sábado, 23 de abril de 2011

PÁSCOA - AINDA VIVO....NELES E NELAS!

Quando morre uma pessoa querida que amamos e estimamos profundamente experimentamos dentro de nós fortes emoções. Dor, choro inconsolável, sensação de abandono, angústia, depressão. É uma reação normal do nosso organismo na sua dimensão psicofísica. A visita ao lugar onde a pessoa amada está enterrada é quase diária. Parece ser uma extrema tentativa de chamá-la de volta para vida. Ou de dar continuidade ao afeto que sentíamos por ela antes do distanciamento definitivo. Num segundo momento, com o passar do tempo, a dor e a tristeza interior se amenizam um pouco. Emerge uma sutil e suave nostalgia da pessoa querida. Recuperamos fotos, lembramos acontecimentos, fazemos memória das suas palavras e dos seus gestos. Devagar, entra uma certa conformação com a sua ausência física. Recuperamos uma certa serenidade. Às vezes, podemos até nos sentir culpados por não sentirmos a mesma dor intensa que experimentávamos após a sua morte. Temos a impressão de sermos injustos com o falecido por não chorarmos como antigamente o seu afastamento de nós. Entretanto, a ligação com ele continua forte, mas mais serena. Uma mistura de saudade e paz contida.



Esta é, em geral, a reação, e a relação mais comum que as pessoas mantêm com as pessoas queridas que nos abandonaram fisicamente. Há, porém, uma terceira fase, pouco comum, mas infinitamente mais criativa e produtiva. É quando os que ficaram começam a perceber que podem manter viva a pessoa amada mediante uma relação totalmente inédita. Quando reproduzem com fidelidade e criatividade os valores, as opções de vida, os compromissos éticos da pessoa amada. Nesses casos, acontece ressurreição! Para os dois sujeitos da relação. Para quem se foi e para quem ficou. A morte, de fato, carrega consigo o corpo da pessoa amada. Transforma-o num cadáver. Entretanto, a morte não seqüestra o patrimônio humano, espiritual e moral de quem se foi. Desde que os que ficam se sintam herdeiros ativos da riqueza humana que a pessoa amada deixou.



Esta foi a experiência de Jesus. Ou melhor, dos seus discípulos e discípulas. Após um primeiro momento de decepção e desespero, os seguidores de Jesus se dispersaram. Regressaram aos seus lugares originários. A ilusão da Realeza de Deus e da libertação de Israel havia se desmanchado. O sonho de uma nova realidade para os pobres havia fragorosamente ruído. Num segundo momento, um grupo de mulheres inconformadas teima em visitar insistentemente o sepulcro de Jesus. Imaginam que podem mantê-Lo ainda próximo de si. Esperam o inesperado. As visitas se tornam sempre mais freqüentes, mas continuam fazendo a experiência da ausência e do vazio interior. Jesus parece ter sumido definitivamente. Não há o que esperar. Mas no lugar dos mortos eis uma revelação! Uma intuição. Lá só havia o cadáver de Jesus. O mestre, compassivo e misericordioso, amigo dos pecadores e dos pobres, não podia estar aí, no lugar dos mortos, dos cadáveres. Ele só podia estar num outro lugar. Não um lugar físico, geográfico, mas um lugar acessível somente àqueles/as que nunca deixam de amar a pessoa amada. Mesmo após a sua morte biológica. Ele poderia ser ‘resgatado’ e continuar vivo no meio deles/as se alguém tivesse a coragem e a ousadia de retomar e se re-apropriar do patrimônio humano e espiritual que Jesus lhes havia deixado. Ainda havia tempo para resgatá-Lo de uma segunda morte: a do esquecimento e do abandono. ‘As mulheres de Jesus’ abandonam definitivamente o cemitério, o lugar dos mortos.



Começam a procurá-Lo na ‘Galiléia das nações’. A Galiléia dos impuros, dos esquecidos, dos desesperançados. A Galiléia onde eles/as haviam conhecido e convivido com o pregador misericordioso. Conseguem convencer Pedro e os demais discípulos/as que Jesus poderia ‘ser visto e sentido’ como o vivente pelas pessoas se todos eles/as reproduzissem os seus mesmos gestos. Se eles/as voltassem a curar os leprosos, levantar os coxos, abrir a vista aos cegos, e anunciar a boa nova aos pobres. Inicia assim um movimento irrefreável que amplia e reproduz as opções e as convicções que eram de Jesus. Com a sua morte os seguidores de Jesus se reencontram consigo mesmos e com um ‘novo Jesus’. Uma experiência de fé luminosa. Jesus não é mais um mestre a ser chorado ou lembrado mediante algumas lembranças carregadas de saudade. É o ‘ressuscitado’ porque devolveu esperança e vida a discípulos/as decepcionados e desanimados. Jesus é o ‘ressuscitado’ porque ‘os seus’ seguidores, afinal, nunca o haviam deixado morrer!



Feliz vida nova!

Um comentário:

Glacy disse...

A ressurreição em sua mística nos devolve a esperança que se perdeu com a morte e nos dá nova VIDA. Espero que a cada páscoa os olhos da humanidade se abram mais e mais para as nossas realidades e que multipliquemos a cada dia o AMOR que Jesus nos dedicou.