sábado, 8 de fevereiro de 2014

V Domingo Comum - Ser sal e luz para quem perdeu o gosto de viver e vive nas trevas do anti-reino

É sempre mais comum ouvir expressões do tipo ‘Não tenho mais nada a perder, viver ou morrer, para mim, dá na mesma!’ Em geral são pessoas desgostosas da vida. Passaram, ou vêm passando, por experiências dolorosas. São pessoas traumatizadas por doenças, violência e conflitos, excluídas e pouco valorizadas, muitas vezes revoltadas consigo mesmo e com o mundo, ou com um destino considerado ingrato. São pessoas que perderam a confiança no futuro, o gosto de viver cada instante do cotidiano. Viver se tornou um pesadelo. Querem sumir, desaparecer, esquecer, pois isso seria a única forma de se livrar de um sofrimento humano e espiritual que as atormenta cotidianamente. Na narração evangélica de hoje, Jesus, na ‘montanha’ (lugar de revelação), se dirige aos ‘bem-aventurados’ e aos seus discípulos e os convida a aceitar o desafio de dar sabor à vida de tantas pessoas cuja existência se havia tornado insossa. A multidão que seguia Jesus estava nessa situação. Os discípulos/as são chamados a oferecer aquele ‘algo a mais’ que outros não conseguem, ou não querem dar para as pessoas que haviam perdido a vontade de viver. Dessa forma Jesus deixa claro que ser discípulo/a é saber fazer a diferença. É ser estímulo, incentivo, esperança (sal) que se dilui, se derrete internamente para se misturar na vida das pessoas. E ao fazer isso se torna instrumento  de alegria, de esperança renovada, de re-motivação para quantos fazem a experiência da dor e do abandono. Mas, cuidado. Nunca perder essa consciência e essa capacidade que podemos e devemos ser sal, pois se assim acontecer a mais nada serviremos, senão para sermos jogados fora e ser pisados, pois perderíamos o que nos sustenta: ser o sal da terra. 

A outra característica que o discípulo/a ‘bem-aventurado/a’ de Jesus deve possuir é a de ser luz. Essa imagem nos remete à missão do servo de Javé, que era a de ser ‘luz das nações’. O discípulo não tem a função de ele ‘brilhar’. Ele é um mero veiculador de luz. Ele é uma pessoa que antes de descobrir a beleza da luz que é a Realeza de Deus anunciada por Jesus, experimentou o que significa viver nas trevas, na escuridão da vida, nos anti-reinos do mundo. O discípulo/a que encontrou Jesus encontrou aquele que tem o poder de dissipar as trevas da sua vida e, agora, iluminado e consciente, quer ser luz para os que vivem na escuridão. Quer desmascarar tudo o que ameaça e oculta a beleza da 'boa nova'. Por isso que Jesus insiste para que essa ‘experiência luminosa’ de ter encontrado alguém que deu sentido á sua vida não pode ficar escondida. Não pode ser uma simples experiência privada, pessoal, para segurar só para si, mas algo a ser divulgado e reproduzido. Para outras pessoas que só ouviam 'má-notícias' em suas vidas pudessem sentir que ainda podiam esperar e crer. Afinal, ‘bem-aventurado’ será aquele que terá a coragem de proclamar e testemunhar com suas opções e escolhas de vida as ‘bem-aventuranças do reino de Deus’! A nova lógica de Deus. O novo modo de administrar a vida! 

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