segunda-feira, 1 de abril de 2013

A PÁSCOA DE 'ROSE'


Ela tem apenas 4 aninhos. Um amor de pequena. Ontem, dia de Páscoa, a vi pela primeira vez. Foi um amigo que ligou para mim e me perguntou se não queria conhecer ‘Rose’*. Ela estava passando alguns dias com ele e com a sua família. Por alto ele me havia explicado a situação daquele anjinho. Dizia-me ele que Rose repetidamente perguntava-lhe por que sua mãe se drogava, por que fazia isso com ela. Logo ela que a amava tanto.
- ‘Puxa tio, eu amo demais a minha mãe e ela parece que não acredita, porque senão não me deixaria como fez nesses dias...’ repetia Rose ao meu amigo. A mãe de Rose, uma viciada em craque, é realmente um amor de mãe, mas somente quando não bate nela a crise da abstinência. É cuidadosa e carinhosa. Protege com unhas e dentes aquela menina. Alguns dias atrás a mãe de Rose voltou toda suja e fedida Não falava coisa com coisa! Tinha dado um sumiço fugindo de casa, após ter sentido mais uma vez o chamado ‘irresistível’ do seu organismo que exigia mais uma dose. Mergulhara novamente naquele inferno, deixando Rose em casa, atordoada e numa tristeza sem fim.
O meu amigo comentava-me que dificilmente Rose ficará com a mãe dela. A justiça virá e a arrancará dela. Será um drama para mãe e filha. Naquela manhã de Páscoa levei um ovo gigante de chocolate para Rose. Mesmo sem nunca ter-me visto antes me abriu um sorriso luminoso, contagiante.
- ‘Disseram-me que havia uma princesa nesta casa, hoje. Pensei em visitá-la e levar um imenso ovo de chocolate para ela. Por acaso é você?’ - perguntei-lhe.
Abriu mais um sorriso e disse simplesmente ‘Sou’! Rose não é, e não será a única criança que no dia de Páscoa não estava com sua mãe biológica a festejar o ‘triunfo da vida’ sobre a morte. Rose está a intuir precocemente que a palavra morte está rondando o seu universo afetivo, e os seus sonhos. Contudo, no dia de Páscoa, Rose tenha experimentado que uma vida diferente é possível. Alguém, naquele dia, não a havia abandonado. Talvez, na casa do meu amigo, Rose tenha esperado até o fim que se abrisse a porta da casa e alguém muito amado entrasse para lhe dizer que nunca mais a abandonaria. Que nunca mais mergulharia no inferno dos ‘mortos ambulantes’ à procura de drogas. Que, enfim, havia descoberto o sentido da vida e que por amor a Rose seria outra pessoa. Uma pessoa nova. Eu também, como Rose, como o meu amigo e tantos outros, torço e rezo para que isso aconteça!
* Nome fictício

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