terça-feira, 31 de agosto de 2010

'óleo' suficiente para reconhecer o 'noivo/esperança' que chega de noite!


Chamou-me a atenção a leitura evangélica da semana passada que narrava a parábola das jovens precavidas e das jovens imprevidentes. Chamadas a vigiar para receber o noivo que viria proximamente elas acabaram dormindo. Na noite profunda chega o noivo e um grupo delas percebeu que o óleo de suas lâmpadas estava acabando. Diante da necessidade de ter óleo suficiente para receber o noivo lho pedem às demais. A resposta veio imediata: 'não haveria óleo suficiente para umas e para outras, comprem-no'!

É interessante observar como o noivo, de forma paradoxal, chega de noite, na falta da luz, no horário do sono profundo. O noivo se deixa ver somente para aqueles que souberam aguardá-lo na escuridão da noite, sem se entregar ao desânimo e ao desgaste da espera. Mais do que isso: mostra a sua presença para aqueles que souberam guardar o ‘combustível’ suficiente, o óleo da sabedoria, que ilumina, que dá condições de reconhecê-lo e recebê-lo. A esperança, os sinais de vida, a 'mecha da vida que fumega, mas que não se apaga', só podem ser ‘vistos’ na noite da vida, entre suas trevas e medos. Nos rumores ameaçadores e apavorantes da noite e na angústia da cegueira noturna da vida. Não no clarão de um dia ensolarado, nem na visibilidade ostensiva e espetacular o ‘noivo/esperança’ anunciará a sua chegada, e com ele uma nova luz a dissipar as trevas da humanidade!

Combonianos do Nordeste realizam sua assembléia provincial


Os combonianos do Nordeste finalizaram poucos dias atrás a sua assembléia geral em que elaboraram o seu Plano Trienal de ação (2011-2013). Renovaram, basicamente, o grande eixo norteador que havia sido consagrado alguns anos atrás: fazer florescer a Justiça da Realeza do Deus de Jesus Cristo para os excluídos do pão e do direito, num abraço de paz com toda a criação, visando construir ‘novos céus e nova terra’. Com isso querem investir na defesa e no reconhecimento dos direitos difusos das pessoas e na inviolabilidade da sua dignidade, templo do espírito de Deus. Os combonianos que trabalham no nordeste brasileiro são mais de 40 pessoas de diferentes nacionalidades. Há mais de 50 anos marcam presença nesse rincão. Inicialmente reproduzindo o estilo de uma igreja adepta da cristandade, do sacramentalismo exacerbado, e da colonização religiosa. Porém, desde a irrupção das CEBs (comunidades eclesiais de base) a maioria dos combonianos do nordeste se colocou ao seu lado, criando, ampliando e fortalecendo o novo jeito de ser igreja hoje, aqui. Os combonianos adotaram a metodologia do planejamento estratégico, deixando-se inspirar pela prática histórica de Jesus de Nazaré e de Daniel Comboni, o seu fundador (veja foto acima) tendo um olhar atento aos grandes desafios sócio-culturais da realidade nordestina e brasileira. Ao mesmo tempo, apostam na participação radical de seus membros e das pessoas a quem são chamados a servir para construir uma igreja/humanidade plural e democrática.

domingo, 29 de agosto de 2010

Jesus denuncia a autoafirmação e ataca o dogma da reciprocidade. (Lc.14,1-7-14)

A arrogância e o desejo de emergir e de ser reconhecido publicamente se escondem dentro de cada pessoa. Nem sempre se consegue dominar e controlar o que parece ser uma pulsão inata: o desejo de afirmação pessoal. A parábola narrada por Jesus no evangelho de hoje tem como interlocutores e ouvintes um setor bem específico da sociedade de Israel: os fariseus, ou seja, ‘os separados’, como eles se autodenominavam. Separados daqueles que eles desprezavam, mas unidos e cúmplices entre si. A partir da observação atenta de seus pequenos gestos de auto-afirmação durante um banquete - que a primeira vista poderiam parecer inócuos, - escancara as ambições mais profundas que residem no coração humano: ser os primeiros, ocupar os lugares mais prestigiosos.

Jesus, na realidade, não está exaltando simplesmente a virtude da humildade ao convidar as pessoas a ocuparem sempre os últimos lugares. Jesus percebe que essa procura sistemática de se afirmar, revela e expõe publicamente o pecado social de determinados setores da sociedade de Israel. Eles, não só se sentiam superiores aos demais como mantinham a separação e a exclusão social. Para Jesus, todavia, no banquete/casamento que simboliza comunhão fraterna e aliança com todas as pessoas, não poderia existir jamais divisão/separação e classificação hierárquica. Nem tampouco ‘eleição divina’, como Israel arrogantemente atribuia a si próprio (povo eleito!)

Jesus aproveita a oportunidade para ir mais longe no seu desmascaramento da hipocrisia e da arrogância farisaica. Aproveita para ‘justificar’ a sua missão evangelizadora junto aos mais pobres atacando frontalmente o princípio da reciprocidade dos fariseus.O que era um dogma intocável para os judeus devotos, nos gestos e nas palavras de Jesus a reciprocidade se torna algo paradoxal e inaceitável. Os seguidores de Jesus são chamados a convidar não somente aqueles dos quais se espera igual tratamento e atenção, mas convidar para ‘o banquete’ aquelas pessoas que se sabe, de antemão, que não poderão fazer o mesmo. Os pobres, os impuros e excluídos que nunca são convidados aos banquetes da vida. Os que não têm visibilidade social são, na realidade, aqueles que deveriam ocupar os primeiros lugares na mesa do pão e da dignidade.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Homenagem a Thiago, um brasileiro!



Ouvi os seus gritos ao nascer na clínica do Centro Médico, aqui em São Luis. Colocado no mesmo berço com a prima dele, Patrícia, nascida poucos dias antes, Thiago era uma agitação única. Estava com pressa de crescer, de ocupar espaço e de se mexer. Desde cedo mostrou a que veio. Não podia ser segundo...a ninguém. Filho do cabo Jhota, hoje sargento do exército, e da Josy, Thiago passou os primeiros aninhos de vida num quartel, no extremo norte do Oiapoque. Talvez o contato permanente com os adultos, associado a uma notável sensibilidade herdada dos pais, tenham permitido que Thiago se tornasse rapidamente o garoto maduro que é hoje. A facilidade de instaurar relações humanas maduras com todas as pessoas fazem dele uma pessoa muito querida pelos pequenos, os adultos e idosos que o têm em grande consideração. Thiago quer ser médico e já vem se preparando lendo tudo o que tem a ver com anatomia, biologia, medicina. Um dia falando seriamente com ele sobre esse sonho pedi que colocasse por escrito os dez mandamentos que deveriam nortear um médico. Ele o fez com uma seriedade e competência inigualável que se os médicos adotassem o que ele escreveu não haveria os descasos e as negligências que se verificam nos nossos hospitais. Queira Deus que ele se mantenha sempre assim. Thiaguinho, parabéns pelo seu aniversário!


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

'Afastai-vos de mim vós que praticais a injustiça'! (Lc.13,22-30)



A preocupação com a salvação parece ser algo que acompanha o ser humano, independentemente de sua opção religiosa. Mas de qual salvação estamos a falar? Analisando o trecho evangélico desse domingo não é certamente a salvação que será dada como premiação divina, após a morte biológica, àqueles que tiveram uma vida íntegra e fiel. Jesus deixa claro que o ‘dono da casa’ (v.25) pode fechar a porta a qualquer momento, aqui e agora. Ou seja, as pessoas têm que se esforçarem permanentemente, agora, para ‘praticarem a justiça’(v.27) que é a única condição de aceder à casa. Fala-se, portanto, de uma salvação histórica que é construída cotidianamente e que pode ser experimentada em qualquer momento. Jesus deixa claro que de um lado é preciso ‘entrar pela porta estreita praticando a justiça’ e, do outro, não apelar ao fato ‘de ter bebido e comido diante do dono da casa’(v.26), ou seja, de ter tido uma convivência profunda com ele. O simples fato de ter conhecido, ouvido ou comido com o ‘dono da casa’ não será utilizado como critério para ser ‘beneficiado’ por ele. A prática das injustiças é a única coisa que pode ameaçar o conseguimento da verdadeira salvação para si e para os demais.


Isto é extremamente inovador na compreensão e na prática religiosa de Israel. Os filhos de ‘Abraão, Isaac e Jacó’ (v.28) imaginavam que era suficiente pertencer a essa mesma família para poder merecer a salvação. Entretanto, qualquer pessoa/povo, não importa a sua proveniência, se ‘do oriente/ocidente, do Norte/Sul’ - desde que ‘pratique a justiça’ - poderá ‘sentar à mesa do Reino’, ou seja, fazer a experiência real da plenitude da vida. De fato, conclui Jesus, há pessoas/povos que se consideram historicamente protagonistas e ‘primeiros’ na construção da nova humanidade, mas de fato são ‘os últimos, os rejeitadas’(v.30) que constroem salvação para todos através de sua coerência e da sua luta pela justiça. Dessa forma, Jesus constrói a sua nova ‘casa/humanidade/reino’ com a colaboração e a solidariedade de todos os povos, sem discriminação, tendo como base a prática da ‘justiça’, e desprezando a arrogância dos que se acham ‘eleitos e já salvos’!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Comissão Justiça e Paz debate compromisso ético-cidadão de candidatos

O desgaste do conceito e da prática institucional política tem levado um número sempre maior de pessoas a desistir da participação cidadã mediante o voto e através dos mecanismos institucionais quais os conselhos nos diferentes níveis, fóruns, referendos, e outros meios. A igreja católica que procura estar atenta a tudo o que ajuda o cidadão a ser sujeito político ativo, quer propor princípios éticos e ‘comportamentos políticos’ para os/as candidatos ao pleito desse ano.

A comissão arquidiocesana Justiça e paz de São Luis organizou o seminário ‘ Eleições 2010 –compromisso de cidadania’ tendo em vista esclarecer o processo eleitoral e político desse ano. Com quatro noites de exposições e debates a Comissão busca contribuir com a formação crítica dos cidadãos e cidadãs dessa cidade: descobrir as contradições e os avanços da lei eleitoral, reafirmar os compromissos éticos dos candidatos, principalmente dos que se definem ‘cristãos’. Enfim, os desafios que cabem a uma democracia que, embora formal, tenta aprimorar os seus processos internos. Longe de propor nomes específicos, a igreja lança mão do seu patrimônio moral para fortalecer a cultura da vida plena no cotidiano de 190 milhões de brasileiros/as.

Este blogueiro, dentro da programação do seminário, proferirá uma palestra no salão da igreja de São João às 19,00h. na sexta feira dia 20 de agosto tendo como título’ Ética e compromisso cidadão dos candidatos cristãos nas eleições e no exercício parlamentar’

domingo, 15 de agosto de 2010

Carta aberta das CEBs do Maranhão à igreja e à sociedade

Nós homens e mulheres participantes da 44ª Assembleia Regional das CEBs sentimo-nos convocados/as e agraciados/as pelo Espírito de Jesus Ressuscitado ao fazermos uma verdadeira experiência de comunhão na cidade de Caxias, nos dias de 5 a 8 de agosto de 2010. Mais de 300 leigos/as enviados/as de 11 dioceses, contando com a presença fraterna de 6 bispos (pastores), 15 padres, 17 religiosas, sentimo-nos calorosamente acolhidos/as pela Igreja Irmã de Caxias.

Ao partilharmos, como CEBs, a nossa rica caminhada de fé e luta por pão e justiça, sentimos que não estamos sós. Pudemos sentir a proximidade fraterna e o incentivo iluminador de tantos homens e mulheres que ungidos/as pelo Espírito procuram manter vivo o testemunho de Jesus de Nazaré em favor dos últimos da nossa sociedade. Não fechamos os nossos olhos às dificuldades, fraquezas e contradições que experimentamos no nosso cotidiano dentro de nós e no nosso meio, mas fomos convidados/as a contemplar muito mais "as maravilhas que o Todo-Misericordioso tem feito por meio de nós" ao longo da nossa história. Essa memória, e a consciência de nos sentirmos apoiados/as e acompanhados/as se torna fonte inesgotável de esperança renovada.

O tema central que inspirou a nossa partilha durante a Assembleia foi "CEBs na Caminhada Transformadora e Libertadora. Fé e ação política cidadã". Entendemos com isso que Jesus de Nazaré confiou a cada um e a cada uma de nós a missão de dar continuidade à construção do Reino de vida plena, de justiça e misericórdia que Deus Pai e Mãe quer para os seres vivos que Ele criou. Tomamos consciência que muitos irmãos e irmãs nossos/as vivem mergulhados/as ainda no anti-reino da violência, da corrupção política e administrativa, da fome, da negação da terra e do direito, da intolerância e da discriminação racial, étnica e sexual. Para melhor concretizar a nossa reflexão nos dividimos em 6 (seis) Oficinas que abordaram as seguintes temáticas: Espiritualidade das CEBs, Relações de Gênero, Cidadania e Direitos Humanos, Juventude e Não-Violência, Agroecologia, Economia Solidária. As conclusões destes trabalhos sirvam de incentivo para a nossa atuação nas nossas Comunidades.

Diante de tudo isso sentimos um forte apelo que surge da nossa indignação e da nossa fé perante uma criação que grita por justiça e libertação. Percebemos que nesse momento histórico como CEBs e como cidadãos e cidadãs dessa sociedade devemos ser ousados/as e proféticos/as, sob pena de perdermos a nossa credibilidade perante tantos irmãos e irmãs sofredores/as. Sentimos que como Jesus de Nazaré e Maria, a sua mãe discípula-missionária, somos ungidos/as para "derrubar do trono os poderosos e elevar os humilhados, despedir os ricos de mãos vazias e garantir fartura e vida plena aos famintos de pão e de justiça"(Lc 1, 51s ).

Queremos fazer tudo isso movidos/as por uma compaixão/caridade profundamente humana e cidadã. Como Igreja viva queremos intensificar a nossa participação combativa e afirmativa em todas as instâncias sociais e institucionais mediante uma ação política que reconheça e defenda os direitos, a dignidade, a integridade da criação e o bem-estar de cada cidadão e cidadã, mas principalmente para os mais pobres do nosso Estado. Como os nossos bispos já disseram "a existência de milhões de empobrecidos é a negação da ordem democrática. Os pobres são os juízes da vida democrática de um país". (Exigências éticas da ordem democrática – CNBB).

Que o Deus de Jesus de Nazaré inspire as nossas Comunidades Eclesiais de Base e nos envie para sermos "boa nova" que liberta e confirma na fé os nossos irmãos e irmãs!

Caxias-MA, 8 de agosto de 2010

sábado, 14 de agosto de 2010

Assunção de Maria: preservar o corpo 'templo do espírito'!


A assunção de Maria manifesta a aspiração profundamente existencial das primeiras comunidades de salvaguardar a integralidade da pessoa: corpo e espírito. Diante da veneração alienante da supremacia do "espírito", as comunidades nos alertam que ele existe e tem sentido se os corpos são preservados e respeitados. Por serem dimensões indissociáveis, corpo-espírito, ao ameaçar uma, ataca-se a outra, e vice-versa. Uma não existe sem a outra. Querer desejar o céu desprezando "a terra", ou querer salvar o "espírito" menosprezando "o corpo" seria uma contradição e uma traição da prática evangelizadora de Jesus de Nazaré. Afinal, ele veio para salvar toda pessoa, e a pessoa toda, ou seja, não somente uma banda!

A crença na assunção de Maria ao "céu" não tem respaldo bíblico-teológico. Nem se alicerça em fatos-acontecimentos objetivos históricos, ou seja, na comprovação documental da subida física de um corpo ao céu (algo inverossímil), mas em concepções de vida. As primeiras comunidades cristãs já nos seus primórdios, em seu conturbado processo de "divinização" de Jesus, quiseram reconhecer-enaltecer o papel extraordinário que Maria teve na vida de Jesus. E, ao mesmo tempo, lançar uma mensagem de vida ao mundo: o corpo, por ser "templo-nicho do Espírito" não é algo funcional, instrumental e descartável, mas revela a presença criadora e vital do próprio Deus.

Justamente na liturgia hodierna a igreja resgata o cântico de Maria em que corpos humilhados, submissos e famintos, são elevados, libertados e fartados pela ação do espírito de Deus na vida humana. É nisso que se revela a divindade que está dentro da cada pessoa: assegurar que cada corpo seja, de fato, um templo de liberdade, de respeito, de dignidade plena e de fartura sem fim. O céu-divindade já está aqui na terra-corpo toda vez que isso acontecer. A terra-corpo está no céu-divindade toda vez que encontramos pessoas que, como Maria, são disponíveis a se tornarem templos de vida e liberdade. O céu se humaniza, e o humano descobre o divino que está dentro de si.



terça-feira, 3 de agosto de 2010

Assembléia regional de Pastoral lança carta aberta em apoio aos povos indígenas


Nesses dias de assembléia regional de pastoral ao fazermos a experiência de verdadeira fraternidade fomos levados a reviver idealmente o sonho que tem acompanhando o povo de Deus ao longo da sua história. Nesse sonho/projeto todos os povos da terra, sem distinção alguma, se reúnem sobre uma grande montanha e lá todos se alimentam gratuitamente com comidas suculentas e vinhos finos, e toda lágrima é definitivamente enxugada. Ao contemplarmos esse ícone denso de significado experimentamos uma ponta de tristeza no nosso íntimo, pois confessamos que nós irmãos e irmãs da igreja católica, testemunhas e anunciadores dos ‘novos céus e da nova terra’ iniciados por Jesus de Nazaré, não temos conseguido manifestar com coerência e firmeza a nossa proximidade e solidariedade aos povos indígenas do nosso estado nesses momentos de grande tribulação. Ao olharmos para a sua situação nos sentimos dominados por sentimentos contrastantes.


Sentimentos contrastantes


De um lado experimentamos sentimentos de admiração e comoção ao constatarmos a resistência admirável que eles opõem a instituições públicas negligentes e a grupos econômicos sempre mais agressivos que atentam às suas culturas e desejam varrer os seus valores milenares. Por outro lado, não podemos esconder nossa crescente indignação e decepção ao percebermos que depois de muitos anos de mobilizações sociais, de alianças, de introdução de novos mecanismos de defesa dos direitos indígenas, os povos indígenas do nosso estado continuam enfrentando os mesmos históricos desafios: a insegurança alimentar, a morte prematura, o preconceito racial que humilha, a ameaça constante à sua integridade física e a agressão à mãe terra.


Terra-mãe continua sendo ferida!


É justamente essa mãe terra que continua sendo alvo de ferozes ataques por parte de madeireiros, empresas pecuárias, garimpeiros, e poderes públicos que em nome de uma falsa idéia de desenvolvimento a transformam em nicho de morte e em mercadoria a ser sugada. Experimentamos sentimentos de revolta ao constatar que a terra mãe dos Awá-Guajá já demarcada e legalmente homologada continua invadida e repetidamente violada não só por grupos econômicos, mas também por Tribunais de Justiça e poderes municipais que fazem de tudo para abortar a vontade de justiça e de viver desse povo tão provado. eixam-nos perplexos as intervenções do governo federal que em nome do progresso regional financiam hidrelétricas e outros projetos de grande impacto social e ambiental sobre as comunidades indígenas e seus territórios sem a devida consulta prevista inclusive pelo artigo 169 da Organização Internacional do Trabalho.Ficamos estarrecidos cotidianamente ao ouvir pela mídia inúmeras denúncias de casos de negligência e displicência para com a saúde indígena onde a falta de água potável, de remédios, de transporte e de assistência médica adequada, se mistura com uma crescente corrupção que envergonha a todos.


Igreja missionária a serviço da comunhão e da vida


Flagramo-nos freqüentemente a julgar e a condenar atitudes e posturas de indígenas que reproduzem as nossas mesmas contradições, - mas que, na nossa idealização de seus comportamentos - as encaramos como aberrações sociais. Dessa forma, contribuímos a aumentar o abismo social e afetivo que ainda nos separa deles. Não podemos, enfim, ignorar a avassaladora presença e interferência de igrejas evangélicas e pentecostais que em nome de um Deus milagreiro, legalista e punitivo provocam divisões internas e criam falsas expectativas nas comunidades indígenas do nosso estado. Elas cresceram junto às comunidades indígenas graças também à nossa omissão e à nossa pouca coragem em testemunhar um Deus que é Pai, que acolhe, respeita, e ama a todos, sem acepção de pessoas e culturas. Como igreja do mesmo Pai queremos reafirmar a nossa vontade de reproduzir uma nova e perene Pentecostes onde nem as línguas, nem as culturas, nem as pertenças religiosas são obstáculos para criar comunhão e fraternidade com os povos indígenas. Nisso poderemos nos compreender e descobrir como irmãos e irmãs do mesmo Tupã!

Imperatriz, 19 de julho de 2010

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

'Nós existimos' em Zé Doca!


Iniciou hoje em Zé Doca -MA - o acampamento 'Nós existimos' em que se quer expor à sociedade local e à nação o drama dos índios Awá-Guajá que habitam as matas do Gurupi e Pindaré. Organizado e apoiado pelo CIMI, a CNBB V e outras instituições, o acampamento conta com a presença de cerca 100 índios Awá-Guajá provenientes das quatro aldeias existentes. Eles terão a oportunidade de denunciar o que vem ocorrendo com o seu povo e o seu território já demarcado e homologado, mas atualmente invadido por madeireiras, posseiros, criadores de gado e outros. Hoje, dia 02 de agosto no Centro Diocesano de Zé Doca haverá debates sobre a real situação desse povo de recente contato e que, por não ser numeroso não goza da cobertura da grande mídia. Os próprios Awá denunciarão as ameaças que vêm recebendo, o descaso da justiça (Tribunal Superior de Justiça) que suspendeu os efeitos da sentença do juiz federal José Carlos Madeira proferida no início desse ano que intimava os invasores a se retirarem dentro de um prazo de até 120 dias. Com a sua suspensão tudo continua como antes: ônibus e caminhões percorrendo as estradas clandestinas construídas dentro do territòrio Awá-Guajá, criadores aumentando as suas pastagens e cabeças de gado, e posseiros construindo casas e desmatando...Os poderes públicos locais e estaduais parecem ignorar o drama desses indígenas. Aliás, foi a própria prefeitura de Zé Doca que entrou junto ao STJ pleiteando a anulação dos efeitos da sentença do juiz federal alegando que a homologação prejudicava a economia local. A iniciativa popular visa mais umavez chamar a atenção da sociedade em geral e da justiça para que, enfim, justiça seja feita a esse povo já tão provado.