segunda-feira, 14 de abril de 2008

Semana dos povos indígenas no Brasil: entre preconceitos e racismos

Aparentava quarenta anos, mais ou menos. Um porte que chamava a atenção. Com passos ritmados e gestos polidos se aproxima ao balcão da loja de Artesanato Indígena, no centro histórico de São Luis, Maranhão. Era uma professora de história do Rio de Janeiro, a passeio. Com voz calma e suave pergunta: “Há muitos índios aqui no Maranhão?” “Há sim, - responde a moça da loja - são oito etnias e mais de 22.000 indígenas!” Retrucou a professora: ”Você acha que haveria possibilidade de visitar algumas aldeias ou há perigo de ser atacada por eles?” A funcionária, visivelmente surpresa por tal pergunta, responde que não, que eles são de paz. Parece uma história absurda, mas não é. Na era da comunicação, da informação rápida, imparcial e total, e da educação escolar formal, permanecem inalteradas muitas das visões e idéias coletivas que herdamos de um passado não tão remoto. A palavra “índio” continua despertando no imaginário e no comportamento social “nacional” emoções, atitudes e fantasias contraditórias. De um passado “sem história e irreal” continua-se a reproduzir não somente as imagens estereotipadas e horripilantes de “seres primitivos” violentos, traiçoeiros, guerreiros, atrasados e preguiçosos, mas preconceitos sociais e culturais inaceitáveis. As visões distorcidas da realidade indígena no País aceitas sem postura crítica continuam produzindo o veneno da intolerância e do racismo. De igual maneira, porém, a partir de um passado idealizado, romântico e igualmente irreal segundo o qual os indígenas seriam “seres altivos, livres, bons selvagens, inocentes e puros, perfeitamente sintonizados com o seu habitat” continua-se a alimentar relações de dominação, subserviência e paternalismo. Segundo essa postura, ainda muito difundida na nossa sociedade, os indígenas precisariam de proteção e tutela especial, pois eles seriam incapazes de decidirem e agirem de forma autônoma. Seja uma que outra visão denota a nossa ignorância e, principalmente, a nossa má fé.
Hoje em dia, não podemos negar que possuímos informações, dados, oportunidades para nos aproximar dessas sociedades/povos culturalmente diferentes com atitudes novas. Sem idealizar, nem demonizar. Encarar o seu jeito de ser como algo que faz parte da pluralidade das expressões da própria existência humana. Algo positivo e enriquecedor. A persistência de inúmeras formas de intolerância social manifesta a nossa falta de vontade de construir, produzir e transformar com os outros. Os “outros” continuam sendo os nossos inimigos, rivais, concorrentes, os que podem derrubar projetos e interesses pessoais ou de grupo. As numerosas expressões anti-indígenas ainda muito arraigadas no nosso cotidiano manifestam um projeto humano incompleto. Somos sistematicamente flagrados na nossa pobreza e carência de sentimentos, emoções, de humanidade. Somos ainda muitos resistentes a lançar pontes para nos aproximar dos outros com respeito e admiração. O medo de sermos absorvidos e sugados pelos outros, o medo de ter que renunciar a algum privilégio para ver o outro crescer nos paralisa. Que a semana dos “povos indígenas no Brasil” nos ajude a sermos humanos com os HUMANOS!

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