Há paradoxos que têm uma função didática fundamental. Ajudam a compreender o sentido profundo de determinadas realidades, e que não aparece imediatamente. Os paradoxos parecem manifestar num primeiro momento uma falta de lógica e de sentido. Mas só aparentemente. Na realidade têm o papel de revelar uma inversão radical de formas corriqueiras e práticas ordinárias de viver. Desmascaram o senso comum e apontam para algo mais ousado e desconhecido. O evangelho de hoje nos oferece um exemplo precioso do que isso significa. Jesus mesmo se apresenta como um paradoxo em ação. Um alguém que parece ofender a lógica reinante assumida e aceita por todos. O seu modo de pensar e agir se revela para os seus contemporâneos um paradoxo ‘incompreensível’ em relação ao que se tem pensado até Ele. Parece haver no texto hodierno até uma forma de exasperação no modo de conduzir o pensamento por parte de Jesus. Ele, porém, tem sua própria lógica que é profundamente coerente. Jesus radicaliza e aprofunda a diferença que deve existir entre os ‘bem-aventurados que são sal e luz do mundo’, ou seja, os que assumiram definitivamente a prática de Jesus de Nazaré, e os demais. Os primeiros, ao abraçarem a causa do reino iniciado por Jesus, não podem mais agir como anteriormente. Nem tampouco agir segundo o ‘senso comum’. Devem se distinguir de forma radical em suas práticas de todos aqueles que agem em seu cotidiano segundo os padrões clássicos de comportamento. Dessa forma apontam um novo jeito de viver e pensar. Um jeito alternativo ao comum, ao ordinário.
O próprio Jesus se coloca como o ponto de ruptura com o passado e com um conjunto de preceitos que haviam sido adotados como algo que não se podia modificar. Jesus não se preocupa tanto em modificar ou redirecionar superficialmente um ou outro preceito, mas embute em todos eles uma incomparável carga de radicalismo que faz parecer isso algo totalmente novo. Afinal, essa postura de Jesus reflete o que na vida cotidiana dos primeiros cristãos estava se tornando algo comum: uma clara e progressiva separação dos judeus cristãos dos demais judeus que ainda não aceitavam a novidade de Jesus de Nazaré. Um jeito novo de viver as relações interpessoais e sociais, alicerçadas na misericórdia sem limites, na solidariedade paradoxal, na caridade que desarma qualquer pretensão de supremacia e superioridade de uns sobre os outros. cabe se perguntar em que os cristãos de hoje se distinguem dos demais seres humanos....e para quais novas realidades apontam com o seu modo de ser e agir....!!!!!
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