quarta-feira, 28 de agosto de 2024

“Desmatamento é caro, fogo é mais barato”. Entrevista com Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama

De acordo com o presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, por trás desses números aterradores, há uma combinação de fatores: agravamento da crise climática, desmatamento de anos anteriores, falta de conscientização e uma mudança na estratégia de desmatamento. 

“As pessoas estão trabalhando numa lógica de “vamos degradar a floresta e vamos colocar gado do mesmo jeito. E, para degradar a floresta, vamos queimar”. […] É muito essa lógica: eu vou acabar com a floresta. Não preciso desmatar. Porque o desmatamento é caro. O fogo é muito mais barato, só comprar gasolina e sair espalhando”, comenta. Segundo Agostinho, essa estratégia explica o porquê de os incêndios serem tão intensos apesar da diminuição do desmatamento da Amazônia.

O presidente do Ibama afirma que fiscalizar incêndios criminosos é mais difícil que o desmatamento tradicional, que tem sido combatido por meio de satélites. “Você tem a pessoa que coloca fogo, que é criminoso, mas tem, às vezes, um monte de gente, vizinho dele, que é vítima […] O cara vai lá, passa o correntão, põe fogo, quer destruir mesmo. E, de repente, o vizinho dele queima também. O outro cara, que cuida de onça, também perde a fazenda. O outro que está lá preservando, porque gosta do Pantanal, também é vítima”, avalia. Questionado sobre qual deve ser a saída para reduzir as queimadas no Brasil, Agostinho defende que o Ibama vive ao mesmo tempo um momento de maior estrutura, com mais equipes e recursos, mas também de maior dificuldade para lidar com um clima mais extremo – e a saída não vai ser apenas investir na repressão aos crimes ambientais.

“Na natureza, quando pegava fogo no Cerrado? Quando estava começando a época de chuva e caíam os primeiros raios. Então, você já tinha umidade […] Quando o fogo ocorre nessa época [de seca], aí é tragédia. De maneira muito clara: as mudanças climáticas chegaram. […] Agora, se a gente não tivesse reduzido o desmatamento na Amazônia, a crise com certeza seria muito maior”, defende. (IHU)


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