quarta-feira, 9 de outubro de 2024

10 DE OUTUBRO - DANIEL COMBONI ESCREVE AOS SEUS CONFRADES DE HOJE!

 


Meus queridos e estimados confrades,

Talvez alguém estranhe que mantenha ainda o hábito de me comunicar com vocês mediante cartas; talvez algo ultrapassado para vocês, hoje em dia. Na verdade tenho pouca habilidade e inclinação em adotar aquilo que vocês chamam de ‘redes sociais’, e quero me manter na tradicional correspondência escrita achando que, para mim, continua ainda a forma mais direta e familiar de me dirigir a vocês. Faço-o no dia em que se recorda a minha despedida terrena e no dia em que vocês, após muitos anos de intensos esforços e incansáveis articulações de todo tipo, - não incentivadas por mim, fique claro, - conseguiram colocar o meu nome ‘nos altares’, como se costuma falar ou, se preferirem, me canonizaram, alguns anos atrás. 

Confesso-lhes que nunca lutei por isso, seja quando estava na minha amada África Central, seja agora, onde me encontro, entre os bem-aventurados que contemplam o rosto luminoso do Pai. Sempre tenho acreditado e me esforçado para ser santo, isso sim, mas não para ser objeto de devoção e nem com o intuito de ser imitado, um dia, pelos meus confrades ou por outros simpatizantes. A santidade em que sempre acreditei, - e que nem sempre me saía com facilidade, para dizer a verdade, - se confundia com uma genuína compaixão e com um amor ardente por aqueles povos sofridos do Sudão que vocês também conhecem. Dói-me nas profundezas da minha alma, mesmo sendo eu um beato, observar o horrível sofrimento dos filhos e filhas descendentes daqueles antepassados que eu conheci há mais de um século atrás. Lembro-me bem do dia em que tive uma intuição luminosa, - e que só podia ser uma revelação divina, - quando escolhi me dedicar com todas as minhas forças à redenção daqueles povos que aos meus olhos eu via como os mais abandonados e ignorados do planeta. Tentei, com a colaboração de outros confrades, irmãs, leigos e pessoas generosas amenizar um pouco dos sofrimentos produzidos por inúmeras doenças, pela escravidão, pela insalubridade da região e pela indiferença dos grandes da época. 

Não tenho condições, e nem cabe a mim, fazer um balanço objetivo daqueles anos de árdua missão, mas posso lhes dizer que tentei ser com os meus missionários uma boa nova, e um tímido sinal de esperança para aqueles pobres esquecidos. Não posso negar que quando as forças falhavam e a esperança queria se esvair o que me sustentava, sistematicamente, era um sonho, não uma ilusão, de que um dia algo bonito, inédito e surpreendente, poderia acontecer naquele canto de mundo do meu Deus. Não saberia traduzir isso em palavras claras, ou através de planos estratégicos e prioridades pastorais como vocês falam, hoje em dia. Garanto-lhes que era um sentir íntimo, profundamente pessoal, mas muito intenso. Uma fé! Isso tem me alimentado, mesmo quando vim saber, tempo depois, que líderes locais extremistas, - como muitos existem ainda hoje, no mundo de vocês, - obcecados por poder e a dominação, destruíram o que havíamos a duras penas construído. Hoje, mesmo na paz celestial o meu coração continua a chorar vendo milhares de filhos e filhas do Sudão e de outros países onde vocês trabalham, sendo ceifados em disputas e guerras violentas entre si, e obrigando milhões deles a saírem de suas terras à procura de refúgio e segurança em outros países, encontrando somente rejeição e morte. 

Queridos confrades confesso-lhes que, hoje, 10 de outubro, a melhor forma para se lembrarem de mim e do pouco ou muito que a minha missão tem significado para vocês não é através de solenes celebrações com as ‘orações próprias do dia’. E nem citando, aleatoriamente, frases ou ditos das minhas cartas. E nem tampouco me invocar como intercessor para resolver suas necessidades ou desejos, talvez, até legítimos, mas inapropriados. A melhor forma para mim é vocês terem a coragem e a ousadia de identificar quem são, de fato, hoje, ‘os mais pobres e abandonados’, - como vocês falam frequentemente em seus documentos, - e a eles se dedicarem e servirem, sem cálculos e sem medo de se perder. Não se preocupem demasiadamente com as vocações, a organização e a burocracia interna, mesmo que, agora, vocês tenham se transformado num instituto e numa congregação conhecida. Acreditem, um testemunho forte, coerente, generoso, corajoso deixa rastos e faz brotar mil vidas e mil esperanças!  

 Vosso afeiçoado irmão em Cristo, Daniel  


sexta-feira, 4 de outubro de 2024

27º Domingo comum - Um só ser, uma só carne, com igual dignidade para revelar a essência de Deus que é homem e mulher, ao mesmo tempo!

Feminicídios e agressões contra as mulheres aumentam a cada dia no mundo todo. Muitos homens parecem não aceitar mais um ‘não’ de uma namorada ou de uma companheira. Alguns ‘machos providentes’ sequer aceitam que mulher ganhe mais do que eles! A solução que muitos machos fracassados adotam para essa insana insubordinação da mulher é a sua eliminação física ou a sua radical rejeição. Jesus, antes mesmo de defender o matrimônio em si, e seus recíprocos compromissos, lembra aos homens fariseus que a inalienável igualdade entre homens e mulheres tem sua origem no Deus Criador e não em leis e tradições humanas. ’Ninguém é dono de ninguém, e os direitos de um são os direitos da outra também’! E isso porque Deus os criou ‘homens e mulheres’, simultaneamente. Somente juntos, em pé de igualdade, revelam o rosto inefável de um Deus que é, simultaneamente, homem e mulher, pai e mãe, ao mesmo tempo! A eliminação, a rejeição, a negação, ou o não reconhecimento da dignidade de um dos dois, seja quem for, é negar a própria essência de Deus, o Deus de Jesus de Nazaré! 


27ª domenica comune - Un solo essere, una sola carne, con uguale dignitá per rivelare Dio che é uomo e donna allo staesso tempo!

I femminicidi e gli attacchi contro le donne aumentano ogni giorno in tutto il mondo. Molti uomini sembrano non accettare più un semplice "no" da parte di una sposa o di una partner. Alcuni “maschi apparentemente provvidenti” non accettano nemmeno che le donne guadagnino più di loro! La soluzione che molti 'maschi falliti' adottano per quella che essi considerano una 'folle insubordinazione' da parte delle donne è l'eliminazione fisica o il rifiuto radicale . Gesù, prima ancora di difendere il matrimonio stesso e i suoi impegni reciproci, ricorda agli uomini farisei che l'uguaglianza inalienabile tra uomo e donna ha la sua origine nel Dio Creatore e non nelle leggi e nelle tradizioni umane."Nessuno possiede nessuno, e i diritti dell'uno sono anche i diritti dell'altra"!E questo perché Dio ha creato "uomini e donne" simultaneamente. Solo insieme, essendo una sola carne/essere indivisibile, su un medesimo livello dignità, rivelano il volto ineffabile di un Dio che è 'maschio e femmina', uomo e donna, padre e madre, allo stesso tempo! L'eliminazione, il rifiuto, la negazione o il non riconoscimento della dignità di uno dei due, chiunque esso sia, è negare l'essenza stessa di Dio, il Dio di Gesù di Nazareth!