará que baguncemos a nossa programação dominical no último domingo de outubro. Mas o mesmo dificilmente ocorrerá no Maranhão. O candidato do PDT/PSDB e sócios, Jackson Lago, já com evidente falta de fôlego nas pesquisas, e obrigado às cordas pela indefinição do STF, terá que renunciar nos próximos dias em favor de alguém ligado a ele ou ao seu partido. O que não é surpresa. Com a subida da ‘onda Flávio Dino’ teremos segundo turno no Maranhão: Roseana e Flávio Dino.

Um segundo turno entre os dois, tampouco será surpresa! Mas o êxito desse duelo, num hipotético segundo turno, será uma verdadeira incógnita, pois as dinâmicas serão diferentes. Os favoritismos tenderão a ser reduzidos. A polarização estará dada. Tudo será possível. Confesso que tudo isso me deixa um tanto indiferente e cético. Não que não esteja preocupado com os destinos do Estado, mas porque acho que a verdadeira ‘disputa’ que poderia mudar o rosto do Estado não se dá entre os ‘candidatos‘ a governador, a deputados, senador, etc. Nem ouso falar em seus programas de governo que inexistem de ambas as partes! O verdadeiro ‘duelo’ que não se deu – e, certamente, não é numa campanha política que se dá – foi a adesão da população ou de vastos setores dela a um determinado sonho...ou como antigamente se dizia, a uma bandeira, que um ou outro poderia ter assumido! Produzir e apresentar um sonho para a sociedade maranhense. Um sonho em que a maioria pudesse se identificar. Mostrar que é possível realizá-lo. Motivar e mobilizar pessoas para compreender que ‘esta é a hora’ para que o sonho vire realidade. Talvez esta linguagem esteja ‘demodée’ (fora de moda) aos nossos dias....Pode ser. É um fato que a empolgação, o debate acalorado de idéias e projetos, e a mobilização voluntária e gratuita fizeram falta. Ganhe quem ganhar, o futuro imediato pós eleitoral será 'preenchido' por uma pausa de mais quatro anos à espera do próximo duelo. Nele a população, mais uma vez, ficará nas arquibancadas a ‘torcer’, mas sem poder ocupar o gramado, chutar a bola e fazer, enfim, um GOLAÇO!

sábado, 25 de setembro de 2010

O rico 'epulão' e os 'lázaros da vida': um abismo a ser preenchido (Lc.16,19-31)

Existem pessoas e realidades que são ‘invisíveis’ aos nossos olhos. Deparamo-nos sistematicamente com elas, mas não as vemos. Não damos fé que são ‘reais’, concretas e palpáveis. Não percebemos que, afinal, não as vemos porque o nosso coração e a nossa mente estão concentrados em ‘outras realidades’. Que somos cegos só para com aquelas realidades e pessoas que não queremos que façam parte da nossa vida. Não imaginamos que elas também nos exigem um olhar, um gesto, uma atitude.

O rico ‘epulão’ de que fala a parábola hodierna era incapaz de enxergar a presença do ‘mendigo’ Lázaro que vivia sistematicamente deitado à porta da sua mansão. Que vivia no seu mesmo espaço físico. Passava por ele, mas não lhe dirigia uma palavra, e sequer um gesto, mesmo que fosse de rejeição. Simplesmente, ignorava-o. Jesus, ao apresentar o rico e festeiro ‘epulão’, descreve-o como alguém que ‘se vestia de púrpura e linho fino e que dava banquete todo dia’(v.19). Nisso residia a sua concentração, o seu verdadeiro interesse, e a sua motivação de vida. O seu desligamento e a sua indiferença para com as demais realidades e pessoas faziam com que estas aparecessem ao seu coração cego como ‘invisíveis e inexistentes’. Jesus nos diz que o desejo consumado por riqueza, festança e esbanjamento torna a pessoa cega e indiferente. Incapacita-a a permanecer ligada, solidária e compassiva para com aquelas pessoas que foram reduzidas a viverem no seu ‘lado oposto’.

Cria-se entre as duas realidades um ‘grande abismo’ (v.26) Uma separação aparentemente insanável. Mas só se for deixada para ‘depois’ da morte. É preciso preencher agora esse abismo, enquanto há tempo. Ouvir, agora, a voz de ‘Moisés e dos profetas’ (v. 29) que chamam para a justiça, a compaixão, a equidade. Ao mesmo tempo Jesus se dirige àqueles que 'vestiam púrpura e linho' e que acreditavam que a riqueza era fruto da benevolência de Deus. Jesus, ao contrário, diz que são ‘os Lázaros’ os reais bem-amados de Deus. Aqueles que moram definitivamente no seio de Abraão. E não adianta os acumuladores de riquezas, festeiros e esbanjadores achar que por se considerarem ‘filhos de Abraão’ vão se livrar das conseqüências das suas escolhas de vida! Eles já estão recolhendo agora, os frutos amargos de sua falta de compaixão, de solidariedade, de sobriedade e austeridade de vida. Enfim, de sua cegueira de coração e de sua irresponsabilidade social.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Administradores do Reino: ou Deus ou a dependência do ídolo 'dinheiro' (Lc.16.1-23)


A parábola do administrador astuto pode nos deixar bastante desconcertados. Não é para menos: Jesus parece se alinhar entre os admiradores dos aéticos, dos espertinhos, e dos sem-escrúpulos. Numa análise mais apurada fica clara qual é a intenção de Jesus. Jesus quer sacudir os seus discípulos para que se tornem mais competentes na construção/administração do reino de Deus. Jesus constata, com efeito, que ‘os filhos desse mundo’, ou seja, os que não fazem a opção em favor do Reino de Deus, são mais competentes e criativos ‘em seus negócios’ do que os ‘filhos da luz’...na construção de uma nova sociedade/reino. É uma clara provocação que o Mestre lança aos seus seguidores: por que não aprender dos espertinhos que conseguem encontrar saídas criativas quando estão em apuros? Por que não aprendemos a colocar ‘essa esperteza e genialidade’ (não a desonestidade!) a serviço do Reino? E com um realismo único, não cinismo, Jesus convida todos aqueles que acumularam ‘riquezas injustas’ a não segurá-las, mas a utilizá-las para ‘fazerem amigos que os possam acolher nas moradas eternas’, ou seja, fazer das riquezas um meio para obter condições e valores que não se acabam. De fato, as riquezas desse mundo se acabam: o ladrão pode assaltar, a traça corroer, mas a acolhida, a fraternidade, a segurança/proteção de quem ama e acolhe nunca se acaba!

Toda essa reflexão de Jesus tem mais um caráter metodológico que diz respeito à forma como o discípulo deveria ‘administrar o reino’ que já está entre nós. É um chamamento de Jesus aos seus seguidores para compreenderem que no enfrentamento do anti-reino de Herodes, de César, alicerçado na ambição, na competição, na falta de valores e de ética, é preciso possuir competência e determinação. Ao mesmo tempo, Jesus prepara e capacita os seus discípulos para a grande condição final: não é possível entrar nessa luta pela construção do novo reino ,e em suas dinâmicas, colocando em primeiro lugar a vontade de acumular riquezas. Ou se coloca Deus e o seu Reino ou as riquezas, pois as duas realidades não convivem. O desejo de riqueza e a sua veneração não combina com a causa do reino. O convite de Jesus aos discípulos de fazerem a firme escolha de colocar Deus e o seu reino em primeiro lugar, único e exclusivo, se contrapõe também ao modo farisaico de proceder. Estes achavam que era possível servir a Deus e ao dinheiro simultaneamente, não vendo nisso uma contradição. Com isso, Jesus ataca frontalmente a teologia da prosperidade, eternamente atual: Deus não abençoa quem coloca como meta da própria vida o acúmulo de riquezas e faz delas um ídolo que escraviza e cria dependência. Para construir o novo reino/sociedade é preciso ser livres!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Mandante do assassinato do padre Josimo é condenado a 16 anos de prisão



Osvaldino Teodoro da Silva, um dos mandantes do assassinato do padre Josimo Moraes Tavares, ocorrido em 10 de maio de 1986 na cidade de Imperatriz (MA), foi condenado nesta quarta-feira, 15, a 16 anos e 6 meses de prisão, em júri popular. Apesar da condenação, Osvaldino pode aguardar em liberdade o julgamento do recurso que seus advogados vão ajuizar. A notícia é do Boletim da CNBB, 16-09-2010. A acusação foi feita pelo Promotor de Justiça, Domingos Eduardo da Silva, tendo como assistentes os advogados Aton Fon Filho da Rede Social de Justia e Direitos Humanos e Vanderlita Fernandes da Comissão Pastoral da Terra/ CPT-TO."As consequências do crime foram graves ante a perda repentina de pessoa bastante respeitada na região, pela sua reconhecida atuação como líder religioso, cuja morte, ainda hoje, sentida no seio das comunidades nas quais desenvolvia suas atividades, bem como nos movimentos sociais, com repercusso nacional e internacional", destacou, na sentença, a juíza Samira Barros Heluy. Assistiram ao julgamento lideranças dos Movimentos Sociais do Bico do Papagaio e do Sul do Maranhão; o bispo da Diocese de Tocantinópolis, dom Giovane Pereira de Melo e o bispo diocesano de Imperatriz, dom Gilberto Pastana de Oliveira, além de padres, estudantes de direito e representantes da CPT. (Fonte IHU)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Piquiá de baixo - URGENTE! Um novo início para as vítimas da poluição do 'progresso'?


«Viajei muito no Brasil e no mundo, mas essa me parece uma situação extrema. O direito brasileiro prevê responsabilidades baseadas no princípio "poluidor-pagador".Também as autoridades públicas que deixam poluir por vinte anos sem tomar nenhuma iniciativa são consideradas pela Lei "poluidores indiretos" e têm as mesmas responsabilidades». Assim se manifestou a Dra. Andressa Caldas, observadora da Justiça Global de Rio de Janeiro na Audiência Pública realizada em Açailândia ontem, dia 14, para debater o destino das famílias de Piquiá de Baixo submergidas há vários anos na poluição das siderúrgicas locais.


Os representantes da Campanha Justiça nos Trilhos (CJnT) afirmaram 'que a Vale tem uma dívida social e ambiental pelas décadas de lucro e impactos gerados em nossa região. É urgente tomar medidas compensatórias como o reassentamento do povoado de Piquiá de Baixo, que não pode mais esperar. É necessário, porém, evitar que a expansão de suas minas e a duplicação dos trilhos criem novas situações parecidas em outros pontos da Estrada de Ferro Carajás'.


Cerca de 300 pessoas participaram da Audiência Pública convocada pelo Ministério Público. Foi a própria Procuradora Geral de Justiça do Maranhão que conduziu os trabalhos, com a presença de muitas autoridades, instituições e movimentos sociais. Grave foi considerada a ausência de representantes do Governo do Estado. Os engenheiros do CREA apresentaram o resultado do laudo de avaliação de todas as casas de Piquiá de Baixo, encomendado pelo MP. Trata-se de um ponto de partida essencial para a construção do novo povoado, garantindo que as novas moradias sejam de qualidade melhor daquelas onde o povo atualmente mora. Os movimentos sociais presentes, através das palavras do advogado Danilo Chammas da CJnT, pediram com urgência a definição do terreno onde será instalado o novo bairro. Insistiram para que o bairro tenha toda a infra-estrutura necessária (escola, posto de saúde, sede da associação de moradores, igrejas, ruas pavimentadas, iluminação, redes de energia e saneamento básico, transporte público, etc.).


O presidente do Sindicato da Indústria de Ferro Gusa do Estado do Maranhão declarou que, através de uma portaria do Governo do Estado, as empresas têm o dever de cumprir um cronograma de redução da poluição até 2011. «Em Minas Gerais existem 86 siderúrgicas, muitas das quais no coração das cidades, com toda a tecnologia necessária para a contenção da poluição. O povo convive serenamente com as empresas. Aqui, ao contrário, há um conflito evidente», reconheceu.


A audiência encerrou-se com compromissos concretos: um prazo de vinte dias vai permitir às partes a análise do laudo do CREA. No dia 05 de outubro, novamente com a coordenação do MP, as empresas e o município discutirão na mesa, juntamente à sociedade civil, qual a contribuição econômica de cada parte e qual o plano de ação para o reassentamento do povoado, com prazos e responsabilidades definidos. O governo do Estado também será convidado.Uma reunião prévia das empresas com MP e defensoria pública, nessa quinta-feira 16, foi convocada para tomar providências imediatas contra os altos níveis de poluição dos últimos dois meses.


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Governo Lula: uma resposta a Leonardo Boff


Causou-me estranheza e espanto um recente artigo de Leonardo Boff publicado por Tribuna Petista sob o título ‘Consolidar é preciso’ em que afirma que ‘Lula e o PT derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico, a grande imprensa comercial’. Mais adiante, no mesmo artigo, ao tentar justificar a importância dessa suposta ruptura com as elites o autor cita dados do Banco Mundial segundo o qual no Brasil ‘vinte mil famílias controlam, mais ou menos, 46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras. Não admira que estejamos entre os países mais desiguais do mundo, o que equivale dizer, um dos mais injustos e perversos do planeta.

Ora, o próprio Boff, ao citar esses dados, admite impiedosa e explicitamente que o governo Lula em 8 anos não conseguiu reverter minimamente essa perversa estrutura que consagra a desigualdade social e econômica no Brasil. Outros dados de institutos nacionais vêm a confirmar o mesmo: de 2003 a 2009 a desigualdade social e a ‘desconcentração’ da renda no País não sofreu alterações dignas de menção. O fantástico crescimento econômico que o Brasil conheceu nesses anos – inclusive em épocas de crise - não foi utilizado pelo governo Lula para mexer na estrutura econômico-financeira do país.

Em que pesem as evidentes melhorias das condições de vida de mais de vinte milhões de brasileiros, - graças a repasses federais, mas sem nada tirar dos lucros do setor privado, - a concentração de renda ficou inalterada. Que o diga também o sistema bancário que o governo Lula deixou inteiramente solto para acumular fabulosos e sucessivos recordes de lucro! Só nesses dois primeiros trimestres desse ano, os bancos federais cresceram 72% e os privados 26%! Ironia do destino: alguém lembra, por acaso, de alguma 'briga verbal' do Lula com a poderosa FEBRABAN ou com a FIESP? Recentemente, Transparência Internacional afirmou que o governo Lula nada fez para diminuir os níveis de corrupção formal/institucional existentes no País, diferentemente de outros Países latino-americanos...

Não se pode tampouco fechar os olhos sobre os minguados investimentos em saúde e educação em que o governo Lula manteve os mesmos percentuais do PIB da época de FHC, e bem inferiores a governos como o da vizinha Argentina, Chile e outros. Não quero, enfim, colocar o dedo numa ferida que o governo Lula manteve exposta o tempo todo: a questão ambiental, étnica, a promessa jamais cumprida da reforma política, tributária, do judiciário....Acredito que Lula, pelo seu carisma pessoal, pela projeção que deu ao País no cenário internacional tinha tudo para inaugurar a badalada ‘terceira via’, mas não soube ousar.

Com tudo isso, não quero me colocar do lado da social-democracia tucana ou do arcaicismo político demista. Muito pelo contrário. Entendo que apesar das contradições e omissões acima citadas, o Brasil no governo Lula conheceu avanços – inclusive em termos de consciência e auto-estima social – jamais vistos anteriormente. Contudo, reconhecer isso ou só isso, sem identificar simultaneamente também as sombras do governo Lula representaria uma postura ufanista detestável. Isso não nos ajudaria a exigir do próximo ‘governo Dilma’ aquelas mudanças que gostaríamos de ter visto e não as vimos, mas que são essenciais para consolidar um projeto de democracia substancial e não meramente formal.

sábado, 11 de setembro de 2010

O paradoxo do perdão:desprezar a 'justiça hipócrita'! (Lc.15, 1-32)


Há ainda alguma coisa a ser dita sobre a parábola do filho perdido? Algo que tenha escapado à meticulosidade de teólogos e exegetas, ou de pregadores de retiros, ou das concentradas meditações pessoais? Dificilmente foi deixada alguma sombra hermenêutica nessa obra-prima evangélica. Mesmo assim, a distância de anos, a parábola continua a nos surpreender e comover. Comove porque gostaríamos de ser e agir como aquele pai e não conseguimos. Comove porque nos identificamos com aquele filho perdido, solitário aventureiro à procura de um ‘amor ’ mais picante do que o amor de um pai. Mas desejosos, ao mesmo tempo, de encontrarmos um gesto de amor desinteressado quando descobrimos a desilusão e o nosso fracasso pessoal. Comove porque ao experimentarmos os mesmos sentimentos de intolerância do filho mais velho (que está dentro de nós!) descobrimos que, afinal, o pai sempre nos amava mesmo na dureza do nosso coração.

A parábola consegue nos comover porque ela é algo paradoxal. Porque paradoxal é o perdão. Porque o pai é alguém que foge da lógica brutal universal segundo a qual ‘errou tem que pagar’. Uma prática que se tornou sinônimo de ‘justiça’ hipócrita. O pai da parábola de Jesus continua andando contra correnteza: insiste em abrir seus braços e envolver no seu abraço misericordioso aqueles filhos que não o haviam valorizado, até eles fazerem a experiência de não se sentirem abraçados diuturnamente por um pai amoroso quando vivem afastados dele. O pai da parábola deixa de ser um personagem, uma caracterização, e assume o rosto e a conduta do Deus de Jesus de Nazaré. Ainda hoje, na nossa solidão e angústia, ao fazermos memória do Seu amor não valorizado, o Pai Nosso continua nos dizer: ‘quantas vezes te afastares de mim, tantas vezes ficarei à tua espera. Quantas vezes apostares no meu perdão, tantas vezes abraçar-te-ei e farei festa. Quanto mais me traíres, muito mais ser-te-ei fiel. Toda vez que errares estarei ‘reparando’ contigo o teu erro para que onde semeaste morte e divisão possamos plantar juntos amor sem limites’.

O amor gratuito, e o perdão incondicional continuam paradoxais para quem nunca fez a experiência de ser abraçado e perdoado por um pai/mãe!

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Jovem Guajajara é encontrado morto perto da cidade de Arame

Mais uma morte violenta de um jovem indígena do povo Guajajara, na cidade de Arame, Maranhão. Ocorreu cerca de dez dias atrás, na aldeia Jacaré dentro da terra indígena Arariboia, a cerca de 20 km. da cidade de Arame. O jovem de cerca de 20 anos foi encontrado morto por membros da aldeia com o corpo repleto de marcas, sinais evidentes de espancamento. Até o presente momento não se conhecem as causas de uma morte tão brutal. Não se tem informações que a polícia local tenha aberto inquérito para apurar as responsabilidades e os autores do crime. Episódios de violência ao longo da estrada que liga Arame a Grajaú, de 126 km. em que estão situadas cerca de 50 aldeias Guajajara, não são inéditos. Vários não indígenas passam de moto ou de carro, principalmente no calar da noite, e andam atirando nos indígenas que porventura se encontram ou na beira da estrada ou sentados debaixo das árvores em suas aldeias. Cerca de dois anos atrás a pequena Maria dos Anjos da aldeia Anajá, foi barbaramente assassinada por uma bala atirada por dois motoqueiros. O mesmo ocorre com os atropelamentos. Muitos são propositais. Os que são pegos nesse tipo de crime alegam que suspeitavam que fossem assaltados pelos índios que caminhavam tranquilamente ao longo da estrada. Cinco meses atrás um jovem de 17 anos da aldeia Marajá a 6 km. de Arame foi atropelado por um morador da cidade que alegou temer um assalto por parte dos indígenas. O jovem está impossibilitado de caminhar, sem ter a devida assistência médica, e o criminoso continuando solto.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

398 anos de São Luís: por que não pedirmos a retirada do título de 'patrimônio da humanidade'?


Reproponho, nesse dia 08 de setembro, por ocasião dos 398 anos de vida de São Luis, um texto que escrevi para o 'Jornal do Maranhão' da Arquidiocese de São Luís. Reproponho-o para que possamos tomar consciência de que não é esta a forma de nos preparar para celebrar os 400 anos de vida da ex-Atenas brasileira, dentro de dois anos! É bem verdade que quem faz uma cidade são seus moradores e não seus prédios históricos, mas estes refletem a alma dos atuais e dos antepassados cidadãos que construiram 'a vida cidadã' dessa cidade. Considerando tudo isso, atrevido por atrevido por que não lançarmos uma campanha para retirar de SãoLuís o título de Patrimônio da Humanidade? Se os patrimônios são zelados da mesma forma com que o é São Luis...valei-me Nossa Senhora da Conceição!


Parece algo perdido no tempo a vida dos antigos casarões com seus sobrados e mirantes. Sem a badalação que fervilhava pelas praças, ruelas e ladeiras ‘da velha’ São Luis, tão bem descrita nos cânticos e romances dos nossos ‘imortais’. O centro histórico de São Luis, hoje em dia, parece um velho barão que repousa sobre os louros de um longínquo passado. Sem poder ocultar, porém, as profundas rugas escavadas pelo tempo e o abandono. E o cansaço senil de uma nobreza ameaçada pela falta de segurança, de vitalidade, e pela solidão. O centro histórico, verdade seja dita, não perdeu a pose: ele continua fascinante e inspirador, mas vem perdendo animação, segurança e, o que é pior, moradores. Em que pese o título de ‘patrimônio da humanidade’, não houve um verdadeiro esforço institucional para dar nova vida à velha São Luís. As tímidas tentativas iniciadas alguns anos atrás pelo Governo do Estado para transformar alguns antigos casarões em habitações estáveis foram abrupta e inexplicavelmente interrompidas. Caíram no vazio também as iniciais intenções do atual Governo Federal que conclamava a ‘urbanizar e a retornar a habitar os centros históricos’ das nossas cidades. São neles, - e não nos modernos arranha-céus e nos seus shoppings, - que pulsa o coração de uma cidade. São os centros históricos valorizados que dão coesão e identidade a uma cidade. Assistimos, hoje, a um verdadeiro descalabro em que população e turistas não se arriscam mais a se adentrarem sozinhos nas antigas ruelas e ladeiras. E os lojistas vendo suas fontes de renda minguando sempre mais. Os executivos municipais e estaduais, com a colaboração de universidades, paisagistas, arquitetos e sociedade são desafiados em sua capacidade criativa de fazer do centro histórico de São Luis um renovado espaço sociocultural e econômico, freqüentado e ‘habitado diuturnamente, por gente’. Torna-se urgente reanimar cada praça, igreja, fonte, ruela e cantaria, oferecendo lazer, iguarias, poesias e rezas. Re-criar, enfim, novas formas de sociabilidade que humanizam e fazem com que as pessoas se re-encontrem consigo mesmas e com o seu futuro. Só assim, o ‘velho barão’, talvez, decida reviver e re-percorrer ‘as lentas ladeiras’ e dançar ao ritmo da matraca e do ‘tambor do Congo’!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Terra indígena Bacurizinho: terra em chamas!


A terra indígena Bacurizinho parece ser a bola da vez. Uma terra de mais de 82.000 ha. homologada, mas suscetível de ser ampliada por um erro à época da demarcação. De fato, poderá vir a ganhar mais terra se o parecer favorável da Procuradoria da República for acolhido. Bacurizinho continua sendo palco de disputa por madeireiros, fazendeiros e pelas diferentes famílias Guajajara que a habitam. Não há paz nessa terra. Numerosos conflitos e rivalidades internas fragilizam sempre mais o já tênue e delicado equilíbrio. As disputas internas de alguns setores indígenas por controlar mais espaço de influência política e obter vantagens econômicas e, recentemente, por exigir controle e participação dentro da nova estrutura da FUNAI fazem de Bacurizinho uma terra emblemática. Ultimamente, uma onda de boatos está criando uma situação de salve-se-quem-puder. Algumas lideranças acusadas de ter feito negócios escusos com a terra a partir de uma suposta documentação que o comprovaria, estão na berlinda. Por causa disso, as rivalidades se alastram e se aguçam de forma alarmante. Há claros indícios de manipulação de informação por parte de alguns setores indigenistas com evidentes ambições a controlar a máquina da FUNAI. Estes vêm usando alguns grupos dos combativos Guajajara, e prometem-lhes mundos e fundos. A intenção última é varrer determinadas lideranças Guajajara para terem a estrada livre para ocupar espaço no órgão indigenista e controle local sobre determinados grupos Guajajara. Enquanto isso, homens, mulheres e crianças Guajajara alheias à política indigenista, nas desassistidas aldeias dessa encantadora terra, respiram a fumaça de um fogo que queima árvores, gargantas e esperanças.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tomar partido, carregar a cruz e seguir Jesus no embate final (Lc.14,25-33)


A viagem de Jesus rumo a Jerusalém continua firme. Uma viagem densa de encontros e desafios. De convites e denúncias. De sonhos e decepções. Tudo ocorre nessa longa caminhada que parece interminável. Pessoas o seguem e o abandonam. Outros o monitoram e o ouvem. Jesus não se ilude com elas. Intui que há muitos idealizadores e sedentos de soluções milagrosas. Eles fazem depender tudo única e exclusivamente de suas qualidades e poderes. Jesus não deixa margem a dúvidas: só aquele que sabe colocar Ele e o seu projeto em primeiro lugar é que pode partilhar a sua mesma viagem. As seguranças afetivas: o calor e o aconchego de uma família de sangue devem ser subordinados à construção imediata da realeza de Deus. Esta não pode esperar.

Estamos num embate que exige definição. Tomar partido, e assumir conseqüências. Isto significa cruz, perseguição, incompreensão, abandono, insegurança de vida. Este é o patrimônio que Jesus promete a quem o segue na viagem. Ninguém é forçado a fazê-lo. O ‘acompanhante e seguidor’ antes de tomar a sua decisão tem que ver dentro de si se tem condições de ir até o fim. Se tem força e coragem de encarar e carregar a cruz que necessariamente aparecerá ao decidir ‘viajar com Jesus’ para a Jerusalém ‘que mata e persegue os seus profetas’. Jesus não quer fanáticos que o seguem cegamente. Quer pessoas adultas e autônomas. Conscientes de suas opções e escolhas. Que saibam ponderar, medir, julgar, avançar, e retroceder quando for o caso. Que não percam de vista o que é prioritário e urgente na hora do embate!

AUGURI SIGNORA GINA!


Settanta e otto anni fá nasceva a Corrubio, comune di Grezzana, la signora Gina, mia mamma. Figlia di Giovanni Battista Bertagnoli e Dal Barco Maria é la quarta di sei figli. La sua prima infanzia é stata marcata dalle difficoltá economiche e dalle tensioni derivate dalla seconda guerra mondiale. Conobbe da subito cosa significa lavorare i campi ed essere capo-famiglia ai 40 anni quando rimase vedova precocemente. La durezza della vita non la rese inflessibile, ma la aiutó a saper comprendere le necessitá e le carenze altrui. Un patrimonio che ripassó ai suoi tre figli e che non sará logorato dal tempo e dalle indifferenze della modernitá. Oggi, rinata dopo un positivo intervento al ginocchio, stá riprendendo i suoi passeggini pomeridiani con le amiche. A lei un bacione pieno di gratitudine e affetto riconoscente. AUGURI!