domingo, 29 de agosto de 2010

Jesus denuncia a autoafirmação e ataca o dogma da reciprocidade. (Lc.14,1-7-14)

A arrogância e o desejo de emergir e de ser reconhecido publicamente se escondem dentro de cada pessoa. Nem sempre se consegue dominar e controlar o que parece ser uma pulsão inata: o desejo de afirmação pessoal. A parábola narrada por Jesus no evangelho de hoje tem como interlocutores e ouvintes um setor bem específico da sociedade de Israel: os fariseus, ou seja, ‘os separados’, como eles se autodenominavam. Separados daqueles que eles desprezavam, mas unidos e cúmplices entre si. A partir da observação atenta de seus pequenos gestos de auto-afirmação durante um banquete - que a primeira vista poderiam parecer inócuos, - escancara as ambições mais profundas que residem no coração humano: ser os primeiros, ocupar os lugares mais prestigiosos.

Jesus, na realidade, não está exaltando simplesmente a virtude da humildade ao convidar as pessoas a ocuparem sempre os últimos lugares. Jesus percebe que essa procura sistemática de se afirmar, revela e expõe publicamente o pecado social de determinados setores da sociedade de Israel. Eles, não só se sentiam superiores aos demais como mantinham a separação e a exclusão social. Para Jesus, todavia, no banquete/casamento que simboliza comunhão fraterna e aliança com todas as pessoas, não poderia existir jamais divisão/separação e classificação hierárquica. Nem tampouco ‘eleição divina’, como Israel arrogantemente atribuia a si próprio (povo eleito!)

Jesus aproveita a oportunidade para ir mais longe no seu desmascaramento da hipocrisia e da arrogância farisaica. Aproveita para ‘justificar’ a sua missão evangelizadora junto aos mais pobres atacando frontalmente o princípio da reciprocidade dos fariseus.O que era um dogma intocável para os judeus devotos, nos gestos e nas palavras de Jesus a reciprocidade se torna algo paradoxal e inaceitável. Os seguidores de Jesus são chamados a convidar não somente aqueles dos quais se espera igual tratamento e atenção, mas convidar para ‘o banquete’ aquelas pessoas que se sabe, de antemão, que não poderão fazer o mesmo. Os pobres, os impuros e excluídos que nunca são convidados aos banquetes da vida. Os que não têm visibilidade social são, na realidade, aqueles que deveriam ocupar os primeiros lugares na mesa do pão e da dignidade.

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