Carnaval parece ser o delírio de Dionísio, o deus grego da vida, da potência, do Eros, da vontade de perpetuar existência plena. Quaresma parece ser a negação da vida, a exaltação da ausência, da abstinência, da autofleglação, da destruição de tudo o que pode levar à verdadeira felicidade e à alegria de viver.
Duas faces da mesma moeda. Coexistem sem se negar. Uma existe somente perante a outra. Uma só pode ser entendida se colocada frente à outra.
O que parece ser contraditório (carnaval/quaresma) reflete, na realidade, o movimento da vida. Não há como negar o que o pai da análise, Freud, afirmava acerca do itinerário humano, ou seja, que somos movidos por dois grandes princípios: Eros e Tanatos (morte). Nós, nesse período, estamos dramatizando, de diferentes formas, o que vivemos no nosso cotidiano desde que nascemos.
O que parece ser contraditório (carnaval/quaresma) reflete, na realidade, o movimento da vida. Não há como negar o que o pai da análise, Freud, afirmava acerca do itinerário humano, ou seja, que somos movidos por dois grandes princípios: Eros e Tanatos (morte). Nós, nesse período, estamos dramatizando, de diferentes formas, o que vivemos no nosso cotidiano desde que nascemos.
O carnaval, de fato, parece representar simbólica e liturgicamente, a vontade que existe no ser humano de viver em plenitude cada momento. De querer explorar cada gesto, cada momento, cada movimento que venha a significar alegria, felicidade, Eros. Uma tentativa de parar o tempo e o espaço, de congelar a vida em suas expressões máximas de exaltação e potência. É, ao mesmo tempo, tentativa de superar ou obliterar tudo o que ameaça e destrói a vida e a sua perpetuação. É tentativa inconsciente de afastar num grande movimento coletivo de caráter litúrgico-celebrativo a sombra onipresente de Tanatos que cotidianamente mostra o seu rosto destrutivo e negador de vida. É evidente que o carnaval tem origens históricas e culturais bem específicas e que parecem negar, aparentemente, qualquer relação com o patrimônio psicogenético humano de caráter coletivo. Todavia, ele se insere na onipresente tentativa humana de louvar a vida, de intensificar e exaltar o Eros/amor criativo e procriativo - mediante a dança, a música, a procissão, (não importa se de caráter religioso ou profano) - de afastar malefícios, na incessante busca de maximalização da vida. Em todas as culturas, desde sempre, constata-se isso.
A quaresma, embora tenha raízes católico-cristã, por sua vez, representa simbolicamente a outra face do único itinerário humano que está presente em igual forma: o tanatos/morte. Isto também é um princípio a ser encarado, incorporado e trabalhado no nosso cotidiano. Ignorar não tanto a sua presença – o que seria impossível – mas menosprezar a força e a intensidade que possui em muitos atos do nosso agir, seria alimentar a nossa permanente alienação.
Nesse sentido não partilho totalmente a visão do “colega Nietsche” segundo o qual o cristianismo, - enquanto movimento que se afastou e manipulou a missão do mestre Jesus, - é negador da plenitude e da potência de vida. Para o filósofo, o cristianismo com sua compaixão para com os fracos, débeis, pobres, estaria impedindo e negando a vinda do verdadeiro ser humano, forte, potente, dionisíaco e esbanjador de vitalidade. Historicamente, o cristianismo foi identificado - e em parte com certa razão, - como negador da felicidade, da alegria, do Eros, do prazer de viver e ser, ao incentivar o sacrifício, a mortificação, a negação do prazer, a autoflagelação-destruição do que é belo e prazeroso.
Não se pode negar, entretanto, que o cristianismo em sua essência, ao se colocar do lado dos humanos cujas vidas estavam sendo destruídas e negadas por outros seres humanos, estava iniciando um grande movimento em favor da vida para todos. Estava não somente colocando na pauta do ser humano a necessidade de olhar de frente a presença real e trágica da morte em todas as suas facetas, mas ao mesmo tempo, apontava responsabilidades e omissões humanas na destruição e negação da vida.
Nesse sentido não partilho totalmente a visão do “colega Nietsche” segundo o qual o cristianismo, - enquanto movimento que se afastou e manipulou a missão do mestre Jesus, - é negador da plenitude e da potência de vida. Para o filósofo, o cristianismo com sua compaixão para com os fracos, débeis, pobres, estaria impedindo e negando a vinda do verdadeiro ser humano, forte, potente, dionisíaco e esbanjador de vitalidade. Historicamente, o cristianismo foi identificado - e em parte com certa razão, - como negador da felicidade, da alegria, do Eros, do prazer de viver e ser, ao incentivar o sacrifício, a mortificação, a negação do prazer, a autoflagelação-destruição do que é belo e prazeroso.
Não se pode negar, entretanto, que o cristianismo em sua essência, ao se colocar do lado dos humanos cujas vidas estavam sendo destruídas e negadas por outros seres humanos, estava iniciando um grande movimento em favor da vida para todos. Estava não somente colocando na pauta do ser humano a necessidade de olhar de frente a presença real e trágica da morte em todas as suas facetas, mas ao mesmo tempo, apontava responsabilidades e omissões humanas na destruição e negação da vida.
A Quaresma não pode ser encarada como uma atitude pessoal de caráter litúrgico, religioso, como uma mera ascese, uma celebração da ausência e da abstinência do viver, mas como uma expressão de uma realidade que está inscrita no patrimônio psicogenético humano. Ou seja, encarar/enfrentar o princípio/prática do tanatos/destruição/ausência/negação de vida na existência humana. A quaresma não exalta isso, ao contrário, quer transmitir aos humanos que não ignorem e subestimem o poder/fascínio que tanatos exerce no Eros, na nossa insaciável fome de vida. O princípio/sombra da morte sempre nos acompanhará, mas temos a obrigação moral e existencial de destruir suas conseqüências e seus efeitos ou, pelo menos, tentar amenizá-los para que o AMOR/AGAPE/FRATERNIDADE possa prevalecer nas nossas escolhas conscientes.
P.S. Spero che i miei nipoti Marco e Nikolaj sfruttino al meglio il carnevale compiendo l´impegno che hanno assunto, ossia, di ricercare le origine storiche del carnevale e i suoi significati. Buon lavoro a loro!
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