Epifania, ou seja, a memória em que povos e culturas extra-Israel manifestam a grandeza moral e espiritual de Jesus de Nazaré. É esse o sentido da festa dos ‘reis-magos’. Mateus que escreve para judeus convertidos deve curvar-se ao reconhecer que a igreja de Jesus de Nazaré, o judeu, nasce e se desenvolve fora do seu território. São os não israelitas que sabem acolher e re-criar a mensagem e o testemunho do Galileu.
Mateus, longe de reconstruir historicamente a infância de Jesus, quer mostrar para seus ouvintes judeus que já desde o nascimento de Jesus os pagãos e os ‘cachorros’ estrangeiros se demonstraram mais abertos em acolher a mensagem-luz que advinha de Jesus. Na realidade ele descreve a situação dos anos 80 em que muitas pessoas após a saída de Israel começam a dar vida à igreja de Jesus, fora de Israel (na diáspora).
‘Jesus veio entre os seus, mas os seus não o acolheram’. Em Nazaré, terra natal de Jesus, ‘Ele não pode fazer nenhum sinal’, pois era conhecido demais pelos seus patrícios que aguardavam uma salvação espetacular de um super-homem divino. Quem acolheu Jesus foram justamente os demonizados por Israel. A partir disso, Mateus evidencia que também na vida missionária de Jesus Ele encontrou mais fé numa Cananéia, uma ‘cachorra estrangeira’ do que em todos os seus patrícios de Israel.
Desse modo, podemos compreender que a ‘nossa igreja, nasce desde logo pluricultural e multilíngüe. Podemos acrescentar, com vocação universal e leiga. De fato, são os pastores e os representantes dos povos do Oriente que adoram primeiramente o recém-nascido, e não os sacerdotes profissionais do templo que o ignoram e o hostilizam. Nesse sentido, hoje não celebramos a ‘manifestação de Jesus aos povos’, e sim o seu contrário: são os povos que manifestam Jesus ao mundo e a Israel em particular. Este deixa de ser o único herdeiro da promessa - como ele arrogantemente atribuía para si - e os pagãos que se abrem ao projeto de Jesus de Nazaré são os quem ocupam o seu lugar.
Talvez a igreja católica ‘romana’, hoje, tenha que começar a recuperar a memória histórica desse seu início, e superar o espírito de gueto que ainda guarda, abrir mão de suas posturas monopolistas de dona da verdade, de suas inúmeras despóticas tentativas de ‘enquadrar tudo e todos’ para que todos falem uma única linguagem. Ela, na sua humildade deveria se colocar a serviço de povos e culturas para facilitar e promover o diálogo a partir daqueles eixos que Jesus de Nazaré sempre trilhou: a misericórdia, a compaixão, o serviço samaritano e o anúncio do Reinado de Deus que liberta e salva integralmente todos os seres.
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