Apesar de que a igreja em sua tradição tenha sempre condenado veementemente o materialismo, - não importa de qual tendência, - na questão da ressurreição continua mantendo uma tradição teológica profundamente “materialista”. Ou seja, segundo muitos setores da teologia da igreja católica, Jesus teria ressuscitado histórica e fisicamente, algo único e inédito na história da humanidade!
Evidentemente, não era isso que os primeiros crentes cristãos acreditavam. Eles sabiam muito bem que quem ressuscitou foi o ‘mestre e profeta’ de Nazaré, o seu testemunho, anúncio e prática, e não o seu ‘corpo físico’. Este, como todos os seres vivos conheceu o mesmo fim que é reservado a quem nasce e se desenvolve. A grande intuição dos primeiros discípulos e discípulas de Jesus foi justamente a de ter percebido que uma pessoa não morre com a sua morte, mas que podem ser conservadas de forma viva e real as suas palavras, gestos, valores, sonhos. Mais ainda: se tudo isso fosse reproduzido de forma coerente por aqueles que permaneceram vivos, então se daria o acontecimento real da....Ressurreição.
Este acontecimento afetaria diretamente quem faleceu, pois seria ‘resgatado-ressuscitado’ nos gestos de quem o amou e admirou, e os próprios viventes que ao reproduzirem os gestos, valores, relações e sentimentos de afeto para com o ‘finado’ superam as suas sensações de angústia, de morte interior, desânimos, falta de perspectivas. Ou seja, eles mesmos ‘ressuscitam’! Dá-se, portanto, uma dúplice ressurreição: a de quem morreu física e biologicamente (pois o corpo sofre o processo de putrefação natural e comum a todos os seres vivos) e nos ‘mortos vivos’, naqueles cujo corpo existe e subsiste biologicamente, mas que podem fazer a experiência de morrerem por dentro, necessitando assim, ressurgirem.
A nossa tradição teológica clássica impregnada de um exacerbado materialismo - em que pese o tradicional espiritualismo platônico - tem encarado a ressurreição como uma espécie de ‘reanimação do cadáver’ de Jesus, sem dar o devido peso a todas as numerosas sinalizações que os próprios evangelhos nos apresentam. Com efeito, todos eles concordam em afirmar que para ‘ver e sentir’ Jesus vivo e ressuscitado é percorrendo o Seu mesmo itinerário humano e espiritual. Ou seja, o caminho iniciado na Galileia dos pagãos curando os doentes, abrindo os olhos dos cegos, sarando os leprosos, dando força aos paralíticos, “ressuscitando” os mortos ambulantes- desesperados e sem motivação para viver!
Ao reproduzirmos de forma atualizada tudo isso Jesus permanece vivo na nossa vida e na vida da humanidade, e os que operamos isso, por nossa vez ressuscitamos, ou seja, encontramos motivos para RE-VIVER!
Que isso possa acontecer concretamente com as vítimas do terremoto nas cidades e povoados dos Abruzzo, Itália.
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