sábado, 21 de abril de 2012

Emaús:recuperar as grandes escolhas que dão sentido ao nosso permanente caminhar! (Lc.24, 13-35)


A assim chamada pós-modernidade tem patrocinado uma profunda valorização do ‘sujeito humano’. Tem tentado tirá-lo do anonimato social e da sua dependência mágico-religiosa em que parecia estar fadado a sucumbir. Pretendeu dar-lhe rosto e identidade pessoal. Um ser supostamente autônomo, guiado pela ‘razão pura’. Senhor de si e controlador dos demais seres. Ajudou a ‘sua nova criatura’ a emergir, a compreender e a utilizar suas potencialidades e os seus inúmeros valores pessoais. Como se fosse uma conquista própria e pessoal. Com poder de transformar si mesmo e a realidade. Talvez como reação às tendências socializantes e comunizantes do século passado a pós-modernidade sentiu a necessidade de super-valorizar justamente o outro pólo, a individualidade. As conseqüências parecem evidenciar algo espantoso: o ser humano está só e mais egocêntrico! Ele e o seu 'eu'! Poderoso e autônomo, e fatalmente solitário em suas buscas e em seus fracassos. Vive cercado de gente, mas está mergulhado num incompreensível automatismo social. Usa tudo e todos, mas não consegue criar relações sócio-afetivas que satisfaçam a sua fome e sede de paz interior. De felicidade, e de bem estar integral. Há, atualmente, claros sinais de que o ‘sujeito’ pós-moderno parece intuir que ele e a natureza são ‘finitos’! Que esgotaram uma etapa de sua existência. Que é preciso tecer novamente relações e ideais de vida. De cuidados com tudo o que promove a vida. Redescobrir, enfim, a beleza de ‘caminhar juntos e de estar com o outro’.....

Ocorreu-me essa reflexão inicial ao meditar sobre o texto evangélico hodierno. Vejo nos dois discípulos de Emaús um ícone luminoso dos humanos de hoje. Independentemente da variedade de suas experiências humanas e espirituais. Pessoas que alimentaram sonhos e expectativas. Mêmores de momentos significativos e positivos de que eles fizeram parte, mas que por alguma razão foram interrompidos. Ou negados. Ao mesmo tempo, porém, conseguem ter ainda a capacidade de debater e refletir sobre aqueles acontecimentos causadores de tristeza e de desânimo. A decepção e a amargura do momento não lhe impedem de rever e reviver aqueles momentos. Aqueles mais trágicos e mais marcantes no seu estado de ânimo atual. Mas nesse caminho de recuperação de sentidos, aos poucos se incorporam outras visões, interpretações, testemunhos, gestos, pessoas. Isso faz com que os dois olhem para os mesmos acontecimentos com outros olhos. O que, de fato, lhes parecia uma derrota, - e o fim de tudo, - acaba sendo re-lido, nessa nova fase, como um novo início promissor. É como se uma cegueira involuntária estivesse sendo removida e superada. Os dois, ou melhor, os três (pessoas/memorial/visão nova), começam a perceber que a decepção que havia ecoado dentro deles de forma mais angustiante era o resultado de sonhos e expectativas desmedidas. Talvez demasiado pessoais e interesseiras. Ou inadequadas. Precisavam superar a decepção que os travava, o medo que o paralisava e que os colocava ‘em estado de fuga’ permanente, e não a caminho...com outros!

Longe do templo, não dominados pelas imagens do Calvário, numa casa sem altar  e sem sacerdotes, ao redor de uma mesa farta de pão pronto para ser repartido e comido emerge a nova visão/fé. A cegueira que lhes impedia de ver e ir além dos fracassos pessoais e comunitários é definitivamente superada quando se recuperam as ‘grandes escolhas/gestos pessoais/coletivas’. Aquelas que não apagam a ‘subjetividade’, mas lhe dão consistência e sentido. Só no pão oferecido superamos egoísmos e solidão. Só nisso encontramos aquilo que nos liberta. E que nos torna disponíveis para iniciar o caminho ao lado de outros ‘viajantes’ em permanente procura de sentidos.... 

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