sábado, 27 de setembro de 2025

26° domingo comum - Os invisíveis que habitam na nossa casa!

Existem pessoas que se vestem de forma muito recatada não somente para chamar a atenção das demais, mas para esconder a nudez que existe dentro delas. Sobre o rico da parábola do evangelho de hoje só se diz que ele comia muito e que vestia bem. Nem o nome dele nós sabemos. Isso significa que pode ser qualquer um de nós! Com certeza o rico faminto achava que comendo muito podia matar a sua fome insaciável de plenitude de vida que não tinha. Há também um mendigo que se chama Lázaro que, em hebraico, significa ‘Deus ajuda’. Ele vivia fora da casa do rico. Aos olhos de todos ele parece um castigado e abandonado por Deus. Sem família, sem bens, ignorado por todos. As suas chagas revelam que é um ‘amaldiçoado’.  Os únicos seres misericordiosos que se aproximam de Lázaro são os cachorros, bichos impuros, que lambem suas feridas. Lázaro era um invisível aos olhos do rico que era incapaz de notar sua presença! Chega a morte para os dois. Jesus, agora inverte a situação, e a mentalidade dos fariseus. Aquele que era considerado amaldiçoado pelos homens, Lázaro, na realidade, sempre foi um abençoado por Deus e fica, agora, no seio de Abraão. Não é mais possível, agora, voltar atrás. Há um abismo entre eles dois. O mesmo ‘abismo’ que existia na terra. Somente quando aprendermos a partilhar com quem não tem é que eliminamos as desigualdades e os abismos entre os humanos e nos descobrimos membros da mesma família. 


sábado, 20 de setembro de 2025

25º domingo comum - Chega de amadorismo: os filhos da Luz devem ser mais hábeis e competentes em administrar o 'Verdadeiro Bem'!

Há uma indiscutível constatação a ser feita, hoje, na nossa sociedade planetária: vivemos sob um regime plutocrático. Ou seja, somos governados e dominados pelos ‘ricos’! Embora nem sempre deem as caras, eles estão por trás das grandes decisões políticas e econômicas que marcam o nosso cotidiano feito de tragédias e de misérias. Em seu modo de proceder, os ‘ricos’ adotam um estilo próprio, e são rigorosamente fieis a ele: não se deixar conduzir por princípios éticos, e nem por valores humanitários. Parecem possuir uma habilidade inata em explorar cada circunstância, cada oportunidade e cada pessoa para faturar mais riquezas e mais prestígio. São, no fundo, dependentes compulsivos, patológicos, mas extremamente competentes em alcançar seus insanos objetivos. Jesus que é um agudo observador do comportamento humano vislumbra naquele ‘imoral modo de proceder’ um dado metodológico a ser refletido: os seus seguidores poderiam aprender a ser mais ‘eficientes, hábeis e criativos’ em administrar ‘o verdadeiro bem’ que a Realeza de Deus-Pai oferece. Jesus, porém, com tristeza constata que ‘os filhos das trevas e da riqueza extorquida são mais competentes do que os filhos da luz em seu modo de operar’. Será que não chegou a hora de cuidar menos do templo e de suas liturgias, e se dedicar muito mais a libertar milhões de pessoas vítimas de insaciáveis e prepotentes idólatras de ‘Mamona’? 


quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Como o PCC se consolidou como peça-chave no tráfico internacional de cocaína

O Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa brasileira, se tornou um dos principais operadores transnacionais na exportação de cocaína. Hoje, o grupo é responsável por uma parte significativa do fluxo da droga para a Europa e outros mercados secundários. Isso não significa que os cartéis mexicanos, como os de Sinaloa e Jalisco, tenham perdido relevância — eles continuam dominando o acesso ao mercado norte-americano. Em alguns casos, inclusive, recorrem ao PCC como intermediário.

A produção mundial de cocaína nunca foi tão alta. As rotas de distribuição se multiplicam, e os consumidores estão espalhados por todos os continentes. Longe da imagem do chefão estilo Pablo Escobar, o tráfico hoje é operado por redes complexas e descentralizadas. Segundo o relatório de 2025 da ONU sobre drogas e crime, a produção ilegal de cocaína bateu recorde em 2023, com mais de 3.700 toneladas — um aumento de 34% em relação ao ano anterior. Estados Unidos e Europa continuam sendo os principais mercados, mas a Ásia surge como um destino promissor e a África como uma região emergente. A cocaína é hoje uma das drogas mais lucrativas do mundo. De acordo com Laurent Laniel, analista da Agência Europeia sobre Drogas, o tráfico hoje é controlado por grupos que coordenam diferentes etapas: produção, transporte e venda. Não há um comando central, mas sim uma rede de atores que se conectam e operam em conjunto. Segundo o pesquisador Victor Simoni, há uma espécie de “acordo global” entre os grandes grupos criminosos.

Depois de produzida, a cocaína precisa sair da América do Sul. O transporte marítimo é o mais usado, escondido em contêineres, embarcações semissubmersíveis ou por meio de "mulas" — pessoas que levam a droga no corpo ou na bagagem. É nesse ponto que entra o Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa brasileira. Surgido nas prisões de São Paulo após o massacre do Carandiru em 1992, o grupo começou como uma rede de presos que exigia melhores condições. Com o tempo, criou um sistema interno de regras e expandiu suas atividades para fora das cadeias. Nos anos 2000, o PCC passou a controlar o varejo da cocaína nas favelas e diversificou seus crimes: lavagem de dinheiro, tráfico de carros, peças, medicamentos falsificados e até pessoas. Na década seguinte, investiu nos portos e aeroportos do Brasil, especialmente no porto de Santos, o maior da América Latina, para garantir a logística da exportação da droga para a Europa e outros continentes.

Ponte entre produtores e compradores

O PCC funciona como uma ponte entre produtores e compradores. Por exemplo, os colombianos produzem grandes quantidades, mas não têm estrutura para enviar toneladas para portos como os de Roterdã, na Holanda, ou Le Havre, na França. O PCC intermedeia esses negócios, conectando os produtores a operadores logísticos ou máfias europeias, como a 'Ndrangheta italiana ou grupos dos Bálcãs. Além disso, regula preços, protege as cargas e distribui os lucros. Diferente do modelo hierárquico dos anos 1980 e 1990, o PCC opera com uma estrutura horizontal, em rede. Cada integrante conhece apenas o elo anterior e o seguinte, dificultando o rastreamento. Essa forma de organização é eficiente e lucrativa: o grupo conseguiu diversificar as rotas e oferecer cocaína mais pura e barata no varejo. Com o endurecimento da repressão na América do Norte, os traficantes passaram a mirar mercados menos pressionados, como o europeu. Segundo estudos sobre apreensões no porto de Le Havre, a maioria das remessas que chegam à Europa hoje tem o PCC como responsável. Um relatório da Global Initiative de 2023 também aponta que o grupo brasileiro está por trás do aumento do tráfico via África Ocidental, usada como rota intermediária para o continente europeu. A estimativa do tamanho real do mercado de cocaína é complexa. Mas, de acordo com a Direção Nacional de Inteligência e Investigações Aduaneiras da França, enquanto não se intercepta entre 70% e 90% da produção mundial, o modelo econômico do tráfico segue intacto.

Conglomerado de máfias

Hoje, a logística do tráfico conecta uma variedade enorme de produtores e distribuidores. Isso garante um mercado sem monopólio, embora poucos grupos transnacionais controlem o centro da cadeia de valor. Ao lado dos grandes operadores, há traficantes europeus que compram diretamente do Peru e pequenos grupos que adquirem lotes de 10 ou 15 quilos para revenda local. Embora o PCC domine a exportação em larga escala, a distribuição final da cocaína na Europa é altamente fragmentada. Nos principais portos europeus — como Roterdã, Antuérpia, Hamburgo, Le Havre, Valência e Barcelona — a droga é recebida por grupos locais bem estabelecidos. Em 2023, foram apreendidas 419 toneladas de cocaína na Europa, segundo relatório da Agência Europeia sobre Drogas. Mas a Europol alerta: para cada tonelada interceptada, várias outras passam despercebidas. Quanto mais se desce na cadeia, até chegar ao traficante de bairro, mais pulverizado é o sistema. Isso torna o mercado mais resistente — mesmo após operações policiais, ele se reorganiza rapidamente.

Pagamento em cocaína e novos mercados

Muitos intermediários locais são pagos com a própria droga. Isso alimenta o surgimento de novos mercados consumidores, especialmente na África Ocidental, mas também em algumas cidades portuárias da Europa. Após uma apreensão no porto de Valência, por exemplo, parte da carga foi desviada e vendida no mercado local por trabalhadores portuários corrompidos. Especialistas da Global Initiative against Transnational Organized Crime (GI-TOC) afirmam que "os mercados europeus de drogas estão mudando rapidamente". Segundo a entidade, o continente enfrenta uma combinação perigosa de tendências que desafiam as estratégias tradicionais de combate às drogas: uma onda contínua de cocaína, uma epidemia de crack em expansão e uma escassez crescente de heroína, que pode abrir espaço para a entrada de opioides sintéticos. Alguns países iniciaram processos mal planejados de legalização da maconha, o que tem gerado impactos nos vizinhos — como no caso da Alemanha, que legalizou o uso da substância em 2024. Ao mesmo tempo, cresce o número de novas drogas sintéticas, que competem diretamente com as substâncias tradicionais, especialmente por meio da internet. "Em 2024, foram apreendidas 41 toneladas dessas novas substâncias, sendo 47 delas identificadas pela primeira vez", dizem os especialistas da Global Initiative. O lucro gerado pela cocaína tem alimentado o crime organizado com uma quantidade inédita de dinheiro, o que se reflete em mais corrupção e violência. "Essa dinâmica ameaça a estabilidade política da Europa e coloca em xeque a credibilidade das democracias", afirmam os pesquisadores. (IHU)

Fogo, aço e ira: as melhores unidades militares de Israel atacam Gaza

 A batalha pela Cidade de Gaza começou na segunda-feira, na calada da noite, como um cerco medieval, com tropas israelenses de elite ocupando posições avançadas nos subúrbios, na escuridão, de onde poderiam lançar o ataque final contra o Hamas. Não há informações neutras nem verdade, mas uma coisa é certa: pela primeira vez na história, a luta está acontecendo de casa em casa em um centro urbano povoado por 600 mmil pessoas. Isso não havia acontecido nem em Stalingrado, em 1942, e, mais recentemente, nem mesmo em Grozny, a capital da Chechênia, arrasada pelo exército russo em 1994 e 1999. É fácil prever que a Cidade de Gaza será um banho de sangue, o ápice da feroz campanha lançada por Israel após os massacres jihadistas de 7 de outubro de 2023, que, segundo fontes de saúde palestinas, já causaram mais de 65 mil mortes.

A general Effie Defrin, porta-voz do exército israelense, afirma que "o Hamas criou o maior escudo humano da história, impedindo que civis deixem a zona de combate". Pelo menos 350 mil moradores fugiram da Cidade de Gaza nos últimos dias e, de acordo com a general Defrin, eles estão sendo tratados "de acordo com as regras internacionais". Acredita-se que o mesmo número possa deixar o campo de batalha em uma semana. O objetivo militar do ataque – explicado pelo Ministro da Defesa, Israel Katz – é eliminar a única brigada sobrevivente do movimento fundamentalista, com a intenção de exterminá-la definitivamente e, assim, obter a libertação dos reféns: "Queremos tomar o controle da Cidade de Gaza porque hoje ela é o principal símbolo da capacidade de governo do Hamas. Se ela cair, eles também cairão." Estima-se que os milicianos ali barricados sejam no máximo 2.500, mas, na realidade, um número muito maior de homens poderia contribuir para a resistência: eles contam com o conhecimento do território; uma rede de túneis e edifícios semelhantes a bunkers; câmeras para localizar soldados e acionar armadilhas. Eles se comunicam apenas por cabo, evitando o uso de rádios e celulares interceptados pelos serviços de inteligência do Estado judeu.

A ofensiva prosseguirá de forma aleatória, sem uma linha de frente definida. Por um lado, serão feitos esforços para forçar os militantes a se manifestarem abertamente, cercá-los e destruí-los. Por outro, os militantes tentarão localizar e libertar os reféns. Esta última missão parece difícil, senão impossível. "Todos os riscos e oportunidades foram explicados de forma clara e profissional no nível político", declarou ontem, quase em confiança, o General Eyal Zamir, comandante-em-chefe das FDI. "Este é meu dever, e estou liderando a operação para atingir todos os objetivos com responsabilidade e segurança". Os nomes das três divisões são o anúncio de um cerco massivo contra 2.500 milicianos que conhecem todos os segredos do território. (IHU)


sábado, 13 de setembro de 2025

Solenidade da contemplação do Crucificado

É loucura exaltar a cruz, é dever exaltar e contemplar o Crucificado. E os crucificados que enfrentam com ousadia a sua própria aniquilação como consequência e expressão de seu serviço abnegado e de sua doação ilimitada em favor de milhões de vítimas da prepotência humana. A cruz, como objeto em si, quando fincada à força nas terras assaltadas e invadidas, nos corpos torturados e violentados, e na alma de humanos fragilizados permanece ainda o símbolo vergonhoso da dominação, da conquista esmagadora e humilhante, da imposição cultural. Quando, ao contrário, vislumbramos nos crucificados martirizados que na cruz são vilipendiados e pendurados, o seu gesto extremo de impávida coerência e de doação incondicional, só podemos sentir compaixão, ternura e esperança. Isto pode parecer paradoxal, - como ‘era loucura para os gregos e escândalo para os Judeus’ exaltar um ‘Deus crucificado’, - mas, para os seguidores de Jesus, o martírio continua sendo a última e indignada denúncia profética diante dos insanos e desumanos crucificadores. Hoje não necessitamos somente de Cireneus que generosamente ajudam a carregar a cruz imposta na vida de milhões de seres humanos, mas precisamos de discípulos ousados, insurgentes e desobedientes que impeçam a fabricação legal das cruzes da fome, do esbulho, da exploração mais abjeta e da manipulação cultural e religiosa. 

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Marco temporal amplia vulnerabilidade indígena à escravidão, adverte relator da ONU

O relator especial das Nações Unidas sobre formas contemporâneas de escravidão, Tomoya Obokata, afirmou, na manhã desta quarta-feira (10), durante a apresentação de relatório sobre visita oficial ao Brasil realizada entre 18 e 29 de agosto, que “os povos indígenas são altamente vulneráveis à exploração e abuso”.

Obokata reuniu-se com diversos povos indígenas ao longo de sua missão. As lideranças destacaram que o acesso à terra e oportunidades de geração de renda são essenciais para prevenir formas contemporâneas de escravidão. Um relatório completo será formalmente apresentado na 63ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU em setembro de 2026. O relator manifestou profunda preocupação com a aplicação contínua do que denominou “doutrina do marco temporal”. Apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) tê-la declarado inconstitucional em setembro de 2023, o Congresso Nacional aprovou, semanas depois, a Lei nº 14.701, em resposta à decisão do tribunal. Desde então, os povos indígenas aguardam o julgamento, pelo STF, de ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) que questionam a lei. 

De acordo com trecho do relatório, “isso atrasou significativamente a demarcação de terras de todos os povos indígenas e priorizou interesses comerciais, legitimando a violência e violando seus direitos a terras, territórios e recursos naturais tradicionais”. Obokata ressaltou que esses grupos frequentemente enfrentam altos níveis de violência, ameaças, formas cruzadas de discriminação, perda de acesso a suas terras tradicionais e degradação ambiental decorrente de grilagem, extrativismo e atividades do agronegócio em seus territórios. Conforme o documento, “isso levou à destruição de seus meios de subsistência, deixando-os sem alternativa senão aceitar trabalhos exploratórios. Há também relatos de exploração sexual de mulheres e meninas indígenas próximas a garimpos e em áreas urbanas”. Tomoya Obokata foi nomeado Relator Especial sobre formas contemporâneas de escravidão, incluindo suas causas e consequências, em março de 2020. Obokata é atualmente professor de Direito Internacional dos Direitos Humanos na York Law School, no Reino Unido. (IHU)

domingo, 7 de setembro de 2025

23° domingo comum - Discípulos radicais em favor do Reino ou funcionários do templo e do palácio ?

Ou o discípulo possui estrutura humana e mística para encarar os desafios da missão e arcar com as consequências do discipulado, ou seja, do seguimento de Jesus de Nazaré, ou é melhor ele nem tentar entrar. Mas como verificar se existe ou não capacidade para tanto? Jesus nos oferece o critério principal: a coragem de carregar a própria cruz, ou seja, encarar a perseguição, a incompreensão e o martírio. Evidente que quem fica num templo ou numa secretaria paroquial dificilmente vai se testar consigo mesmo e com eventuais perseguições. Ao contrário, o discípulo que escolhe ser ‘outro Jesus’, com toda probabilidade encontrará os que irão boicotar a missão de Jesus. É nessas horas que se vê quem continuar firme na sua missão e quem abrir mão de valores, sonhos e opções fundamentais em favor da Realeza do Pai. Quem vai se manter fiel ao projeto de humanização de Jesus ou quem dará prioridade a seus próprios projetos pessoais.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

SE DEUS SILENCIA.......

 Se deus silencia é porque, talvez, o humano ouvinte seja surdo, 

Ou, desentendido, deixe seu ego gritar no absurdo;


Se deus silencia é porque, talvez, a fala não seja seu atributo, 

E, em vão, aguarda-se um sussurro do absoluto;


Se deus silencia é porque, talvez, esteja, ainda, ouvindo quem a ele clama,

E numa miríade de súplicas identificar a quem a sua bênção derrama;


Se deus silencia é porque, talvez, ele não seja Deus, mas uma criação,

E escolhido para ser eterno consolo de devotos da sagrada tradição;


Se Deus deixa de falar é porque, talvez, a cega arrogância fale mais alto,

E somente aos pequenos e invisíveis Ele se revele da paz o Arauto. 


Carta das Comunidades Cristãs da Espanha a Leão XIV: "Pedimos um gesto corajoso, profético e evangélico em relação a Gaza... Visite a Palestina"

Caro Papa Leão:

Em todo o mundo, crentes e não crentes, católicos e não católicos, estão profundamente entristecidos e aflitos com o grito de angústia vindo de Gaza. Sentimos em nossos corações o grito silencioso dos milhares de mortos pelas bombas e mísseis do governo israelense. Cerca de 20 mil crianças são mortas por bombas, e a fome assola o coração da humanidade. Nenhum governo é capaz de deter essa barbárie, descrita como genocídio. É sabido que Israel bombardeou e destruiu quase 90% das casas, destruiu tanques de água, escolas e universidades, hospitais, mesquitas e igrejas. E quando a população faminta e sedenta vem buscar garrafas de água e comida, Israel a metralha, matando dezenas de pessoas com pouco alimento nas mãos. Todos os dias, dezenas de crianças e adultos morrem de fome e por causa de bombas. Seis mil caminhões aguardam, carregados de comida e água potável. Eles apenas pedem para entrar e sair da carga que representa a vida de mais de dois milhões de pessoas. Mas o governo israelense não os permite entrar. Até mesmo o pároco de Gaza, Padre Gabriel Romanelli, e as religiosas preferem permanecer na paróquia, desobedecendo às ordens israelenses, porque temem que ir para o sul signifique a morte para as centenas de deslocados que estão acolhendo. Israel assassinou inúmeros médicos, jornalistas e trabalhadores humanitários, além da população. É o maior genocídio deste século em todo o mundo. Gaza se tornou um campo de extermínio. Os governos de Israel e dos Estados Unidos querem varrer Gaza do mapa. É uma limpeza étnica. Estamos consternados com a passividade da União Europeia e também com o silêncio de muitas igrejas cristãs. Sentimos que o silêncio é cumplicidade.

Não somos antissemitas. Somos simplesmente defensores dos direitos humanos, que são direitos divinos, pois os seres humanos são a imagem viva de Deus. Em meio à dor e às lágrimas, os moradores de Gaza clamam desesperadamente por nossa ajuda. Onde nós, seguidores de Jesus Cristo, devemos nos colocar? Hoje, o que está em jogo não é apenas Gaza. É a nossa própria humanidade. Não podemos permanecer em silêncio. Se permanecermos em silêncio, a morte vencerá. Santo Padre Leão, sentimos que o grito de Gaza é o grito de Cristo na cruz: "Tenho sede", sede de justiça, de reconciliação, de misericórdia, de perdão e de paz. Muitos governos ao redor do mundo condenaram esses massacres, especialmente as mortes de milhares de crianças. Mas nenhum, exceto os Estados Unidos, tem o poder de impedir o governo israelense de assassinar milhares de pessoas inocentes.

O que o Papa diz e faz?

Muitos católicos na Espanha e no mundo se perguntam: o que o Papa diz e faz? O que faria Jesus Cristo, que disse: Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, estive sem teto e me acolhestes, estive doente e me visitastes…?Participamos dos dias de oração que vocês convocaram pela paz. Participamos de jejuns e vigílias, rezando pela paz. Mas a oração não basta; também são necessárias ações que, com o poder do Espírito de Deus, possam deter a morte e abrir o caminho para a vida. Falamos a ti com todo o coração nas mãos, Santo Padre Leão. Escrevemos para implorar que faças um gesto corajoso, profético e profundamente evangélico. O que faria Jesus hoje diante desta realidade? Jesus nos lembra disso na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10,25-37). O samaritano parou, cuidou do homem ferido à beira da estrada, pegou-o no colo e o carregou para um lugar seguro. E Jesus nos diz: Façam o mesmo. Nossos irmãos em Gaza são o corpo do homem caído à beira da estrada, a quem os padres e o clero não conseguiram socorrer. Em vez disso, são o corpo faminto, sedento e ferido de Cristo. Vários camaradas, crentes e não crentes, de todo o mundo se arriscaram a ir a Rafah para ver como poderiam fazer lobby para que alimentos e remédios entrassem na Faixa de Gaza. Mas as autoridades egípcias se recusaram a permitir. Por isso, ousamos implorar-lhe, em nome do Deus da vida e da misericórdia, que peça e exija que o governo israelense cesse os bombardeios, permita a entrada de caminhões com alimentos e medicamentos, opte pelo diálogo com o Hamas para libertar os reféns e ponha fim à sabotagem dos colonos israelenses na Cisjordânia. A Terra Santa, a Terra de Cristo, aguarda de você, Santo Padre, uma ação corajosa e profética.

Imploramos que convoque todos os governos e cidadãos do mundo a formarem uma frente unida pela paz. E que o Senhor, Santo Padre, visite a Palestina. Imploramos que convoque todos os governos e cidadãos do mundo a formarem uma frente unida pela paz. Imploramos também que, Santo Padre, visite a Palestina, em nome de toda a Igreja e da humanidade, exigindo paz, diálogo e solidariedade com o povo de Gaza. Isso impactaria profundamente as consciências e restauraria a credibilidade daqueles chamados a dar a vida por amor ao próximo. Sermões, declarações e manifestações não são mais suficientes para deter a barbárie. Ações concretas e proféticas são necessárias. Este gesto seria um Evangelho vivo.

Receba um grande abraço em Cristo Jesus.