terça-feira, 17 de junho de 2008

"Pareciam como ovelhas sem ...pastor"

Aqui estou eu, após um período de sumiço da capital. Andava pelas bandas de Barra do Corda, nas aldeias do povo Guajajara. Como de costume, de alguns anos para cá, promovendo com a minha Associação (Carlo Ubbiali) cursos de formação e capacitação para professores indígenas e não indígenas que lecionam nas aldeias. Deu para perceber a vontade-anseio de numerosos professores em querer se aprimorarem nos processos de ensino-aprendizagem segundo um estilo próprio. Um jeito que permita de um lado avançar nos conhecimentos mais variados, inter-culturais, e do outro, em manter vivo o bilingüismo (tentehar-português), falado e escrito. É o eterno desafio da política educacional escolar indígena, uma política pública tão menosprezada pelo atual governo do Maranhão... O curso se deu na aldeia Colônia que dista a 46 km de Barra do Corda. Mais de 750 moradores vivem na aldeia. Segundo os padrões culturais dos Guajajara, uma quantidade inédita de pessoas vivendo numa única aldeia. O curso reuniu professores de outras aldeias próximas. Ao todo mais de 35 pessoas. Imaginava que com uma população tão significativa houvesse pelo menos um prédio escolar com 4-5 salas, mas para minha decepção, o Estado ainda não havia marcado presença. As três construções em que se davam as aulas para mais de 200 crianças eram de taipa e construídas em mutirão pelos próprios indígenas. A licitação para a construção de uma escola de duas (02) salas havia sido anunciada no Diário Oficial da União em setembro de 2007. Nada ocorreu até hoje. Nenhuma explicação ou informação. Nas demais aldeias que haviam enviado professores só uma possuía uma escola em alvenaria, mas não construída pelo Estado. Coincidentemente, nos dias do curso recebemos a visita de uma funcionária da procuradoria da República de São Luis com a missão de averiguar in loco as condições do atendimento à saúde naquelas aldeias. Estarrecedor: quase todos os indígenas da região bebiam a água do rio, com falta de medicamentos, de ambulância, com agentes indígenas de saúde que nunca foram treinados.... O PAC indígena e quilombola (Programa de Aceleração do Crescimento) conta com cerca de 200 milhões de reais, mas até agora quase nada foi utilizado. A presença histórica dos Guajajara em Barra do Corda não serviu até agora para alertar os poderes públicos de que eles “existem”, que são cidadãos do Brasil, que “têm direitos e deveres” e que o “governo DEVE ser para todos”, inclusive para os indígenas do Brasil.

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