terça-feira, 15 de dezembro de 2015

'Temer é o homem de Cunha, e não contrário', afirma Ciro Gomes, presidenciável

CartaCapital: O senhor acusou Temer de ser o “capitão do golpe” e um “parceiro íntimo” de Cunha. Como chegou a essa conclusão?Ciro Gomes: Conheço bem os dois, de longa data. Temer conspira há algum tempo, tenho informações a respeito. Lá atrás ele visitou esses grupos que organizam manifestações. Mais recentemente fez uma declaração sintomática, de que um governo com 7% ou 8% de popularidade não se sustenta. Basta pesquisar a quantidade de medidas provisórias que o Temer despachou ao Cunha para que ele pudesse incluir o que no jargão parlamentar chamamos de “jabuticabas”, emendas ilegais para gerar privilégios a grupos econômicos dos quais eles tomavam dinheiro.
CC: Como o senhor avalia a carta enviada pelo vice a Dilma? CG: Tenho 36 anos de vida pública. Nunca vi uma coisa tão ridícula, de tão baixo nível, absolutamente cretina e risível. Aquilo ali é um festival de vaidades e de mágoas explícitas. Você não nomeou fulano, demitiu meu amigo, foi ver não sei quem e não me levou. E faz parte de um enredo golpista. Surge exatamente na ocasião em que houve o golpe na formação da comissão do impeachment e faz parte da movimentação que destituiu Leonardo Picciani da liderança do PMDB na Câmara, a quem Temer cita nominalmente na carta. Quem vazou o texto para a mídia foi ele.
CC: Por que o impeachment deve ser tratado como um golpe? CG: O impeachment é um julgamento político, mas na sua origem é jurídico. A peça contra Dilma é inepta, pois escora-se nas “pedaladas fiscais”. Na medida em que o Congresso sancionou a nova meta de superávit, esse argumento se perde. A única possibilidade de se afastar um presidente da República é por crime de responsabilidade doloso, e não há nenhum ato de Dilma que se enquadre nessa situação. Além disso, se pedalada for motivo, Temer também precisa ser afastado, pois assinou alguns desses decretos. Aliás, praticamente todos os governadores e prefeitos de capitais... Outro absurdo é reavivar o voto secreto na Comissão Especial da Câmara, algo que o Supremo Tribunal Federal certamente vai anular.
CC: Como construir uma governabilidade mais sadia? CG: Não vejo problemas, por exemplo, em ter Marcelo Castro como ministro da Saúde. Ele puxa apoio de uma fração importante do PMDB. O mesmo vale para o Eduardo Braga, que é um cara legal. Pode melhorar a relação com o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, que também ajuda muito. O problema é que Dilma entregou tudo a quem não deveria entregar. Pior: colocou um golpista dentro do Palácio. Isso é muita irresponsabilidade. O governo selou aliança com o lado quadrilha do PMDB. Digo isso porque há muitos homens de bem no partido, como Requião, Jarbas Vasconcelos, Mauro Benevides. Mas o governo não os prestigia. Dilma precisa se cercar de gente leal e profissional.

Nenhum comentário: