domingo, 10 de dezembro de 2023

O Papa Francisco desafiou os teólogos. Mas somos ousados o suficiente para responder? Artigo de Agbonkhianmeghe Emmanuel Orobator

.....Uma característica interessante de uma teologia culturalmente contextualizada é o seu caráter dialógico e relacional em múltiplos níveis. Como e onde fazemos teologia não está desvinculado das comunidades e contextos deste exercício. A nossa escrita, estudos e ensino devem possuir um desejo profundo de trazer alguma coerência ao caos e às crises que prevalecem no nosso mundo hoje, como a migração, a intolerância, a desigualdade, a pobreza, a violência, as guerras e as alterações climáticas. Este não é um ensinamento novo. A metodologia da teologia da libertação é um testemunho vivo da tarefa da teologia como reflexão e práxis que coloca as proposições do Evangelho em diálogo com o presente, envolvendo e criticando culturas, contextos e tradições que não conseguem defender a dignidade das pessoas e promover o seu florescimento como imago Dei. Vista sob esta luz, a teologia não é uma disciplina isolada e egocêntrica. O envolvimento teológico ultrapassa fronteiras disciplinares e desmorona silos para criar uma esfera ilimitada. Neste espaço, a teologia ocupa o seu lugar, não como “rainha das ciências” medieval, mas como parceira numa teia de relações disciplinares, comunidades e redes, animada por um objetivo singular de transformar “as condições em que homens e mulheres vivem diariamente, em diferentes ambientes geográficos, sociais e culturais” (Ad Theologiam Provendam, n. 4). Francisco batiza esta abordagem como “transdisciplinaridade” (n. 5), sugerindo que o empreendimento teológico é semelhante a um desporto de equipe onde as qualidades essenciais de cooperação, colaboração e compromisso são complementadas por disposições sinodais de encontro, escuta, diálogo e discernimento.

.......A meu ver, estas características são definidoras de uma teologia cujo logos não submerge o seu theos, mas extrai sabedoria da intersecção de ambos. Outra forma de colocar a questão é esta: a forma como faço teologia é uma função do meu enraizamento na vida no Espírito, bem como nas culturas, cosmovisões e tradições religiosas das pessoas e comunidades que os meus estudos deveriam servir. Fazer teologia de maneira semelhante exige autenticidade e audácia, criatividade e caridade. Aqui, a carta de Francisco me lembra a constituição apostólica, Veritatis Gaudium (sobre universidades e faculdades eclesiásticas), que descreve a educação teológica como “uma espécie de laboratório cultural providencial” (n. 3). Eu me pergunto: se as escolas e faculdades de teologia se imaginassem como um “laboratório cultural”, como seria o seu corpo docente? Qual seria o perfil de seus alunos? Um laboratório é um espaço de experimentação e inovação. Imagino que o resultado será uma teologia que Francisco acredita tocar “os corações de todos” (Ad Theologiam Provendam, n. 6). Francisco lançou o desafio aos teólogos e às suas instituições para discernirem a validade, a relevância e a utilidade da nossa missão na profunda “mudança de época” que caracteriza os nossos tempos. No mundo atual, rapidamente globalizado e tecnologicamente sofisticado, as questões que temos de enfrentar no nosso discurso teológico não foram suficientemente previstas nem esgotadas por fontes e metodologias familiares, experimentadas e usadas. O desafio de Francisco oferece novas oportunidades para a reimaginação teológica, criatividade e inovação. Quem se atreve a aceitar o desafio? (IHU)

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