Foram suficientes poucas horas de permanência em 5 aldeias Guajajara da Terra Bacurizinho (Grajaú) para ficar estarrecido com a situação de abandono e descaso em que vivem aqueles indígenas.
Um tempo mais que razoável para perceber, ao mesmo tempo, como os eventuais “investimentos” em infraestruturas realizados pela União ou por outras instituições públicas são executados com o intuito de não funcionar ou de lucrar em cima disso. Tudo isso manifesta, também, por parte dos órgãos públicos má vontade e desconhecimento da realidade local, ou seja, a posse daquelas informações primárias antes de planejar qualquer tipo de ação ou benfeitoria.
Senão, vejamos:
1. Aldeia São José, dos índios Guajajara. Fica a uns 40 Km de Grajaú: a aldeia não existe mais. Os seus moradores se dispersaram há mais de 3 anos por falta de água potável. Hoje existe um poço artesiano devidamente equipado, com gerador, caixa de água, tubulação, etc. A casinha em que se encontra o gerador vive trancada. A água, dessa forma, vive...trancada! A um quilômetro e meio dessa aldeia fantasma existe uma nova aldeia (Pau d´arco) recém criada. Não há água, mas há gente, muita pessoas, e aumentando significativamente. Há muitos plantios de mandioca, possibilidade de verdadeira fartura. Algo que foge da permanente afirmação de que "índio é preguiçoso"! Até hoje, os índios procuram um diálogo com a FUNASA/MA para que ocorra o encontro entre a água e as...pessoas! O sofrimento continua grande!
2. Aldeia Nova, na mesma terra. Fica a mais de 60 Km de Grajaú. Talvez não haja 10 casas ao todo. Existem dois colégios: um recém construído com dinheiro da União (R$ 170.000) e que nunca foi utilizado e não há perspectiva de sê-lo porque há um outro. É este que efetivamente funciona. Está em boas condições e tem capacidade suficiente para acolher os poucos alunos que acolá estão. Ninguém entendeu o porquê de dois colégios “grandes” e subutilizados naquela aldeia!
3. Aldeia Buritirana, alguns quilômetros mais adiante dessa última aldeia. Mais um colégio recém terminado com dinheiro federal, segundo a mesma estrutura arquitetônica do anterior (veja foto - planta padronizada, supostamente coerente com a arquitetura indígena....!). O mesmo valor que o anterior (R$170.000). Não está sendo utilizado, pois há um real perigo que caia na cabeça das pessoas. A madeira do enorme telhado cedeu, envergou em várias partes e a estrutura está seriamente prejudicada. Os responsáveis foram alertados, foi elaborado relatório técnico, etc. mas nada foi feito até agora! As aulas se dão debaixo de mangueiras ou os alunos indígenas atravessam o Igarapé Enjeitado para freqüentar a escola municipal dos não indígenas, em Matos Além. Aqui há energia e merenda escolar!
Nessas últimas duas aldeias não há água potável. A água utilizada é a do Igarapé Enjeitado que está definhando! Não há casas de farinha equipadas para quebrar mandioca e produzir alimentos para matar a fome. Em Buritirana e na aldeia Papagaio e outras aldeias menores a mandioca é ralada num pedaço de lata velha furada com pregos. Não são as únicas aldeias nessas condições. Infelizmente, essas carências parecem normais por aqui. Ninguém mais se indigna, pois sempre foi assim!
Nenhum comentário:
Postar um comentário