quarta-feira, 15 de outubro de 2025

COMUNIDADES IMPACTADAS PELO TREM DA VALE DA REGIÃO DE PIQUIÁ DENUNCIAM A PERSISTÊNCIA DOS MESMOS PROBLEMAS E OMISSÕES

As paredes da minha casa estão abrindo sempre mais por causa das vibrações do trem da Vale que passa dia e noite, logo atrás da minha residência. Dentro em breve prevejo o pior...’ Assim se expressou, ontem dia 15 de outubro, em Piquiá, uma das mais de 60 representantes das dezenas de comunidades do interior e da cidade de Açailândia que estão situadas ao longo da Estrada de Ferro Carajás, e que sofrem seus deletérios impactos. Algo que vem se alastrando há vários anos sem conhecer, no entanto, a aplicação de encaminhamentos concretos que deveriam ter solucionado os notórios e históricos impactos da passagem do trem. O encontro promovido pela própria empresa mineradora tinha como intuito ouvir queixas, demandas, sugestões e propostas de correção de rumo. Os representantes das comunidades não tiveram inibição e nem receio, a partir de suas realidades específicas, em listar um conjunto de problemas, empasses e omissões atribuídos à responsabilidade da Vale e demais empresas minero-siderúrgicas, a partir de promessas, acordos e termos de ajustes de conduta firmados a seu tempo com o Ministério Público e representantes das comunidades impactadas. O barulho ensurdecedor do trem, a sua falta de desaceleração ao passar pelos centros habitados; a total ausência de lona protetora do minério contido nos vagões; a construção de muros padronizados em várias comunidades do interior, supostamente para proteger a população, mas trazendo enormes transtornos; a persistência e, até aumento da poluição no Distrito de Piquiá; a subutilização de mão de obra local, apostando muito mais na trazida de fora; a falta de manutenção de estradas vicinais, o abastecimento de água potável em várias comunidades do interior são alguns dos problemas levantados pelos presentes.

     Não cabe dúvida que não se trata, aqui, de responsabilizar única e exclusivamente a Vale e as demais empresas pela atual precária situação na região de Piquiá e entornos, mas identificar e exigir tão somente tudo o que lhes cabe respeitar e realizar por direito. Uma outra participante desabafava constatando como a cidade de Parauapebas, por exemplo, havia se transformado nesses anos todos numa cidade de primeiro mundo, ao passo que Piquiá depois de anos de presença da Vale, permanecia sem infraestruturas, sem praças, sem locais públicos dignos, enfim, sem aspecto de cidade digna. Parece até uma tácita admissão de racismo ambiental por parte das empresas minero-siderúrgicas que aqui atuam. Nesse sentido a representante da Vale entregou um questionário com várias perguntas no intuito de colher dados interessantes e preciosos para elaborar um diagnóstico o mais fiel e coerente possível. Algo que não tem faltado nesses anos todos, no entanto, o que vem sobrando é a inoperância e o descaso com a região de Piquiá. 

    Ninguém dos representantes das comunidades desconhece, tampouco, a íntima relação de colaboração e diálogo das empresas minero-siderúrgicas que atuam na região e o poder público municipal e, evidentemente, as responsabilidades constitucionais deste para com a população em geral e, especificamente, com as comunidades impactadas pela ferrovia. É inadiável, hoje, que o governo municipal que recebe, anualmente, mais de 30 milhões de Reais como fundo compensatório por parte da Vale comece a atuar de forma mais transparente. É imprescindível que informe, também, quais acordos de colaboração existem, atualmente, entre o Poder Municipal e as empresas minero-siderúrgicas; e onde esse montante de dinheiro está sendo aplicado. E mais especificamente: quais ações socioambientais estão sendo planejadas a curto e médio prazo para amenizar ou zerar os efeitos nocivos dos impactos da indústria siderúrgica na nossa região, e dar um novo rosto à cidade. Até o presente momento com relação a Piquiá e às comunidades do interior, infelizmente, o atual governo municipal ainda não disse a que veio! 


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