sábado, 10 de setembro de 2011

Perdoar sem se omitir. Ser compassivo sem ser cúmplice! (MT.18,21-35)

Cotidianamente assistimos a inúmeros casos de violência e injustiças. Violência gratuita, brutal, inconcebível. Revoltante e injustificável. Injustiças que machucam a alma, a dignidade. O que temos de mais profundo e motivador. Que produzem outras injustiças. E criam a anti-cultura de que o mundo é dos espertinhos, dos ‘sem escrúpulos’. Que, afinal, nada pega para eles. Que a justiça e o respeito pelo outro são meras ilusões de alguns ‘trouxas’ que ainda não sabem compreender a realidade em que vivemos. Falar em perdão nesse contexto de acirramento de ânimos, de posturas, de concepções e práticas de vida parece algo deslocado. Fora de lugar e inadequado. Haveria que se perguntar: perdoar quem de que? Perdoar alguém que não exige perdão? Perdão ativo e passivo (receber perdão) implica reconhecimento de ter cometido alguma injustiça contra alguém. E quando isso não se verifica, o que fazer? Perdoar alguém que cometeu uma injustiça ou uma violência grave, não seria uma forma de cumplicidade para com ele? Por tudo isso nos deparamos com a atualidade do trecho evangélico hodierno. Ele vem a enfrentar questões centrais da nossa existência: o sentido da justiça, a tentação da vingança, o perigo da intolerância, a perseguição dos complexos de culpa, a incapacidade de saber perdoar e....de se perdoar!
Jesus inicia o seu discurso com uma afirmação contundente, quase dogmática: perdoar sempre e em todas as circunstâncias. Isto parece não deixar margem a nenhuma outra compreensão e aplicação. Mas a narração da parábola, a seguir, explicita qual o verdadeiro sentido da sua afirmação inicial. O perdão, a compaixão e a misericórdia - que são atitudes profundamente humanas e evangélicas, do novo modo de governar de Deus, - não podem ser instrumentalizadas. Não se pode invocar o perdão para justificar uma atitude que nega a prática do perdão. O perdão não pode ser utilizado para mascarar injustiças e falta de compaixão para com os outros. A prática do perdão que Jesus quer introduzir é uma prática carregada de sentido crítico. Jesus conhece os meandros do coração humano e não desconhece as formas de manipulação praticadas pelos humanos. O perdão não entra como uma forma de cancelar as responsabilidades pessoais e coletivas diante dos outros. Ao contrário, quem assume a pedagogia do perdão deve saber que terá que tomar a iniciativa de correr atrás de quem cometeu injustiças para ajudá-lo a restaurar a justiça que ele interrompeu ou ameaçou. O perdão entendido como ‘mero esquecimento do mal cometido’ só serve para perpetuar o mal e não ajuda o seu autor a voltar a produzir o bem. O perdão ‘fácil’ e a mera vingança são duas atitudes extremas detestáveis, incompatíveis para os humanos e para quem quer construir o novo reinado de Deus.


A todos os participantes da XI Romaria da terra e das águas em Piquiá/Açailândia, MA, o nosso bem-vindos, o nosso apoio, a nossa solidariedade. A todos os que não puderem participar pedimos comunhão e oração!

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