sexta-feira, 16 de junho de 2023

Operação na Arariboia combate invasores que levam morte a indígenas

Uma força-tarefa prendeu quatro suspeitos na Terra Indígena (TI) Arariboia, no Maranhão, por interceptação e armazenamento ilegal de madeira. As prisões integram as ações coordenadas da operação Arariboia Livre. A operação, iniciada na segunda-feira (12), atende a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e envolve 150 agentes das polícias Federal e Militar, do Ibama e ICMBio do Maranhão e de mais quatro estados. Doze madeireiras e moveleiras foram autuadas por não apresentarem licença ambiental e documentos que comprovem a procedência da madeira armazenada. 

Os agentes apreenderam, até o momento, mais de 200 metros cúbicos de madeira, o equivalente a 8 hectares de floresta desmatada. A operação segue em atividade durante o resto da semana. Além da TI Arariboia, os agentes estiveram na T.I. Porquinhos, do povo Apãnjekra-Kanela. Lá encontraram duas carvoarias com quase 100 fornos. O Ibama deu um prazo de 24 horas para verificar a documentação dos operadores. Neste ano, essa é a terceira operação realizada na TI Arariboia. O território abrange cinco municípios no centro-sul do Maranhão e é bastante fustigado por invasores. A terra indígena do tem uma área de 410 mil hectares. Nela vivem cerca de 10 mil indígenas dos povos Tenetehara/Guajajara, além dos Awá-Guajá em situação de isolamento voluntário, que acabam sendo agredidos pelos madeireiros invasores no interior da floresta. À imprensa, a superintendente do Ibama no Maranhão, Cilene Brito, afirmou que um dos objetivos é combater a migração de madeireiros. Ela explica que o movimento é comum de ocorrer com as grandes serrarias.  “Com essas serrarias menores e movelarias, a gente está começando a estudar esse risco de migração. Vamos manter o monitoramento contínuo para readequar as ações de fiscalização”, afirma.  

Genocídio - “A gente só pede que a Justiça aconteça, porque isso aí não é normal. O que está acontecendo nessa região é um genocídio. Está muito violento, muito perigoso para todos nós, principalmente em Arame”. A fala é de um indígena Guajajara que preferiu não se identificar e está relacionada ao ataque de fevereiro, mas reflete os anos a fio de convivência com mortes que poderiam ser evitadas com mais proteção à Terra Indígena. Outro fator que aumenta os riscos de “mortes matadas” entre os Guajajara é que o povo estruturou uma guarda do território, os Guardiões da Floresta, coibindo e expulsando invasores. Muitos dos assassinados eram guardiões. 

Um terço dos defensores mortos - Estudo das entidades Justiça Global e Terra de Direitos mapeou 1.171 violações de direitos humanos entre 2019 e 2022 . Entre elas, os indígenas assassinados correspondem a 29,6% dos defensores mortos, sendo que de 2021 a 2022 o número quase dobrou, de 10 para 17 casos. Os indígenas correspondem a 29,6% dos defensores mortos. O Maranhão é o estado com maior número de assassinatos de lideranças indígenas (com 10 casos), seguido de Mato Grosso do Sul (9), Amazonas e Roraima (7, cada um). No total, foram 50 ocorrências desse tipo. Para os realizadores do estudo, o incentivo à mineração em territórios indígenas, a intensificação de ações de grileiros e fazendeiros e a ausência de políticas públicas de demarcação de terras estão entre os fatores que motivaram os assassinatos de defensores indígenas. A operação Arariboia Livre atua no sentido de mitigar os últimos quatro anos de ações anti-indígenas que visam “passar a boiada” sobre as terras indígenas, em especial a TI Arariboia  (Renato Santana)


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