La parabola del “Buon Samaritano” ci mostra qualcosa di paradossale. Ci dimostra come la religione puó impedire l'esercizio della caritá che è il fulcro della nostra vita religiosa! Quando un "religioso devoto" si preoccupa esclusivamente di "obbedire ai precetti rituali e alle norme liturgiche" della sua religione – credendo che così facendo compiacerebbe il suo Dio – finisce spesso per mettere in secondo piano i "figli di Dio" e i loro bisogni, che è ciò che veramente conta! Se il presunto amore per Dio non si traduce in amore viscerale e compassionevole per il "prossimo escluso e ferito" – indipendentemente di chi sia – non è altro che alienazione pura. Gesù è ancora più diretto: non basta "amarlo come se stessi", ma dobbiamo amarlo 'come Dio ama' perché il metro di paragone non è "se stessi", ma il Padre misericordioso. Ma come ama Dio? Dio ama come un umano carico di compassione e che si avvicina, assiste, si prende cura, guarisce i suoi figli feriti e agonizzanti, anche se ció lo rende "infedele e impuro" agli occhi della sua religione. Dopotutto, per Gesù, la più grande 'impurezza religiosa' è la mancanza di compassione e di misericordia verso i 'suoi prossimi' che sono umiliati, deportati, bombardati e torturati, sotto i nostri "occhi spietati e negligenti"!
quinta-feira, 10 de julho de 2025
15º domingo comum - Deus é amado e venerado ao amarmos, visceralmente, os seus filhos feridos e agonizantes!
A parábola do ‘bom samaritano’ nos mostra algo paradoxal. Prova como a religião e suas obrigações pode impedir o exercício da caridade que é o cerne da vida religiosa! Quando um ‘religioso devoto’ se preocupa exclusivamente em ‘obedecer a preceitos rituais e normas litúrgicas’ da sua religião, - achando que com isso estaria agradando ao seu Deus, - acaba, frequentemente, colocando em segundo lugar ‘os filhos de Deus’ e suas necessidades que é o que, de fato, importa! Se o suposto amor a Deus não se traduz em amor visceral e compassivo, ao ‘próximo excluído e ferido’, - sem se importando quem ele seja, - não passa de uma mera alienação. Jesus é mais direto ainda: não é suficiente ‘amar o próximo como a si mesmo’ mas que temos que amá-lo como Deus o ama, pois o metro de comparação não é ‘si mesmo’, mas o Pai misericordioso. Mas, como é que Deus ama? Deus ama ao se aproximar, se compadecer, assistir, cuidar e curar o outro que é necessitado e agonizante, mesmo que isso o torne ‘um infiel e impuro’ perante a sua religião. Afinal, para Jesus, a maior impureza religiosa é a falta de compaixão e de misericórdia para com o nosso próximo que está sendo humilhado, deportado, bombardeado e torturado, debaixo dos nossos ‘olhos impiedosos e omissos’!
Se não por Deus, façam-no pelo que resta de humano na humanidade... Artigo de Mimmo Battaglia, arcebispo de Nápolis
O planeta ressoa com os tambores da guerra em todas as direções do horizonte. Na Ucrânia, treze mil civis dizimados pelo fogo; em Gaza, cinquenta e sete mil vidas apagadas em vinte e um meses de cerco; do Sudão, quatro milhões de corpos marchando em busca de um lenço de sombra; em Mianmar, três milhões e meio de rostos espalhados entre cinzas e selva; e, acima de tudo, uma cidade invisível que não para de crescer: cento e vinte e dois milhões de refugiados lançados ao vento como sementes.
Esses números – vocês os sentem pulsar? – deveriam gelar o sangue, mas se dissiparão como névoa se não aproximarmos nossos ouvidos à batida que eles conservam. Cada número é uma testa que arde, uma fotografia desbotada apertada na mão, uma voz que pede apenas um minuto sem sirenes. A vocês que detêm as alavancas do poder – governos falsamente democráticos, conselhos de administração lubrificados como engrenagens, alianças militares com vozes de metal – eu digo que o Evangelho não dá descontos nem suaviza a verdade. Não pede carteirinhas, não exige incenso: exige que se reconheça um homem quando o vemos, que se chame de mal o que esmaga o homem. "Tive fome e me deste de comer, era estrangeiro e me acolheste" não é um enfeite piedoso: é uma norma primária escrita com o pulso de Deus. Não existem cláusulas, não existem notas de rodapé minúsculos para esconder o egoísmo. Se querem ser guia e não leme desgovernado, detenham os comboios carregados de morte antes que atravessem a última fronteira; desmantelem as maquinarias que gotejam chumbo e forjam arados, tubulações, carteiras escolares. Levem os orçamentos de guerra à mesa de um professor cansado: transformem milhões destinados a mísseis em salas de parto iluminadas, ambulâncias capazes de chegar até os sofrimentos mais remotos. E vocês que se afundam nas poltronas vermelhas dos parlamentos, abandonem dossiês e gráficos: atravessem, mesmo que por apenas uma hora, os corredores apagados de um hospital bombardeado; sintam o cheiro de diesel do último gerador; ouçam o bipe solitário de um respirador suspenso entre a vida e o silêncio, e então sussurrem – se conseguirem – a frase "objetivos estratégicos".
O Evangelho – para quem crê e quem não crê – é um espelho impiedoso: reflete o que é humano, denuncia o que é desumano. Se um projeto esmaga o inocente, é desumano. Se uma lei não protege o fraco, é desumana. Se um lucro cresce às custas da dor de quem não tem voz, é desumano. E se não querem fazê-lo por Deus, pelo menos o façam por aquele pouco de humanidade que ainda nos mantém de pé. Quando os céus se enchem de mísseis, olhem para as crianças que contam os buracos no teto em vez das estrelas. Olhem para o jovem soldado enviado para morrer por um slogan. Olhem para os cirurgiões que operam no escuro num hospital destruído. O Evangelho não aceita os seus comunicados "técnicos". Descasca qualquer verniz de pátria ou interesse e deixa-nos perante a única realidade: carne ferida, vidas destruídas. Não chamem de "danos colaterais" as mães que escavam entre os escombros. Não chamem de "interferência estratégica" os jovens a quem roubaram o futuro. Não chamem de "operações especiais" as crateras deixadas pelos drones. Podem até tirar o nome de Deus se isso lhes assusta; chamem de consciência, honestidade, vergonha. Mas ouçam-no: a guerra é o único negócio em que investimos a nossa humanidade para obter cinzas. Cada bala já está prevista nas planilhas daqueles que lucram com os escombros. O humano morre duas vezes: quando a bomba explode e quando o seu valor é traduzido em lucro. Enquanto uma bomba valer mais do que um abraço, estaremos perdidos. Enquanto as armas ditarem a agenda, a paz parecerá loucura. Portanto, desarmem os canhões. Silenciem os títulos da bolsa que sobram às custas da dor.
Restituam ao silêncio a aurora de um dia que não manche as ruas de sangue. Todo o resto – fronteiras, estratégias, bandeiras infladas pela propaganda – é névoa destinada a dissipar-se.Só restará uma pergunta: "Salvei ou matei a humanidade que me foi confiada?" Que a resposta não seja mais uma sirene na noite. Convertam os planos de batalha em planos de semeadura, os discursos de poder em discursos de cuidado. Sentem-se ao lado de mães que vasculham os escombros para salvar um bichinho de pelúcia: vocês descobrirão que a estratégia suprema é impedir que uma criança perca a infância. Levem o cheiro de pedras queimadas para dentro de seus palácios: deixem que impregne os tapetes, lembrando a cada passo que ninguém se salva sozinho e que o único caminho seguro é trazer cada homem de volta para casa inteiro de corpo e coração. A nós, povo que lê, cabe o dever de não desistir. A paz brota na sala de estar - um sofá que se alonga; na cozinha - uma panela que se duplica; na rua - uma mão que se estende. Gestos humildes, obstinados: "você vale", sussurrado àquele que o mundo descarta. O grão de mostarda é mínimo, mas se torna uma árvore. Assim é o Evangelho: duro como pedra, tenro como o primeiro choro. Exige uma escolha clara: construtores da vida ou cúmplices do mal. Não há terceiras vias. Dobre, Cristo, o orgulho dos poderosos, convide os forjadores de armas a dobrar o ferro em pás, convoque todas as consciências a se abrirem e a defenderem o frágil com a teimosia de quem sabe que o bem é moeda que não se desvaloriza. Cada minuto de atraso grava um novo nome no mármore.
Que esta página – despida de retórica, áspera de Evangelho – se torne um espelho: quem se olha nela decida se permanecer servo da violência ou se tornar servo dos seus irmãos. Deus do respiro negado, arranca a mesa aos senhores que vendem o mundo a golpes de cúpulas. Inverte as suas cartas de ferro: que o chumbo espalhado volte a ser torrão, que o balanço armado se torne berço. Oferece aos poderosos o espelho que não sabem quebrar: o rosto de uma criança sem noite, o tremor de um médico que ficou sem luz. Faz com que não consigam desviar o olhar até que o privilégio se transforme em vergonha e a vergonha em justiça. Lembre-nos de que a carne vale mais que o emblema, que quem lucra com o sangue cava a própria cova, que a aurora não pertence a quem tem canhões, mas a quem guarda um abraço. Silencie as sirenes, dobre as bandeiras inchadas de barulho e devolva-nos um silêncio capaz de fazer florescer o futuro.
sábado, 5 de julho de 2025
14ª domingo comum - TODOS SOMOS ENVIADOS PARA CUIDAR DE TODOS, E NÃO SÓ ALGUNS CONSAGRADOS!
sexta-feira, 4 de julho de 2025
Número de mortos em Gaza é 65% maior que oficial, diz estudo
Pesquisa independente estimou 75 mil mortes diretas pela guerra entre outubro de 2023 até janeiro de 2025, cerca de 30 mil a mais do que a contagem oficial do Ministério da Saúde de Gaza.Com a entrada de jornalistas na Faixa de Gaza severamente restrita pelos israelenses, a fonte de dados sobre o número de vítimas da guerra costuma ser o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas – e Israel sempre rejeitou esses números, alegando que eles seriam exagerados.
Agora, um estudo independente mostra que a contagem real de mortos é provavelmente ainda maior que os números oficiais. Uma pesquisa conduzida pelo economista Michael Spagat, do Royal Holloway College, da Universidade de Londres, estimou que, até o início de janeiro deste ano, mais de 80 mil palestinos haviam sido mortos na guerra de Israel em Gaza, 65% a mais do que os nomes que constam nas listas do Ministério da Saúde local. Para Spagat, especializado em guerras contemporâneas e na contagem de vítimas de conflitos, um dos aspectos importantes do seu trabalho é "lembrar-se de cada vítima". Que os nomes dos mortos estejam pelo menos escritos em listas, como o Ministério da Saúde de Gaza faz atualmente. Ele considera as listas oficiais "amplamente corretas" – mesmo que o ministério seja controlado pelo Hamas, classificado como uma organização terrorista pela União Europeia (UE), pelos Estados Unidos e outros países. "O Ministério da Saúde de Gaza lista os nomes dos mortos com seu número de identificação, idade e sexo. Isso pode ser facilmente verificado", afirma. (IHU)
Europa envia cães de ataque para Israel, que foram transformados em armas brutais contra civis: "Havia sangue por todo o chão"
segunda-feira, 30 de junho de 2025
Zohran Mamdani: a surpresa socialista em Nova York. Artigo de François Bougon
A vitória do jovem candidato muçulmano, de origem africana e indiana, revela mudanças políticas e sociológicas em meio à era Trump. O voto jovem foi crucial em uma eleição que dá novo fôlego à ala esquerda do Partido Democrata. Mais uma vez, a surpresa veio de Nova York. Desta vez, no campo democrata e em nível local, o outsider de esquerda Zohran Mamdani venceu as primárias de seu partido para as próximas eleições municipais da megalópole de quase 8,5 milhões de habitantes, marcadas para novembro.
O político de trinta e poucos anos impôs uma dura derrota ao ex-governador Andrew Cuomo, de 67 anos. Nem o grande apoio financeiro de bilionários — cerca de 25 milhões de dólares para seu “Super PAC” (Comitê de Ação Política autorizado a gastar somas ilimitadas) —, nem sua máquina política, nem a desconfiança das elites midiáticas em relação ao rival socialista foram suficientes. O comitê editorial do New York Times ridicularizou o programa de Zohran Mamdani, considerando-o “particularmente inadequado para os desafios da cidade”. Como era de se esperar, sua vitória provocou um terremoto político cujas repercussões vão muito além desta megacidade, em um momento em que o Partido Democrata está dividido sobre como reagir ao segundo mandato de Donald Trump. Caso seja eleito, Zohran Mamdani, vereador do distrito de Queens, se tornará o primeiro prefeito muçulmano da cidade.
Chegou a Nova York aos sete anos, após viver em Kampala (Uganda), onde nasceu em 1991, e depois na África do Sul. “Sua vitória e trajetória encarnam a promessa americana e testemunham a beleza do legado diaspórico neste país”, declarou a advogada e ativista americano-eritreia Semhar Araia ao The Africa Report. “Para as diásporas africana e asiática, especialmente os filhos de imigrantes, seu caminho e visão refletem nossas próprias vivências”. Zohran Mamdani, que obteve a cidadania americana em 2018, nasceu em uma família onde as ideias, as artes e a política — especialmente a defesa da causa palestina — têm lugar central. Seu pai, Mahmood Mamdani, nascido em Uganda em uma família de origem indiana — muçulmanos sunitas gujaratis do estado de Gujarat (noroeste da Índia) —, é formado em Harvard e um acadêmico renomado, professor de antropologia na Universidade Columbia, especializado em estudos pós-coloniais. Em 2021, a revista britânica Prospect o incluiu em sua lista anual de “50 pensadores para um mundo turbulento”, destacando sua visão dos Estados Unidos como “uma colônia de povoamento, devido ao tratamento dado aos povos indígenas, que ainda não desfrutam de plenas proteções constitucionais”. Sua mãe, Mira Nair, é uma diretora e produtora indo-americana reconhecida internacionalmente por seu filme Salaam Bombay! (1988), vencedor de Cannes. Conehceu Mahmood Mamdani em Uganda durante as filmagens de Mississippi Masala (1991), que conta a história de um casal de origem indiana estabelecido em Kampala e expulso pelo regime do ditador Idi Amin em 1972. Zohran Mamdani prometeu combater o antissemitismo e, de forma geral, todas as formas de discriminação e racismo. Durante a campanha, revelou ter recebido mensagens de ódio como “Um bom muçulmano é um muçulmano morto”. Após o anúncio de sua vitória, Charlie Kirk, ativista trumpista, publicou um comentário islamofóbico: “Há 24 anos, um grupo de muçulmanos matou 2.753 pessoas no 11 de Setembro. Hoje, um socialista muçulmano está prestes a governar a cidade de Nova York”. O resultado de Zohran Mamdani evidencia a lacuna entre a base do Partido Democrata e sua cúpula, em um momento em que a legenda tenta reagir à vitória de Donald Trump. Para muitos, também mostra que é possível vencer falando de questões do cotidiano, como o alto custo de vida (ele propôs mercados municipais em áreas pobres), a crise habitacional (propôs congelar os aluguéis) e os serviços públicos, em uma das cidades mais caras do mundo — tudo isso sem cair nas armadilhas das guerras culturais travadas pelos republicanos.
“O que a vitória de Zohran [Mamdani] me mostrou”, reagiu Bernie Sanders, “é que quando as pessoas votam a favor de algo e não apenas contra, quando priorizamos a organização e a mobilização, nosso programa progressista pode vencer, mesmo contra todas as probabilidades. Agora precisamos ganhar as eleições gerais. Uma vitória nas primárias de Nova York não basta”. “Não acho que a fronteira esteja tanto entre progressistas e moderados, mas entre lutadores e impostores”, declarou Brad Lander. “O que Zohran [Mamdani] mostra é que é importante propor grandes ideias ousadas para a mudança, mobilizar-se e lutar por elas — e isso é bastante encorajador. Sim, ele é um socialista democrático, mas foi sua visão corajosa para o futuro da cidade que empolgou as pessoas”.
Se quiser vencer em novembro, Zohran Mamdani terá que convencer os democratas mais moderados de sua capacidade de governar Nova York. “Nada te prepara para governar Nova York. O que te prepara são os momentos que você precisa enfrentar — aqueles que se tornam desafios cada vez maiores. Esse é o verdadeiro aprendizado”. Ele também elogiou sua equipe: “Esta é uma das equipes mais brilhantes que existem — e é exatamente isso que vamos levar para a prefeitura”. (IHU)
"Israel não vê Gaza, mas apenas o antissemitismo". Entrevista com o diretor do Haaretz, o jornal progressitas de Isarael
Aluf Benn vive no centro das notícias há anos: é o diretor do Haaretz, o jornal progressista de Israel. Um jornal que, apesar da queda nas vendas, continua sendo um ponto de referência fundamental para quem quer entender o país. Desde 7 de outubro de 2023, a influência do jornal cresceu exponencialmente: a transmissão ao vivo pela web que o site inaugurou naquele dia nunca se interrompeu e registrou milhões de acessos. Desde as semanas que se seguiram ao massacre do Hamas e ao início da guerra em Gaza, Benn impôs a si mesmo uma regra, que ele também respeita nesta entrevista: nenhum comentário sobre como o Haaretz acompanhou aqueles fatos, sobre artigos específicos e sobre a reação que provocaram em Israel. A entrevista com Aluf Benn é de Francesca CaferriB, publicada por la Repubblica, 29-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Diretor, vamos tentar colocar alguns pontos firmes no grande caos destes dias. Em que posição a guerra com o Irã deixou Benjamin Netanyahu e o governo?
Ela os fortaleceu: não apenas porque os Estados Unidos se aliaram a ele e porque Israel militarmente saiu vitorioso da ofensiva. Mas porque a decisão de declarar guerra ao Irã deu a Netanyahu a oportunidade de atingir no coração o campo da oposição: Bennett, Lieberman, Gantz e Lapid se posicionaram ao seu lado e agora terão dificuldade para dizer que ele não tem legitimidade para liderar o país. O front do ‘tudo menos Bibi’ enfraqueceu.
E o que o primeiro-ministro fará com essa nova força?
É muito difícil fazer previsões hoje em dia, mas ele enfrenta dois dilemas. O primeiro diz respeito a Gaza: pela primeira vez, há pessoas em sua coalizão e em seu próprio partido que pedem que ele acabe com a guerra e traga os reféns para casa o mais rápido possível. O que, no plano político, significa romper com a extrema direita, que não está disposta a aceitar isso. O segundo dilema é convocar ou não eleições antecipadas, contando com pesquisas favoráveis: para buscar a resposta, precisamos nos perguntar se esse governo está destinado a durar muito tempo, no caso de não ser dissolvido. Eu não acredito, porque a questão do serviço militar dos ultraortodoxos logo terá que ser revolvida. Portanto, Netanyahu poderia decidir dissolver o governo antes que ele caia sozinho e convocar eleições antecipadas. Uma coisa é certa: hoje ele tem mais margem de manobra do que antes.
Há sinais concretos de que ele poderia usar esse espaço para chegar a uma virada em Gaza?
Os sinais existem: Israel não pode dizer que está vencendo em Gaza hoje, soldados continuam morrendo e não há nada a ganhar permanecendo atolados na Faixa. Tenho esperança de que as coisas mudem. Também porque é evidente para todos a diferença entre o sucesso de uma campanha militar conduzida a milhares de quilômetros de distância para derrotar o Irã e a impossibilidade de deter o Hamas e trazer os reféns para casa a poucos quilômetros de Tel Aviv. Isso pesará muito.
E Donald Trump? Ele é realmente o melhor amigo de Israel, como ouvimos dizer há dias?
Não gosto de falar de amizade. O que importa aqui é o interesse: Trump seguiu o caminho de todos os presidentes estadunidenses desde 1948, apoiando Israel. O que virá a seguir, teremos que aguardar para ver. O que é diferente do passado não é Trump: é a relação entre os dois países. Não só a dependência de Israel do apoio estadunidense aumentou drasticamente em termos de fornecimento de armas, informações de inteligência e apoio internacional nos últimos vinte meses. Mas agora, pela primeira vez, Israel pediu aos EUA que lutassem em seu nome. Isso nunca havia acontecido.
O senhor acompanha Benjamin Netanyahu há muito tempo: uma coisa que muitos na Europa não entendem é como é possível que em vinte anos nunca tenha surgido um líder alternativo a ele. Por que Netanyahu se tornou a cara de Israel?
Não é uma questão de líderes, mas de ideias. Bennett, Lieberman e Gantz não têm uma ideia de Israel diferente daquela de Netanyahu: vimos isso quando o elogiaram por ter atacado o Irã. Eles também pensam como ele sobre a questão palestina: portanto, ele é melhor do que eles na narrativa, no que contou ao país. Além disso, há a economia: a partir dos anos 1990, uma nova era começou aqui do ponto de vista econômico. Startups e tecnologia tornaram Israel um país rico, pelo menos em parte, e muitas pessoas são gratas por isso. A pergunta a se fazer para entender o sucesso de Netanyahu é: existe alguém hoje com uma visão diferente da dele? Eu não vejo ninguém.
Há outra coisa que as pessoas na Europa não entendem: como é possível que Israel reclame tanto de estar isolado e não veja de onde nasce esse isolamento? E com isso quero dizer Gaza...
Porque não vê Gaza. Os órgãos de imprensa israelenses, em média, não noticiam o que acontece lá. Noticiam o crescimento do antissemitismo no mundo sem enquadrá-lo no contexto maior: assim as pessoas não entendem.
Que legado acredita que tudo isso deixará para o futuro?
Essa é uma pergunta muito difícil. Acredito que o peso do que está acontecendo aqui está sendo sentido muito além de nossas fronteiras: a vitória de Mamdani nas primárias para prefeito de Nova York é um sinal. O fato de alguns eleitores muçulmanos não terem votado em Harris e, portanto, ajudado Trump é outro sinal. Quanto a nós, israelenses, talvez se nos próximos meses se confirmarem os acordos de paz de que se fala atualmente, o sentimento de hostilidade que existe em relação a nós diminua, pelo menos em parte. Mas é muito cedo para dizer.
sábado, 28 de junho de 2025
Pedro e Paulo - É preciso voltar a colocar a Rocha de Nazaré como centro!
Pedro e Paulo, dois pilares, dois mundos culturais, eclesiais e teológicos, bem diferentes entre si, mas havendo um único inspirador que é a Rocha chamada Jesus. Na pregação dos dois, Jesus é o anunciado. Ele era a única e insuprimível referência. A extensa crise da igreja católica passa não somente pelas profundas mutações socioculturais hodiernas, criadoras de novos hábitos e sensibilidades, mas também pela atual tendência da igreja em escantear a Rocha Referencial original, Jesus de Nazaré e suas históricas opções. Cristalizou-se, de forma narcisista em sua própria imagem autoexaltada e autorreferencial, esquecendo que a Rocha Fundadora não cansava de ser amparo para as ovelhas feridas e banidas da sociedade da sua época. Ela se trancafiou em seus belos templos que cheiram a incenso e a hipocrisia. Tem seguido, cegamente, consagrados funcionários eufemisticamente chamados sacerdotes e pastores os quais dirigem liturgias insossas e cobram ‘dízimos e obrigações’ imorais. Demoniza quem desobedece aos seus preceitos ou lhe exige coerência evangélica. Há, contudo, ainda, uma igreja ‘pequeno rebanho-resto’, minoritária, quase anônima que insiste em ter a Rocha como referência, que não tem medo de enfrentar os ínferos e os demônios da guerra, da manipulação e da prepotência. É a igreja resistente, em saída permanente, a de Simão a Pedra, de Paulo de Tarso e de muitas invisíveis testemunhas da Realeza do Pai! A igreja da Rocha de Nazaré!
quarta-feira, 25 de junho de 2025
Ailton Krenak: “Me incomoda essa quase que automática adesão de muitos grupos sociais a uma ideia de participar do ‘show do progresso’
O líder indígena, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras Ailton Krenak faz críticas ao modo como o conceito de progresso tem sido tratado no Brasil e no mundo. Em conversa com o BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, ele aponta que a crença generalizada de que a ciência e a tecnologia vão resolver os problemas criados pelo próprio modelo de desenvolvimento é uma armadilha perigosa.
“Me incomoda um pouco essa quase que automática adesão de muitos grupos sociais a uma ideia de participar do ‘show do progresso’, participar do ‘show do sucesso’, participar desse evento que promete que nós vamos continuar tirando o petróleo, que a gente vai continuar aquecendo a temperatura global e que a gente vai escapar disso com tecnologia, com ciência e tecnologia”, diz. Autor dos livros Ideias para adiar o fim do mundo e de A vida não é útil, o pensador alerta para o risco de os seres humanos se tornarem “máquinas de fazer coisas”, condicionados à lógica produtivista. “Se a gente não conseguir distinguir o joio do trigo, vamos continuar incidindo sobre o corpo da Terra com essa disposição cega de produzir coisas. Produzir, produzir… como uma máquina de fazer coisas. E nós não podemos ser uma máquina de fazer coisas”, atesta. Para o escritor, a lógica da produção e do consumo se tornou uma armadilha que aprisiona a humanidade em um ciclo de destruição. “Essa maquinaria toda vai instituindo um consumo de tudo, inclusive o consumo de nós mesmos. Vamos nos consumindo, uns aos outros”, projeta.
Krenak vê com preocupação o avanço de medidas como o projeto em tramitação no Congresso, chamado “PL da Devastação”, que enfraquece o licenciamento ambiental, e a realização de leilões para exploração de petróleo, inclusive em territórios sensíveis, como a Foz do Amazonas. “Eu convoco as pessoas que ainda são capazes de se afetar com a ideia da vida no planeta para que nos voltemos para proteger a vida e isso não se basta nessa ideia de progresso e desenvolvimento”, diz. Krenak lembra que o título de seu livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo não foi escolhido por acaso, mas também não deve ser interpretado como um desejo de prolongar um mundo em colapso. “Se nós estamos perdendo a qualidade da vida no planeta, adiar a experiência aqui implicaria em buscarmos outros paradigmas, mudar a nossa própria ideia de que somos uma humanidade com ampla coincidência de propósito”, afirma. Ele cita o alerta feito pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, durante a última Conferência do Clima, como sinal do fracasso das atuais escolhas globais. “Se o secretário-geral da ONU diz que nós estamos marchando seriamente para o inferno, não sou eu que vou querer adiar essa experiência”, ressalta. (IHU)
Autonomia dos povos indígenas: um processo de criação política, resistência e reinvenção de formas de vida.
A luta dos povos indígenas por autonomia territorial na Amazônia brasileira não é um “projeto separatista” nem visa à “criação de um novo Estado”. Tampouco é uma “utopia” ou uma “ideia abstrata”. Antes, é uma “práxis concreta” de luta, resistência e autogoverno territorial. Em outras palavras, uma reação e, mais precisamente, uma “resposta à intensificação dos processos de espoliação territorial, do colonialismo interno e da própria descrença de que o Estado brasileiro irá resolver os problemas vivenciados pelos povos indígenas”, pontua o geógrafo Fábio Alkmin, que tem pesquisado processos de autonomias indígenas na América Latina na última década. Segundo o pesquisador, os movimentos autonomistas estão em constante tensão com o Estado, particularmente porque são vistos como “entraves ao desenvolvimento” e têm questionado os impactos que os interesses econômicos do agronegócio e da mineração geram em seus territórios. Nesse contexto, destaca, eles reivindicam o direito à autodeterminação, ou seja, “o direito de se autogovernar em seus territórios”. A luta autonomista expõe não só as tensões com o Estado, mas também com o campo político progressista, que “aposta na ampliação de direitos por meio da inclusão institucional e do fortalecimento do Estado como mediador dos conflitos sociais”, afirma. Nesse contexto, adverte, embora a instituição do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) seja fruto das lutas indígenas no país, a instituição corre o risco de ser capturada “por uma dinâmica de governo que reduz a autonomia a um tema técnico ou burocrático”. Para ele, o MPI “pode funcionar como instrumento estratégico para fortalecer a autodeterminação, desde que mantenha sua escuta ativa aos territórios e não se desconecte das bases”.
Fábio Alkmin é autor do livro recém-lançado pela editora Elefante, Geografia da autonomia: a experiência territorial zapatista em Chiapas, México (Elefante, 2025), que trata das potencialidades e dos limites dos territórios autônomos a partir da experiência do Exército Zapatista de Libertação Nacional – EZLN, em Chiapas, no México, desde a década de 1990.
sábado, 21 de junho de 2025
XII Domenica Comune - Siamo "discepoli vincitori" di una "causa persa"!
A differenza di molti pastori ciarlatani che promettono ai loro seguaci “prosperità e successo”, Gesù ci invita a portare la propria croce e a seguirlo. Non nasconde il gioco, non inganna e non illude i suoi seguaci. Siamo discepoli di una causa “persa”, in cui il Maestro viene sommariamente eliminato come eretico e sovversivo dall’élite della religione ufficiale. La Chiesa di Gesù, spesso, anche oggi, cerca di negoziare e fare accordi con i signori di questo mondo per essere preservata ed essere protagonista nei vertici globali. La paura di una possibile persecuzione o di essere isolata la fa rinunciare alla sua radicale fedeltà al crocifisso e ai crucificati di questo mondo! L’eccessiva preoccupazione per l’avanzata di altre chiese, e la necessità patologica di vantare forza quantitativa, sembra segnalare che essa ha paura di essere una minoranza, di perdere prestigio e di fallire. Non è quello che è successo al suo fondatore? Perché avere paura? Gesù, pur sapendo che le aspettative della massa e del leader del suo gruppo era quella di un “messia” investito di potente forza militare, ci ammonisce che non c’è cambiamento radicale e nessun Nuovo Regno, senza croce e senza martirio. Mai, come oggi, l’invito di Gesù rimane valido: “Chi vuole seguirmi carichi la sua croce, e venga dietro a me!”.
12º domingo Comum - Somos 'discípulos vencedores' de uma 'causa perdida'!
quarta-feira, 18 de junho de 2025
CORPUS CHRISTI, CORPUS HOMINI!
segunda-feira, 16 de junho de 2025
A obsessão por corpos perfeitos. Artigo de Massimo Recalcati
A aparência de corpos em forma, sempre jovens e belos, moldados pela cirurgia estética, tem sido uma presença cada vez mais constante no cenário hipermoderno há vários anos. A ação do bisturi e da agulha esculpe formas perfeitas que não apenas respondem a um ideal estético, mas visam esconjurar a presença fatal da morte. O corpo que não mostra sinais de seu próprio envelhecimento configura-se como um amuleto, um talismã que rejeita o tempo inexorável do nosso fim. No entanto, o recurso à cirurgia estética não diz respeito apenas à vida em seu momento fisiológico de declínio, mas também, se não principalmente, às novas gerações. “Quero me refazer completamente!” é a intenção de uma jovem paciente insatisfeita com a forma de seu corpo. A ação do bisturi, como a das tatuagens que se estendem por toda ou quase toda a superfície do corpo, traz consigo a ilusão de autogeração. “Refazer-se completamente” significa, de fato, escolher a forma que se dará ao próprio corpo, perseguindo um ideal de autofundação e domínio absoluto: não apenas reivindico o corpo como meu, mas faço com que seja como eu quero. Uma tentativa de se opor à heteronímia estrutural do corpo que, na realidade, nenhum de nós teve possibilidade, originalmente, nem de escolher nem de tornar eterno.
Se, além disso, se observar o corpo de jovens mulheres remodeladas pelo bisturi, não pode deixar de chamar a atenção sua drástica uniformização. Enquanto a beleza de um corpo, como lembram Flaubert e Warburg, se revela ao se perceber seus “divinos detalhes”, ou seja, seus traços irregulares que o tornam único e singular, aquela oferecida pela cirurgia estética responde, em vez disso, a um critério padrão, igual para todos, conformista: mesmo nariz, mesmos lábios, mesmos seios, mesmos glúteos. Mas por quê? A resposta parece se impor com evidência. Os corpos dessas mulheres tendem a corresponder à idiotice do fantasma masculino que eleva justamente aqueles objetos — em particular lábios, seios e glúteos — à natureza fetichista de seu próprio fantasma. Em termos mais simples, o corpo das mulheres tende a corresponder perfeitamente ao imaginário sexual masculino, tornando-se semelhantes ao de verdadeiras bonecas sexuais artificiais. Numa época em que o feminismo impôs, com razão, uma cultura de direitos que interrompeu a hegemonia masculina, esses corpos plastificados parecem mostrar a outra face da moeda, ou seja, a indestrutibilidade do fantasma fetichista masculino e a dificuldade da mulher de se libertar de suas garras. Mas essas mulheres são realmente felizes? Em alguns casos, recorrer à cirurgia estética não tem nada de patológico. Penso em uma paciente minha que, após duas gestações, decide refazer os seios, que haviam sido postos a dura prova pela amamentação prolongada, para recuperar sua própria feminilidade. Outra decide se submeter ao mesmo procedimento por causa das lesões causadas por uma operação oncológica. Por fim, uma adolescente cujo rosto é ocupado por um nariz proeminente decide se libertar dessa presença recorrendo ao bisturi.
O que é patológico, isso sim, é o recurso compulsivo, a insatisfação que acompanha cada intervenção e que impele a novas intervenções, a ponto de, por vezes, causar efeitos evidentes de deformação aberrante do próprio corpo. Às vezes, trata-se de uma verdadeira provação que transforma o corpo numa espécie de canteiro de obras permanentemente aberto. Nesses casos, o paradoxo é que cada intervenção cria uma nova insatisfação, cada tentativa de aperfeiçoamento gera um novo defeito. Mas quando uma jovem exige ter lábios carnudos, seios gigantes e bumbum esculpido, está realmente expressando um desejo subjetivo ou manifesta sua adaptação conformista a um ideal estético imposto pelo fantasma masculino? Além disso, "refazer-se completamente" não é tão simples porque não é simples corrigir a imagem inconsciente do próprio corpo. Aliás, nunca deveríamos esquecer que "bonito" ou "feio" não correspondem à objetividade das formas estéticas. É um fato da experiência comum: homens e mulheres feios podem viver com total serenidade sua desarmonia e, ao contrário, homens e mulheres objetivamente bonitos podem viver com tormento a imagem de seu corpo sempre vivenciada como inadequada e imperfeita. Por quê?
Quando olhamos o nosso corpo no espelho, entra em ação uma memória inconsciente que tornou a nossa imagem algo amável ou algo perenemente insuficiente. Isso é o que Françoise Dolto havia, justamente, definido como "imagem inconsciente do corpo", que, como tal, não corresponde à sua imagem real. A sensação de ser bonito ou feio se forma de nossos primeiros encontros com o olhar e as palavras das figuras afetivas mais significativas. Fui olhado como suficientemente amável? Fui amado pelo que sou? O bisturi tenta corrigir as respostas negativas a essas antigas perguntas, sem, porém, conseguir chegar ao fundo da questão. Nesse sentido, o culto ao corpo musculoso e malhado é o equivalente masculino da síndrome do aperfeiçoamento estético que aflige os corpos femininos. Os bíceps inchados, o maxilar quadrado, os dentes perfeitos, os peitos e abdomens esculpidos distanciam o corpo da relação com o outro para exaltar uma espécie de autossuficiência onipotente. Esse é outro paradoxo: a remodelação do corpo não serve para favorecer relações afetivas com os outros, mas para construir couraças narcisistas que distanciam da relação. O terror da morte se confunde aqui com o terror do amor.
Os três medos que estão mudando o mundo. Artigo de Dacia Maraini
As notícias que chegam do mundo são inquietantes: assistimos a guerras que não têm mais uma conotação política, mas aparecem como vinganças pessoais que massacram os mais fracos. Lemos sobre um feminicídio por dia. Assistimos a uma atmosfera de ódio e agressividade (especialmente nas redes sociais) que afeta todas as camadas sociais. Está em curso um desejo de regressão brutal. Mas por que queremos retornar a um mundo arcaico baseado em sentimentos e ações primitivas, em que a vingança era a única forma de justiça?
Wilhelm Reich argumenta que, quando o ser humano sente medo, retorna à matilha e confia todo o poder a um líder que mostra os dentes, sem se preocupar que seja prepotente e cruel. A grande conquista da sociedade humana foi justamente a passagem da vingança para a justiça. A vingança é pessoal e arbitrária, a justiça se vale de leis iguais para todos, dá ao culpado a possibilidade de se defender e a decisão sobre a punição é confiada a vontades estranhas. Com a justiça, distanciamo-nos da tradição bestial do ressarcimento físico imediato e feroz. Também o feminicídio parece responder a essa antiga lei vingativa: tu queres ir embora, queres impor tua vontade contra a minha? Tu não reconheces minha autoridade, minha posse? Então eu me vingo e te mato. Mas o que causou esse infausto desejo de retornar a sentimentos anti-históricos? A resposta mais aceitável poderia ser resumida em uma única palavra: medo.
O medo cria fantasmas, deforma a realidade, impele a se fechar erguendo muros, cultivando ódio e vingança. Medo de quê? Paradoxalmente, dir-se-ia justamente daquilo que os seres humanos estão criando: a disseminação de uma tecnologia cada vez mais autônoma (inteligência artificial) que muda as relações de trabalho e a estrutura da família, cria formas de comunicação democráticas, mas desprovidas de regras e baseadas no arbítrio. E, além disso, há o medo das mudanças climáticas, que, por mais negado que seja, se faz perceber. E, finalmente, o mais profundamente sentido, eu diria, é o grande medo de perder a identidade religiosa e social diante de grandes movimentos de massa. Três medos profundos estão derrubando os equilíbrios estabelecidos há séculos, criando um clima de incerteza que muitos pensam que só pode ser resolvido com uma guerra. Eu me pergunto se o ser humano ainda tem a capacidade de refletir sobre as consequências de suas vinganças e se não entende que, como já foi dito, temos apenas um único mundo e uma única vida. Temos o direito e o dever de defendê-los.
Indígenas estudam em escola com teto de palha, piso de terra e sem professores no MA
Com piso de terra batida e teto de palha sustentado por troncos de madeira, a escola da Aldeia Esperança, do povo Krepym Katejê, funciona em uma estrutura improvisada, erguida pelos próprios moradores. As aulas ocorrem em um espaço sem paredes ou piso adequado, com apenas um quadro como recurso pedagógico. Dos 24 alunos oficialmente matriculados, 11 estão completamente sem professor – são estudantes do EJA (Educação de Jovens e Adultos), que aguardam a designação de um docente. Os demais frequentam aulas em dois turnos: pela manhã, com uma professora da rede municipal que atende à Educação Infantil, e à tarde, com uma professora da rede estadual responsável pelas turmas do 1º ao 5º ano.
Atayuan Krepym, adolescente de 14 anos da etnia Krepym Katejê, deveria estar cursando o 8º ano do ensino fundamental, mas teve que interromper os estudos, já que falta professor na comunidade. “Vai ser ruim porque tô desperdiçando tempo sem fazer nada. Eu preciso aprender muita coisa nesse tempo”, afirma o estudante. O jovem é um dos 11 alunos do EJA que estão sem estudar por falta de professor na escola da Aldeia Esperança. A educação escolar indígena é um direito garantido pela Constituição Federal, que assegura no artigo 210, parágrafo 2º, às comunidades indígenas o uso de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) reforça esse direito ao prever uma educação específica, bilíngue, intercultural e com participação ativa das comunidades na gestão e organização escolar. Além disso, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) determina o respeito à cultura, aos valores e à identidade étnica dos povos originários.
A etnia Krepym Katejê, pertencente ao grupo de povos Timbira, é composta por aproximadamente 350 pessoas, que vivem na TI (Terra Indígena) Geralda/Toco Preto, que se estende pelos municípios de Arame e Itaipava do Grajaú, no Centro Maranhense. A TI é composta por quatro aldeias distintas: Esperança, Bonita, Sibirino e Geralda/Toco Preto. Atualmente, cerca de 50 pessoas residem na Aldeia Esperança, a aproximadamente 30 km da sede de Itaipava de Grajaú, onde fica a escola. Essa unidade é um anexo de uma escola-mãe, a Unidade Integrada de Educação Escolar Indígena José Porfírio de Carvalho, situada na aldeia Geralda/Toco Preto, a 7km da Esperança.
A luta do povo Krepym Katejê por educação é antiga. Dados do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) mostram que em 2014 aconteceu a primeira grande mobilização por educação em Itaipava do Grajaú envolvendo a população indígena. Na época, a demanda principal era a implementação do ensino médio na Terra Indígena Geralda/Toco Preto, além de exigirem a construção de outras escolas, merenda, professores bilíngues, materiais didáticos e itens básicos de infraestrutura. A partir daí as mobilizações cobrando melhorias na educação só se intensificaram. Em 2025, a etnia Krepym Katejê voltou a procurar os órgãos oficiais para cobrar o cumprimento de um Termo de Ajustamento de Conduta, firmado há 13 anos com a Seduc (Secretaria de Estado da Educação do Maranhão) e o MPF (Ministério Público Federal). O TAC foi assinado em março de 2012, no último governo da hoje deputada federal Roseana Sarney (MDB), permaneceu sem cumprimento integral durante os quase oito anos da gestão Flávio Dino (atualmente ministro do Supremo Tribunal Federal, o STF) e segue com pendências no governo Carlos Brandão (PSB). Por mais de sete anos, período que representa a maior parte do histórico de descumprimento, a Seduc esteve sob o comando de Felipe Camarão (PT), hoje vice-governador e pré-candidato à sucessão estadual, que acumula negligências similares com educação escolar indígena na gestão da pasta.
O documento estabelece obrigações como a reforma ou construção de escolas com estrutura adequada, a entrega de materiais didáticos específicos, a contratação de professores e funcionários, além da elaboração de projetos pedagógicos diferenciados com participação das comunidades indígenas. Também está prevista a criação da carreira do magistério indígena. O TAC determina prazos para o cumprimento dessas ações e estipula a aplicação de multa diária em caso de descumprimento, sendo reconhecido como título executivo extrajudicial, documento que tem força de decisão judicial para cobrança de obrigações. A duração do acordo é indeterminada, e sua fiscalização pode ser acompanhada por outras instituições, como a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e o MEC (Ministério da Educação). (Atual7)
ORAÇÃO DESARMADA!
Ó Pai como estamos longe das profecias de Isaías e de Miqueias que em suas visões vislumbravam um tempo de paz plena: as espadas e as lanças dos exércitos seriam transformadas em arados e foices para que a terra pudesse produzir o pão da justiça e da fartura!
Assistimos ao
ritmo incessante das estações que passam em nossas vidas com suas primaveras
verdejantes e seus invernos rígidos, mas parece que a nossa história não é mais
história de salvação, e sim, uma sucessão infindável de agressões e extorsões,
de violações e abusos, de assassinatos e crimes hediondos contra a criação e as
criaturas.
Estamos a vagar
desconsolados e desnorteados, desarmados de esperança e coragem, ó Pai, numa
humanidade esfacelada em que não sabemos mais quem é o agressor e o agredido, o
julgador e o julgado, o protetor e o ameaçador, o carcereiro e o encarcerado. E
quem deveria nos defender deixou definitivamente o seu disfarce e aparece aos
nossos olhos como um monstro armado e prepotente que nos amedronta e chantageia, e nos desarma, sistematicamente, da pouca esperança que ainda guardamos na
bainha do nosso coração.
Precisamos, ó Pai,
do vosso espírito de sabedoria para discernir e escolher as ‘verdadeiras armas’
que transformam a destruição e a violência em plenitude de vida, e o desespero
e o medo em coragem e esperança.
Precisamos do
vosso espírito de fortaleza para não aderir à lógica perversa do ódio, e jamais
entrar na espiral da vingança. E nunca permitais que tripudiemos quando virmos
um soldado fardado matar um nosso filho desviado. Para eles, bandidos são
sempre os outros!
E, enfim, te
pedimos, ó Pai, não permitais que desistamos do sonho de proteger e assistir o
‘Abel’ permanentemente reencarnado nos milhares de filhos e filhas vossos que
são massacrados por aqueles que ganham dinheiro e prestígio ao eliminar o
‘Caim’ que ameaça as praças, mas que, de fato, nunca saiu de dentro do seu
coração.
Não queremos
desistir do sonho de transformar os revólveres dos chefes das facções e as
metralhadoras das corporações fardadas ou não, em colheres e garfos, em panelas
e pratos para que sejam saciados aqueles que ainda têm fome de justiça e paz! Amém
sexta-feira, 13 de junho de 2025
FESTA DA TRINDADE - Um Deus humano que diviniza seus filhos pelo espírito do amor sem fim!
Há um expressivo número de cristãos que têm dificuldade de compreender o alcance da solenidade da Santíssima Trindade. Sempre nos disseram que ‘mistérios’ como o da Trindade são para serem aceitos, e não entendidos! Alimentamos, contudo, a nossa fé não mediante conceitos teológicos e dogmáticos, mas através de testemunhos concretos de amor e de compaixão. Celebrar a Trindade é celebrar a plena humanidade do Filho e dos filhos que mergulham na divindade, ou seja, na plenitude de vida do Pai e Este, por sua vez, se reveste de plena humanidade aos nossos olhos humanos. Nós humanos, mesmo na nossa finitude e fragilidade somos receptáculos do divino que não vemos. Somos sacramentos de um Deus que, embora invisível e incompreensível na sua profundidade, O podemos sentir. Um Ser que completa e complementa o que a nossa pobre sensorialidade não consegue perceber e alcançar. Hoje somos convidados a fazer a experiência concreta, histórica, e não ilusória, de nos deixar invadir por um Espírito amoroso e compassivo. Nós podemos intui-lo e identificá-lo naqueles filhos que amam, servem e se doam gratuitamente. São eles o espelho imperfeito de um Pai que ama perfeitamente com a intensidade de uma mãe!
quinta-feira, 12 de junho de 2025
Brasil tem 2,6 mil municípios em risco de desastres naturais
O Brasil tem 2,6 mil cidades têm risco alto ou muito alto para desastres naturais – como seca, inundações e deslizamentos de terra – ou possíveis impactos causados pela chuva ou seca na segurança alimentar, segundo dados do AdaptaBrasil, uma ferramenta elaborada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Não entram nesse cálculo outros eventos extremos, como incêndios e ondas de calor ou frio.
Essa cidades precisam se adaptar às mudanças climáticas. Primeiro, é preciso conhecer os riscos dos eventos extremos, como secas, incêndios, inundações e deslizamentos de terra. Em seguida, planejar como enfrentá-los. Esse planejamento deve resultar em ações concretas, que precisam ser avaliadas e, se necessário, aprimoradas. O aquecimento global gera uma série de alterações no clima, aumentando a intensidade e a frequência dos eventos extremos. Além de mitigar a causa, ao evitar ou reduzir a emissão de gases do efeito estufa, é preciso se adaptar às suas consequências, como os desastres naturais, principalmente nas cidades. "A adaptação é todo o processo de ajuste dos sistemas humanos e naturais para enfrentar as mudanças climáticas, reduzindo as vulnerabilidades e exposições de forma planejada e antecipada para que, sobretudo as populações que mais são impactadas, não sofram", explicou o pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) Pedro Ivo Camarinha. De acordo com Camarinha, especialista em mudanças climáticas, há poucos exemplos de adaptações planejadas, ou seja, realizadas a partir de políticas públicas. "No Brasil a situação é muito delicada. Porque há um somatório de muitas vulnerabilidades, muitas delas sem relação direta com o clima, mas acentuadas pelos seus efeitos." (IHU)
Gaza: hospitais estão lotados de pessoas atingidas por tiros israelenses ao buscarem comida
Um sistema de saúde à beira do colapso, dezenas de mortos, centenas de feridos. Quase todos os dias, o exército israelense abre fogo contra uma multidão que sofre com a fome na Faixa de Gaza. Milhares de pessoas se reúnem perto dos centros de distribuição de ajuda humanitária, arriscando suas vidas em busca de alimentos. Os poucos hospitais ainda em funcionamento no enclave estão lutando para lidar com o fluxo constante de feridos.
Uma jovem de Gaza testemunha anonimamente do hospital de campanha britânico no sul da Faixa de Gaza. Ela está ao lado do leito de seu irmão, que foi gravemente ferido por tiros do Exército israelense enquanto tentava pegar um pacote de ajuda alimentar. "Ele foi baleado duas vezes no estômago e no antebraço. O ferimento no estômago foi tratado, mas o ferimento no antebraço é complicado. Vários tendões flexores dos dedos foram cortados. Os cirurgiões tiveram que suturar três tendões em um, que ainda estava saudável", explica a jovem. Medicina de guerra, com os meios disponíveis. Por enquanto, o jovem perdeu o uso da mão direita. "Meu irmão é destro", lamenta ela, "esperamos realmente poder removê-lo para tratamento no exterior. Os hospitais daqui não podem fazer nada por ele. Não culpo os médicos, eles fizeram tudo o que podiam para salvar sua mão, mas este é um hospital de campanha em tendas. Eles não podem tratar mais de 20 ou 30 pessoas por dia", relata.
Vítimas são mortas ou feridas quando estão em busca de alimentos. Desde o final de maio, “o número de mortos e feridos por balas disparadas por Israel explodiu em Gaza”, diz a jovem. "São massacres diários e gratuitos. A maioria das vítimas foi morta ou ferida em frente aos centros de distribuição de ajuda. Meu irmão tem três filhos e tudo o que ele queria fazer era encontrar algo para eles comerem. Ele não é um inconsequente, é uma pessoa pacífica", garante a irmã do homem à RFI. Desde o final de maio, uma empresa apoiada por Israel tem administrado a distribuição de alimentos em Gaza. Sua segurança é gerenciada por empresas privadas americanas que empregam ex-soldados. Tudo sob o controle do exército israelense. A ONU condenou o caos.
Hospitais praticamente parados na região de Khan Yunis Na região de Khan Yunis, no sul de Gaza, vários hospitais estão praticamente fora de atividade “devido à intensificação das hostilidades”, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. Na segunda-feira, seu diretor emitiu um alerta sobre os últimos hospitais em funcionamento, como o Al-Nasser e o Al-Amal, em Khan Yunis. Embora o exército israelense afirme que não exige que os hospitais sejam evacuados como parte de suas operações contra o Hamas, as pessoas não têm mais acesso a eles. Raed el-Nims é o porta-voz do Crescente Vermelho Palestino, a organização que administra o hospital Al-Amal de Khan Yunis, que está funcionando da melhor forma possível. "O hospital está funcionando plenamente para os pacientes de lá. Mas o hospital está localizado dentro do perímetro das evacuações forçadas decretadas pelo exército israelense. Esperamos que as pessoas voltem a ter permissão para ir ao hospital livremente e com segurança para tratamento", explica. Essas restrições de tráfego também estão afetando o abastecimento dos hospitais que ainda estão em atividade. Isso se aplica principalmente a medicamentos e outros produtos de saúde, mas também ao combustível, que é essencial para a operação dos geradores elétricos que mantêm os serviços vitais do hospital em funcionamento. (A reportagem é de Sami Boukhelifa, publicada por Rfi, 11-06-2025.)
domingo, 1 de junho de 2025
Minerais críticos: corrida global por energia limpa pode expor Amazônia a novo ciclo de exploração. Artigo de Robert Muggah
A Bacia Amazônica, tida como o maior sumidouro de carbono e reduto de biodiversidade do planeta, está no centro de outra pauta global: a corrida por minerais críticos e elementos de terras raras. À medida em que países aceleram rumo à descarbonização, cresce a busca por metais essenciais à energia limpa, como lítio, níquel, cobre, cobalto e outros usados em painéis solares, veículos elétricos, turbinas eólicas e armamentos. Mas essa corrida por “minerais verdes” expõe um paradoxo: a transição para um futuro com menos carbono pode acelerar a destruição ambiental, afetar populações locais e fragilizar regulamentações em uma das regiões mais vulneráveis do planeta.
A nova corrida do ouro verde - A Amazônia já viveu outros ciclos de exploração. Da borracha à carne bovina, da madeira à soja, suas florestas foram moldadas por mercados externos. Agora, o foco está nos recursos minerais do subsolo, cobiçados por multinacionais e estatais. O Brasil, potência mineradora da América do Sul, concentra mais de 90% das reservas lavráveis globais de nióbio – metal essencial para ligas de supercondutores. O Complexo de Carajás, no Pará, operado pela Vale SA, é uma das maiores minas de ferro a céu aberto do mundo, com cobre, ouro e manganês. Já a Norsk Hydro opera minas de bauxita em Paragominas, também no Pará, reforçando o elo da Amazônia nas cadeias globais. Bolívia, Colômbia, Equador e Guiana se colocam como novos polos em minerais estratégicos. A planície boliviana vê crescer o garimpo informal de ouro, além de possuir reservas de estanho e um depósito intocado de terras raras. O departamento colombiano de Vichada abriga o projeto Minastyc, da canadense Auxico Resources, que extrai tântalo, nióbio e gálio. Já o sudeste do Equador se abre à extração de cobre e ouro, com megaprojetos como Cascabel e Mirador atraindo bilhões de dólares. Suriname e Guiana, antes voltados ao ouro e à bauxita, agora investigam jazidas de terras raras no Escudo das Guianas.Esse cenário ocorre em meio à disputa global por minerais estratégicos. A China, líder no refino de terras raras, amplia sua presença na América do Sul via infraestrutura e contratos minerais, inclusive no triângulo do lítio entre Argentina, Chile e Bolívia. Também está ativamente expandindo investimentos em minas no Brasil e no Peru. Enquanto isso, EUA, União Europeia, Canadá e Japão buscam fontes alternativas e rotas fora do controle chinês. Países da Amazônia viraram alvos centrais, com empresas ocidentais e asiáticas disputando áreas de exploração, geralmente com apoio de financiamento estatal.
Uma floresta sob cerco Os obstáculos logísticos e regulatórios são enormes. Muitas das áreas ricas em minerais ficam em locais remotos, com pouca infraestrutura e fiscalização. Ferramentas geoespaciais disponíveis da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG) e da Agência Nacional de Mineração (ANM) revelam sobreposições entre concessões, terras indígenas e áreas protegidas, indicando que a mineração avança sobre zonas legalmente restritas. No Brasil e na Colômbia, grupos ilegais e cooperativas informais confundem os limites entre o legal e o clandestino, dificultando a supervisão. O isolamento geográfico da região agrava tudo: pode-se levar dias para acessar alguns locais por barco, com sinal digital instável, na melhor das hipóteses. Mesmo com todas essas limitações logísticas, o crime organizado avança. Redes ligadas ao tráfico de cocaína, à extração ilegal de madeira e ao garimpo se expandem agora para os minerais mais valiosos. Na Colômbia, dissidências das FARC e grupos paramilitares controlam partes do comércio de ouro e coltan (columbita-tantalita). Na área do Tapajós brasileiro, o garimpo ilegal cresce apesar de operações como a Escudo Yanomami. Em toda a região, a contaminação por mercúrio nos rios, causada pela mineração artesanal, destrói a vida aquática e intoxica comunidades indígenas. Mas o risco não é só ambiental. Essas atividades minam a autoridade estatal, corrompem instituições e desestabilizam regiões. Na Bolívia e no Equador, protestos contra concessões – muitas sem consulta prévia – se intensificam, gerando bloqueios, ações judiciais e repressão violenta. No Arco Mineiro do Orinoco, na Venezuela, a mineração se tornou militarizada: Estado e grupos armados disputam territórios com violência, trabalho forçado e desmatamento massivo. No local, a união entre ouro, diamantes e coltan frente a impunidade e repressão, gerou uma crise humanitária travestida de progresso. Há iniciativas de transparência e regulação ambiental, mas falta consistência. A Agência de Mineração da Colômbia (ANM) criou um cadastro digital e adota sistemas de rastreabilidade como o Registro Único de Comercializadores de Minerais do país (RUCOM). O Brasil tem o Código Florestal e agências como IBAMA e SISNAMA. Bolívia, com a GeoBolivia, e Equador, com o Geoportal de Cadastro Mineiro, oferecem mapas com sobreposições ambientais, mas os dados são desiguais e mal fiscalizados — principalmente nas zonas de fronteira. Há também tentativas de ligar a mineração a acordos internacionais, como a Convenção da ONU contra o Crime Organizado Transnacional (UNTOC).
Transição justa ou nova exploração? O dilema é evidente: como conciliar demanda por minerais estratégicos – essenciais para a transição energética – sem destruir a integridade ecológica e social da Amazônia? Não há resposta simples. Medidas como formalizar a mineração artesanal, promover tecnologias livres de mercúrio e reforçar os estudos de impacto ambiental são necessárias, mas ainda insuficientes. O que se exige são modelos de governança que coloquem em primeiro plano os interesses das comunidades locais, garantam consultas rigorosas e respeitem os limites ecológicos acima da lógica da extração a qualquer custo. Programas como a Iniciativa para a Transparência nas Indústrias Extrativas (EITI) oferecem estruturas de prestação de contas, mas sua eficácia depende do compromisso dos governos e da participação ativa da sociedade civil. Sobretudo, o debate sobre energia limpa deve encarar seu próprio custo extrativo. A descarbonização não pode se dar às custas de florestas devastadas, rios contaminados e comunidades desalojadas. A Amazônia não é só um depósito de recursos: é um organismo vivo que regula o clima, sustenta culturas e aponta alternativas. Se os minerais que alimentam a energia verde forem extraídos com os mesmos danos que deveriam evitar, a transição ecológica será apenas mais um capítulo da longa história de exploração amazônica. Enquanto investidores, governos e ambientalistas correm atrás dos blocos construtores de uma economia de baixo carbono, a Amazônia está em uma encruzilhada: será uma nova fronteira mineral sacrificada à demanda global? Ou poderá ser palco de uma transição justa e sustentável, que respeite pessoas e ecossistemas tanto quanto as metas de produção? A resposta pode moldar não apenas o futuro da energia limpa, mas o destino da maior floresta tropical do mundo.
sexta-feira, 30 de maio de 2025
Ascensão de Jesus ao Pai - Nem fuga, nem separação, mas missão divina para humanizar os desumanos!
sábado, 24 de maio de 2025
VI Domenica di Pasqua - Chi ama Gesù, Parola viva del Padre, riproduce le sue scelte, opzioni di vita e i suoi valori
VI domingo de Páscoa - Quem ama Jesus, a Palavra viva do Pai, reproduz suas opções, escolhas de vida e valores
sábado, 10 de maio de 2025
IV domingo de Páscoa - Só o pastor dá a vida para as ovelhas e lhes dá vida plena!
sábado, 3 de maio de 2025
3ª domingo de Páscoa - É preciso pescar diferente para reconhecer os frutos do Ressuscitado!
Muitas vezes nos decepcionamos diante de tantos esforços e tentativas de dar novo impulso às nossas comunidades, à própria sociedade, mas tudo parece ser em vão. Jogamos as redes do testemunho coerente e fiel, daqueles valores nos quais sempre acreditamos, mas fazemos a experiência da esterilidade, do fracasso, da impotência. Talvez, como ocorreu aos discípulos de Jesus, nós também tenhamos lançado as redes nos lugares de sempre, utilizando, mecanicamente, os mesmos e ineficazes métodos, enquanto Jesus nos convida a romper essa lógica e a lançar as redes onde ninguém nunca se atreveu. É na mudança radical de lógica e de metodologia de evangelização que aparece o inédito e o surpreendente de Deus. É na partilha fraterna dos frutos (pão e peixe) dessa mudança que podemos reencontrar o Ressuscitado. Um Jesus que não cansa de nos convidar e enviar para ‘apascentar e amar’ os cordeiros e as ovelhas do seu rebanho de um jeito novo. Não para mantê-los sob controle, num aprisco-templo fechado, mas para protegê-los e assisti-los lá onde os lobos de hoje oprimem e matam, mesmo que isto signifique perseguição e morte!
sábado, 26 de abril de 2025
Ottava di Pasqua - Il 'mio Signiore e mio Dio' si scopre nella cura ai feriti e crucificati dell'umanitá
Dobbiamo chiederci da che parte stiamo oggi: dalla parte di Tommaso o dalla parte degli altri apostoli chiusi in se stessi, immobilizzati dalla paura di testimoniare. È urgente verificare se aderiamo a una chiesa dalle porte aperte e accoglienti o a una “istituzione religiosa pietrificata” con la porta girevole che seleziona i suoi clienti. È necessario stare dalla parte di Tommaso, e avere il coraggio, come lui, di fuggire da una chiesa trincerata nelle sue sacrestie che contempla e adora un Risorto incarcerato e ingabbiato, e senza avere il coraggio di contemplare e desinfettare le ferite dei crocifissi che vivono nelle nostre strade e piazze. Non può essere la chiesa del Risorto che afferma di aver ricevuto lo Spirito Santo che invia, ma che, contradditoriamente, rafforza le serrature delle sue strutture, dominata dal panico di essere perseguitata e di perdere potere e prestigio. Tommaso definito il “gemello” perché sembrava in tutto a Gesù, chiarisce che è necessario screditare una chiesa che afferma la sua fede nel Risorto nelle sue belle celebrazioni, ma che continua avere nausea di introdurre il dito/fede nelle ferite infette da un’umanità agonizzante. È lì che si trova “il mio Signore e il mio Dio”! È nella carità, nella cura e nella compassione per tanti feriti che possiamo ritrovare il Crocifisso di Nazaret!
Oitava de Páscoa - O meu Senhor, e meu Deus, só pode ser reconhecido nos cuidados aos feridos e crucificados de hoje!
É preciso se perguntar de que lado estamos, hoje: se com Tomé ou com os demais apóstolos trancados no seu medo de testemunhar. É urgente verificar se aderimos a uma igreja das portas escancaradas, aberta e acolhedora ou a uma 'instituição religiosa petrificada' com a porta giratória que seleciona os seus fregueses. É preciso estar do lado de Tomé, e ter a coragem, como ele, de fugir de uma igreja entrincheirada em suas sacristias que contempla e adora um Ressuscitado enjaulado e preso, e sem ter a coragem de contemplar e curar as feridas dos crucificados que vivem nas nossas ruas e nas praças. Não pode ser a igreja do Ressuscitado aquela que afirma ter recebido o Espírito Santo que envia, enquanto reforça as fechaduras de suas estruturas, dominada pelo pânico de ser perseguida e de perder poder e prestígio. Tomé chamado 'gêmeo' porque se parecia em tudo a Jesus, deixa claro que é preciso desacreditar de uma igreja que afirma a sua fé no Ressuscitado em suas belas celebrações, mas que continua tendo nojo de enfiar o dedo/fé nas feridas infeccionadas de uma humanidade agonizante. É lá que se encontra 'o meu Senhor e meu Deus'! É na caridade, nos cuidados e na compaixão de tantos feridos que podemos reencontrar o Crucificado de Nazaré!
sábado, 19 de abril de 2025
RISURREZIONE "LAICA'! Testimonianza vera di una madre
"Mi trovavo davanti alla tomba di mia figlia come facevo ogni giorno alle 16:00 nel cimitero di Verona. Dopo aver sostituito i fiori e messo una nuova candela, stavo contemplando la foto di quel piccolo viso luminoso che all’età di 23 anni era stato cancellato da un camion nel centro della città. All1improvviso, inspiegabilmente, un pensiero apparve nella mia mente, quasi come una voce che sussurra nelle mie orecchie: “Tua figlia non è qui, tua figlia è molto di più che un cadavere, pensa bene...” Sentii un brivido che percorreva tutto il mio corpo che cominció a tremare in modo compulsivo e incontrollato. Ho cercato di calmarmi e mi sono chiesta come sarebbe mia figlia dopo sette mesi di morta. Immaginavo che, forse, aveva ancora alcuni dei suoi capelli biondi, i vestiti con i quali fu deposta nella bara e, mio Dio, il suo corpo atletico, senza muscoli, solo ossa, e il suo volto sarebbe senza carne, senza quei grandi occhi castani. Un teschio. Ho cominciato a fremere nuovamente in un misto di rivolta e paura. Non potevo accettare che mia figlia, giovane e piena di vita, giocosa, affettuosa, dedita ad organizzare campagne per raccogliere coperte e cibo con i suoi amici per i poveri della stazione, potesse essere, ora, un terrificante cadavere. Sono tornata a casa e ho deciso di visitare gli amici di mia figlia con mio marito, sapere dove erano, e cosa stavano facendo. Ho visto e sentito che la mia bimba che poco avevo conosciuto, continuava viva in loro, in quei giovani che non hanno mai smesso di distribuire coperte e amicizia. Mia figlia era lì, viva e attiva attraverso di loro, e non in una tomba in qualsiasi cimitero della città! Non sono mai piú tornata al cimitero, perché sapevo che lá era solamente il posto dei cadaveri e non il luogo dei vivi, o come dite voi cristiani, il luogo dei risorti!"
RESSURREIÇÃO 'LEIGA'! Um depoimento verdadeiro de uma mãe
sexta-feira, 18 de abril de 2025
Venerdí santo, un dialogo tra PADRE e FIGLIO
O Gesù, figlio mio, mi rattrista molto nel vedere che ancor oggi ci sono figli miei e persino teologi che pensano che Io abbia voluto la tua morte pensando cosí che li avrei liberati da una presunta condanna che mai ho decretato. Molti credono ancora di poter comprare la mia benevolenza e la mia misericordia offrendomi sacrifici, oblazioni e preghiere. Non sanno che sono incorruttibile, che amo gratuitamente, senza chiedere nulla in cambio? Nelle loro preghiere non si stancano di ripetere “Ricordati o Padre”, ma si dimenticano che Io non soffro di amnesia, e che Io conosco in anticipo ciascuna delle loro aspirazioni. Forse sono loro che ignorano i loro fratelli più bisognosi e crocificati dalle loro stesse mani. Oggi in questo venerdì santo, caro Gesú, molti dei tuoi simpatizzanti e devoti si scordano che sono stati alcuni dei tuoi concittadini a eliminarti, perché mi Tu consideravi e mi testimoniavi come un Padre e non come un dio intransigente, vendicativo e legalistico come volevano gli uomini dei templi e dei palazzi. Dimenticano che oggi ci sono milioni di figli miei che continuano ad essere inchiodati nella vergognosa croce dell´indifferenza, della fame, della brutalità e degli abusi di ogni genere. Che gridano aiuto e accoglienza, ma trovano solo un silenzio sprezzante dei loro pari. E credono ancora che li ho abbandonati Io nell'ora di una morte che non ho mai voluto. Chi abbandona nell'ora della croce, lo sai, figliuolo caro, NON SONO STATO IO!
Sexta-feira santa, um diálogo entre Pai e Filho!
"Ó Jesus, meu filho, fico triste ao ver que ainda hoje há filhos meus e até teólogos que acham que Eu quis a sua morte para poder livrá-los de uma suposta condenação que nunca decretei. Muitos acreditam ainda que podem comprar a minha benevolência e misericórdia oferecendo-me sacrifícios, oblações, e orações. Será que não sabem que Eu sou incorruptível, que amo de graça, sem exigir nada em troca? Em suas orações não cansam em dizer 'Lembrai-vos ó Pai', mas deveriam saber que não sofro de amnésia, e que Eu conheço de antemão cada uma de suas aspirações. Talvez sejam eles que se esquecem de olhar para os seus irmãos mais necessitados, e crucificados pelas suas próprias mãos. Hoje nesta sexta-feira santa muitos dos seus simpatizantes e devotos esquecem que foram alguns dos seus patrícios que te eliminaram, pelo fato de você me considerar e testemunhar como Pai e não como um deus intransigente, vingativo e legalista como queriam os homens dos templos e dos palácios. Esquecem que hoje há milhões de filhos meus que continuam sendo pregados na infame cruz da indiferença, da fome, da brutalidade e dos abusos de todo tipo. Que gritam por socorro e acolhida, mas só encontram um silêncio desdenhoso de seus pares. E ainda acreditam que Eu os abandonei na hora de uma morte que Eu nunca quis. Quem abandona na hora da cruz, você sabe, NÃO SOU EU!"
quinta-feira, 17 de abril de 2025
Quinta-feira santa - Senta à mesa e come só quem se dispõe a servir!
Há um ar pesado impregnando aquela salinha um tanto escura, num sobrado qualquer da Jerusalém velha. A mesa enorme de tábuas rústicas já está pronta para a páscoa que Jesus havia convocado de forma um tanto apressada e fora de época. Muitas perguntas e dúvidas pairam na cabeça daquele grupinho de discípulos, mas ninguém ousa perguntar ou questionar. De repente, o Mestre manda sentar e em lugar de comer logo, ele começa a lavar os pés carregados de sol e de poeira do primeiro apóstolo ao seu lado. Surpresa e espanto geral. Boquiaberto e atônito, Pedro intui logo o alcance daquele gesto e se faz porta-voz do grupo. ‘Aqui não nascemos para ser escravos de ninguém’! Corta essa, Jesus, pelo amor de Deus'! ‘Um dia você vai compreender’, - responde Jesus. 'Afinal você continua alimentando sonhos de grandeza e de poder, e não pode entender e aceitar o que estou fazendo’! Só pode sentar à mesa de Jesus quem se dispõe a servir, nada mais do que servir, não importa se é puro ou pecador, digno ou indigno, casado ou não, cristão ou não, padre ou leigo! FELIZ QUINTA FEIRA SANTA!
Via sacra comentada
1ª estação: Jesus é condenado à morte - Quantas pessoas são condenadas à morte sem o assim chamado 'processo legal'; condenados por nós mesmos, juízes parciais e suspeitos, movidos pela nossa arrogância e sede de vingança. Incapazes de oferecermos uma nova chance a quem errou. Diferentemente daquilo que nos diz Jesus de deixar crescer juntos os que consideramos bons e ruins, o trigo e a cizânia, nós eliminamos, frequente e sumariamente, os que achamos serem os únicos responsáveis dos problemas sociais e humanos. Hoje, de forma irresponsável e criminosa a própria humanidade chega ao absurdo de condenar à morte a própria natureza, a mãe terra a irmã água e envenenar o ar que respiramos. Condenamos os outros, mas não assumimos as nossas responsabilidades.
2ª estação: Jesus carrega a Cruz às costas - Bem que poderíamos afirmar que Jesus foi obrigado a carregar à força uma cruz que ele não escolheu. Ele que durante a sua vida carregou espontaneamente e com amor a cruz da dor de tantos doentes, pobres, pecadores, viúvas e órfãos, agora, é obrigado a carregar a cruz da prepotência e da humilhação, da mesma forma que milhões de humanos são obrigados a carregá-la por causa de outros 'desumanos' crucificadores. Há cruzes que só nós podemos carregar e que não podemos evitar. Que o Deus do amor nos ajude a carregar a nossa cruz com coragem e fé!
3ª estação: Jesus cai pela primeira vez - Cair faz parte da caminhada, de quem sabe ou de quem pretende caminhar. Caem os que saem de suas casas, de suas sacristias e igrejas, e de seus mesquinhos egoísmos. Caem os que não se escondem, não se acomodam, não se trancam em suas fortalezas, mas se arriscam e ousam! O problema não é cair, o problema é saber levantar toda vez que caímos. Nem todos têm a coragem e a força de levantar e continuar a sair, a andar, a correr, a anunciar, a denunciar, e a construir com os outros.
4ª estação: Encontro de Jesus com sua mãe - Jesus conviveu e amou intensamente sua mãe, ao mesmo tempo que considerava mãe e pai todos aqueles que ouvem a palavra e a põem em prática. Quantos momentos de convivência carregados do afeto e atenção com Maria, mas agora, é o seu último encontro com sua mãe, marcado pela sua morte próxima. Deixa de ser um encontro e se torna uma despedida. Uma oportunidade para confirmar um amor que não desaparecerá com a ausência de Jesus. Maria se torna o símbolo daquela igreja que quer se encontrar com todos os crucificados e condenados pela indiferença e desamor, confortando, motivando e servindo, mas, principalmente, assumindo-os como filhos amados;
5ª estação: Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a Cruz – Quantas pessoas hoje agem como Simão Cireneu! Sem fazer alarde, de forma escondida e humilde tornam a cruz de muitos irmãos e irmãs mais leve. Muitos testemunhos de assistência, de dedicação e de serviço gratuito nos mostram que ainda há muita humanidade e empatia com as vítimas das cruzes impostas pela doença, pelo desamparo, pelo abandono, pela exclusão social e pelos carrascos de hoje. Nós ao sabermos que há alguém ao nosso lado que nos ajuda a carregar a cruz de cada dia superamos toda tentação de desânimo. Hoje, contudo, somos convidados a ser mais ousados que Simão Cireneu ao lutarmos para eliminar todas as cruzes construídas e impostas pela maldade humana, e não simplesmente a carregar passivamente a cruz alheia.
6ª estação: Verônica enxuga o rosto de Jesus – Quando nos aproximamos de pessoas consumidas e desfiguradas pela doença, pela violência, pela destruição ambiental com o intuito de enxugar suas lágrimas e o seu sangue, uma parte daquela dor entra na nossa alma, mas certamente também a alma daquelas vítimas começa a ter nova vida. As pessoas começam a perceber que não estão mais sozinhas e que, apesar de suas deformações e de seus sofrimentos, elas continuam a ser ‘verdadeiros ícones’ (Verônicas) do Criador. A própria criação hoje foi deformada e o seu rosto foi riscado e ferido pelas cicatrizes da ganância e da acumulação, da monocultura e dos agrotóxicos. Precisamos restaurar urgentemente o verdadeiro rosto da natureza e da humanidade tal como o ‘crucificado’ de Nazaré queria.
7ª estação: Jesus cai pela segunda vez – Quantas pessoas caídas encontramos nos nosso caminho! Algumas porque esgotadas pelo cansaço, pela falta de esperança e de perspectivas. Outras, porque foram derrubadas por irmãos próximos em suas disputas e rivalidades. Hoje vivemos derrubando pessoas amigas e próximas acreditando que são nossos rivais e competidores. Na nossa neurose vemos inimigos em todo lado e achamos que temos que abatê-los e abandoná-los à margem da nossa estrada, pois se assim não for, eles poderão nos derrubar. Precisamos assumir um novo olhar para com os nossos irmãos. Que não nos cansemos de estender a nossa mão para levantar os caídos da nossa comunidade.
8ª estação: Jesus consola as filhas de Jerusalém – Jesus sabia que são as mulheres que, em geral, nunca largam as pessoas que elas amam, principalmente quando estão passando por momentos de angústia e de dor. Jesus tinha certeza que aquelas filhas de Jerusalém nunca teriam se conformado com a sua morte próxima, e o teriam mantido vivo de um jeito especial. Jesus, o necessitado de consolo, continua a ser o consolador até o fim. Consolar não é conformar, não é aceitação passiva da própria desgraça. É, ao contrário, a certeza antecipada de que as provas da vida e a própria morte não vão fazer desistir aqueles que amam intensamente, mesmo na ausência do amado. Sejamos consoladores incansáveis de quem parece estar cansado de amar e de lutar!
9ª estação: Jesus cai pela terceira vez – Quando fazemos a experiência traumática da decepção, da traição, do abandono humano, da solidão, da perda de pessoas amadas imaginamos que daquela provação jamais iremos levantar. Pensamos que não haverá mais jeito de voltar a ser como antes e, frequentemente, nos entregamos ao desespero e à desmotivação. Jesus, mesmo cansado e abatido, mesmo após várias quedas continua a levantar, a endurecer o rosto como o servo sofredor, e a encontrar energia e fé para levantar e subir o Gólgota da vergonha. Só a morte física para pôr fim às nossas quedas, só a falta de coragem e fé para nos entregar, e não querer mais levantar! Que não tenhamos medo de estender a mão àqueles que querem nos ajudar a levantar todas as vezes que caímos!
10ª estação: Jesus é despojado de suas vestes – Na época de Jesus, despir uma pessoa de suas vestes era come despi-la de sua dignidade e personalidade. Uma forma atroz de humilhar o condenado, um gesto desumano de dominação sobre o seu corpo e a sua alma. Jesus o missionário que restaurava corpos e espíritos feridos, que pregava a necessidade de vestir os nus se torna vítima de uma espoliação que não consegue, porém, arrancar as profundezas de sua alma. Jesus, o rosto verdadeiro do Pai, criatura moldada pelo amor divino, não teme essa última usurpação, pois das vestes do coração revestido de compaixão jamais poderia ser espoliado! Não temamos quem hoje rouba a nossa roupa, mas sim aqueles que têm o poder de sequestrar a nossa alma, a nossa dignidade e a nossa fé!
11ª estação: Jesus é pregado na Cruz – Pensar em pregos que penetram nas mãos de alguém não é pensar somente na sua dor física, mas também na sua dor moral e espiritual. Afinal, enfiando os pregos no corpo de alguém é para que ele seja imobilizado e colocado em condições de não reagir. É dizer ao condenado que ele é um impotente, um incapaz e que mereceu estar pregado definitivamente àquela situação, e que não adianta reagir ou se revoltar. Quantas vezes nós cravamos os pregos da calúnia, da mentira, da irresponsabilidade ambiental, da ignorância e da brutalidade nos corpos e nas almas das pessoas e da natureza. Chegou a hora de retirarmos os numerosos pregos que nós mesmos pregamos e que mantêm presos â cruz da dor, da escravidão, da fome, da guerra e da destruição milhões de pessoas!
12ª estação: Jesus morre na Cruz – Jesus não morreu, Jesus foi morto. Jesus não morreu para expiar os nossos pecados, mas porque foi vítima dos pecados da intolerância, da violência, da brutalidade. Jesus venceu a morte não porque se livrou da putrefação do seu organismo, mas porque olhou firme para a morte e para os seus assassinos, não com os olhos do derrotado e do desesperado, mas com os olhos de um vencedor que, - mesmo aparentemente derrotado, - olha com compaixão e misericórdia quem o estava matando. Ver um condenado que não morre revoltado, amaldiçoando e blasfemando é uma derrota para os seus crucificadores. Jesus não morre desesperado porque sabe que debaixo da cruz existem mulheres fieis que continuarão a sua missão. Que não tenhamos medo de encarar a nossa morte e de recolher o último hálito de vida de muitos agonizantes e daqueles mortos ambulantes que vagam nas nossas praças e ruas à procura de vida nova!
13ª estação: Jesus é descido da Cruz – Muitas vezes no nosso desânimo achamos que a vida nos crucificou uma vez por todas, para sempre, e que jamais conseguiremos dar a volta por cima. Acreditamos que fomos abandonados na nossa desgraça e na nossa falta de felicidade. É preciso acreditar que o Deus da compaixão sempre vai inspirar e dar coragem a alguém para nos ajudar a descer da cruz em que nós achamos que fomos pregados para sempre. Hoje somos convidados a mergulhar no mundo dos crucificados e a tirar das cruzes não cadáveres sem vida, mas irmãos e irmãs que, embora agonizantes, são ainda vivos, e que necessitam voltar a esperar, a crer e a viver com intensidade.
14ª estação: Jesus é sepultado – Muitas pessoas acham que ao enterrar uma pessoa querida e amada estaríamos enterrando também o que ela significou para nós. O patrimônio humano e espiritual de quem amou e se foi fisicamente, jamais vai ser depositado e esquecido numa cova ou num sepulcro frio. Nós devolvemos à mãe terra só o corpo biológico para que volte a fertilizar o chão da fartura e da abundância, mas jamais podemos pensar que uma sepultura é o ponto final de um itinerário marcado pelo amor que serve e que protege, que assiste e que cuida. Hoje somos convidados a retirar as pedras pesadas que mantêm milhões de pessoas como se estivessem enterrados em sepulcros sem luz e sem vida. Retiremos as pedras do ódio e da intransigência e libertemos os escravos e as vítimas do desespero e da escuridão.