quarta-feira, 22 de abril de 2015

‘A Vale é um bicho papão, demolidora da natureza, máquina de acabar com tudo’, diz a líder Gavião Tonkuré

Nessa semana, enquanto na Terra Indígena Mãe Maria os Gavião em cada aldeia estiveram reunidos discutindo como reagir à ofensiva da Vale, que decidiu cortar o repasse que fazia ao povo em razão dos impactos da atividade da mineração, a Eletronorte decidiu uma reunião em Belém para, segundo os indígenas, pressionar as lideranças a autorizarem a construção da Usina Hidrelétrica de Marabá, que vai alagar parte do seu território tradicional. A falta dos recursos essenciais suspensos pela Vale provocou uma reviravolta nas comunidades, ao mesmo tempo apareceu uma solução “para todos os problemas” que seriam os royalties da usina. Confusos, os Gavião se reuniram. Acontece que Payaré foi o grande líder do grupo dos Gavião que foram expulsos de suas terras pela Eletronorte para a construção de Tucuruí. Em 1989, Payaré liderou sue povo para ingressar com uma ação judicial contra a Eletronorte, pedindo indenização e a compra de uma área equivalente à área inundada. Os Gavião da Montanha venceram a ação em 2003, mas até hoje não receberam nem a indenização, nem uma nova área. Nenzinho e Kátia, filhos de Payaré, como dito acima, são comprometidos em defender os ideais de seu pai. O primeiro é uma liderança de destaque na região, enquanto Kátia é a primeira mulher a assumir a chefia de uma aldeia dos Gavião: “meu pai era um lutador e também queria acabar com o machismo do nosso povo, por isso me nomeou”, ela me falou. Os Gavião tiraram fotografias ao lado dos trilhos que cortam a Terra Indígena Mãe Maria com faixas contra a Vale — protesto que motivou uma ação de reintegração de posse. O juiz deu a liminar no sábado 18, determinando que a polícia se dirigisse, neste Dia do Índio, domingo 19 de abril, para expulsar os indígenas das proximidades do trilho. Sobre a Vale, disse Kátia, que se chama, no seu nome, Tonkuré Jonpti Akrikatejê. A Vale deixou conflito. A Vale trouxe o impacto de separação, desunião e desigualdade. É um bicho papão. Um demolidor da natureza, máquina de acabar com tudo. Ela criou expectativa, dando dinheiro e criando dependência. Mas ela nos trata como um animal. É assim que somos vistos. Preferíamos ser o que a gente era. Preferia não ter conhecido Vale. Eu tenho tanta cosa para dizer. Eu quero desabafar.(Fonte: carta Capital)

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