quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Blogueiro publica mensalmente uma reflexão sobre as 'DEZ PALAVRAS'

AS DEZ PALAVRAS QUE INSPIRAM LIBERTAÇÃO 
Ao longo desse ano, na nossa coluna, refletiremos sobre as dez palavras reveladas por Deus, a Moisés, e descritas no capítulo 20 do Êxodo. Não são mandamentos, nem ameaças, mas palavras. Palavras oferecidas, não impostas.  Palavras por si só não libertam, mas elas têm um poder inigualável de inspirar e encorajar os humanos a se tornarem sempre mais humanos livres.  ‘Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai! (Rm. 8,15) nos lembra Paulo. As dez palavras permanecem atuais, pois elas brotam das trilhas da vida, percorrendo desertos e oásis de fertilidade e de esperanças, de escravidão e de libertação, de tentações e confirmações na fé, de construções de novos céus e novas terras. 

Eu sou o Senhor teu Deus que te fez sair da terra da escravidão e da manipulação- (Êxodo 20,2) Ao longo de muitos séculos a nossa catequese se esqueceu desse cartão de visita inicial do próprio Deus: Eu sou o Deus da liberdade e não o Deus da escravidão! Esta é a porta de entrada pela qual queremos entrar, e entender tudo o que vai vir a seguir. As dez palavras adquirem sentido somente tendo em consideração que o Deus que se revela a nós com as suas palavras inspiradoras, - e não com ordens, - tem como objetivo o de nos tornar plenamente livres. Livres, inclusive, da ideia de um Deus opressor e ameaçador que nos foi inoculada desde cedo. Aqui está o grande engodo inicial: historicamente fomos educados a encarar as dez palavras como mandamentos e ordens divinas absolutas, decisivas para a nossa salvação ou condenação. Assegurava-se vida e paraíso aos obedientes, morte e condenação aos transgressores. Ainda hoje, paradoxalmente, somos concebidos no ‘medo’ de Deus. Obedecemos a normas litúrgicas e preceitos religiosos motivados muito mais pelo medo de um Deus justiceiro e déspota do que por uma genuína confiança e alegria de vivermos valores e projetos de vida de um Deus-Pai, com o qual deveríamos nos identificar. As dez palavras que inspiram liberdade surgiram após a experiência dolorosa da brutal escravidão no Egito, e da exaltante conquista da terra livre. Surgiram com o intuito de garantir que na ‘terra livre prometida’ não mais se reproduzissem as relações manipuladoras e escravagistas do Faraó, mas também que se pudesse construir um novo jeito de ser gente, de ser povo-nação. Um sistema em que as pessoas se educassem ao respeito, ao diálogo, à convivência fraterna e participativa. Ocorre que, mesmo na terra livre, nem sempre conseguimos nos libertar dos fantasmas ameaçadores dos nossos torturadores e dominadores. Eles, às vezes, entram nas profundezas da nossa alma e como angustiantes pesadelos continuam a nos tentar para voltarmos ao Egito da submissão aviltante e da manipulação. Temos que nos ‘libertar’ e apagar essa ideia-relação de que o Deus de Moisés e de Jesus é um Deus desejoso de obter obediência cega dos seus ‘súditos’. Afinal, nós não somos súditos ou fregueses de normas e castas sacerdotais, e sim filhos e filhas de um Deus amoroso que caminha ao nosso lado (Javé – Deus que está conosco). Por isso a nossa alma e a nossa garganta não cansa de gritar incessantemente ‘Abá-Pai’. (O artigo é produzido pelo blogueiro e publicado mensalmente no Jornal do Maranhão da Arquidiocese de São Luis, Maranhão)

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