sábado, 21 de junho de 2008

Evangelho de domingo: a pedagogia do conflito em Jesus

A prática educativa que ao longo dos anos foi adotada nas culturas ocidentais de matriz cristã sempre tem sido a da negação e do não enfrentamento do conflito. Diante do conflito, seja ele o que for, era preciso se afastar e evitá-lo. O conflito tem sido visto como algo que ameaçava a paz, a serenidade, o equilíbrio entre os seres humanos. A religião, a escola, a família nuclear, as práticas comerciais, as relações humanas deviam pautar-se na aceitação, consciente ou não, da Ordem Estabelecida que por sua natureza não reconhece e não admite des-ordem e dissensão. Essa suposta ordem, herdada como algo divino, revelado e absoluto, não devia ser questionada. Era emanação da vontade divina que está acima das vontades e dos desejos humanos. As pessoas chamadas a justificar a Ordem Estabelecida e a salvaguardá-la deviam ser respeitadas e jamais criticadas, pois eram o longo braço da vontade de Deus. Dessa forma, a obediência submissa e obsequiosa, a-crítica e ingênua, tem se tornado, ao longo da história, uma das maiores virtudes....

O trecho do evangelho de Mateus desse domingo manifesta qual era a prática educativa de Jesus para com seus seguidores: não temer quem quer impor a Ordem e que persegue quem não a reconhece. Ou seja, não temer quem se apresenta como defensor e único intérprete da verdade/ordem estabelecida. Enfrentar, questionar, rebater, desmascarar....sempre! Custe o que custar! Não temer de revelar e desvendar o que é urdido nos bastidores, no calar da noite para fazer aceitar a Ordem. Não temer se essa ousadia e petulância provocar divergências intra-familiares, intra-eclesiais, sociais, separando marido da esposa e pais dos filhos. Afinal, é preferível isso a permitir cooptar a alma/consciência em nome de uma suposta defesa da paz e da harmonia natural... Jesus adotou propositalmente a pedagogia do conflito como forma de exigir das pessoas a assunção de posições/posturas inequívocas, claras e coerentes. Adotou a pedagogia da espada. A espada, ou seja, a palavra afiada que penetra até o miolo da alma. Separa-a e divide-a. Questiona-a e re-motiva-a.(Mt.10,34) Não havia em Jesus a preocupação de preservar nem o prestígio pessoal, nem a imagem pública e sequer a sua integridade física. Em tempos de "faz-de-conta", de cuidados para não se "expor e se queimar", de "falsa sensatez e equilíbrio para não comprometer cargos e carreiras" o modo de proceder e educar de Jesus revela-se extremamente "fora de lugar". Nada moderno, e por isso mesmo, único e original! Algo a ser reproduzido, sob pena de viver permanentemente cooptado pela Ordem e seus caudatários!

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