sábado, 14 de janeiro de 2012

Chamad@s a ser comunidade 'boa nova'! (Jo.1,35-42)


Muitas vezes fazemos a experiência de nos sentir auto-suficientes. Em tudo. Achamos que conhecemos tudo. Que temos que ter, nós mesmos, a última palavra. Que não precisamos da opinião ou do palpite de alguém. Principalmente se tem a ver com nossos comportamentos, atitudes e opções de vida. Afinal, achamos que somos suficientemente adultos para saber o que queremos da vida. Não aceitamos ‘atentados’ à nossa autonomia. Ao nosso pleno e livre arbítrio. O evangelho hodierno nos oferece uma verdadeira aula de ‘educação à vida’. O pedagogo, claro, mais uma vez, Jesus de Nazaré!
Estamos no contexto do Rio Jordão-deserto. Lá, João atuava como pregador de conversão de massa e profeta ‘batizador de mudanças’. Ele havia reunido um grupo de discípulos que partilhavam a sua visão de Deus e de nação. João, entretanto, percebeu que a irrupção de Jesus no seu ‘território-vida’ vinha produzindo nas pessoas novas expectativas. E novos modos de ver e encarar Deus. Muito diferentes dos seus. Uma pedagogia quase antagônica à sua. Jesus não ameaçava, não pressionava, não amedrontava. Apostava na persuasão, na força das motivações interiores. Aquelas que dão sentido ao existir humano. E o capacitam a enfrentar os monstros de fora e os fantasmas do seu profundo. Jesus acreditava, enfim, no poder da beleza da proposta de adesão aos valores que Deus vinha inspirando nas pessoas. João percebe que havia cumprido a sua missão. Que um ciclo em sua existência estava se encerrando. Que ele não tinha a última palavra da profecia e do testemunho. E se abre à novidade que Jesus mostrava. Mesmo sem compreendê-la plenamente. Sente que não podia nem pregar e nem testemunhar um Deus misericordioso e compassivo ao qual ele próprio não havia se convertido, mas que percebia como sendo o ‘único que fazia sentido’. E a Jesus dirige os seus discípulos. Abre mão do seu prestígio moral e da sua fama. E da sua aparente segurança profética. Renuncia até àqueles que lhe podiam garantir continuidade na sua pregação e nas suas visões de Deus. Nos seus dogmas de ‘limpeza religiosa’!Deixa de ser ‘auto-suficiente’ e não se fecha ao novo que está a desabrochar.
Jesus não recebe os discípulos de João como sua ‘propriedade particular’ pronta para ser integralmente ‘remodelada’ por ele. Pessoas que deviam ser embutidas dos seus novos e pessoais ensinamentos. Ou submetidas a uma espécie de lavagem cerebral como se fossem pessoas desprovidas de qualquer conhecimento, desejo e vontade. Ao contrário. Diante das indagações à procura de sentido dos discípulos, Jesus não dá fórmulas. Não oferece e nem impõe soluções. Ele indica, aponta como havia feito João com eles. Convida-os a ‘eles mesmos’ procurar, ver, conhecer, escolher. Coloca-se a disposição para facilitar e viabilizar uma experiência de ‘convivência’ com ele. Só posteriormente eles mesmos poderiam tomar, em plena liberdade, a sua decisão. A decisão de segui-lo ou de voltar atrás. Jesus age como um ‘mestre que caminha com’ e não como aquele que ‘caminha na frente de’. O próprio Jesus aprende com eles. Chama-os não para instruí-los. Nem simplesmente para ‘somar’ e se juntar a ele em vista de um objetivo pragmático específico, a construção do reino. Mas os chama também para indicar qual deverá ser a metodologia a ser adotada, ou seja, a de ‘estar e conviver’ com ele. Para se abastecer de fraternidade e comunhão interna. Para enfrentar como ‘comunidade paradigmática’ a aventura-missão da construção da nova sociedade. Para indicar que a nova sociedade-reino deve renunciar a toda forma de individualismo. De personalismo. De competição e rivalidade. De procura estúpida de prestígio e reconhecimento social. O mestre, e eterno discípulo do Pai, havia compreendido que só em comunidade o grupo podia ser ‘boa nova’ para as bilhões de ‘ilhas humanas’ pretensiosamente auto-suficientes!

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