quinta-feira, 18 de abril de 2024

MP recorre de decisão que negou prisão a pecuarista que fez desmate químico no Pantanal

 O Ministério Público de Mato Grosso recorreu da decisão, proferida em 18 de março, que negou o pedido de prisão do pecuarista Claudecy Oliveira Lemes. Ele é investigado por gastar mais de R$ 25 milhões num desmatamento químico em áreas que somam 81 mil hectares – equivalente à cidade de Campinas (SP) – no Pantanal mato-grossense. De acordo com o MP, foi o maior dano ambiental já registrado no estado, destaca o g1.

O absurdo crime ambiental foi noticiado no domingo (14/4) pelo Fantástico, que sobrevoou as áreas destruídas. Lemes possuía 11 propriedades no Pantanal, e a investigação começou em 2022, quando houve uma denúncia de que uma propriedade rural em Barão de Melgaço (a 109 km de Cuiabá), estava utilizando agrotóxicos na região para realizar desmate químico, informa a Revista Cenarium. Segundo os investigadores, a intenção de Lemes era aniquilar a vegetação mais alta. Isso provocou imensas manchas cinzas na paisagem, formada de árvores que perderam todas as folhas – resultado de um processo chamado “desfolhamento químico”, obtido quando se faz uma pulverização criminosa ao lançar de avião toneladas de agrotóxicos sobre a mata preservada.

O crime, porém, não se restringiu à vegetação. “Quando ele joga diretamente do avião, além de matar essas árvores, influencia também diretamente na fauna, principalmente na água”, explicou Jean Carlos Ferreira, fiscal da Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso que inspecionou a área. Para conseguir transformar a área em pastagem para gado, o pecuarista investiu tempo e muito dinheiro. Lemes fez a aplicação de agrotóxicos ao longo de três anos, entre 2020 e 2023, e as notas fiscais apreendidas pela investigação revelam que ele gastou R$ 25 milhões somente com a compra dos herbicidas.

Segundo a secretaria, o fazendeiro usou 25 agrotóxicos diferentes. Um deles tem a substância 2,4-D, que, segundo o professor Wanderlei Pignati, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), é a mesma presente na composição do chamado agente laranja, conhecido por seus efeitos ambientais devastadores e usado na Guerra do Vietnã pelos Estados Unidos. Desde 2019, Claudecy Lemes tem 15 autuações por danos ambientais no Pantanal, mas segue solto, cumprindo apenas medidas cautelares. Ele já foi alvo de outras decisões judiciais que indisponibilizaram suas 11 fazendas, apreenderam os animais dessas propriedades e embargaram as áreas afetadas. A Justiça também ordenou que ele suspendesse as atividades econômicas e o proibiu de sair do país.

O pecuarista também recebeu multas da secretaria ambiental mato-grossense que somam R$ 5,2 bilhões. Mas, é preciso repetir, continua solto. (IHU)

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