sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sexta feira santa - 'MEUS DEUS, MEU DEUS PARA QUE ME ABANDONASTE?


O grito de Jesus antes de morrer não foi registrado por ninguém. É uma evidente criação teológica de Marcos que tem como finalidade mostrar a humanidade plena de Jesus. Um homem que é assassinado como muitos outros humanos, e de forma injusta. Ao fazer isto o evangelista estava encorajando os seus ouvintes a continuar firmes na caminhada, pois o próprio mestre havia feito a mesma experiência que eles: a de sentir medo e de se sentir abandonado pelo próprio Deus. Recentemente li um livro muito interessante que apresenta um diálogo sobre Deus e o sentido da vida entre Viktor Frankl e Pinchas Lapide. Um analista e fundador da logoterapia o primeiro, um teólogo o segundo. Ambos judeus. Lá pelo final do livro o Lapide corrige a tradução que normalmente é feita e afirma que, na realidade, o grito de Jesus não foi ‘por que me abandonaste’, mas ‘para que’ me abandonaste. Isto mudaria tudo. Não o motivo da morte de Jesus, mas a finalidade do abandono na hora da morte estava em jogo. Afinal, para que servirá este abandono de Jesus por parte de Deus, pelo menos segundo a versão-interpretação apresentada por Marcos? Jesus, como muitos humanos que são mortos sem ver nisso um motivo que justifique tal ato, quer entender se sua morte foi em vão ou se ela poderá abrir os olhos e os corações de tantos cegos e de tantos embrutecidos. Se a sensação de abandono experimentada por Jesus servirá para dar mais coragem a tantas vítimas da violência e da escravidão para não cair na mesma lógica de seus algozes. Saber que se morre para que alguém seja poupado dos mesmos sofrimentos e torturas, e saber que a própria morte ‘humanizou’ os embrutecidos infunde no crucificado-sacrificado uma paz e uma serenidade inesperada. A angústia e o escândalo não está no fato de nos sentir abandonados por Deus em muitos momentos trágicos da nossa vida, e sim não conseguirmos encontrar-dar um sentido ao nosso...’morrer’!    

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