domingo, 9 de janeiro de 2011

Batismo de Jesus: descobrir quem somos e o que queremos!


Existem momentos de iluminação existencial em que descobrimos de forma lúcida quem somos e o que queremos. Experiências únicas. Irreproduzíveis. A sensação de que tudo o que nos aparecia escuro, opaco, embaçado, de repente se torna óbvio, claro, transparente. É como se tudo o que vivemos anteriormente não tivesse tido sentido e consistência. Não há uma fase específica da vida em que essas experiências luminosas se oferecem a nós. Cada pessoa tem seus ritmos e momentos próprios. Não são experiências necessariamente arrebatadoras, de curta duração e que aparecem por acaso. Podem dar a impressão que são experiências isoladas dentro do nosso itinerário existencial, e inesperadas. Certamente, são o resultado de buscas interiores, de lutas internas, embora nem sempre conscientes. Todavia, quando somos levados a mergulhar no ‘luminoso’ que elas produzem, quando isto nos envolve e se revela a nós de forma poderosa e totalizante, tudo muda. A nossa vida pode ser narrada e interpretyada somente a partir daquele momento. O antes e o depois daquela experiência luminosa, reveladora e exclusiva.

A experiência luminosa de Jesus de Nazaré se deu no contexto do seu batismo. Entre as águas que corriam pelo deserto da Judéia. No espaço onde duelavam vida e morte. Desejos de redenção e pulsões de destruição. Na escuta e confrontação com a profecia, as ameaças e as denúncias de João Batista. Jesus descobre de forma única, clara, luminosa que devia iniciar uma nova etapa em sua vida. Colocar-se como instrumento de redenção nacional. A urgência do momento histórico o exigia. Não podia furtar-se, mesmo que o seu passado não o tivesse preparado adequadamente para tanto. Era como se Jesus não pudesse resistir e sufocar o forte imperativo interior da sua consciência de que Israel/humanidade estava à beira do colapso social e político. Que um novo jeito de governar devia ser urgentemente inaugurado.. Não simplesmente denunciando e amaldiçoando como fazia João Batista, mas planejando gestos e ações concretas. Criando condições e oportunidades para evitar a desgraça nacional. Em termos metodológicos pode-se dizer que Jesus não assumiu essa nova consciência/missão de forma personalista, como um investido divino. Fora dos contextos e estruturas sociais comuns que estavam ao seu alcance. Mas entrando na lógica e nos ritmos de todos aqueles cidadãos que queriam contribuir a reerguer uma nação à beira da falência. Ao entrar na fila comum dos penitentes que pediam o batismo Jesus apontava a sua própria metodologia evangelizadora: não à margem e nem acima das pessoas, e sim ao seu lado, com elas. Como um cidadão ‘normal’. Mas consciente que tem algo específico e próprio a realizar com os outros. Mais do que isso. Que essa missão/consciência nova vinha sendo confirmada e 'abençoada' pelo próprio Deus. Este retoma a sua ação de redenção e re-criação da humanidade a partir da consciência, da prática social e religiosa, e da experiência luminosa do cidadão Jesus!

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