Soa certamente fora de moda falar em “reis, reinos e realeza” na realidade sociopolítica atual. Também o era para Jesus. Era-lhe tão estranho que sempre quis fugir de qualquer tentativa popular para torná-lo tal. Era-lhe tão paradoxal falar em “reinos” segundo a concepção e a prática corriqueira que Jesus reconhecia como único rei o próprio Deus. A Este lhe atribuía o poder de reinar definitivamente em Israel. Jesus mesmo se tornou pregador incansável da iminência da Realeza de Deus.
Deus mesmo, segundo Jesus, em breve, começaria a ‘governar’ de forma inédita fazendo justiça àqueles que nunca foram reconhecidos pelos ‘reis’ históricos. Para Jesus a idéia de alguém ser rei era tão descabida – por Ele achar que só Deus podia sê-lo – que deslegitimou publicamente, com críticas ferozes, todos esses sistemas de governo. Jesus, de fato, chegou à conclusão que todos os governantes, sejam eles reis, governadores, primeiros ministros, presidentes, ‘vivem dominando as nações oprimindo-as’. Deixou claro que se ‘alguém aspirasse ou lhe fosse conferida alguma função de responsabilidade social que este se tornasse servidor de todos’. Ou seja, que renunciasse a ser rei, governador, presidente...porque esses cargos são por sua natureza dominadores e opressores.
A liturgia, entretanto, nos propõe hoje a festa de Jesus rei do universo. Oferece-nos, ademais, o texto de João em que o próprio Jesus, diante de Pilatos, afirma que Ele ‘é rei!’ A aparente contradição, porém, encontra a sua coerente explicação. Jesus, ao assumir para si o título de ‘rei’ – pelo menos segundo a teologia de João – está afirmando que não o César, mas todos ‘os filhos de Deus são reis’. Significa, em outras palavras, que não os dominadores e déspotas (reis) são os que vão governar, e sim os que entraram na lógica do ‘serviço’, os que se tornam ‘últimos’ para servir a todos.
Dessa forma, Jesus não somente desmonta a arrogância dos que acham que detêm poder e prestígio, mas banaliza seus cargos e sistemas políticos arcaicos. Jesus, ao afirmar que Ele ‘é rei’ perante um ‘governador’ quer reconhecer que todos os que entram na lógica da ‘Realeza de Deus’ - que é serviço gratuito e desinteressado, - são ‘reis’, pois sabem se colocar a serviço de seus ‘súditos’. Para isso não precisa ter coroa, palácio, castelo, consagração formal, trono, segurança pessoal, salários e mordomias, e uma corte de subservientes e bajuladores!
Um bom domingo a todos!
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