Dobbiamo chiederci da che parte stiamo oggi: dalla parte di Tommaso o dalla parte degli altri apostoli chiusi in se stessi, immobilizzati dalla paura di testimoniare. È urgente verificare se aderiamo a una chiesa dalle porte aperte e accoglienti o a una “istituzione religiosa pietrificata” con la porta girevole che seleziona i suoi clienti. È necessario stare dalla parte di Tommaso, e avere il coraggio, come lui, di fuggire da una chiesa trincerata nelle sue sacrestie che contempla e adora un Risorto incarcerato e ingabbiato, e senza avere il coraggio di contemplare e desinfettare le ferite dei crocifissi che vivono nelle nostre strade e piazze. Non può essere la chiesa del Risorto che afferma di aver ricevuto lo Spirito Santo che invia, ma che, contradditoriamente, rafforza le serrature delle sue strutture, dominata dal panico di essere perseguitata e di perdere potere e prestigio. Tommaso definito il “gemello” perché sembrava in tutto a Gesù, chiarisce che è necessario screditare una chiesa che afferma la sua fede nel Risorto nelle sue belle celebrazioni, ma che continua avere nausea di introdurre il dito/fede nelle ferite infette da un’umanità agonizzante. È lì che si trova “il mio Signore e il mio Dio”! È nella carità, nella cura e nella compassione per tanti feriti che possiamo ritrovare il Crocifisso di Nazaret!
sábado, 26 de abril de 2025
Oitava de Páscoa - O meu Senhor, e meu Deus, só pode ser reconhecido nos cuidados aos feridos e crucificados de hoje!
É preciso se perguntar de que lado estamos, hoje: se com Tomé ou com os demais apóstolos trancados no seu medo de testemunhar. É urgente verificar se aderimos a uma igreja das portas escancaradas, aberta e acolhedora ou a uma 'instituição religiosa petrificada' com a porta giratória que seleciona os seus fregueses. É preciso estar do lado de Tomé, e ter a coragem, como ele, de fugir de uma igreja entrincheirada em suas sacristias que contempla e adora um Ressuscitado enjaulado e preso, e sem ter a coragem de contemplar e curar as feridas dos crucificados que vivem nas nossas ruas e nas praças. Não pode ser a igreja do Ressuscitado aquela que afirma ter recebido o Espírito Santo que envia, enquanto reforça as fechaduras de suas estruturas, dominada pelo pânico de ser perseguida e de perder poder e prestígio. Tomé chamado 'gêmeo' porque se parecia em tudo a Jesus, deixa claro que é preciso desacreditar de uma igreja que afirma a sua fé no Ressuscitado em suas belas celebrações, mas que continua tendo nojo de enfiar o dedo/fé nas feridas infeccionadas de uma humanidade agonizante. É lá que se encontra 'o meu Senhor e meu Deus'! É na caridade, nos cuidados e na compaixão de tantos feridos que podemos reencontrar o Crucificado de Nazaré!
sábado, 19 de abril de 2025
RISURREZIONE "LAICA'! Testimonianza vera di una madre
"Mi trovavo davanti alla tomba di mia figlia come facevo ogni giorno alle 16:00 nel cimitero di Verona. Dopo aver sostituito i fiori e messo una nuova candela, stavo contemplando la foto di quel piccolo viso luminoso che all’età di 23 anni era stato cancellato da un camion nel centro della città. All1improvviso, inspiegabilmente, un pensiero apparve nella mia mente, quasi come una voce che sussurra nelle mie orecchie: “Tua figlia non è qui, tua figlia è molto di più che un cadavere, pensa bene...” Sentii un brivido che percorreva tutto il mio corpo che cominció a tremare in modo compulsivo e incontrollato. Ho cercato di calmarmi e mi sono chiesta come sarebbe mia figlia dopo sette mesi di morta. Immaginavo che, forse, aveva ancora alcuni dei suoi capelli biondi, i vestiti con i quali fu deposta nella bara e, mio Dio, il suo corpo atletico, senza muscoli, solo ossa, e il suo volto sarebbe senza carne, senza quei grandi occhi castani. Un teschio. Ho cominciato a fremere nuovamente in un misto di rivolta e paura. Non potevo accettare che mia figlia, giovane e piena di vita, giocosa, affettuosa, dedita ad organizzare campagne per raccogliere coperte e cibo con i suoi amici per i poveri della stazione, potesse essere, ora, un terrificante cadavere. Sono tornata a casa e ho deciso di visitare gli amici di mia figlia con mio marito, sapere dove erano, e cosa stavano facendo. Ho visto e sentito che la mia bimba che poco avevo conosciuto, continuava viva in loro, in quei giovani che non hanno mai smesso di distribuire coperte e amicizia. Mia figlia era lì, viva e attiva attraverso di loro, e non in una tomba in qualsiasi cimitero della città! Non sono mai piú tornata al cimitero, perché sapevo che lá era solamente il posto dei cadaveri e non il luogo dei vivi, o come dite voi cristiani, il luogo dei risorti!"
RESSURREIÇÃO 'LEIGA'! Um depoimento verdadeiro de uma mãe
sexta-feira, 18 de abril de 2025
Venerdí santo, un dialogo tra PADRE e FIGLIO
O Gesù, figlio mio, mi rattrista molto nel vedere che ancor oggi ci sono figli miei e persino teologi che pensano che Io abbia voluto la tua morte pensando cosí che li avrei liberati da una presunta condanna che mai ho decretato. Molti credono ancora di poter comprare la mia benevolenza e la mia misericordia offrendomi sacrifici, oblazioni e preghiere. Non sanno che sono incorruttibile, che amo gratuitamente, senza chiedere nulla in cambio? Nelle loro preghiere non si stancano di ripetere “Ricordati o Padre”, ma si dimenticano che Io non soffro di amnesia, e che Io conosco in anticipo ciascuna delle loro aspirazioni. Forse sono loro che ignorano i loro fratelli più bisognosi e crocificati dalle loro stesse mani. Oggi in questo venerdì santo, caro Gesú, molti dei tuoi simpatizzanti e devoti si scordano che sono stati alcuni dei tuoi concittadini a eliminarti, perché mi Tu consideravi e mi testimoniavi come un Padre e non come un dio intransigente, vendicativo e legalistico come volevano gli uomini dei templi e dei palazzi. Dimenticano che oggi ci sono milioni di figli miei che continuano ad essere inchiodati nella vergognosa croce dell´indifferenza, della fame, della brutalità e degli abusi di ogni genere. Che gridano aiuto e accoglienza, ma trovano solo un silenzio sprezzante dei loro pari. E credono ancora che li ho abbandonati Io nell'ora di una morte che non ho mai voluto. Chi abbandona nell'ora della croce, lo sai, figliuolo caro, NON SONO STATO IO!
Sexta-feira santa, um diálogo entre Pai e Filho!
"Ó Jesus, meu filho, fico triste ao ver que ainda hoje há filhos meus e até teólogos que acham que Eu quis a sua morte para poder livrá-los de uma suposta condenação que nunca decretei. Muitos acreditam ainda que podem comprar a minha benevolência e misericórdia oferecendo-me sacrifícios, oblações, e orações. Será que não sabem que Eu sou incorruptível, que amo de graça, sem exigir nada em troca? Em suas orações não cansam em dizer 'Lembrai-vos ó Pai', mas deveriam saber que não sofro de amnésia, e que Eu conheço de antemão cada uma de suas aspirações. Talvez sejam eles que se esquecem de olhar para os seus irmãos mais necessitados, e crucificados pelas suas próprias mãos. Hoje nesta sexta-feira santa muitos dos seus simpatizantes e devotos esquecem que foram alguns dos seus patrícios que te eliminaram, pelo fato de você me considerar e testemunhar como Pai e não como um deus intransigente, vingativo e legalista como queriam os homens dos templos e dos palácios. Esquecem que hoje há milhões de filhos meus que continuam sendo pregados na infame cruz da indiferença, da fome, da brutalidade e dos abusos de todo tipo. Que gritam por socorro e acolhida, mas só encontram um silêncio desdenhoso de seus pares. E ainda acreditam que Eu os abandonei na hora de uma morte que Eu nunca quis. Quem abandona na hora da cruz, você sabe, NÃO SOU EU!"
quinta-feira, 17 de abril de 2025
Quinta-feira santa - Senta à mesa e come só quem se dispõe a servir!
Há um ar pesado impregnando aquela salinha um tanto escura, num sobrado qualquer da Jerusalém velha. A mesa enorme de tábuas rústicas já está pronta para a páscoa que Jesus havia convocado de forma um tanto apressada e fora de época. Muitas perguntas e dúvidas pairam na cabeça daquele grupinho de discípulos, mas ninguém ousa perguntar ou questionar. De repente, o Mestre manda sentar e em lugar de comer logo, ele começa a lavar os pés carregados de sol e de poeira do primeiro apóstolo ao seu lado. Surpresa e espanto geral. Boquiaberto e atônito, Pedro intui logo o alcance daquele gesto e se faz porta-voz do grupo. ‘Aqui não nascemos para ser escravos de ninguém’! Corta essa, Jesus, pelo amor de Deus'! ‘Um dia você vai compreender’, - responde Jesus. 'Afinal você continua alimentando sonhos de grandeza e de poder, e não pode entender e aceitar o que estou fazendo’! Só pode sentar à mesa de Jesus quem se dispõe a servir, nada mais do que servir, não importa se é puro ou pecador, digno ou indigno, casado ou não, cristão ou não, padre ou leigo! FELIZ QUINTA FEIRA SANTA!
Via sacra comentada
1ª estação: Jesus é condenado à morte - Quantas pessoas são condenadas à morte sem o assim chamado 'processo legal'; condenados por nós mesmos, juízes parciais e suspeitos, movidos pela nossa arrogância e sede de vingança. Incapazes de oferecermos uma nova chance a quem errou. Diferentemente daquilo que nos diz Jesus de deixar crescer juntos os que consideramos bons e ruins, o trigo e a cizânia, nós eliminamos, frequente e sumariamente, os que achamos serem os únicos responsáveis dos problemas sociais e humanos. Hoje, de forma irresponsável e criminosa a própria humanidade chega ao absurdo de condenar à morte a própria natureza, a mãe terra a irmã água e envenenar o ar que respiramos. Condenamos os outros, mas não assumimos as nossas responsabilidades.
2ª estação: Jesus carrega a Cruz às costas - Bem que poderíamos afirmar que Jesus foi obrigado a carregar à força uma cruz que ele não escolheu. Ele que durante a sua vida carregou espontaneamente e com amor a cruz da dor de tantos doentes, pobres, pecadores, viúvas e órfãos, agora, é obrigado a carregar a cruz da prepotência e da humilhação, da mesma forma que milhões de humanos são obrigados a carregá-la por causa de outros 'desumanos' crucificadores. Há cruzes que só nós podemos carregar e que não podemos evitar. Que o Deus do amor nos ajude a carregar a nossa cruz com coragem e fé!
3ª estação: Jesus cai pela primeira vez - Cair faz parte da caminhada, de quem sabe ou de quem pretende caminhar. Caem os que saem de suas casas, de suas sacristias e igrejas, e de seus mesquinhos egoísmos. Caem os que não se escondem, não se acomodam, não se trancam em suas fortalezas, mas se arriscam e ousam! O problema não é cair, o problema é saber levantar toda vez que caímos. Nem todos têm a coragem e a força de levantar e continuar a sair, a andar, a correr, a anunciar, a denunciar, e a construir com os outros.
4ª estação: Encontro de Jesus com sua mãe - Jesus conviveu e amou intensamente sua mãe, ao mesmo tempo que considerava mãe e pai todos aqueles que ouvem a palavra e a põem em prática. Quantos momentos de convivência carregados do afeto e atenção com Maria, mas agora, é o seu último encontro com sua mãe, marcado pela sua morte próxima. Deixa de ser um encontro e se torna uma despedida. Uma oportunidade para confirmar um amor que não desaparecerá com a ausência de Jesus. Maria se torna o símbolo daquela igreja que quer se encontrar com todos os crucificados e condenados pela indiferença e desamor, confortando, motivando e servindo, mas, principalmente, assumindo-os como filhos amados;
5ª estação: Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a Cruz – Quantas pessoas hoje agem como Simão Cireneu! Sem fazer alarde, de forma escondida e humilde tornam a cruz de muitos irmãos e irmãs mais leve. Muitos testemunhos de assistência, de dedicação e de serviço gratuito nos mostram que ainda há muita humanidade e empatia com as vítimas das cruzes impostas pela doença, pelo desamparo, pelo abandono, pela exclusão social e pelos carrascos de hoje. Nós ao sabermos que há alguém ao nosso lado que nos ajuda a carregar a cruz de cada dia superamos toda tentação de desânimo. Hoje, contudo, somos convidados a ser mais ousados que Simão Cireneu ao lutarmos para eliminar todas as cruzes construídas e impostas pela maldade humana, e não simplesmente a carregar passivamente a cruz alheia.
6ª estação: Verônica enxuga o rosto de Jesus – Quando nos aproximamos de pessoas consumidas e desfiguradas pela doença, pela violência, pela destruição ambiental com o intuito de enxugar suas lágrimas e o seu sangue, uma parte daquela dor entra na nossa alma, mas certamente também a alma daquelas vítimas começa a ter nova vida. As pessoas começam a perceber que não estão mais sozinhas e que, apesar de suas deformações e de seus sofrimentos, elas continuam a ser ‘verdadeiros ícones’ (Verônicas) do Criador. A própria criação hoje foi deformada e o seu rosto foi riscado e ferido pelas cicatrizes da ganância e da acumulação, da monocultura e dos agrotóxicos. Precisamos restaurar urgentemente o verdadeiro rosto da natureza e da humanidade tal como o ‘crucificado’ de Nazaré queria.
7ª estação: Jesus cai pela segunda vez – Quantas pessoas caídas encontramos nos nosso caminho! Algumas porque esgotadas pelo cansaço, pela falta de esperança e de perspectivas. Outras, porque foram derrubadas por irmãos próximos em suas disputas e rivalidades. Hoje vivemos derrubando pessoas amigas e próximas acreditando que são nossos rivais e competidores. Na nossa neurose vemos inimigos em todo lado e achamos que temos que abatê-los e abandoná-los à margem da nossa estrada, pois se assim não for, eles poderão nos derrubar. Precisamos assumir um novo olhar para com os nossos irmãos. Que não nos cansemos de estender a nossa mão para levantar os caídos da nossa comunidade.
8ª estação: Jesus consola as filhas de Jerusalém – Jesus sabia que são as mulheres que, em geral, nunca largam as pessoas que elas amam, principalmente quando estão passando por momentos de angústia e de dor. Jesus tinha certeza que aquelas filhas de Jerusalém nunca teriam se conformado com a sua morte próxima, e o teriam mantido vivo de um jeito especial. Jesus, o necessitado de consolo, continua a ser o consolador até o fim. Consolar não é conformar, não é aceitação passiva da própria desgraça. É, ao contrário, a certeza antecipada de que as provas da vida e a própria morte não vão fazer desistir aqueles que amam intensamente, mesmo na ausência do amado. Sejamos consoladores incansáveis de quem parece estar cansado de amar e de lutar!
9ª estação: Jesus cai pela terceira vez – Quando fazemos a experiência traumática da decepção, da traição, do abandono humano, da solidão, da perda de pessoas amadas imaginamos que daquela provação jamais iremos levantar. Pensamos que não haverá mais jeito de voltar a ser como antes e, frequentemente, nos entregamos ao desespero e à desmotivação. Jesus, mesmo cansado e abatido, mesmo após várias quedas continua a levantar, a endurecer o rosto como o servo sofredor, e a encontrar energia e fé para levantar e subir o Gólgota da vergonha. Só a morte física para pôr fim às nossas quedas, só a falta de coragem e fé para nos entregar, e não querer mais levantar! Que não tenhamos medo de estender a mão àqueles que querem nos ajudar a levantar todas as vezes que caímos!
10ª estação: Jesus é despojado de suas vestes – Na época de Jesus, despir uma pessoa de suas vestes era come despi-la de sua dignidade e personalidade. Uma forma atroz de humilhar o condenado, um gesto desumano de dominação sobre o seu corpo e a sua alma. Jesus o missionário que restaurava corpos e espíritos feridos, que pregava a necessidade de vestir os nus se torna vítima de uma espoliação que não consegue, porém, arrancar as profundezas de sua alma. Jesus, o rosto verdadeiro do Pai, criatura moldada pelo amor divino, não teme essa última usurpação, pois das vestes do coração revestido de compaixão jamais poderia ser espoliado! Não temamos quem hoje rouba a nossa roupa, mas sim aqueles que têm o poder de sequestrar a nossa alma, a nossa dignidade e a nossa fé!
11ª estação: Jesus é pregado na Cruz – Pensar em pregos que penetram nas mãos de alguém não é pensar somente na sua dor física, mas também na sua dor moral e espiritual. Afinal, enfiando os pregos no corpo de alguém é para que ele seja imobilizado e colocado em condições de não reagir. É dizer ao condenado que ele é um impotente, um incapaz e que mereceu estar pregado definitivamente àquela situação, e que não adianta reagir ou se revoltar. Quantas vezes nós cravamos os pregos da calúnia, da mentira, da irresponsabilidade ambiental, da ignorância e da brutalidade nos corpos e nas almas das pessoas e da natureza. Chegou a hora de retirarmos os numerosos pregos que nós mesmos pregamos e que mantêm presos â cruz da dor, da escravidão, da fome, da guerra e da destruição milhões de pessoas!
12ª estação: Jesus morre na Cruz – Jesus não morreu, Jesus foi morto. Jesus não morreu para expiar os nossos pecados, mas porque foi vítima dos pecados da intolerância, da violência, da brutalidade. Jesus venceu a morte não porque se livrou da putrefação do seu organismo, mas porque olhou firme para a morte e para os seus assassinos, não com os olhos do derrotado e do desesperado, mas com os olhos de um vencedor que, - mesmo aparentemente derrotado, - olha com compaixão e misericórdia quem o estava matando. Ver um condenado que não morre revoltado, amaldiçoando e blasfemando é uma derrota para os seus crucificadores. Jesus não morre desesperado porque sabe que debaixo da cruz existem mulheres fieis que continuarão a sua missão. Que não tenhamos medo de encarar a nossa morte e de recolher o último hálito de vida de muitos agonizantes e daqueles mortos ambulantes que vagam nas nossas praças e ruas à procura de vida nova!
13ª estação: Jesus é descido da Cruz – Muitas vezes no nosso desânimo achamos que a vida nos crucificou uma vez por todas, para sempre, e que jamais conseguiremos dar a volta por cima. Acreditamos que fomos abandonados na nossa desgraça e na nossa falta de felicidade. É preciso acreditar que o Deus da compaixão sempre vai inspirar e dar coragem a alguém para nos ajudar a descer da cruz em que nós achamos que fomos pregados para sempre. Hoje somos convidados a mergulhar no mundo dos crucificados e a tirar das cruzes não cadáveres sem vida, mas irmãos e irmãs que, embora agonizantes, são ainda vivos, e que necessitam voltar a esperar, a crer e a viver com intensidade.
14ª estação: Jesus é sepultado – Muitas pessoas acham que ao enterrar uma pessoa querida e amada estaríamos enterrando também o que ela significou para nós. O patrimônio humano e espiritual de quem amou e se foi fisicamente, jamais vai ser depositado e esquecido numa cova ou num sepulcro frio. Nós devolvemos à mãe terra só o corpo biológico para que volte a fertilizar o chão da fartura e da abundância, mas jamais podemos pensar que uma sepultura é o ponto final de um itinerário marcado pelo amor que serve e que protege, que assiste e que cuida. Hoje somos convidados a retirar as pedras pesadas que mantêm milhões de pessoas como se estivessem enterrados em sepulcros sem luz e sem vida. Retiremos as pedras do ódio e da intransigência e libertemos os escravos e as vítimas do desespero e da escuridão.
Gólgota. Artigo de Gianfranco Ravasi
Acredito no Gólgota porque foi lá que se celebrou o sacrifício de um justo, de um fraco, de um pobre. Aquele sacrifício se repete todos os dias e é o verdadeiro e único pecado do mundo: o sacrifício, a dominação, a humilhação do pobre, do fraco, do justo. O Gólgota representa o pecado do mundo. Entramos na Semana Santa acompanhados pela voz de um jornalista “laico” por excelência, mas repetidamente ansioso para se debruçar além das fronteiras da religião. Ele é Eugenio Scalfari, que morreu em 2022 aos 98 anos, quase sempre no palco da comunicação. Foi em 2010 que ele publicou um texto com o emblemático título Ragionando con Martini di peccato e di resurrezione (Discutindo com Martini sobre pecado e ressurreição), trazendo à cena um personagem igualmente conhecido, o cardeal Carlo M. Martini, arcebispo de Milão, que morreria pouco depois, em 2012, e que seria então substituído como interlocutor no discurso religioso pelo papa Francisco, que ascendeu ao trono pontifício em 2013. Desse diálogo, extraímos um parágrafo que tem como símbolo o Gólgota, que em aramaico significa “caveira”, em latim Calvário. Para Scalfari, a cruz incrustada naquele esporão rochoso de Jerusalém, com apenas alguns metros de altura, é a síntese universal do pecado do mundo quando é manchado pelo abuso do pobre, do fraco e do justo. É, portanto, uma advertência contra todos os prepotentes da história, famosos ou ocultos; é um sinal de esperança para todas as vítimas, porque aquela cruz será despojada de seu cadáver crucificado e dará lugar ao Ressuscitado na aurora da Páscoa. Os crentes e os agnósticos são, portanto, convidados a fixar o olhar nela e a não arrancar aquele homem na cruz. Outra figura “laica”, Natalia Ginzburg, escrevia: “Não removam o crucifixo das paredes porque ele é o sinal da dor humana. O crucifixo faz parte da história do mundo”.
Guerra no Sudão faz 2 anos em cenário cada vez mais complexo
Briga entre generais deflagrou conflito que já matou 150 mil pessoas e deixou 64% da população dependente de assistência humanitária. Apesar das dificuldades, sociedade civil segue como fonte de resistência e apoio. O Sudão, terceiro maior país da África, vem enfrentando há dois anos uma espiral negativa desde que um conflito entre os generais das Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido escalou para uma guerra. De acordo com as Nações Unidas, o país do nordeste africano – rico em ouro, petróleo e terras férteis – mergulhou em uma das maiores crises humanitárias e de deslocamento forçado do mundo. Da população de 51 milhões, 64% agora dependem de assistência humanitária, e cerca de 12 milhões foram deslocadas. Mulheres e meninas sudanesas foram particularmente afetadas pela crise, pois não apenas constituem a maioria dos deslocados, mas também sofrem com agressões sexuais generalizadas e estupros coletivos. Estimar o número de mortos é difícil devido aos combates em andamento, mas dados mais recentes de organizações humanitárias internacionais saltaram de cerca de 40 mil para 150 mil mortos. À medida que a guerra entra em seu terceiro ano nesta terça-feira (15/04), o país corre cada vez mais o risco de ser dividido entre duas administrações rivais. Para Hager Ali, pesquisadora do Instituto para Estudos Globais e Regionais (Giga), isso limitaria ainda mais a esperança de um fim à violência. "Temos que olhar para um horizonte temporal de 20 anos ou mais. O Sudão não precisa apenas de um acordo de paz, pois os cismas entre o centro do país e a periferia, etnias, religiões e tribos se aprofundaram", disse ela à DW. Por que a guerra começou? Em outubro de 2021, um golpe militar liderado pelo general Abdel-Fattah Burhan, das Forças Armadas Sudanesas (SAF), e apoiado por seu vice e chefe dos paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF), general Mohamed Hamdan Dagalo, depôs o governo de transição do Sudão que tinha a tarefa de implementar uma rota para a democracia. No entanto, após Burhan não conseguir criar um governo liderado por civis em estreita cooperação com um Conselho Supremo liderado por militares e por Dagalo, ambos os generais se desentenderam sobre a integração das paramilitares RSF às SAF em meados de abril de 2023. "A guerra começou com um grande impasse na capital do Sudão, Cartum, onde os combates se transformaram em uma guerra de trincheiras urbanas que se espalhou por todo o país", disse Ali. (IHU)
“Israel transformou Gaza num campo de extermínio”, atesta o secretário-geral da ONU
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, mais uma vez deu o alarme sobre a trágica situação em Gaza. A Faixa, ele disse aos repórteres hoje, se tornou um “campo de matança”, com Israel bloqueando a ajuda e falhando em cumprir suas “obrigações” de fornecer necessidades básicas aos moradores de Gaza. "Mais de um mês inteiro se passou sem que uma gota de ajuda chegasse a Gaza. Nenhuma comida. Nenhum combustível. Nenhum remédio. Nenhum suprimento comercial. Conforme a ajuda secou, as comportas do horror se reabriram", disse Guterres. "Gostaria de dizer uma palavra especial sobre esses heróis humanitários em Gaza. Eles estão sob fogo e ainda assim estão fazendo tudo o que podem para seguir o caminho que escolheram para ajudar as pessoas", Guterres acrescentou, "deixe-me ser claro. Não participaremos de nenhum acordo que não respeite totalmente os princípios humanitários: humanidade, imparcialidade, independência e neutralidade. O acesso humanitário desimpedido deve ser garantido." Mais cedo hoje, o presidente francês Emmanuel Macron, durante sua visita ao Egito, também condenou o ataque israelense aos trabalhadores humanitários e pediu a retomada imediata da ajuda a Gaza. "A situação hoje é intolerável", disse Macron na cidade de El-Arish, perto da fronteira com Gaza, pedindo "a retomada da ajuda humanitária o mais rápido possível" no território. Ele também "condenou veementemente" o ataque israelense a paramédicos e trabalhadores humanitários no mês passado. Enquanto isso, o número de mortos nos ataques israelenses na Faixa de Gaza nas últimas 24 horas aumentou para pelo menos 58 palestinos mortos e 213 feridos. O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, disse que desde que o cessar-fogo foi quebrado em 18 de março, as forças israelenses mataram 1.449 pessoas e feriram outras 3.647 na Faixa de Gaza. (IHU)
quarta-feira, 16 de abril de 2025
Carta aberta do Conselho Geral dos Missionários Combonianos aos seus confrades
Caríssimos confrades,
Obreiros da esperança e companheiros de missão, semeadores de vida onde muitas vezes parece haver apenas morte, nestes dias santos, ao celebrarmos a Páscoa, sentimos fortemente em nós o desejo de chegar até vós com um pensamento, uma oração, um abraço fraterno. Estais lá, onde a vida parece muitas vezes dar lugar à morte, onde a dignidade humana é diariamente humilhada, esmagada,ofendida e, por vezes, totalmente negada. No entanto, aí mesmo, estais chamados a ser a presença viva do Ressuscitado nas mais diversas formas: escolhendo estar ao lado dos últimos,levantando os que caíram e restituindo a dignidade aos que foram espezinhados... Muitas vezes, o mundo pode parecer-vos um deserto estéril, mas é então que deveis acreditar que, sustentados pelo Espírito, podeis ajudar a transformá-lo num luxuriante “jardim” de vida. Sim, porque a Ressurreição não é apenas um acontecimento do passado a recordar com devoção. É um fogo que continua a arder, é uma força que continua a abrir sepulturas, a remover lápides demasiado pesadas, a fazer brotar a vida mesmo na terra mais seca.Vós sabeis isto muito bem, mesmo que às vezes vos custe a acreditar.
Às vezes, podereis sentir-vos sozinhos, dominados pelo cansaço, desencorajados pela dureza da realidade e pelos fracos resultados dos vossos tantos esforços. E, no entanto, continuais a testemunhar, diariamente, a vitória de Cristo sobre a morte com gestos simples e silenciosos: uma criança alimentada, uma ferida sarada,uma mão estendida, uma palavra proferida no escuro, uma divisão suprimida, um ódio eliminado...Cada um dos vossos atos de amor é uma negação da lógica da morte.É Páscoa, é vida nova! Embora tantas vezes rodeados de atmosferas fétidas e tóxicas, podemos ainda acreditar – e ver – que mesmo o “túmulo” mais terrível e sombrio se encontra sempre – de uma forma misteriosa, mas real – num “éden”. Nem todos acreditam e veem isto. Vós, sim! No meio de um mundo que, por vezes, parece ter enlouquecido – marcado por guerras, mortes,miséria, violência, indiferença, prepotência e exploração, desastres ecológicos, terríveis crises humanitárias e ambientais, causadas sobretudo pela humanidade – continuais a acreditar em “jardins no deserto”, a plantá-los e a expandi-los, no espírito de uma verdadeira “ecologia integral”, e a semeara beleza mesmo onde parece impossível, a apostar na bondade, na fraternidade, na vida plena, no Evangelho.Todos nós sabemos que não é fácil. Por vezes, o peso da dor que nos rodeia parece maior do que a nossa força. Mas, não vos esqueçais de que o túmulo está vazio. O Senhor ressuscitou. E com ele, todos os vossos gestos têm sentido. Todas as vossas escolhas encarnado. Cada criança que volta a sorrir, cada doente curado, cada injustiça combatida, cada gesto de amor realizado é um sinal de que a pedra do túmulo pode ser removida e de que a vida pode voltar a florescer. Não estais sozinhos. Cristo caminha convosco. E nós, vossos confrades, estamos ao vosso lado com a oração, a amizade, a admiração e a gratidão. O mundo precisa de vós, que não cedeis à escuridão, mas persistis em acender as lâmpadas, mesmo quando elas parecem inúteis. A Páscoa é isto mesmo: saber que, apesar de tudo, a Vida tem a última palavra; que onde o mundo põe uma sepultura, Deus constrói um berço; que há salvação mesmo onde parece haver apenas desespero e morte. Trazemos-vos no nosso coração. Confiamos-vos ao Ressuscitado. E rezamos para que possais viver uma verdadeira Páscoa: de luz, de esperança, de consolação e de ânimo renovado. É Páscoa! O amor venceu. E continuará a vencer. Convosco, em vós. Com afeto e solidariedade, desejamos-vos uma Boa Páscoa de esperança e vida nova.
sábado, 12 de abril de 2025
Domenica delle palme - Disprezzare i cavalli dei prepotenti per cavalcare l'asino degli umiliati!
Le glorie sono di breve durata. Volatili ed effimere non garantiscono felicità e né realizzazione umano-esistenziale. Ci sono esseri patologici assetati di fama e visibilità che scommettono su tutto ció, credendo che saranno immortali, perennemente riconosciuti e ricordati dai loro posteri. Gesù non ha mai investito in prestigio e popolarità. Le buone opere che egli faceva le attribuiva alla fede delle persone o alla potenza del Padre, e non a sé! Gesú si sentiva un umile strumento di facilitazione, un fedele esecutore di una volontà che non gli apparteneva nemmeno. In questa solennità delle palme ricordiamo la rinnovata consapevolezza di Gesù nell’usare non i cavalli/mezzi dei vincitori, degli arroganti, i surfisti del successo e della fama, ma il puledro degli spogliati, dei poveri e dei servi. Gesù lascia chiaro che, pur tra gli Osanna di alcuni infiltrati manipolatori desiderosi di cavalcare la situazione del suo apparente successo, Egli continua a rimanere accanto a coloro che piangono, e insieme ai miti e affamati di pane e di giustizia. E starsene ben lontano dagli arroganti e prestigiosi signori delle guerre, delle finanze e dei dazi. Egli pagò un prezzo molto alto per questo! Si preparó a consegnare il suo Spirito al Padre e a coloro che oggi stanno accanto ai crucificati della storia!
Domingo de Ramos - Desprezando os cavalos dos prepotentes para cavalgar o jumentinho dos humilhados!
As glorias têm vida curta. Voláteis e efêmeras não garantem plenitude de felicidade e de realização humano-existencial. Há seres patológicos sedentos de fama e de visibilidade que apostam nisso, acreditando que serão imortais, perenemente reconhecidos e lembrados pelos pósteros. Jesus nunca investiu no prestígio e na popularidade. As obras boas que fazia as atribuía à fé das pessoas ou ao poder do Pai, e não a Ele próprio! Sentia-se um humilde instrumento facilitador, um fiel cumpridor de uma vontade que nem lhe pertencia. Nesta solenidade dos Ramos fazemos memória da renovada consciência de Jesus em utilizar não os cavalos/meios dos vencedores, dos prepotentes, dos surfistas do sucesso e da fama, mas o jumentinho dos despojados, dos pobres e dos servidores. Jesus deixa claro que, - mesmo entre os ‘Hosanas’ de alguns infiltrados manipuladores desejosos em cavalgar a situação do seu aparente sucesso, - Ele continua a permanecer entre os que choram, e junto aos mansos e famintos de pão e de justiça. E ficando bem longe dos arrogantes e prestigiosos senhores das guerras, das finanças e dos tarifaços. Pagou um preço muito alto por isso! Ele se preparou para entregar o seu Espírito ao Pai e aos que permanecem ao lado dos crucificados de hoje!
quinta-feira, 10 de abril de 2025
CAMINHANDO COM O CRUCIFICADO PARA LIBERTAR OS CRUCIFICADOS - Retiro espiritual da Semana Santa
1. “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lc. 23,34)
Jesus, na sua vida pública, sempre revelou o perdão do Pai; no encontro com os pecadores deixou transparecer a misericórdia restauradora de Deus. O perdão foi a marca de sua vida e deve ser também a marca dos seus seguidores.
É difícil perdoar: a dor, o orgulho, a própria dignidade, quando é violentada, grita pedindo “justiça”, buscando “reparação”, exigindo “vingança”... Mas, perdão?
Surpreende-nos que Jesus na Cruz seja capaz de continuar vendo humanidade em seus verdugos, em seus algozes; Ele é capaz de continuar crendo que há esperança para aqueles que cravam seus semelhantes na Cruz.
Porque, esta palavra de perdão, dita a partir do madeiro, é sobretudo uma declaração eterna: o ser humano, todo homem e toda mulher, conserva sua capacidade de amar nas circunstâncias mais adversas. E todo ser humano, até aquele que é capaz das ações mais atrozes, continua tendo um germe de humanidade em seu interior e que permite que haja esperança para ele.
Perdoar é atrever-se a ver o que há de verdadeiro, de beleza em cada um. O perdão é capaz de ver dignidade e faísca de humanidade escondida no coração do verdugo. O perdão abre futuro, destrava a vida e não se deixa determinar pelos erros do passado; ele quebra distâncias, nos faz descer em direção à fragilidade do outro, ao mesmo tempo que revela nossa própria fragilidade.
O perdão é algo soberano, um gesto, uma decisão pessoal e autônoma. A pessoa decide perdoar mesmo que o outro não queira receber o perdão! É a firma decisão de romper a espiral da violência: de uma agressão inicial, vem a resposta com mais violência por parte do agredido que, por sua vez, responde mais violência....
É enquanto pecadores que somos chamados a perdoar e não enquanto justos, só ver o filho mais velhos da parábola do ‘pródigo’. Por isso, no perdão é onde mais nos assemelhamos a Deus, pois só Ele podia inventar o perdão. Deus também continua me perdoando hoje, pelas atitudes pecaminosas em minha vida que destroem, rompem, ferem os outros e o meu mundo.
Perdão não é ignorar o erro ou o crime cometido, isto seria omissão ou, pior, cumplicidade. É não fazer ao outro o que ele fez aos outros em termos destrutivos. É ajudá-lo a se libertar e ser uma pessoa nova renascida!
- Deixar ressoar esta expressão de Jesus: Fiz experiência de perdão? Sou capaz de perdoar e capaz de acolher o perdão que me é oferecido?
2. “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc. 23,43)
Jesus sempre viveu “em más companhias” e agora morre entre dois ladrões. Mais uma vez, não assume o papel de juiz sobre os outros, mas oferece uma nova chance de salvação. É o Agonizante que está para morrer, mas que dá vida, dá esperança a outros moribundos. É presença solidária, que, mesmo em meio ao pior sofrimento, oferece companhia, acolhida, amizade a outros sofredores.
Um dos ladrões, impactado pela serenidade e testemunho de Jesus consegue “roubar o paraíso” a Jesus. Jesus revela uma promessa que muitas pessoas precisam ouvir hoje, sobretudo aqueles que carregam cruzes injustas e pesadas, que vivem realidades atravessadas pela dor, pela solidão, dúvida, incompreensão ou pranto... Como soarão estas palavras no interior de cada um de nós: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Hoje: porque as mudanças, a nova criação, a humanidade reconciliada, não tem que esperar mais; hoje, agora, aqui, já...; talvez se esse “hoje” não chega é por causa de tantas pessoas que não decidem, não optam por ‘ter o paraíso’, mas esperam sentadas, paralisadas, alienadas...
Comigo: promessa de viver em sua companhia e desperta ecos de uma plenitude de vida que não conseguimos entender. No paraíso: que não é um mítico Eden, mas um lugar de plenitude de vida, onde não haverá mais tristeza, nem pranto, e nem dor; uma realidade já presente que pode e deve ser construída aqui, agora, onde habitará a justiça e a paz.
- Deixar ressoar esta expressão de Jesus para construir, hoje, o Paraíso em nosso cotidiano. - Como construir e viver hoje no paraíso? Neste momento, a quem podemos despertar a esperança do paraíso?
3. “Mulher, eis o teu filho; filho, eis a tua mãe” (Jo 19,26)
Maria, mulher do “sim”; “sim” que se prolonga até à Cruz, onde, de pé, revela sua presença materna e consoladora junto a seu Filho Jesus. A presença de Maria na vida de Jesus não é acidental: foi aquela que mais amou, conheceu e seguiu Jesus. Ela agora é nossa referência fiel no seguimento do seu Filho.
Despojado de tudo, Jesus tem um tesouro a nos dar: entrega sua própria mãe para que ela seja presença cuidadora e de ternura junto aos seus filhos sofredores. Jesus não nos deixa órfãos; sempre precisamos dos cuidados e do consolo de uma mãe; alguém para nos acompanhar nas horas mais obscuras e difíceis; alguém que nos sustenta nos momentos trágicos; alguém que compartilha nossas perdas... e que também está presente nas horas boas, que chegarão.
É como se Jesus nos dissesse: “Para viver o meu seguimento, inspire-se nela, em Maria, tenha-a como referência”. Não estamos sozinhos: muitas presenças marianas em nossas vidas – amigos, pais, filhos, irmãs... São tantas pessoas junto ao pé da cruz, inumeráveis homens e mulheres de Igreja que foram e são companheiros de caminho, de esforço, de apoio, de buscas e de amor.
João, também de pé junto à Cruz, representa todo seguidor fiel de Jesus, que não larga o Mestre na hora da desgraça, mesmo nos momentos de crise. Com efeito, para João o discípulo amado representa a nova igreja que acolhe aquela igreja que ainda tem um pé no antigo testamento, no judaísmo (Maria), e que não aderiu plenamente. Jesus pede para acolhê-la e se acolherem reciprocamente.
- Deixar ressoar estas palavras de Jesus: perguntemo-nos se nós tentamos ser presença materna, solidária e cuidadora junto aos sofredores e crucificados da nossa comunidade....ou se fazemos a mesma escolha dos apóstolos de abandonar o crucificado e fugir.
4. “Meu Deus, meu Deus, para que me abandonaste?” (Mt 27,46)
O grito de Jesus na Cruz condensa o grito da humanidade sofredora; é o próprio Deus que grita o seu abandono. Esse grito de Jesus revela uma Presença no próprio abandono, embora, de imediato não se sinta esta presença. É um grito que não fica no vazio, mas aponta para a Vida.
Muitos de nós nos perguntamos: “Onde está Deus no sofrimento, na violência, na morte...?” Ou, o que fiz de ruim para merecer essa doença, essa provação...’? E Deus responde, perguntando: “Onde está você no meu sofrimento, na violência que sofro, na morte... de meus filhos/as?” O sofrimento da humanidade é o sofrimento de Deus; Deus não é insensível e distante da dor dos seus filhos.
Quem não passa por momentos de noite escura, de insegurança, de absoluta incerteza...? Quem não viveu experiências de abandono, de falta de sentido na vida, de solidão, de rejeição...? Quem não tem momentos de ceticismo, de amargura, de medo, de dúvida...? Quem não se pergunta, talvez por um instante fugaz, mas pungente, onde está o Deus da vida, agora?
Nesses momentos temos a impressão de que todas as nossas opções foram equivocadas, que cada decisão nos levou por um caminho sem saída... Nesses tempos nos remorde o fracasso, a miséria, própria e alheia. É do meio desta situação que brota um grito desesperador, como o de Jesus... No entanto, nos atrevemos a seguir adiante, com nossos projetos, compromissos e esforços em seu nome. Mais que isso: em lugar de olhar o porquê disso ou daquilo, somos convidados a entender e acolher o PARA QUE, PARA QUAL FINALIDADE Deus permite que façamos a experiência do abandono, da dor inexplicável e da solidão? Para nos tornarmos mais humanos, para compreender melhor a dor alheia ou para dar vazão à nossa indignação e revolta? O que me ensina essa experiência de dor e de angústia? Será que não vai nos ajudar a entrar em sintonia com os dramas existenciais de tantos irmãos?
O desafio está em não ceder, em não crer que tudo tem sido uma mentira. O desafio é não abandonar, não se render, não capitular nesses momentos. Entende-se, assim, o grande “grito” que brotou das profundezas da dor de Jesus na Cruz e que continua ecoando como clamor angustiado. Não são poucos os gritos dos mais pobres e dos excluídos. É um clamor forte pela intensidade de suas carências. Um clamor surdo porque não consegue impactar de modo a conseguir respostas prontas e imediatas aos graves problemas que os afligem.
O grito dos sofredores é sempre forte. Forte pela violência das necessidades e das urgências para a garantia de uma vida mais digna. Em Cristo se condensam todos os gritos da humanidade sofredora.
Sua força, no entanto, não consegue incomodar a todos os que precisam ser interpelados pela exigência deste clamor. Um grito, pois, é a expressão do mais forte sentimento que está no centro do próprio coração; é, também, a expressão mais concreta do que aflige o coração. Um grito é, na verdade, um convite a um compromisso solidário.
O grande grito de Jesus é a certeza de tudo o que sustenta o seu coração; ao ecoar junto aos crucificados, provocará grandes novidades. Um grito que não fica no vazio mas aponta para a vida.
- Deixar ressoar este grito de Jesus: quais são os gritos surdos que brotam da nossa realidade hoje, aqui em Piquiá?
5. “Tenho sede...” (Jn. 19,28)
Justamente Jesus, a água viva que garante que quem bebe a sua água nunca mais terá sede manifesta a sua sede intensa e trágica! Jesus sempre foi um homem “sedento”: sedento para fazer a vontade do Pai, de realizar o Reino, de transformar a vida das pessoas, de ter uma presença solidária junto aos sofredores, sede de tornar conhecido Deus como Pai/Mãe...misericordioso.
Agora grita sua derradeira sede: sede de um mundo redimido, sem dor, sem exclusão, sem violência, sem cruzes. Grita o homem com a garganta ressequida: sede na garganta e sede no coração. Grito que se multiplica em milhares de gargantas espalhadas pelo mundo: quero “justiça”, clamam os injustiçados deste mundo; quero “pão”, pede a criança com a barriga inchada de ar e de fome; quero “paz”, exclama a testemunha de atrocidades sem fim; quero “amor”, pede o jovem solitário por ser estranho; quero “moradia”, sonha o morador de rua que dorme em um banco da praça; quero “trabalho”, suspira uma jovem que se sente fracassar; quero liberdade escreve o presidiário em seus poemas; quero saúde, recita o enfermo em seu leito... Vozes de compaixão, vozes de pranto, vozes que refletem as dores do mundo.
O grito de Jesus na Cruz recolhe todos esses brados da humanidade quebrada, dividida, autodestrutiva. E não há explicação; não há sentido; não há justiça. Só um grito a mais. A sede de Jesus desperta em nós outras “sedes”: de que tenho sede? Sede de sonhos, de mundo novo, de poder, de prazer, de aventuras????
Sede mobilizadora que desperta e ativa as melhores energias dentro de nós, sede que purifica nossa capacidade de escutar os gritos, de perto e de longe. O que fazer? “Quem tem sede venha a mim e beba”. Quem não tem sede não busca, não cria. Quem não sente sede não descobre a verdadeira água aquela que tem o poder de saciar a nossa sede uma vez por todas.
O que oferecemos nós àqueles que gritam porque têm sede? Água viva ou vinagre, amor e acolhida ou ódio e exclusão?
- Deixar ressoar essa súplica de Jesus: Quem são os sedentos da nossa comunidade que gritam por amor e acolhida? Como e com quem podemos saciar a sede que está nas gargantas e no coração das pessoas?
6. “Tudo está consumado” (Jo. 19,30)
Parece uma contradição alguém dependurado na Cruz afirmar que tudo está consumado; tem-se a impressão de fracasso total. Mas na Cruz Jesus leva até às últimas consequências sua Encarnação: mergulha e se faz solidário com todos os crucificados da história. “Desce” até às profundezas (ínferos) do sofrimento humano e ali revela a presença do Deus humano e compassivo.
No alto da Cruz, Jesus tem consciência que não viveu em vão; sua presença fez a diferença; viveu para os outros. Jesus morre com as mãos cheias de vida; gastou a sua vida a serviço da vida de todos; deixou pegadas nos corações de quem encontrou pela vida. “Jesus morreu de tanto viver”. Morreu de bondade, de compaixão, de justiça. Jesus teve um “caso de amor” com a vida; viveu intensamente.
Paradoxalmente, uma vida bem consumada torna fecunda a morte. Uma vida, bem vivida, intensa, fez tudo o que tinha que fazer. Faz com que a morte não seja em vão. Uma história consumada de Amor. Vida consumada quando se consome no serviço aos outros. Jesus desencadeou um movimento de vida.
- Deixar ressoar esta afirmação de Jesus: quão plenificante é poder dizer a cada dia: tudo está consumado. É poder dizer como Pablo Neruda: “Confesso que vivi”.
7. “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc. 23,46)
Só quem viveu intensamente uma vida expansiva pode acolher a própria morte com paz, confiança, serenidade e abandono nos braços do Pai. Jesus morre como tinha vivido: ancorado na confiança do Pai. Jesus, que sempre prolongou as mãos do Pai, agora entrega-se confiadamente nos braços do mesmo Pai.
Jesus sempre viveu em profunda sintonia com o Pai; agora Ele dá um “salto vital” nos braços do Pai. Ao “entregar seu espírito” Jesus é “aspirado” para dentro de Deus. A morte nos inspira medo; mas na morte, somos todos iguais, sozinhos diante de Deus.
A morte é a última ponte que nos conduz ao Pai. Seremos abraçados do outro lado da ponte. Nosso destino é o coração de Deus. Não só na hora da morte, mas a cada dia somos chamados a “entregar o espírito”; num mundo em que todos buscam seguranças, que em tudo querem ter “salva-vidas”, num mundo que nos convida a ter as costas cobertas... queremos arriscar, apostar pelo Reino; queremos nos sentir confiados, atravessar tormentas ou espaços serenos, sentindo-nos protegidos pelas mãos do Pai. Mãos que curam, acariciam, sustentam...mediante as mãos visíveis, concretas de quem convive conosco, de quem faz parte da comunidade dos seguidores de Jesus.
‘Entregar, ou melhor, expirar’ - significa deixar sair o hálito para que os que estão próximos estejam prontos para ‘inspirar’, e acolher. Debaixo da cruz há João e as mulheres ‘inspirando o hálito de Jesus’, colocando para dentro de si o último respiro de vida de Jesus sinalizando que agora, são elas que irão dar continuidade à missão e ao jeito de ser de Jesus.
- Deixar ressoar em nosso interior as palavras de entrega de Jesus: vivemos amparados pelas mãos providentes e cuidadosas do Pai; sentir-nos movidos a prolongar as mãos do Pai.
sexta-feira, 4 de abril de 2025
5º Domingo de Quaresma - Viremos página e sejamos pessoas novas construindo o inédito do Deus da misericórdia!
Paradoxalmente, em épocas de pós-modernidade e de pluralismos culturais parece haver uma volta a um moralismo arcaico e abjeto, não somente nos âmbitos religiosos e eclesiais, mas também na vida social. Muitas vezes por trás de uma insistente defesa da ‘liberdade de expressão’ esconde-se quase sempre um dogmatismo moralista obtuso. Os escribas de hoje insistem em ‘tentar e armar ciladas’ como verdadeiros instrumentos diabólicos, aos que acreditam em atitudes e comportamentos alicerçados na compreensão, compaixão e misericórdia. No evangelho de hoje, é no espaço sagrado do templo, e por ‘homens de Deus’ que Jesus é tentado por aqueles que pregam ainda o Deus das normas, dos preceitos e da punição aos impuros e extraviados. A sua rigidez e hipocrisia moral é desmascarada por Jesus ao lhes lembrar que ninguém pode se arvorar em juiz de quem quer que seja. O Mestre convida a todos a assumir o mesmo jeito que Deus-Pai teria se fosse visível aos nossos olhos: oferecer uma sempre renovada chance a quem errou, para que seja uma nova pessoa! Às vezes é preciso virar página, deixar de lado arrependimentos estéreis e olhar para o ‘inédito’ que o Deus da misericórdia constrói através de nós!