Ontem 4 de fevereiro foi dia de memória. Em Bom Jardim, Maranhão. Dez anos de ausência física entre nós de Carlo Ubbiali. Dez de vazio ainda não plenamente preenchido. Quisemos juntar o memorial da morte/vida nova de Jesus de Nazaré com a morte/vida de Carlo. Fazer memória é de alguma forma reviver momentos inesquecíveis de fraternidade. De convivência gostosa. De partilha de sentimentos e sonhos. Mas é também, reviver dor, vazio interior, tristeza e desnorteamento. Coisas que talvez só os humanos consigam sentir, embora nem sempre consigam assimilar e compreender.
É verdade: a nossa cultura ocidental não nos ajuda a compreender e a aceitar que a morte faz parte do processo da vida. Toda vida, afinal, desemboca na morte biológica. Fomos educados a viver com intensidade tudo o que a vida física, real, imediata nos apresenta. Crescemos pensando que existe uma’ permanência’ nisso tudo que ninguém pode ameaçar e tirar. Mas o natural desaparecimento de coisas e pessoas nos obriga cotidianamente a nos defrontar com os efeitos da ‘impermanência’. Mesmo assim, a sua plena aceitação não é algo natural e congênito no ser humano. Ontem, contudo, em Bom jardim, lugar onde Carlos viveu numerosos anos, de onde saía para visitar aldeias e povos indígenas sentimos que há algo permanente que ninguém pode tirar. A depender, claro, de uma decisão dos humanos. E da sua consciência de poder profundo que possuem para transmitir às futuras gerações o patrimônio humano e espiritual de pessoas que já se foram fisicamente. Nós, com efeito, temos o poder de manter vivas as 'vidas impermanentes' de muitas pessoas e de reproduzir as suas escolhas, valores, projetos de vida, sonhos, e atitudes que nos marcaram. Cabe a nós exercer esse poder. Cabe a nós 'vivos impermanentes' provar para nós mesmos que há algo ‘permanente’ que nem a morte pode expropriar. Carlos, irmão, continue presente e 'permanente' nas nossas opções de vida!
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