segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Sull’intelligenza artificiale e sulla stupidità naturale - Por Giorgio Agamben


«Comincia un’epoca di barbarie e le scienze saranno al suo servizio». L’epoca di barbarie non è ancora finita e la diagnosi di Nietzsche è oggi puntualmente confermata. Le scienze sono così attente a esaudire e persino precorrere ogni esigenza dell’epoca, che quando questa ha deciso che non aveva voglia né capacità di pensare, le ha subito fornito un dispositivo battezzato “Intelligenza artificiale” (per brevità, con la sigla AI). Il nome non è trasparente, perché il problema dell’AI non è quello di essere artificiale (il pensiero, in quanto inseparabile dal linguaggio, implica sempre un’arte o una parte di artificio), ma di situarsi al di fuori della mente del soggetto che pensa o dovrebbe pensare. In questo essa assomiglia all’intelletto separato di Averroè, che secondo il geniale filosofo andaluso era unico per tutti gli uomini. Per Averroè il problema era conseguentemente quello del rapporto fra l’intelletto separato e il singolo uomo. Se l’intelligenza è separata dai singoli individui, in che modo questi potranno congiungersi ad essa per pensare? La risposta di Averroè è che i singoli comunicavano con l’intelletto separato attraverso l’immaginazione, che resta individuale. È certamente sintomo della barbarie dell’epoca, nonché della sua assoluta mancanza di immaginazione, che questo problema non venga posto per l’intelligenza artificiale. Se questa fosse semplicemente uno strumento, come i calcolatori meccanici, il problema in effetti non sussisterebbe. Se invece si suppone, come di fatto avviene, che, come l‘intelletto separato di Averroé, l’AI pensi, allora il problema del rapporto col soggetto pensante non può essere evitato. Bazlen ha detto una volta che nel nostro tempo l’intelligenza è finita in mano agli stupidi. È possibile che il problema cruciale del nostro tempo abbia allora questa forma: in che modo uno stupido – cioè un non pensante ¬– può entrare in rapporto con un’intelligenza che afferma di pensare al di fuori di lui?

12 ottobre 2025

A Terra Santa. Artigo de Flávio Lazzarin e Claudio Bombieri

Com certeza, cabe neste contexto a teologia da unidade que encontramos no lema agostiniano do brasão heráldico do papa Leão XIV “In Illo Uno Unum”, "No único Cristo, somos um", e que corresponde ao carisma Petrino: “... a unidade de fé e de comunhão de todos os fiéis. O Romano Pontífice de facto, como Sucessor de Pedro, é perpétuo e visível fundamento da unidade, não só dos Bispos mas também da multidão dos fiéis, e por isso ele tem uma graça ministerial específica para servir aquela unidade de fé e de comunhão, que é necessária para o cumprimento da missão salvífica da Igreja.”[i] Todavia o serviço Petrino, tendo em vista a unidade do corpo de Cristo, que é a Igreja, nunca pode ser testemunhado e pensado prescindindo de processos sofridos de discernimento espiritual para encontrar caminhos de unidade na complexidade desafiadora dos diferentes contextos históricos. Sem jamais esquecer que somos constitutivamente limitados e falhos. Sem esquecer, também, que a sina do discipulado na sequela de Jesus nunca é a eficácia, - o resultado positivo da missão - e tampouco negociações irreconciliáveis com o Templo e o Palácio, mas somente a fidelidade à Realeza do Pai e a coerência do testemunho.

A pergunta dramática que nos atormenta atualmente é como defender a unidade num mundo em que se radicalizaram o ressentimento, o ódio, a divisão, a vingança, a guerra, o extermínio ad intra e ad extra. A situação é ainda mais complicada quando nos desafiam as atuais divisões e radicais polarizações, que deturpam o rosto das Igrejas. Contraposições que são teológicas, culturais e políticas e que não são simplesmente o reflexo do choque epocal entre a saudosa reafirmação da tradição e a fluidez da modernidade, mas constituem inegavelmente as próprias inspirações e motivações da guerra mundial e das guerras civis, sem perdão e sem pacificação. Quando nos perguntamos como poderíamos ser testemunhas confiáveis da unidade substancial e não como mera virtude ou princípio genérico, não encontramos fáceis respostas, até porque muitos acham que ao tomarmos partido ao lado das vítimas, denunciando os responsáveis do extermínio programado dos pobres, nos colocaríamos em processos inconciliáveis com o mandamento da unidade. O que fazer diante da aparente inconciliabilidade da salvaguarda da paz com a defesa das causas dos oprimidos? Com efeito, as circunstâncias e os violentos, independendo da nossa vontade,  nos envolvem como inimigos na guerra mundial e na guerra civil. E, além disto nos acompanha um ulterior sintoma da precariedade do princípio-mandamento da unidade porque, quando nos enxertamos em movimentos que defendem causas humanitárias urgentes e indiscutíveis, somos obrigados a conviver com atitudes, posturas e comportamentos, que nem sempre coadunam com a nossa sensibilidade ética e política ou demonstram claros sinais de contradição. Nestas circunstâncias, a definição balthasariana da Igreja: “comunhão de solidões” aparece como âncora de salvação. Em suma, não passa de uma perniciosa ilusão apostar no diálogo diplomático ou, pior, na neutralidade equidistante para salvaguardar a unidade e a paz. Também certo pacifismo, que acredita na possibilidade de superar o conflito, ignorando o nosso inevitável envolvimento, é mais uma falsidade inconcludente. 

Nesse contexto é quase uma obrigação histórica recordar que, enquanto o papa Honório III dava continuidade à Quinta Cruzada, promovida por Inocêncio III através do Quarto Concílio de Latrão, Francisco de Assis, em 1219, viajava ao Egito com o objetivo de promover a paz. Ele se encontrava com o sultão Al-Malik Al-Kamil, líder muçulmano, sobrinho de Saladino, em Damieta. Uma profética oposição à guerra e à teologia católica da guerra santa. Um pobre e desarmado testemunho do valor incomensurável da fraternidade, que vai pacificamente além dos pecados da cristandade europeia. Um gesto de paz em tempos de guerra, que não se subtrai porém a implícita e também pacifica reprovação da traição do Evangelho e dos equívocos institucionais e culturais dos cristãos. A proposta de diálogo de Francisco não se sustenta a partir de discursos e doutrinas, e nem de estudadas negociações diplomáticas, mas, evangélica e simplesmente, na pobreza radical no seu corpo, que se expõe indefeso aos riscos que comporta o encontro com o inimigo dos seus próprios conterrâneos. É a fidelidade radical à Cruz, à Ressurreição, ao Shalom, à Paz. Francisco nos diz, também hoje, que a unidade surge, paradoxalmente, aos pés da cruz, na eliminação-crucificação do profeta Jesus que tomou partido ao lado dos agredidos da história. É a partir do patíbulo dos agressores romanos de onde surge, com o Seu perdão, a derrota definitiva do ódio, violência, guerra, morte.

Antes de recordar este episódio da vida de Francisco, por estranhos jogos da memória, voltava uma profecia inesquecível de Giorgio La Pira. Aliás, foi La Pira que nos conduziu a lembrar de Francisco de Assis e do seu diálogo com o Islam. La Pira acreditava na tríplice família de Abraão: judeus, cristãos e muçulmanos são os herdeiros espirituais do patriarca bíblico e por isto têm uma vocação especial para o diálogo e a missão da construção da Paz. Fiel à esta certeza utópica da Paz, foi um incansável articulador político. Pensamos nos Colóquios Mediterrâneos, iniciados em 1958, em que promoveu encontros entre líderes religiosos e políticos de países árabes e muçulmanos, buscando criar pontes de entendimento e cooperação. Ele acreditava que a política deveria ser guiada por valores evangélicos e espirituais e muitos, também do seu partido, a Democracia Cristã, o consideravam um ingênuo desconectado da realidade geopolítica e dos interesses econômicos. La Pira acreditava que Jerusalém deveria ser uma cidade universal, “santuário espiritual da paz”, “jardim da humanidade”, santuário imortal dos filhos de Abraão. Para ele, a cidade santa não pertencia exclusivamente a um povo ou religião, mas era um patrimônio espiritual comum. “(…) O Mediterrâneo, ao longo do qual vivem estes povos, não pode voltar a existir - é o seu destino! - um centro de atração e gravitação histórica, espiritual e política essencial para a nova história do mundo? Por que não começar, aqui mesmo, a partir da Terra Santa, a nova história de paz, unidade e civilização dos povos de toda a terra? Por que não superar com um ato de fé – religioso e histórico e, portanto, também político, nesta perspectiva mediterrânea e mundial – todas as divisões que ainda quebram tão gravemente a unidade da família de Abraão, para começar, precisamente a partir daqui, aquele inevitável movimento de paz destinado a abraçar todos os povos da terra e destinado a construir uma era qualitativamente nova (salto qualitativo!) na história do mundo?"[ii] Hoje, não poderíamos ampliar a geografia e a política espiritual de La Pira, com a convicção de que toda Terra Santa é terra universal, santuário dos descendentes de Abraão? E em Hebron, Cisjordânia, na caverna de Macpela, o Túmulo dos Patriarcas, os descendentes de Isaac, Ismael e Jesus de Nazaré assinariam um protocolo metapolítico, que afirma a primazia do sentido espiritual e ético da política, a renúncia definitiva ao poder do estado e da guerra. E um solene e inadiável pacto multilateral em defender e construir, paciente e sistematicamente, uma unidade de intenções e de práticas plurais que, longe de representar homogeneidade padronizada, vise garantir um planeta-humanidade sem males, sem lágrimas, sem dor, sem morte! 

PROPOSTAS OPERATIVAS PARA UMA NECESSÁRIA E URGENTE QUALIFICAÇÃO DOS NOSSOS COMPROMISSOS MISSIONÁRIOS NO BRASIL

Introdução

Acreditamos que, desde o nosso ponto de vista, nesse último sexênio a nossa Província, jamais como hoje, foi catapultada numa inexorável encruzilhada ou, se preferirmos, num divisor de águas. E, simultaneamente, - como sempre ocorre em ‘situações-limite’ - ela pode, também, estar a mergulhar num ‘Kairós’ carregado de inéditas oportunidades e perspectivas jamais vislumbradas. A palavra-categoria ‘crise’ que, comumente, é utilizada para expressar situações problemáticas, conflituosas, indefinidas, etc. talvez não traduza, adequadamente, no nosso caso específico, a atual situação sociopastoral e identitária pela qual a Província Comboniana do Brasil está a atravessar. Seja o que for o que sentimos como inadiável é a urgência de tomarmos uma decisão que venha a recolocar a Província num trilho que, a nosso ver, por diferentes motivos e por mudanças estruturais na vida religiosa e eclesial, vem sendo, progressivamente, desmontado, a saber: a coragem, a ousadia e a capacidade sistemática e paciente de analisar, rever e requalificar, radicalmente, TODAS as nossas presenças missionárias nesse País. E adotarmos uma metodologia que seja capaz de nos oferecer, como produto final, um quadro claro, realista, sincero, coerente do que somos e do que queremos, aqui, agora, e num futuro próximo. 

Contextualização e justificativa

Consideramos que a partir do esquema que nos foi encaminhado tendo em vista a condução da assembleia provincial, não há nem tempo suficiente (02 dias) e nem metodologia apropriada para enfrentarmos o que aqui abaixo propomos. A tradicional leitura de relatórios e o enfoque proposto não nos parecem adequados para responder ao tamanho dos desafios que a Província está a enfrentar. Parece-nos consolidada a constatação de que quase ninguém ao longo desses últimos 6 anos, ou melhor dito, desde a unificação das duas províncias, não produziu e não apresentou, formal e publicamente, um informe-relatório satisfatório do que vem sendo desenvolvido in loco, e a sua respectiva análise crítica e/ou autocrítica, bem como as possíveis perspectivas (região amazônica - ecologia integral- catadores e reciclagem - ribeirinhos – indígenas – afrodescendentes - paróquias combonianas – direitos difusos: adolescentes, pastoral carcerária, saúde mental – formação de base e permanente - animação missionária e vocacional...) e que, dificilmente, haverá chances de aprofundamento e de análise de dados para eventuais discernimentos e decisões quanto ao futuro de algumas dessas presenças na próxima assembleia de outubro. Considerado, também, que o Plano Sexenal elaborado e formalmente aprovado, desde o nosso ponto de vista não reflete a ‘realidade real’ da nossa Província por ela ter feito a escolha de manter um número excessivo de presenças e compromissos, e sem a devida análise de ‘disponibilidades e disposições pessoais’ e, não último, a ‘indecifrável incorporação ou não das ‘prioridades provinciais’ na dimensão pessoal e comunitária, achamos que é imprescindível e inadiável um amplo processo de escuta e de discernimento. Daí a necessidade de realizarmos algo mais sistemático e abrangente com o intuito de não somente elaborar um diagnóstico o mais exaustivo e coerente possível, mas colocar as bases para uma redefinição missionária no Brasil, tentando superar uma certa descaracterização da nossa prática missionária planejada e a genericidade de muitos dos nossos compromissos. Nesse sentido PROPOMOS que a primeira parte do ano de 2026 seja dedicada quase que exclusivamente para uma espécie de ‘fechamento por balanço’ ou, se preferirmos, para uma ‘ampla revisão qualificada, técnica, e objetiva’ dos nossos atuais compromissos e da sua possível continuidade, consequentes modalidades e recursos humanos necessários mediante visitas in loco, coleta documental do que existe e elaboração de um relatório final apontando falhas, incoerências organizativas, mas, principalmente formulando propostas concretas para dar continuidade ou não a uma determinada presença. 

Algumas propostas operativas

Dito isso, vamos oferecer as nossas propostas operativas realistas, tendo presente, inclusive, a atual conjuntura marcada por um processo eletivo interno, já em curso, e uma consequente e possível troca de pessoas nas instâncias de coordenação (provincial, conselho, secretariados...). Aqui não se quer entrar, propositalmente, em muitos detalhes, pois em caso de aprovação, as equipes responsáveis poderão aprofundar e detalhar o processo todo.  Nesse sentido propomos:

1. Até o dia 15 de janeiro de 2026 constituir três pequenas equipes e/ou comissões com a incumbência de visitar e conhecer de forma profunda todas as atuais presenças missionárias de acordo com a subdivisão geopastoral já em vigor. Haveria um primeiro momento presencial, coletivo, com todos os membros escolhidos em que se estabelecem metodologia e datas-prazos. Sugere-se:

a. A Equipe Amazônica formada pelo atual coordenador do setor ou o futuro, o provincial atual ou o futuro ou uma pessoa escolhida por ele, e 01 convidado de confiança da região (pode ser um pesquisador, religioso, etc. para permitir um olhar mais externo e imparcial). Planejarão de acordo com a comunidade as visitas in loco, a saber: Manaus, Boa Vista, Porto Velho, Piquiá;

b. A Equipe Litoral formada pelo atual e/ou futuro secretário da Missão, provincial ou sua pessoa de confiança, e convidado externo de confiança da região nordestina. As comunidades a serem visitadas: São Luís, Fortaleza, Salvador, Marcos Moura, Contagem;

c. Equipe temática - Sul formada pelo provincial ou o seu indicado, o novo conselheiro a ser eleito, e uma pessoa externa de confiança da região. Comunidades a serem visitas: Carapina, São Paulo (I-II), Curitiba, São José do Rio Preto. Esta equipe poderia se dedicar mais a avaliar temas quais economia, formação e animação missionária, doentes....

2. O êxito do trabalho depende da clareza dos objetivos escolhidos de forma consensual e, evidentemente, da colaboração das comunidades visitadas e, não último, a metodologia a ser adotada em todas as visitas. O que achamos essencial para as equipes ‘descobrir, conhecer e intuir’ nessas visitas formais? Aqui vão algumas sugestões:

a. Coletar relatórios, publicações, anotações sobre tudo o que diz respeito aos trabalhos desenvolvidos pela comunidade como um todo e, especificamente, por cada confrade. Importante avisar de antemão que cada pessoa prepare de antemão o material ilustrativo do que vem desempenhando (atividades/iniciativas pastorais na paróquia ou em outras atividades específicas...) Quem não possui esse substrato documental terá prazo suficiente para elaborar relatórios explicativos específicos e fornecê-los à equipe. 

b. Acompanhar e visitar os contextos sociogeográficos em que atuamos (comunidades ribeirinhas, indígenas, centros, conselhos locais, etc...) e manter encontros formais e informais com lideranças locais e conselhos paroquiais. Se, por ventura, algo já foi feito nesse sentido, recentemente, por alguém do Conselho, ter-se-á presente o que foi elaborado por ocasião da visita.

c. Manter um diálogo aberto, franco, pessoal com cada confrade no intuito de compreender suas pequenas ou grande angústias, dúvidas, sonhos, projetos, disponibilidade... Não se trata de criar uma ficha policial do confrade, e sim, de compreender com o que mais ele se identifica em termos de serviço missionário, e valorizar suas qualidades e potencialidades.

3. Acreditamos ser possível realizar uma síntese bastante detalhada e precisa da realidade macro e específica da nossa província até a metade de junho. Aqui, o que se trata não é oferecer um diagnóstico rigorosamente técnico e bem redigido, mas o suficiente e necessário para ver se, por exemplo,  vale a pena continuar ou não num determinado lugar; se é, efetivamente o atual contexto geopastoral mais apropriado ou deveria ser outro ou, ate, fortalecendo e diversificando um já existente; ver se os atuais confrades estão, efetivamente identificados com o que a Província pede ou se é preciso colocar outros; analisar com criticidade e ‘distanciamento’ se as atuais prioridades possuem confrades que se identificam com elas ou se seria melhor providenciar as suas necessárias transferências; saber ate quando e com quais condições se pode contar com este ou aquele confrade, sem deixar de prever uma possível desistência, possíveis destinações outras, sem ignorar os ‘normais conflitos intracomunitários’ que acabam desgastando a convivência; se a metodologia de visitar, de se comunicar, e de avaliar uma determinada presença por parte do Conselho é a mais adequada, ou se seria necessário mudar; se o papel desempenhado pela coordenação e/ou secretariados atende aos anseios e as expectativas que as assembleias deveriam explicitar; se vale a pena ter assembleia de dois dias e retiros espirituais de 4 dias; e assim por diante...

Conclusão

Evidentemente é uma proposta inacabada, e a partir de uma determinada percepção que, de repente, não é sentida e partilhada pela maioria, o que é perfeitamente legítimo. Acreditamos, contudo, que um sentir comunitário e pautado pela responsabilidade e a fraternidade não pode deixar de nos preocupar com uma realidade que, lembramos, não é exclusiva de nós combonianos, no entanto deveria nos impelir a externar o que sentimos e vislumbramos. Se acharmos que do jeito que está a nossa caminhada como Província não exige nada de mais ou, talvez, só alguns ‘ajustes’, pedimos vênia pela nossa cegueira ou, quem sabe, pelo excesso de visão. Se, ao contrário, achamos que algo verdadeiro e realista foi aqui escrito e, sinteticamente, explicitado, então a HORA É AGORA. O nosso Kairós depende também de nós!

Piquiá, 12 de Outubro, 2025


sábado, 11 de outubro de 2025

FESTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA - MENOS DEVOÇÃO, E MAIS COMPROMISSO EM REPRODUZIR AS OPÇÕES DE MARIA DE NAZARÉ!

Há muitas Marias dentre nós que nos revelam o rosto amável de um Deus que não vemos. Que nos ajudam a sentir que o Absoluto está entre nós. Que não é preciso adorá-Lo e louvá-Lo mas que é imprescindível amar, cuidar, proteger os seus filhos e filhas que somos nós! Se Jesus, fruto do amor entre José e Maria, foi aquela pessoa dedicada, generosa, atenta e compassiva que conhecemos é porque, certamente, teve uma educação intensa e específica por parte de seus pais que o prepararam para tal finalidade. É inadiável dentro da nossa igreja dar um novo direcionamento à nossa espiritualidade mariana. Maria não é deusa, não é rainha, e tampouco é uma santa a ser enclausurada num santuário para ser venerada! Maria é para ser seguida e ouvida. É para reproduzirmos e atualizarmos seus gestos, suas escolhas e suas opções de vida. O desafio para nós, hoje, é sabermos ouvir o clamor e a voz dos anjos humanos anunciadores de paz; é denunciar a falta do vinho do amor lá onde sobra ódio; é ter a coragem de percorrer montanhas para servir e proteger; é percorrer os calvários da vida e não abandonar os muitos filhos crucificados. É estarmos presentes nos inúmeros cenáculos carregados de esperança e de Espírito Transformador e compreendermos que a Boa Nova não se anuncia num templo ou numa sacristia, mas em todos os rincões da 'Pátria Amada' e da  humanidade. 

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Comentário ao artigo 'Piquiá da Conquista: um ano depois! Uma reflexão' - Por Mansueto Dal Maso*

O propósito da minha reflexão/contribuição é retomar uma questão metodológica que considero essencial em todas as formas de pensar e agir e que, a meu ver, expõe um equívoco estrutural. Não pretendo, com isso, desmerecer qualquer iniciativa/ação e, muito menos, julgar pessoas e grupos que, com dedicação e afinco, gastam energias e dias em prol de causas que consideram importantes.

Em que consiste esse equívoco? Na “leitura/interpretação” da realidade/história. Não a consideramos/tratamos como processo, movimento, algo em constante devir e sim como uma sequência de dados, fatos, momentos, acontecimentos que, supostamente, teriam seu próprio sentido. Mas, ao mesmo tempo, chegamos a reconhecer/afirmar que “tudo está interligado”. Na “interligação”, um fato do presente contém em si o passado e, ao mesmo tempo, todos os possíveis desdobramentos futuros. Assim não é possível dizer “fiz o que devia fazer e agora posso descansar em paz!”. Quem garantirá/reproduzirá as conquistas e as condições indispensáveis para a sua reprodução no futuro? Um exemplo pode explicitar o que se pretende dizer. Uma sequência articulada de ideias, teorias, ações e lutas, entre uma infinidade de conflitos gerados e travados contra forças antagônicas, produziu aquela que chamamos de ‘sociedade democrática’. Alcançado este estágio, seria possível descansar em paz? Tudo indica que não, pois há forças poderosas em ação que visam minar a ‘democracia’ a apontam para outra forma de sociabilidade. Como, então, se organizar e agir tendo em vista não apenas manter e sim também reproduzir a ‘ordem democrática’, mesmo que esta assuma, ao longo do movimento da história, novas feições?  Quem nos garante que não seremos derrotados pelas forças antagônicas? Não basta desejar uma ‘coisa boa’, é necessário recriar constantemente as condições de sua existência. Onde pretendo chegar com isso? Ao que nos interessa diretamente, pois faz parte do acervo de nossas crenças e práticas. Não basta conquistar a terra. As condições de sua conquista devem ser permanentemente recriadas. O latifúndio sempre está à espreita. Não basta desencadear ações que tenham em vista assentar os deserdados. Estes, uma vez assentados, poderão ser novamente expropriados pelo mesmo sistema que os assentou.

Acredito que as considerações feitas em relação ao Pequiá da Conquista se encaixam nesta dinâmica da história. Ao pensar o assentamento, é necessário trabalhar as condições de sua reprodução/sustentabilidade. Caso contrário assistiremos a um progressivo processo de desagregação social que acabará recolocando na estrada quem tinha ganho uma moradia. Claramente estes desafios não são exclusivamente nossos. Movimentos, organizações, sindicados, grupos, etc. ... todos navegamos na mesma ambiguidade. Por fim, há mais uma pergunta/questionamento: quem dará continuidade às nossas ações se, achando que fizemos o que devia ser feito, abandonamos pessoas/grupos no meio do caminho?

*Mansueto Dal Maso, é missionário comboniano, italiano, doutor em Sociologia, há 46 anos no Brasil

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

PIQUIÁ DA CONQUISTA: UM ANO DEPOIS! UMA REFLEXÃO - Por Claudio Bombieri

Dentro de poucos dias celebrar-se-á o primeiro aniversário da entrega de 312 casas no Piquiá da Conquista, Açailândia. São as moradias destinadas a acolher aquelas famílias que tiveram que se transferir de Piquiá de Baixo, em virtude dos altos níveis de poluição que vinham atormentando e secando muitas vidas humanas. A ‘conquista’ das residências e de um espaço sociogeográfico de qualidade vem a coroar um paciente e competente processo de tomada de consciência, de articulação e de mobilização em diferentes direções e dimensões, e encabeçada por um grupo significativo de populares de Piquiá de Baixo, e dos Missionários Combonianos de Piquiá.
 

Como não existem lutas populares lineares e homogêneas, livres de contradição, muitos pequenos conflitos de toda ordem têm permanecido latentes, - alimentados por sentimentos de confiança, esperança, tenacidade, disposição, misturados com sentimentos de descrença, de desconfiança, de disputas, de ciúme como ocorre em sociedades humanas, - mas jamais eclodidos de forma patente, de modo a ameaçar o todo. Entretanto, não se podia ignorar, desde os primórdios da luta social que, mais cedo ou mais tarde, alguém iria pedir a conta. E isto vem se verificando aos nossos dias. São pessoas e/ou pequenos grupos de famílias que ao não se sentirem contemplados com as novas moradias, por diferentes motivos, - inclusive o fato de não terem se cadastrado, à época, por não terem acreditado que um dia o sonho poderia ser realizado, ou, atualmente, por não aceitarem a remoção a outro local diferente do desejado/esperado - não se conformam com uma ‘exclusão’ que consideram ilegítima e geram um não desprezível desgaste social. 
 

Na atualidade, em que pese a entrega das 312 moradias, não se pode ignorar que permanecem postos no intrincado tabuleiro socioambiental de Piquiá alguns desafios que exigem ser enfrentados com urgência e firmeza, a saber:
a. Tentar mediar e persuadir as cerca de 60 famílias que não foram contempladas por diferentes e justos motivos com uma casa em Piquiá da Conquista a aceitar um local já identificado; sem falar naquelas que apareceram, de última hora, tentando se aproveitar do ‘imbróglio’. Em outras palavras, peitar com rigor quantos vêm tentando ocupar terrenos/lotes para construir ilegalmente suas casas naquele espaço /ambiente social denominado Piquiá da Conquista; 
b. Levantar, identificar e punir pessoas e famílias que ‘venderam, alugaram ou repassaram’ de forma sorrateira e ilegal suas novas moradias a outrem, algo não permitido por óbvios motivos; 
d. Dar um novo destino e sentido ao que sobrou de Piquiá de Baixo, mantendo viva de um lado a memória histórico-afetiva daquele espaço e, do outro, garantir que outras novas famílias não voltem a ocupar aquele espaço. O mesmo deveria acontecer com as empresas próximas, e/ou próprio poder municipal para que não transformem Piquiá de Baixo numa ‘terra arrasada’ e aquele lenço de terra no seu novo ‘quintal’; 
e. Enquanto os olhares permanecem apontados para Piquiá da Conquista, o setor urbano conhecido como Piquiá de Cima, permanece vítima de um dos maiores processos de poluição atmosférica, em que pese a propaganda oficial das empresas siderúrgicas. O pó de ferro, mais fino e mais intenso, que é dispersado pelo ar a partir dos depósitos de minério que se encontram nos pátios, - em virtude da movimentação de carga e descarga a céu aberto, associado à fumaça de numerosos fornos de produção de carvão vegetal, - contribuem para que o desafio de despoluir a região continue sendo árduo e urgente; 
f. Como tentar reforçar e/ou reconstruir a ‘cola social’ que se de um lado fortaleceu alguns setores da comunidade social de Piquiá da Conquista, do outro lado, a aparente vitória social (novas casas) parece não estar atuando como cimento social, na tentativa de impedir abusos e pequenas arbitrariedades na convivência social. 
Esses são só alguns dos principais desafios socioambientais que nos parecem se sobressair na atualidade em Piquiá da Conquista.  
 

Muito se escreveu a respeito de tudo isso, inclusive sobre os impactos da siderurgia na região, os caminhos tortuosos e lerdos da Justiça, as mediações e pressões para encontrar um terreno adequado para o reassentamento, as interferências dos poderes municipais, sobre as idas e vindas nas várias instâncias de representantes das famílias e de seus mediadores no intuito de acelerar e garantir a realização do sonho de um chão e de um projeto urbanístico aptos a acolher as famílias de Piquiá de Baixo, e com garantias de uma qualidade de vida/ar de nível razoável. Caberia, nesse momento, contudo, uma avaliação ampla e desarmada que venha a oferecer mais elementos de suporte para compreender o papel e a intervenção/participação de cada ator nessa épica luta social, histórica, que ficou conhecida internacionalmente. Concretamente, analisar o papel primordial dos próprios ‘sujeitos e vítimas históricas’ de Piquiá de Baixo, das famílias, em geral, seus representantes/líderes, dos mediadores, da justiça, e das demais instâncias que se articularam e intervieram ao longo dessa caminhada e identificar aqueles elementos estruturantes que ajudaram a consolidar metodologias e produziram ‘frutos sociais’ concretos. E, não último, uma profunda reflexão interna, específica, dentro do próprio grupo Comboniano (incluo aqui os leigos também), inclusive para ponderar o seu atual papel histórico-missionário, e a própria ‘conveniência’ de permanecer na região, ou pensar na hipótese de ‘emancipar’ essa região, e, talvez, buscar responder a desafios ainda não suficientemente identificados e enfrentados em outros espaços.
 

Entendo que, nesse momento, embora pouquíssimas pessoas dentro do grupo comboniano tenham condições para proceder a uma reflexão dessa envergadura, - inclusive, algumas delas já não atuam mais na região ou estão próximas de sair da Província, - torna-se sempre mais urgente e necessária uma análise em profundidade, em virtude do momento crucial que está a se vivenciar em Piquiá e na nossa Província. Cabe se perguntar com muita franqueza: será que diante da progressiva ausência de envio de missionários que se dediquem quase que exclusivamente a mergulhar nos desafios dessa realidade socioambiental, a inegável constatação de que não existe, no momento, a perspectiva de ‘revitalizar/relançar’ a nossa presença em Piquiá, associada às emergências e às exigências da administração paroquial/pastoral, não tornam essa conjuntura comboniana regional bastante problemática e desafiadora a ponto de exigir uma resposta coletiva minimamente consensual? Será que permanecer em Piquiá para administrar a paróquia, inclusive considerado o atual contexto pastoral diocesano, não seria uma forma de nos iludir de que estaríamos na vanguarda missionária e em plena sintonia com os grandes princípios e metodologias da ‘ecologia integral’? Ou, não seria, por acaso, uma espécie de autoenganação e uma certa falta de respeito com quantos ainda esperam de nós aquele compromisso socioambiental competente e integral que não temos e nem podemos oferecer? A todos nós cabe a árdua sentença!


quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Rubi, mulher trans indígena é encontrada morta na MA 006, em Arame; polícia civil investiga o caso

A Polícia Civil do Maranhão (PC-MA) investiga o assassinato de Rubi, uma mulher trans indígena que foi encontrada morta nesta segunda-feira (29), em Arame, cidade a 476 km de São Luís. De acordo com as investigações, o crime aconteceu às margens da MA-006. A vítima que morava na comunidade indígena Capim Queimado, T.I. Arariboia, foi encontrada com lesões pelo corpo que foram provocadas por uma arma branca. Até o momento, nenhuma pessoa suspeita de envolvimento no caso foi localizada. Em nota, a polícia informou que o caso está sendo tratado como homicídio e deve ser investigado pela Delegacia de Arame.
 

Veja, abaixo, a nota da Polícia Civil sobre o caso
 "A Polícia Civil do Maranhão (PC-MA), através da Delegacia de Polícia de Arame, informa que investiga um caso de homicídio registrado nesta segunda-feira (29). A vítima, Arlan Francisco Rodrigues Guajajara, conhecida como “Rubi”, apresentava lesões provocadas por arma branca. Equipes da Polícia Civil e Militar realizam diligências com o objetivo de coletar indícios que subsidiem o trabalho investigativo, para esclarecer as circunstâncias do crime e identificar sua autoria. A PC-MA ressalta que novas informações serão repassadas à medida que o andamento das investigações permitir."
 

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'Rubi' como era conhecida nas aldeias nunca representou uma meaça para ninguém. Caminhava solitária na estrada, a MA006 de uma aldeia para outra. O crime hediondo provocou forte comoção e revolta. Espera-se que os responsáveis seja identificados e rigorosamente punidos. 

Polícia Federal prende nove suspeitos por tráfico de drogas na Terra Indígena Bacurizinho no Maranhão

A Polícia Federal prendeu nove pessoas, nesta terça-feira (30), durante a Operação Guardiões, em Grajaú, no Maranhão. Cinco mandados de prisão foram cumpridos e outras quatro pessoas foram detidas em flagrante por tráfico de drogas, associação para o tráfico, posse irregular de arma de fogo e produção de entorpecentes. Segundo a PF, os presos estavam em posse de mais de sete quilos de maconha, além de armas e materiais usados no cultivo da droga. Eles foram levados para a Unidade Prisional de Grajaú, onde permanecem à disposição da Justiça. A investigação aponta que a quadrilha, formada por pernambucanos, atuava no plantio ilegal de maconha em escala comercial dentro da Terra Indígena Bacurizinho. O grupo era especializado no cultivo de Cannabis sativa e promovia recrutamentos periódicos de trabalhadores de Pernambuco para atuar nas plantações. A Operação Guardiões integra a Operação Carcará – fase VIII, que tem como foco o combate ao plantio de maconha em áreas de difícil acesso no Maranhão e busca desarticular organizações criminosas que abastecem o tráfico local e regional. (G1)

PF deveria fazer o mesmo em outras terras indígenas.