sábado, 11 de maio de 2013

Ascensão - Transformar, agora, essa ‘terra corporal dilacerada’ num céu’ de paz, de justiça e de comunhão (Lc. 24, 46-53)

Mal cheguei à Vila Embratel, bairro de São Luis, em abril passado e já havia uma missa de 7º dia a ser celebrada pelo falecimento de um jovem, assassinado por um notório envolvido no tráfico da região. Após ele, mais seis outros jovens foram assassinados no breve espaço de tempo de um mês na minha nova região pastoral onde pretendo passar alguns anos da vida sacerdotal. Corpos muitas vezes já deformados pelos efeitos das drogas sujas são eliminados sob os olhares indiferentes, senão cúmplices, dos homens do estado e do ‘cidadão comum’. É o que muitos definem de banalização da morte ou da vida. Ninguém mais estranha. Tornou normal e corriqueiro que um jovem seja assassinado porque não pagou o fornecedor da droga ou porque roubou para poder renegociar a dívida contraída para voltar a comprar mais algumas doses. São milhares os jovens que tem seus corpos mutilados e exterminados no nosso País ‘sem guerra’ pondo fim a qualquer sonho ou desejo de ser ‘outra pessoa’. De ver sua vida reconstituída sem mais sofrer ameaças, sem ser dominado pelo terror de ver a sua casa invadida por ‘cobradores’ que lhe deram o ‘ ultimátum’ e que chegam, agora, só para executá-lo sob os olhos aterrorizados da própria mãe. 
Celebrar a ascensão de Jesus ao céu não é certamente fazer sofismas baratos e achar que só ele teve o privilégio de colocar o seu corpo glorioso ‘ressuscitado’ à direita de Deus! Nem tampouco podemos desligá-la, banalmente, do sentido que pode e deve assumir no nosso cotidiano. Ascensão é a celebração da ‘salvação-proteção’ da vida na sua inteireza, na sua plenitude. O que classicamente definimos como corpo e alma. Ao matar um corpo, mata-se também a sua alma, ou seja, os seus ideais, sonhos, projetos de vida, que são na sua essência pessoais e intransferíveis. Ao resgatar, no entanto, o seu corpo, mesmo assassinado, resgata-se também os seus sonhos e projetos de vida. Ascender ao céu não é ascender ao um lugar miticamente idealizado ou a um hipotético mundo de paz, celestial, mas é resgatar e proteger, agora, corpos ‘com alma’ feridos, consumidos e ameaçados, mas portadores de valores, de idéias, de soluções, e de sentimentos e afetos necessários para que todo o mundo viva! A Ascensão de Jesus ao céu coloca em xeque, definitivamente, as falsas idéias de salvação segundo as quais o essencial é salvar a alma e não o corpo, pois este é destinado a viver, necessariamente, num vale de lágrimas. A Ascensão, afinal, nos diz que o destino final de um corpo-projeto de vida, que é sacramento da presença de Deus, não pode ser uma cova fria recoberta de mato, nem um cemitério-jardim botânico, e sim o compromisso de realizarmos, aqui na terra, o que idealmente projetamos no céu. Chega de olharmos extasiados para um mítico céu irreal, quando somos chamados e transformar, agora, essa ‘terra corporal dilacerada’ num ‘céu’ de paz, de justiça e de comunhão.  

Homenagem - A todas as mães, biológicas e não, que continuam mostrando com gestos concretos não somente aos seus filhos biológicos, mas a todos os ‘órfãos da humanidade’ o rosto materno de Deus, recebam o meu beijo filial e carinoso. À mãe Gina, minha mãe biológica, hoje com quase 81 anos, ‘on gran basón e on bel strucón!’  

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