A narração evangélica joanina, longe de ser um relato histórico, apresenta um esquema fixo de como se dava o processo de adesão-acolhida de quem queria entrar na comunidade cristã e se tornar discípulo de Jesus. Isso é bastante visível por uma série de etapas que poderíamos definir padronizadas...
1. O candidato a discípulo (catecúmeno) de Jesus é apresentado por alguém, no caso específico, João Batista. A apresentação é feita por uma pessoa de confiança e de prestígio moral. Não se exclui, nesse contexto específico, a presença de resquícios de rivalidade histórica entre os dois grupos de seguidores, o de João e o de Jesus, mas certamente havia reciproca confiança entre eles.
2. Segue-se uma primeira identificação do mestre a ser seguido. João define o mestre Jesus como “cordeiro de Deus”, lembrança bíblica que faz referência ao servidor de Javé, disposto a se doar de forma incondicional em favor do Reino. Não é qualquer mestre, mas um que possui identidade e missão específica.
3. O candidato a discípulo coloca-se numa situação de escuta/abertura em confiar na pessoa que lhe aponta o mestre a ser seguido e, ao mesmo tempo, abertura em seguir o novo mestre que lhe foi apontado e apresentado. Historicamente, há de se supor que os discípulos de Jesus não tenham sido tão radicais em seguir Jesus no sentido que ao vê-lo, de imediato (sentido temporal) o seguiram, mas certamente houve momentos de contatos preliminares e intermitentes com os seus candidatos, seguidos, posteriormente, por razoáveis momentos de convivência...como os textos deixam a intuir.
4. Uma vez tomada a decisão de seguir o mestre o discípulo é examinado por ele quanto às suas reais intenções/motivações de entrar numa caminhada de discipulado. O que, de fato, o discípulo procura com a decisão de seguir aquele mestre.
5. No caso específico, diante de mais uma pergunta por parte dos discípulos que investigam “a moradia” do mestre, este os convida a ir com ele e a ver/comprovar. A investigação a respeito do lugar/residência não é para ser entendida de forma literal e sim, como manifestação da necessidade do candidato em conhecer o “estilo de vida”, a pedagogia/metodologia que aquele mestre irá adotar para com eles. O mestre como resposta os convida a conviver com ele. É a melhor forma. Um discípulo antes de se decidir em seguir definitivamente o seu mestre - para compreender se é isso mesmo que ele deseja - aceita partilhar com o seu mestre um “dia” de vida, ou seja, um tempo adequado para amadurecer a decisão. Não são as explicações teóricas do mestre a convencê-lo sobre a beleza/justeza de segui-lo, e sim, a possibilidade de “ver” de perto como o mestre vive e age.
6. Quando o discípulo, após a sua convivência com o mestre descobre a sua identidade e a sua missão, e adere definitivamente ao mestre, torna-se ele mesmo uma pessoa de confiança, com prestigio moral, apta a apontar para outros candidatos o mestre a ser seguido, da mesma forma que havia acontecido com ele. Reproduz-se e multiplica-se o discipulado e o seguimento de Jesus.
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