Não havia nenhum discípulo aos pés da cruz de Jesus para ouvir as suas últimas palavras. A praxe romana não permitia. Daí a confirmação de alguns relatos evangélicos de que "havia somente algumas mulheres de longe...." Todavia, todos os evangelhos colocam na boca de Jesus exclamações, gritos, palavras que refletem, coerentemente, as teses e os objetivos de suas cristologias específicas.
Se é impossível recuperar historicamente as palavras reais de Jesus, é-nos possível intuir quais "interpretações" alguns grupos de seguidores de Jesus , - talvez muitos anos mais tarde, - deram à morte do mestre. Com efeito, nós lemos seja a vigorosa e consciente exclamação do "tudo está consumado" de João, bem como o grito desesperado e angustiante do "Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste" de Marcos.
Na primeira, a de João, tudo faz parte do plano de Deus. Nada surpreendente. Tudo estava previsto e esperado. Jesus é Deus e tudo Ele sabia!!!!! Manifesta uma igreja já razoavelmente estruturada, segura de si, sem dúvidas e com muitas ...certezas!
Se é impossível recuperar historicamente as palavras reais de Jesus, é-nos possível intuir quais "interpretações" alguns grupos de seguidores de Jesus , - talvez muitos anos mais tarde, - deram à morte do mestre. Com efeito, nós lemos seja a vigorosa e consciente exclamação do "tudo está consumado" de João, bem como o grito desesperado e angustiante do "Meu Deus, meu Deus porque me abandonaste" de Marcos.
Na primeira, a de João, tudo faz parte do plano de Deus. Nada surpreendente. Tudo estava previsto e esperado. Jesus é Deus e tudo Ele sabia!!!!! Manifesta uma igreja já razoavelmente estruturada, segura de si, sem dúvidas e com muitas ...certezas!
No segundo, algo se quebrou. Deus se fez de parte. Ele 'não cumpriu'... a sua parte, a de salvar o Filho! Deus não se manifestou e deixou o profeta, o HOMEM dedicado e amigo dos pobres, entregue ao seu próprio destino....manifesta o processo real, concreto e histórico dos primeiros cristãos, atordoados com o assassinato do seu mestre, carregados de dúvidas, desanimados perante suas próprias contradições e medos. A interpretação de Marcos quer aproximar Jesus/homem de tantos humanos que vivem as suas mesmas situações.
Se fôssemos recuperar, embora parcialmente, as atitudes, as palavras, as expectativas do "Jesus histórico" - aquele não interpretado e idolatrado pelos discípulos! - não cabe dúvida que o profeta itinerante, o galileu, estava aguardando com uma fé "intensa" - a manifestação histórica gloriosa e poderosa de Deus, e do seu reinado. Daí a decisão de ir a Jerusalém. Acolá o profeta Ieshuá ficou esperando o momento único/inédito/surprendente da revelação definitiva. Isso não ocorreu. Ao contrário, ele é preso e sumariamente executado. Talvez o seu grupo esperasse algo parecido, se não diretamente de Deus, com certeza de Jesus. Frustração completa: o mestre é vergonhosamente preso e humilhado!
O que parece ser uma mera reflexão histórica, a posteriori, os relatos da morte de jesus tornam-se necessariamente uma reflexão existencial sobre a dinâmica da vida. Não é só de Jesus que está se falando, e sim do ser humano. Homens e mulheres que alimentam sonhos, fé cega num Deus que eles mesmos o proclama fiel, constroem e acariciam projetos de vida, se dedicam gratuitamente para que a vida possa vingar e, ao contrário do esperado, colhem decepção, dispersão, abandono, solidão, traição, tristeza sem fim.
O silêncio de Deus parece falar mais alto, mas na realidade é o nosso silêncio e a nossa incapacidade de ouvir e ver. A Sua ausência incomoda, angustia, mas na realidade são as nossas certezas, os nossos dogmas, os nossos cultos formais desligados dos dramas dos...humanos que nos impedem de senti-lo presente! Deus, porém, se faz presente também na morte: não fala, mas está aí no nosso velório. No velório da humanidade que duvida da sua própria capacidade de renascer...ressuscitar!
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