quinta-feira, 30 de março de 2023

Funcionários de fazenda destroem barracos e casa de reza de comunidade Guarani Kaiowá no MS, com a cumplicidade da PM

Em menos de duas semanas, a comunidade Guarani Kaiowá do tekoha Kurupi, próximo à cidade de Naviraí (MS), sofreu dois ataques por parte de funcionários da Fazenda Balneário Tejuí, sobreposta ao território ancestral. De acordo com lideranças da comunidade ouvidas pelo Brasil de Fato, na madrugada da última segunda-feira (27 de março), tratores operados por empregados da fazenda destruíram barracos e a casa de reza, que além de seu valor espiritual, abrigava as reuniões dos indígenas. Segundo as lideranças, que por segurança falaram em anonimato, o objetivo dos ataques é retirá-los do local e preparar a terra para plantio de commodities por parte do arrendatário do fazendeiro Miguel Alexandre.

Comunidade aguarda demarcação acampada há 20 anos

A retomada do tekoha ("lugar onde se é", em guarani) Kurupi aconteceu no início dos anos 2000 quando, cansados de viver confinados na reserva de Caarapó, um grupo de Guarani e Kaiowá retornou para parte do território de onde seus antepassados foram expulsos na década de 1940. Ali a comunidade vive em condições precárias em um acampamento nas margens da BR-163. Enquanto espera a demarcação do território, dentro do qual está a fazenda que carrega vestígio de estar em área indígena até no nome, os Guarani Kaiowá vivem sistemática violência. "Desde que passaram a acampar ali, eles vêm sofrendo agressões pesadas da Fazenda Tejuí. Tiveram o acampamento três vezes queimado, inclusive com crianças no meio, foi bem difícil", ilustra Hampel.

Tiros e helicóptero da PM

Na tarde da última quinta-feira (16), houve outra investida de funcionários da fazenda com tratores - dessa vez com escolta da Polícia Militar (PM) do Mato Grosso do Sul. Os veículos foram até os limites do acampamento Kurupi e, quando a comunidade Kaiowá se juntou, recuaram de volta para a sede da Fazenda Balneário Tujuí. A liderança indígena ouvida pela reportagem conta que, em seguida, os indígenas foram atrás, no intuito de "conversar para impedir que machucassem a mata da comunidade". E que foram recebidos com disparos de armas de fogo. "Fomos atacados pela PM, que estava com duas viaturas. Eles inclusive ameaçaram a minha pessoa", relata. Um helicóptero da PM sobrevoou a área. Os indígenas, então, voltaram ao acampamento.

Procurada, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública do Mato Grosso do Sul (Sejusp) informa que a PM foi "acionada para averiguar uma denúncia de que indígenas estariam impedindo o trabalho em uma área de plantio na Fazenda Balneário Tejuí". Que os policiais foram para "evitar possíveis conflitos" e que "não houve nenhum tipo de confronto". (IHU)


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