Como nas edições anteriores não houve propostas de soluções e receitas milagrosas votadas em conjunto para tornar mais habitável o planeta. Não houve juramento individual para assumir determinados compromissos coletivos para salvar o planeta de um previsível colapso. Houve, entretanto, um princípio inspirador comum que permeou o FSM do começo ao fim: a consciência de que é urgente intervir agora, antes que seja tarde, e isto é possível! O FSM de Belém, em que pesem suas fragilidades organizativas e de conteúdos, reafirmou que é possível continuar a sonhar com um planeta habitado por milhões de seres vivos, assumindo a prática da tolerância positiva e do respeito para com as condições de vida de cada um.
Os inúmeros debates nas tendas temáticas e atividades nas salas da universidade rural (UFRA) e federal do Pará (UFPA) encontravam seu ponto de partida na atual crise financeira, mas não como expressão conjuntural de um sistema econômico contraditório, e sim como manifestação concreta de que estamos numa crise civilizatória planetária. De verdadeira mutação, e não de simples mudança. Isto ocorre em todas as dimensões da vida dos seres vivos: mudanças/mutações climáticas, genéticas, tecnológicas, de pensamento e práticas. As formas irracionais de consumo e arranque de bens socioambientais operadas pelos humanos colocam em risco vários biomas e podem tornar inviável a vida no planeta. Não se trata de mais um modismo conjuntural de alguns grupos ambientalistas, mas de viabilidade biológico-genética, inclusive para a espécie hominídea.
A VALE como exemplo paradigmático de que “tudo vale” para lucrar! No FSM os Missionários Combonianos do Nordeste - de quem faço parte, - em conjunto com outras organizações promovemos um seminário internacional e várias oficinas sobre as ações da Vale, a primeira mineradora mundial de ferro, e segunda no níquel e manganês. Segunda em absoluto, mundialmente. Um gigante na extração de minério que se situa na crosta terrestre, desfigurando o rosto da mãe terra. Analisamos a sua estrutura, as suas atividades, os seus projetos, as suas práticas e abusos. A empresa brasileira, hoje privatizada, é um exemplo palpável do que significa arrancar, transformar, vender, explorar sem ter um mínimo de preocupação com as conseqüências para os seres vivos. Havia pessoas de vários lugares onde a Vale atua: de Moçambique ao Canadá, do Chile ao Rio de Janeiro, de Minas Gerais ao Maranhão-Pará. Não se trata de boicotar as atividades mineradoras, nem tão pouco de inviabilizar qualquer tipo de exploração. Trata-se de planejar uma nova forma de coexistência social em que a centralidade seja dada aos seres vivos e ao seu “bem viver”, e não à sede doentia de produzir, arrancar e lucrar a qualquer custo.
O FSM, enfim, torna-se espaço de aliança sócio-operativa onde não se eliminam as diferenças – ao contrário, valoriza-as – mas busca-se coadunar formas de luta e organização a nível regional e mundial, sincronicamente. Uma nova terra ainda é possível ser gestada! Acreditemos e operemos!
Para saber mais: www.justicanostrilhos.org
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