domingo, 19 de julho de 2009

EDUCAR-SE À COMPAIXÃO PARA SERMOS PASTORES UNS DOS OUTROS (Mc.6,30-34)

Outro dia o meu amiguinho Thiago ao ser flagrado pela tia enquanto estava chorando de saudade do pai que estava longe, e provocado por ela por causa de suas lágrimas, ele se justificou dizendo que era porque era ‘fraco de emoção’. Intervim dizendo que não, que era o contrário. Disse-lhe que ele chorava porque era ‘rico em emoção’! Aquelas lágrimas das quais ele se envergonhava e que interpretava como um sinal de fraqueza eram a manifestação de sua grandeza. Thiago externava, através de algumas reações do seu organismo, o amor que tinha pelo pai que não estava próximo, mas que desejava que estivesse com ele. As lágrimas eram a prova de que ele, Thiago, tinha grandes sentimentos, que tinha a capacidade de se com-padecer.......

Talvez tenha sido esta a mesma reação que Jesus teve ao ver uma grande multidão ao seu redor, pois parecia como ‘ovelhas sem pastor’ (v.34). O evangelista Marcos utilizou a expressão ‘teve compaixão’ – em grego: ’as entranhas se mexeram’ – para descrever uma forte emoção de indignação de um lado, e de extrema ternura e afeto do outro. Indignação por ver um povo desprotegido e pisado, e ternura por querer aliviar seus sofrimentos. Esta parece ser a parte central desse trecho evangélico hodierno que quer apresentar Jesus como o verdadeiro líder do povo, o pastor ideal.
Marcos, de forma sublime, coloca esta passagem logo após a narração da festa do aniversário de Herodes, ocasião em que o déspota, o falso pastor, pede que decapitem João Batista, aquele que denunciava as injustiças e convocava para a grande conversão. Marcos, em outras palavras, nos diz que Herodes é um líder político/pastor sem compaixão e que alheio à dor humana traiu as expectativas do povo ao matar cinicamente um seu defensor provocando a dispersão das ovelhas. Jesus, ao contrário, é o verdadeiro líder/pastor que se compadece/chora ao ver a situação de abandono e dispersão das ovelhas.
A compaixão é fruto de educação e não somente de herança genética. Ser educado a enxergar e a compreender as necessidades, os sofrimentos, os dramas e os sonhos alheios é o primeiro passo para não julgar, condenar, alimentar preconceitos, humilhar e maltratar as pessoas. Jesus foi educado à compaixão, a se indignar com as injustiças e a se alegrar com as pequenas conquistas do dia-a-dia. Compaixão, entretanto, não é tudo. Se de um lado ela ajuda a superar a indiferença e o cinismo humanos, ela é o motor que deve nos ajudar a desencadear ações construtivas junto ás pessoas com as quais entramos numa relação de sintonia e reciprocidade. A compaixão deve motivar as pessoas a ir além de suas ‘fortes emoções’ e como Jesus, começar a ‘ensinar-lhes muitas coisas’ (v.34). Este ensino terá seu desfecho com a partilha dos pães e peixes sem a utilização do dinheiro (trecho a seguir e evangelho de domingo próximo). Ou seja, aprender a partilhar a vida com seus dramas e alegrias, como deveria fazer um verdadeiro pastor.

A compaixão, enfim, é a atitude a ser assumida pelo pastor. De um lado é motor que move e faz sentir/perceber a realidade das pessoas, e do outro, é uma postura a ser assumida como forma de agir/conduzir/coordenar. Não há como negar o sentido ‘político’ que impregna o conceito ’pastor’ direcionado essencialmente a quantos são chamados (ou eles que se acham chamados....) a coordenar/administrar um grupo humano. Entretanto, Jesus dirige seu ensinamento e propõe a partilha como ‘aula prática histórica’ de como ser pastor a todas as pessoas, e não somente àqueles que têm cargos e funções públicas. Todos são chamados a se revestir de compaixão e exercer o pastoreio para com todos. Todos somos ovelhas e todos somos pastores/as. Todos fazemos a experiência de nos sentir dispersos, feridos, pisados e abandonados (ovelhas) e todos temos que assumir o papel/missão de proteger, acolher, cuidar e valorizar (pastor/a).

Só assim podemos de um lado eliminar os Herodes da vida, déspotas e indiferentes à dor alheia, e dar vida a uma multidão de ‘pastores’ carregados de compaixão. Estes serão a realização histórica de que ‘Deus é nossa justiça’ (Jr.23,6)

Um comentário:

cristina disse...

gostei muito desta postagem...seria otimo se consseguissemos nos educar à compaixão...parabens...abraços.bye bye boy.