sábado, 7 de maio de 2011

Os 'muitos discípulos/as de Emaus: retornar a Jerusalém para fazer do lugar da morte o lugar da vida nova! (Lc. 24,13-35)



Desilusões e decepções fazem parte da vida. Mas nem sempre conseguimos compreendê-las e aceitá-las. Às vezes, nos sentimos como se tivéssemos sido traídos! Elas nos parecem vinganças e punições da vida por termos acreditado demais. Por termos sonhado de forma exagerada. Por termos idealizado sobremaneira pessoas, princípios, promessas, ideais de vida. Parece até que quanto maior foi o nosso grau de idealização e expectativa na vida, maior foi a decepção quando não plenamente realizada. Embora as decepções sejam pontuais, e tenham uma duração limitada, deixam uma marca indelével no nosso modo de encarar a vida. Fazem surgir dentro de nós sentimentos generalizados de desconfiança. Até os momentos bonitos da vida são vivenciados com suspeita, pois imaginamos que vão durar pouco. Que algo grave vai acontecer para fazer ruir a magia daquele momento. É preciso uma radical conversão de mentalidade para poder enfrentar as contrariedades da vida com mais equilíbrio e serenidade. Isto poderá ocorrer se fatos inesperados, novos, nos quais não havíamos posto fé e confiança, nos surpreenderem positivamente. Se tivermos, ao mesmo tempo, capacidade de fazer memória de fatos positivos que marcaram a nossa história pessoal. Isto poderá nos ajudar e recuperar confiança em nós mesmos e na vida. Recomeçar e olhar o futuro com outros e renovados olhos....


Parece ter sido esta também a experiência dos dois discípulos de Emaus! Os dois haviam alimentado uma enorme e, talvez, irreal expectativa com relação ao futuro de Israel, a partir da ‘passagem’ de Jesus de Nazaré! Jesus havia sinalizado algo novo nas relações humanas, sociais e políticas dos seus contemporâneos. Algo que foi interpretado pelos dois e por muitos outros admiradores como uma possível e positiva ruptura com o passado e o presente de Israel. A morte violenta e humilhante do líder Jesus parece haver trazido todos os sonhos e as idealizações de mudança de muita gente à crua realidade. Sentimentos de decepção, de desnorteamento, de frustração. De dor e, talvez, de raiva por ter ‘se deixado iludir’....Os discípulos precisavam se afastar imediatamente de Jerusalém. Ela só lhes fazia recordar morte e frustração. Era o lugar da crucifixão e da eliminação dos seus sonhos e esperanças. Tornava-se urgente regressar ou, talvez, fugir aos lugares originais, aos afazeres do dia-a-dia, ‘à realidade crua’ que haviam momentaneamente abandonado.


É interessante observar no texto evangélico que na medida em que os dois discípulos se afastam de Jerusalém, mais lucidez adquirem sobre o que lhes aconteceu. Inicialmente de forma confusa, estranha, incompreensível. Na medida em que avançam pelo ‘caminho’, - que já não é estrada, mas processo de recordação e compreensão dos acontecimentos da sua vida – avança também o grau da sua consciência e da sua capacidade de ler o sentido daqueles acontecimentos. Já não é um exercício de mera recordação. É um reviver, um re-sentir, um reproduzir de forma intensa aqueles gestos, palavras, relações de afetos, paz, vontade de transformar que os haviam tocado em sua breve convivência com Jesus de Nazaré. Essa nova e progressiva consciência alcança o seu ápice quando começam a reproduzir o mesmo gesto/experiência de partir e partilhar o pão da fraternidade, do serviço gratuito, da misericórdia ampla que haviam visto e aprendido de Jesus de Nazaré.


Somente nessa hora os dois discípulos compreendem que também Jerusalém podia se transformar de um lugar de morte e de humilhação, em um lugar de vida nova. Não precisavam mais se afastar dela para esquecer o próprio passado. Ou para recomeçar num outro lugar que não recordasse o próprio passado. Ao contrário, precisavam encarar o lugar da morte com outros olhos. Descobrir que no lugar da humilhação podia surgir vida, esperança renovada. E fazer memória das ‘ilusões/expectativas’ de ontem e de hoje que vinham dando sentido à sua vida. Só nesses momentos os dois, ‘os muitos’ discípulos/as de Emaus-Jerusalém e do mundo descobrem que o ‘peregrino’ Jesus sempre havia estado com eles ao longo do seu caminhar.



Homenagem - A todas as mães que caminham ao lado dos seus filhos/as de forma delicada, permanente, amorosa, sem largá-los/as em seus momentos mais difíceis, um grande e terno abraço filial! FELIZ DIA DAS MÃES!

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