sábado, 6 de dezembro de 2014

II de Advento - Fazer florescer o deserto que somos nós e que está dentro de nós! (Mc, 1,1-8)

O deserto não é somente um lugar geográfico. É, antes de mais nada, um lugar teológico e existencial. Nós mesmo vivemos num deserto. Nós somos um deserto ambulante. Incapazes que somos de acreditar que por trás de muitos sinais de morte e de desespero existe vida e esperança. No deserto da vida descobrimos que existem outras formas de vida variadas, mesmo que invisíveis aos nossos olhos. Seja Isaías que Marcos sabem disso e em seus escritos transfiguram o conceito-realidade teológica de deserto. Eles nos dizem que é como se fosse impossível para um seguidor do Reino construir uma nova realidade sem passar pelo deserto. Pela experiência da esterilidade existencial. Pelo vazio interior. Isaías se dirige aos seus patrícios que viviam como ele no exílio na Babilônia. Depois de quase 40 anos naquele deserto existencial e social suas vidas estavam ficando insossas. Eles tinham virado um aglomerado humano de conformados, sem auto-estima e no claro perigo de esquecer suas raízes e as bases do sonho coletivo de possuir uma terra livre e farta. Isaías intui que os tempos estavam mudando. Outros países estavam aparecendo no cenário político e ele prevê o desmoronamento de Babilônia. Era preciso, portanto, dar força e infundir coragem aos exilados para que não perdessem a força do sonho de voltar à sua terra natal. Nem que tivessem que enfrentar, mais uma vez, o deserto. Mas agora, a experiência daqueles anos de deserto interior, de falta de sonhos e de tristeza coletiva, deu uma nova estrutura humana e espiritual àquele povo. Agora, estaria pronto para encarar as asperezas do caminho e sobrevir às durezas de um novo deserto, sem se entregar e sem querer voltar atrás. Longe de fugir do deserto da vida esse mesmo povo abriria no seu coração novos caminhos, encontraria nele novas formas de convivência humana que antes era incapaz de vislumbrar. 
Paradoxalmente, nós também para compreender a importância da vida e da nossa capacidade de nos doar e lutar pela vida, é necessário fazer a experiência das tentações, das tribulações, das ameaças e dos percalços que só um deserto oferece. O caminho largo e fácil a ser percorrido não é uma boa pedagogia para o construtor do Reino. O próprio João descobriu isso. E foi no coração do deserto, em plena incapacidade de produzir frutos de transformação e de justiça que ele convoca o povo. Convoca-o a ‘repetir a experiência do deserto’. O mesmo caminho percorrido pelos seus antepassados. A iniciar a partir do aparente ‘vazio interior’ uma nova caminhada de conversão, produzindo novas atitudes de humanidade e compaixão. É no deserto que Jesus também começa um novo itinerário. É lá que compreende que o deserto não é o lugar da morte e da esterilidade. Jesus aposta na multiplicidade de projetos de vida de pessoas que não se assustam mais com seu deserto interior e com o que vem engolindo vidas. Aposta e acredita naqueles que aceitam o desafio de transformar  os desertos da humanidade e fazer florescer o que parece abandonado e esquecido. E dar vida ao que está murcho e agonizante.  

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