O ano cronológico de 2009 já se foi e o 2010 chegou. A sensação ’externa’ continua a mesma. O que convencionalmente foi estabelecido para começar no dia 1 de janeiro e terminar no dia 31 de dezembro (ano cronológico) não produz por si só percepções de mudança, de diferenças susbstantivas. Os acontecimentos não têm dias e horas marcadas de antemão para ocorrerem, e misturam seus ritmos e atores dentro ou fora de um prazo pré-estabelecido, ora começando num ano e terminando num outro, ora prolongando seus efeitos ao longo de vários anos...
Até a nossa forma de julgar o passado é fortemente condicionada (viciada) pelo ‘nosso tempo presente’ carregado de interesses e perspectivas que já são ‘outras’ com relação ao que alimentávamos num passado que hoje pretendemos julgar. O que às vezes julgamos ser um fracasso pode se revelar mais adiante no início de uma grande reviravolta, e o que julgamos sucesso e crescimento poderá se revelar no início do nosso fim. Não dominamos a história e nem conseguimos prever em todas as dimensões e níveis o que poderá surgir...Trabalhamos com hipóteses e probabilidades, com tendências e cenários, mas temos pouca clareza para onde queremos chegar, e o que construir para nós e para o mundo.
É comum no início de um novo ano escutar expressões do tipo ‘que este ano seja de paz, de saúde, etc.’ – como se não fossemos nós a construir isso! - ou outras expressões que parecem indicar uma posição diferente, mas não deixam de ser manifestamente fatalistas ‘se é para acontecer vai acontecer mesmo, mas se ainda não chegou a sua hora nada vai acontecer’... – como se alguém soubesse quando uma determinada coisa vai ou deixa de acontecer! Tudo isso parece manifestar um pensamento segundo o qual ‘as coisas’ ocorrem por uma força própria interna quase que independentemente da vontade, das decisões e dos desígnios humanos. Segundo essa visão fatalista parece existir por trás do conjunto de acontecimentos um ‘anônimo articulador’, uma espécie de ‘big brother’ que controla, determina, manda executar. Os humanos parecem ser somente meros instrumentos (marionetes) que executam o que o ‘anônimo articulador’ ou ‘um ‘destino desconhecido’ já determinaram de antemão. É-lhes tirada, aos humanos, aquela autonomia relativa que possuem para ‘fazerem as coisas acontecer’!
Se é verdade que vivemos em uma realidade sempre mais interdependente e mutuamente condicionante e, portanto, todos sofremos –quem mais quem menos – os efeitos de decisões e escolhas que outros externos a nós fizeram e fazem, também não podemos negar que cada um de nós, a partir do próprio sistema de valores, interesses, sonhos, projetos de vida, podemos ‘fazer acontecer’ o novo e o inédito que mais nos agrada. Este só vai vir mediante a nossa capacidade de interferir, articular, pressionar, organizar, canalizar forças sociais e simbólicas muito mais do que as...econômicas! É, numa linguagem ‘demodée’(fora de moda), ‘construir a própria história’ sem sermos eternos padecedores das decisões e dos acontecimentos promovidos por outros atores que são movidos por interesses e sonhos antagônicos aos nossos e os impõem a todos.
Enfim, ‘quem sabe faz hora não espera acontecer....’ mas faz acontecer! Que cada um de nós não perca a capacidade de sonhar, que não se conforme com a mesmice, com a des-graça, com as crises econômicas e existenciais, com a violência e a insegurança, com a cínica indiferença, mas sonhe de forma ousada. Não sonhemos pequeno, com medo de nos sentir frustrados caso não consigamos realizar os nossos sonhos. Que não sejamos acusados de não termos acreditado que esse mundo podia ser....OUTRO se tivéssemos sonhado de forma ousada e lutado para realizar o que sonhamos!
FELIZ 2010, FELIZ ....SEMPRE!
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