domingo, 25 de fevereiro de 2018

Operação Policial realizada em terra indígenas foi ilegal e arbitrária, dizem os índios Guajajara. Em nome da segurança violaram-se domicílios e direitos!

A polícia e a imprensa se esqueceram de ouvir os índios da terra Indígena Canabrava-Guajajara e, especificamente, os daquelas aldeias da BR que foram vítimas de uma operação policial arbitrária conjunta (polícia civil de Barra do Corda e PRF) no dia 11 de fevereiro passado, com o intuito de prender supostos assaltantes indígenas que atuavam dentro daquele território. Quase ninguém denunciou as arbitrariedades cometidas pelas polícias, violações de domicílio sem mandado judicial, prisões ilegais sem flagrante, agressões físicas e verbais, ferimentos por armas de fogo e, pior, alardeando uma ‘lista suja’ contendo os nomes de supostos assaltantes indígenas, fornecida por um grupo de indígenas de duas aldeias da mesma terra. 
Nos relatos dos indígenas que confirmaram o caráter absurdo e arbitrário fica patente que foi uma operação policial local sem planejamento e sem nenhum acordo com autoridades federais que são as responsáveis pela ordem dentro da terra indígena federal. Em nome de uma segurança na área, - que todos, indistintamente, desejam, desde há muito tempo, - a polícia civil de Barra do Corda, em colaboração com a Polícia Federal Rodoviária e a estranha presença do prefeito de Jenipapo dos Vieiras com cerca de dez viaturas, cheias de policiais fortemente armados e com suporte aéreo, montaram um verdadeiro cenário de guerra. Negligenciaram qualquer tipo de impacto e reação que isso iria produzir nas crianças, idosos e mulheres indígenas, principalmente. Vários índios questionaram a legalidade das ações truculentas de policiais que entravam, indistintamente, em todas as casas das aldeias Cabeça da Onça e Sumaúma, - só para citar duas somente, - agredindo e ameaçando, prendendo e atirando, e sequestrando mercadorias. Segundo o relato dos indígenas de Cabeça da Onça, o delegado de Barra do Corda ao ser diretamente questionado se possuía mandados judiciais ou permissões federais para realizar tais ações respondeu que ‘todos os caciques estavam de acordo com aquilo...’ Nenhum cacique, no entanto, segundo as declarações dos índios, deu permissão à polícia, por exemplo, de violar suas casas, humilhar pessoas e levar mercadoria supostamente roubada a partir de denúncias anônimas, e sem ter havido uma investigação anterior, com testemunhas e flagrantes. Pelo que se sabe há pelo menos 4 indígenas presos em Barra do Corda e alguns feridos. Há menores também. Relatam os indígenas que vários caciques foram pressionados a dizer ou a confirmar os nomes dos supostos assaltantes indígenas, e que houve pais que foram presos, mesmo que liberados após 24 horas, para substituírem os filhos suspeitos, por estes não se acharem na aldeia no momento da operação. Confessam que o clima na região não era bom e que era necessário oferecer garantias de segurança não somente aos que transitam pela BR, mas às próprias famílias indígenas que moram na terra indígena e questionam: ‘Por que a polícia não prendeu os brancos que assaltam dentro da nossa área e não entraram em suas casas’? ‘Por que não investiga e não prende os que fornecem armas para assaltar e compraram as mercadorias roubadas? A polícia acha, por acaso, que são os índios que compram a mercadoria roubada?’ ‘Os poderosos brancos continuam atuando livremente, ao passo que os peixes pequenos indígenas são detidos, e muitos que não são cúmplices ou não são envolvidos, são prejudicados por ter o seu nome contemplado numa lista que poderia ter sido redigida por pessoas desejosas de se vingar de alguém...’ ‘Alguém tem que explicar o que fazia o prefeito de Jenipapo dos Vieiras junto com a polícia...’
Nesse momento que a poeira vem baixando progressivamente, e os índios tentando se refazer do medo e dos tiroteios do dia 11 de fevereiro, vários indígenas propõem uma audiência pública com a presença de vários órgãos federais e estaduais tendo como objetivos avaliar a legalidade e os impactos da operação policial na terra indígenas; obter informações sobre os atuais indígenas detidos e saber se vão ter assistência jurídica; pensar ações na educação, produção, lazer para a juventude indígena da região; pensar mecanismos viáveis para dar garantias de segurança a todos. Os indígenas esperam que a Defensoria Pública da União possa assumir a coordenação de tal evento.

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