sábado, 25 de julho de 2009

'MULTIPLICAR...O MILAGRE DO PÃO E SE FARTAR DE PÃO' (Jo.6, 1-15)

24 anos atrás era barbaramente assassinado em Cacoal, Rondônia, o missionário comboniano Ezequiel Ramin. Foi vítima de uma emboscada planejada por jagunços a mando de latifundiários da região, com a cumplicidade do então presidente do sindicato dos trabalhadores rurais que se dirigia com o padre para uma missão de mediação de conflito. A ambição, o poder sedutor e corruptor do dinheiro ceifou uma vida que estava se doando para tornar mais humana a vida de outras pessoas!

Ezequiel, por ser padre, está sendo permanentemente lembrado no livro dos mártires, mas quantos outros homens e mulheres dessa terra, - anônimos para a maioria, mas não para os seus familiares e companheiros/as - foram sacrificados no altar do latifúndio? No dia 25 de julho celebramos o dia nacional do lavrador, aquele que produz alimentos para si e para a nação. Aquele que não tem latifúndios e, muitas vezes, nem terra própria. Que não exporta e nem importa. Aquele que não tem incentivos fiscais e nem empréstimos camaradas... Que não viu até agora a realização do sonho da reforma agrária, mas é o responsável pelos 70% dos alimentos consumidos na nação Brasil. De alguma forma, o evangelho de João desse domingo se torna mais claro e compreensível se olharmos para essa realidade: a realidade da produção e distribuição de alimentos, tal como ocorre hoje na nossa sociedade!

1. Jesus sabe que a prática comum é comprar e vender, e provoca os seus discípulos: ‘onde iremos COMPRAR alimentos para essa gente?’ A resposta vem de forma coerente com a mentalidade de mercado: ‘200 DENÁRIOS de pão são insuficientes....’
Duas constatações iniciais aparecem de forma clara: a primeira é que Jesus observa que as pessoas, inclusive os seus discípulos, são vítimas e reprodutoras de um sistema econômico alicerçado no dinheiro, na transação mercantil. Segundo isso, quem tem dinheiro compra, e quem não tem não compra, e passa necessidade. Ao mesmo tempo, nesse sistema, não há espaço para a troca, a reciprocidade, pois tudo é comprado ou vendido. A segunda constatação é que Jesus não está fazendo uma crítica explícita ao mercado em si, mas ele vem circunscrevendo e construindo a sua crítica à utilização do dinheiro/mercado no que tange à questão do acesso/apropriação dos alimentos, e à sua conseqüente distribuição.

2. ‘Um rapaz tem aqui 5 pães de cevada e 2 peixes, mas o que é isso para tanta gente?’ João através desses números (5 +2 = 7) já nos dá uma pista para entender o que Jesus vai fazer. Ou seja, no meio da multidão há alimentos suficientes (7=totalidade) para matar a fome de todos, só que estão concentrados e não distribuídos de forma equânime. É como se houvesse um desencontro sistêmico entre os bens que já existem, que já foram produzidos – e, portanto, que não necessitam ser comprados, – e os que precisam deles (bens) para viver, os seus possíveis beneficiados.
Trata-se, portanto, de facilitar/permitir o encontro entre os bens e os que precisam deles. Trata-se de superar e eliminar a relação mercantil de comprar e vender segundo a qual necessitar-se-ia de dinheiro. Este não resolveria a necessidade/carência, pois a maioria não o tem! É preciso, portanto, proceder para uma justa distribuição dos bens e, principalmente, motivar ‘o rapaz’ que tem os pães e os peixes, para que os coloque a serviço da maioria que está com fome e que não tem nem pão/peixe, e nem dinheiro para....comprar!
Em outras palavras: comida não se vende e nem se compra. Por ser um bem necessário para a manutenção da vida não pode passar pela lógica do mercado. Para Jesus não pode haver especulação com os alimentos: eles devem ser simplesmente distribuídos de forma equânime. Nada mais!
3. ‘Mandai sentar os homens (5.000=número incalculável)...depois tomou os pães e os peixes, deu graças, repartiu-os pelos discípulos e os discípulos pelos que estavam assentados....’ Jesus age como um verdadeiro pedagogo, e não somente como um organizador eficiente. Jesus sabe que a organização é importante para evitar injustiças (alimentar mais um que outro... ou se esquecer de um que tem mais precisão do que outro!), mas mais importante é fazer com que todas as pessoas (5.000=número sem limites!) compreendam e incorporem a NOVA LÓGICA mediante uma prática coerente! Por isso que Jesus faz questão que tudo passe 'pelos discípulos' para que eles possam se apropriar da nova prática de Jesus.
As pessoas, afinal, ao serem beneficiadas com os pães e os peixes deverão por sua vez ‘beneficiar’ outros, distribuir para outros os alimentos necessários e, sobretudo, reproduzir e MULTIPLICAR a lógica e a prática inédita de Jesus.
Nesta lógica não há espaço para aqueles que transformam milho, soja, grãos e alimentos em geral para produzir combustível para ‘falsos bens’ que não são necessários para a manutenção da vida. Ao contrário, provocam o encarecimento dos alimentos de forma a perpetuar o ‘desencontro’ entre os bens essenciais e as pessoas que precisam deles para viver!

Para quem assume a lógica de Jesus haverá sempre ‘12 cestos sobrando’, ou seja, haverá fartura total! A todos/as que produzem e distribuem alimentos, a todos/as aqueles que multiplicam ‘o milagre de pão e permitem se fartar de pão’ a nossa homenagem e a nossa gratidão!
VIVA O DIA DO LAVRADOR!

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